Um Anjo: FINAL
Parte da série Um Anjo em Minha Vida
Parte 85
(...) Lucas retoma a narrativa. O tempo passa a ser contado em algum ponto depois da tarde da segunda feira em que Rafael foi se consultar. (...)
(...)
Abri os olhos aos poucos, minha cabeça estava dolorida, mas acho que o machucado não havia sido tão forte quanto minha dor de cabeça acusava. O lugar era de uma escuridão tremenda de maneira que não enxergava nada. Senti que o chão era frio e pedregoso, como de uma caverna, o cheiro de coisa podre dominava o ar a minha volta, o que me fez rezar para não haver ratos.
Comecei a apalpar até que encontrei a parede, então andei encostando-me nela no intuito de não andar em círculos. Não foi preciso cinco segundos e notei barras a minha frente. Procurei mais alguns minutos, porém era claro que o que quer que tenha me capturado havia não queria fugas.
Sentei escorado na parede e pensei. Será que foi a Estringa que me pegou? Não, não me lembro de ter visto nada sobre esse monstro estocar comida. Talvez tenha sido um seqüestrador que quer um resgate... Não, do jeito que a minha vida está deve ter sido o monstro mesmo... Por que esta criatura não me matou lá no mesmo momento...
O problema era que essa criatura medonha fazia apenas sete vítimas. Vejamos... Aqueles dois garotos que me atacaram, os três amigos da Madalena, a Madalena, a diretora... É, o monstro já tem todos os que precisa, por que viria atrás de mim? Talvez vingança, neste caso deve ir atrás do Rafael e do delegado também.
Minha vontade era desabar em lágrimas, mas eu tinha medo de ser ouvido e o monstro aparecer para me atormentar, então come sei a tocar o anel que o Rafael me dera. Parecia até que a palavra gravada nele brilhava na escuridão, eu sabia exatamente o que estava escrito, “incipiens”.
Finalmente uma lagrima escorreu de meus olhos. Eu estava triste por estar preso nesse lugar escuro, estava sentindo dor por nunca mais ver meu amado Rafael, estava com ódio de mi mesmo por não ter pegado a adaga e tomado mais cuidado, estava cansado de enfrentar problemas que pareciam me afastar de meu amor. Pensei neste último, me assumi gay pelo Rafael, algo que me feriu gravemente, pois afastou meus pais (sim afastou mesmo que eles não admitam), mudei-me para a casa dele, enfrentava aquele monstro ao invés de simplesmente fugir, algo certo é a quantidade de coisas bizarras que o Rafael vai atrair.
Não tenho certeza de quanto tempo fiquei delirando, sei apenas que adormeci profundamente...
(...)
(...) Rafael assume a narrativa. O tempo passa a ser contado quando ele sai do consultório. (...)
(...)
O céu estava escurecendo, anunciando uma possível tempestade. Pensei em mim e meu Lucas brincando na chuva, entre as nuvens de tempestade, rindo e felizes. Na minha vida, sempre tive ausência de amor, mesmo meus pais me dando afeto e depois meus avos, nunca tive um amor do tipo de estar realmente feliz. Era verdade que eu estava satisfeito quando meu pai me ensinava às coisas ou quando minha mãe tocava piano comigo, mas nunca me senti tão completo quanto agora, com o meu Lucas.
Já podia ver a casa do Lucas lá em baixo. Antes de descer olhei ao redor para saber se era seguro pousar. Finalmente desci atrás da casa do meu amado vesti minha camisa e fui até a porta da frente. Toquei a campainha, mas ninguém atendeu, esperei uns dez minutos, o Carro do pai do Lucas entrou na garagem e o Dr. João veio falar comigo.
João – Rafael. Está esperando muito tempo?
Eu – não, apenas uns dez minutos – ele fez uma cara esquisita, como se eu houvesse dito algo bem estranho e que o tenha ofendido profundamente.
João – sei... Onde está o Lucas? – perguntou já abrindo a porta para entrarmos na casa.
Eu – Ele deveria estar aqui.
João – Ele não estava na sua casa?
Eu – não, antes de ir ao seu consultório o deixei aqui – falei já meio preocupado.
João – você está tenso. Acalme-se. O Lucas deve estar na casa de algum amigo, ou mesmo ido passear no parque com sua bicicleta.
Eu – é, pode ser. Vou ligar para ele – disse sentando no sofá e pegando meu celular para ter certeza que ele estava bem.
Tentei inúmeras vezes, mas sempre recaia na caixa de mensagens. “Ele deve estar com a Carol”, pensei. É, eu iria até a casa dos nossos amigos e ele estaria lá, rindo e bem. Levantei e quando abri a porta para sair dei de cara com a Carol e o Alex. Meu coração disparou.
