Olhares cruzados

Parte da série Gaiolas & Gatos

– Vamos lá, irei chamar cada um pelo primeiro nome, não quero saber do segundo nome, não é do meu interesse qual família você veio, nem se é a mais rica ou a mais pobre, se é preto ou branco, homem ou mulher, vou trata-los como um só.

Ele chamou um por um pelos nomes, Barbara a única garota, Igor o garoto que ele havia visto com a mãe, Natanael o ruivo e por fim, Iam e o moreno com cicatriz, Victor.

Respondemos a presença. Natan ainda tentou olhar para o lado e dar um sorriso, mas logo se recompôs por medo. – Bom, acho que não fiquei sem chamar ninguém, peguem seus uniformes no dormitório, terceiro corredor do quarto andar porta a esquerda do ultimo quarto! – O indicou ele apontando o dedo indicador em direção ao prédio. Eles não sabiam ao certo onde ficava por nunca estarem lá dentro.

– Há, mas uma coisa... Barbara, você vai ficar no dormitório feminino, na ala norte. Procure seu nome.

Eles se dirigiram para lá. Dentro havia uma grande sala de piso antigo e uma TV enorme, digital. Era sublime como tudo era moderno lá. Diferente do que Iam imaginava que fosse – Menos mal... – Iam pensou alto.

– Caraa... Dá pra imaginar? Perfeito! – Indagou Natan, surpreso.

Havia também um grande lustre de cristal a cima de suas cabeças e em uma das paredes havia uma grande quantidade de troféus e medalhas, além de várias fotografias antigas, onde em algumas delas estavam os tios e o pai de Iam. Ele não reparou.

Duas escadas de cada lado que levavam para os dormitórios, ala “A” Masculina e “B” Feminina . Barbara subiu pela esquerda e Iam e os outros pela direita.

Os dormitórios eram denominados por números e o de Iam era o penúltimo, na porta tinha uma placa escrita “Quarto 11” quase no final do corredor. Lá dentro, tinha quatro camas. Cada um escolheu uma das camas. Iam escolheu uma no canto da parede perto e abaixo de uma janela que tinha vista para uma piscina enorme. Natan escolheu uma cama depois da dele, Igor na cama do outro lado e Victor pegou uma no final, assim ficou uma cama vaga. Natan, Igor e Victor deixaram as bolsas e voltaram para o pátio à procura do refeitório pós já estava perto do horário de almoço. Iam preferiu tomar um banho antes. Já eram 13hrs e Iam estava cansado e suado de ficar exposto ao sol.

Ainda no dormitório, Iam pegou uma bermuda, sandálias e uma camiseta de dentro de sua mochila e foi para o chuveirão (O chuveirão era onde todos tomavam banhos juntos, sem privacidade) Iam se deparou com alguns garotos de outros quartos completamente nus tomando banho e rindo de alguma coisa, ele levou um susto e deu meia volta para seu quarto e esperou todos terminarem para depois ele ir com calma e tomar seu banho sem constrangimento. Após alguns minutos Iam aproveitou e pegou sua muda de roupa e uma das toalhas secas que tinham dentro de um armário, caminhou de volta para tomar seu banho, parou um pouco distante do chuveiro e retirou á roupa, não por completa, pois estava com medo de alguém entra e lhe surpreender, então ficou só de cueca, ligou o chuveiro e começou, foi para baixo, à água estava favorável ao tempo, nem quente e nem fria, estava normal. Iam pegou um sabonete fechado que trouxe de casa, abriu, e começou a se ensaboar conforme a água caia e escorria em seu corpo. O corpo de Iam era normal como qual quer garoto de quinze anos, Iam tem cabelos escuros e olhos pequenos, sua pele branca e sua face que parecia ser desenhada a mão, em geral ele era bonito.

*

No refeitório Natanael e Igor socializaram com alguns rapazes mais velhos e se sentaram com eles. Victor preferiu sentar só. O colégio era como todos os outros em questão de séries; 9°, 1°, 2° e o 3° ano. A diferença era a coisa militar do lugar, eles levavam essa questão a sério, era tipo um curso para se torna um recruta, independente do que escolhessem, sendo, da Marinha, Exercito ou Aeronáutica.