Parte 86
(...)
(...) Maria assume a narrativa. O tempo passa a ser contado momentos depois de o Rafael tentar ligar para o Lucas. (...)
O dia estava bem tempestuoso, eu sinto conforto com minha vida atual, meu filho, marido casa, enfim, tudo normal. É bem verdade que a minha vida antes de encontrar o João era bem mais agitada e emocionante, mas já estava em tempo de sair daquela profissão.
Antes de estacionar minha moto, vi o Rafael sair desesperado. Minha intuição me fez segui-lo, pois era evidente o transtorno dele e algo me dizia que o Lucas estava envolvido.
Ele andou rapidamente, vigiando os lados como quem procura alguém. O segui até um beco sem saída. A primeira coisa que me veio à cabeça é o medo dele estar envolvido com drogas. Cautelosamente olhei para dentro do beco, mas ele estava vazio, as únicas coisas no local eram umas sacolas de lixo e algo que se destacou no meio da sujeira. Aproximei-me para ter certeza do que era. Quando segurei não restou duvidas de que era uma pena de uns quarenta centímetros e branca, não um branco qualquer, mas um branco puro e límpido. Perguntei-me qual animal deixara cair.
Olhei nas ruas próximas, todavia não descobri para onde o Rafael foi. Talvez eu estivesse ficando velha e me confundi ao vê-lo entrar no beco. Voltei para casa a tempo de ver os amigos de meu filho saírem apressadamente. Chegando, fui até a sala onde meu marido lia o seu livro.
Eu – Querido, o que ouve, para o Rafael sair desesperado daquele jeito?
João – Ele está preocupado com o Lucas.
Eu – o que aconteceu com nosso filho? – perguntei já preocupada.
João – não se aflija, provavelmente foi passear na praça com sua bicicleta, lembra que ele costumava fazer isso para relaxar?
Eu – sim, lembro.
João – o Rafael que é muito... Cuidadoso. Está exagerando na preocupação.
Eu – é. Talvez você tenha razão – disse com um tom de duvida, pois minha intuição martelava que algo estava terrivelmente errado.
(...)
(...) Rafael assume a narrativa. O tempo passa a ser contado do momento em que ele levanta voo no beco e despista a mãe de Lucas (...)
Alguém estava me seguindo, não prestei atenção na pessoa, pois estava muito preocupado com o Lucas. Alcei voo assim que cheguei ao beco. Iria voando até o parque, demoraria muito ir andando, além do mais, é mais fácil procurar do alto. Demorou apenas alguns segundos para eu chegar, assim que avistei o Parque vi o DR. Leopoldo sentado em um banco, ao lado ma bicicleta. Ele olhava o “nada”, estava só, o parque vazio devido ao temporal que ameaçava cair. Desci bem perto dele fazendo-o tomar um susto.
Leopoldo – puxa! Assim você me mata do coração Rafael – falou recompondo-se do susto. Se eu não estivesse preocupado com o Lucas não poderia deixar de rir dessa ocasião.
Eu – desculpe... Estou procurando o Lucas, o pai dele disse que talvez pudesse encontrá-lo aqui.
Leopoldo – não, cheguei aqui há algum tempo e não vi nem uma viva alma.
Eu – estava andando de bicicleta? – falei apontando para o equipamento ao seu lado.
Leopoldo – não. Encontrei essa jogada ali, perto das arvores.
Meu coração apertou, uma dor forte e indescritível. Aquela era, provavelmente, a bicicleta do Lucas. Ele não voltou para casa e o mais provável era que aquele monstro repulsivo tenha capturado meu amado. Naquele momento fiz algo que eu não podia imaginar ser capaz. Gritei, gritei com uma dor absoluta na voz, senti o chão tremer, as nuvens ficarem mais cinzentas. Deve ter durado alguns segundos, então voltei para as nuvens. Embora o ódio houvesse tomado conta de meu coração, eu ainda tinha um fio de esperança, pois lá no fundo sabia que meu amor ainda estava vivo, e eu o encontraria.
(...)
Parte 87
(...) Leopoldo assume a narrativa. O tempo passa a ser contado do momento em que o Rafael levanta vôo (...)
Nunca me acostumarei com aquele garoto. Quando ele chegou com as asas, de um lado negro e outro branco, mesmo com os olhos encobertos pelos óculos, eu podia perceber a preocupação em seu rosto, algo normal. Todavia quando lhe disse que a bicicleta não era minha, seu tom mudou severamente.
Percebo, agora, que a bicicleta é do Lucas e consigo encaixa as peças, mas naquele momento eu só consegui sentir medo, dor, sofrimento, escuridão. Aquele grito me aterrorizou, o terremoto, o escuro que as nuvens produziam por estarem tão densas que nem um raio de sol penetrava e, principalmente, quando as assas passaram a ficar ambas escuras, um negrume intenso e profundo.