– Chegaram hoje? – Perguntou o garoto vestido a um uniforme social, camisa branca bordada com o nome do lugar. – Sim! Chegamos hoje, eu o Igor e aquele garoto lá, o moreno. – Respondeu Natanael fazendo gesto com o rosto para mostra Victor na mesa do canto o outro lado. – Ainda tem o Iam, mas ele ficou no quarto... – Concluiu Natan se lembrando de Iam. Eles comiam num prato repartido para cada coisa, feijão de um lado, arroz de outro e o bife. Um para cada prato de metal.

*

Ainda no banheiro, Iam pegou a toalha e decidiu se enxugar e se trocar no dormitório porque ele havia esquecido a cueca seca lá. Foi ate a porta do banheiro, olhou para os dois lados para ver se não tinha ninguém no corredor. O corredor era onde ligava o banheiro aos quartos.

Iam correu e entrou no seu quarto rápido, soltou sua toalha, colocou a cueca molhada numa bolsa de plástica, para depois lavar, abriu o armário e jogou tudo que tava dentro da sua mochila no guarda-roupa para arrumar mais tarde. O guarda-roupa era grande com compartimentos, onde tinham que dividir com os colegas do quarto, cada porta para uma pessoa, Iam escolheu a ultima do lado esquerdo. Depois de escolhido revirou suas roupas procurando uma cueca.

Iam estava de costas para a porta, distraído, acabou que não escutou a porta abrir sem fazer barulho.

Iam encontrou uma de suas cuecas misturada as roupas, já que ele não havia arrumado sua mala e casa. Dobrou sua coluna para passar os pés por dentro da cueca e vesti-la. Ela tinha coloração meio avermelhada com preta. – To entrando... – A voz surgiu de um garoto que estava entrando devagar escorando a porta fazendo Iam se assusta. Iam puxou a cueca para cima com tanta velocidade que foi sorte não ter machucado nada. Ele continuou – E então, isso aqui é o “11”?–a voz dele não era igual á de ninguém que Iam teria conhecido hoje, porém, a voz era familiar. Essa voz calma e um pouco rancorosa mexeu com Iam, uma coisa lá no fundo lhe dizia que ele há conhecia de algum lugar, então Iam virou de vagar e com a cabeça baixa. – O que? – Respondeu Iam enquanto subia o olhar para ver se o reconhecia. – Aqui é o quarto “11”? – Perguntou o garoto novamente – Sim... Sim! – Agora Iam estava frente a frente com o garoto. Eles se olharam mais não se reconheceram. – Ops... Enfim... Me chamo Jonathan – Ele estendeu o palmar destro para Iam que apertou em seguida com intensidade arregalando os olhos.

– Jonathan?

– Sim...

– Jon da casa da praia?

– Sim, já morei próximo á uma praia, porém, sair do país e to voltando agora... Você me conhece?

– Sim... Digo... Não, não conheço!- Obviamente Iam havia mentido por ele ter reconhecido Jon, o seu amigo de infância que sumiu depois de ter ido embora e de lhe ter prometido voltar.

– E você, como se chama?

– Me chamo... ééé.... Dani...

– Iam... – Natan cruzou a porta lhe chamando e o revelando. – Ta tudo bem aqui?- Natanael perguntou reparando que havia um clima estranho, e como Jonathan tinha paralisado ao ouvir o nome “Iam”. – Tá, ta sim. – Concluiu Iam vestido uma bermuda jeans e uma camiseta azul, regata. Iam saiu sem dá nem mais uma palavra só esbarrou o seu ombro contra o de Jonathan que ficou lá parado, do mesmo jeito. – Você ta bem cara? – Perguntou Natan pondo a mão sobre o ombro de Jon

– Acho que sim...

– Ok então! -Natan saiu deixando Jonathan sozinho no quarto. Jonathan havia sido mandado para o quarto “11” por motivos maiores, já era o seu segundo ano no colégio e ele iria ajudar os novatos a se habituaram nos treinamentos pela manha. Um tipo de guia.

Iam foi para o pátio, pediu para que Natan lhe deixa-se sozinho. Escorou-se numa das paredes, levou as mãos a cabeça, parecia não acreditar no que estava acontecendo. Não entendeu porque Jon havia voltado e o porquê ele não havia mandado mais noticias. Ao contrario de Iam, Jon o reconheceu no primeiro momento que lhe viu de costas, ele conhecia Iam de uma forma inacreditável, mesmo depois desses anos. Ele só não quis dizer a verdade, ele queria esquecer e fingiu, ou esperou que Iam lembrasse. Iam também decidiu fingir que não o reconhecia ate que Jonathan “lembra-se”.