Meu corpo e minha mente ainda estavam intensamente abalados com o terror que o Rafael exalava, mas levantei e levei a bicicleta para a delegacia. Decidi que iria de carro para a casa do Lucas, saber mais da situação e contar o que eu sabia, quer dizer, excluindo as partes “incomuns”.
(...)
(...) Maria assume a narrativa. O tempo passa a ser contado a partir do momento em que o delegado Leopoldo bate na porta e Maria vai atender (...)
Leopoldo – Olá. Preciso conversar com você e seu marido, receio ter más noticias de seu filho.
Ao ouvir aquilo meu coração de mãe ficou desesperado. Mandei que sentasse em uma poltrona na sala, eu fiquei em outra com o João e o Leopoldo começou a despejar.
Leopoldo – encontrei uma bicicleta no parque. Primeiro pensei que fosse de alguém que foi até as arvores fazer xixi ou algo assim, todavia o Parque estava deserto e não apareceu ninguém lá por um bom tempo, ai o Rafael me disse que o Lucas havia ido passear lá. Acontece que dei uma checada na bicicleta e encontrei o nome do Lucas gravado nela.
Eu – então meu filho foi outra vítima – não podia conter as lágrimas que se seguiram.
Leopoldo – calma dona Maria. Não encontrei nem um corpo no Local e minha equipe de pericia já está em busca de provas, ele pode estar vivo ainda.
João – e o Rafael, porque ele não voltou para cá?
Leopoldo – Ele ficou furioso, e saio para procurar pelo Lucas. Agora penso que ele tem alguma ideia de onde ele esta – ele falou, mas na sua voz se escondia alguma inverdade, tinha certeza, eu possuía vasta experiência em mentiras.
O Dr. Leopoldo ainda nos deu mais esperanças antes de sair. Eu deixei meu marido na sala, dizendo que precisava ficar um pouco sozinha. Meu filho estava em perigo, agora eu tinha certeza, não pouparia esforços em encontrá-lo. Para tanto me utilizaria de quaisquer modos que eu conhecesse, eu posso ser velha, mas ainda sei fazer meu antigo trabalho. É como andar de bicicleta, nunca esquecemos.
(...)
(...) Rafael assume a narrativa. O tempo passa a ser contado do momento em que ele começa a voar em direção a sua casa (...)
Tudo estava escuro novamente, o ódio fazia meu sangue ferver e um poder formidável corria por mim. Eu iria encontrar o Lucas e ia espedaçar aquele monstro, o faia sofrer tanto que desejará morrer. Mesmo com todo o ódio, a dor em meu peito era forte e lagrimas escorriam por meu rosto, pingando ao longo do caminho até em casa.
Ao chegar fui diretamente para a biblioteca, procuraria um feitiço ou técnica, um meio de rastrear a criatura. Pois imaginei, em meu desespero e devaneios, que o monstro era um animal e como todo o animal podia ser rastreado.
Passei cerca de uma hora e finalmente encontrei um feitiço que poderia rastrear o monstro. Era algo complicado, mas, diferente da outra vez, eu não sentia o Lucas, sabia que ele estava vivo e sabia que estava em perigo, porém algo o escondia de mim. Preparei os ingredientes para feitiço do melhor jeito que pude, mas eu não podia ficar tentando o dia inteiro.
O feitiço tinha um limite de espaço de busca, quer dizer, só funcionaria se o mostro estivesse a um raio máximo de três quilômetros. Um dos ingredientes que eram usados eu tinha uma pequena porção, para extrair da planta da estufa e fazer as devidas transformações levarias dias e eu não tinha esse tempo, então minha pontaria deveria ser precisa.
Onde lançar o encanto? Na cidade, e que parte, pelo que sei a estringa atacou em tantas regiões diferentes que é difícil saber. A raiva subiu pelo meu corpo, eu não podia errar caso contrário perderia minha razão de viver. Meu celular tocou. Não queria atender, mas poderia ser alguma coisa sobre o Lucas. Olhei no visor, era a mãe do meu amado. O que será que ela queria?
(...)
Parte 88
(...) Lucas retoma a narrativa. O tempo é indistinto para nosso personagem, de modo que a única coisa que sabemos é que o relógio marca algum ponto depois do anoitecer (...)
Eu despertei de meu sono sem sonhos, para um pesadelo ainda maior. Eu sinceramente queria acordar e ver que era apenas um sonho, ver que eu ainda estava em casa em minha cama. O frio era cortante e eu sentia que meu Rafael estava com problemas, de algum modo eu sabia que procurava um modo de me encontrar e sabia que me acharia. A única dúvida era se o faria a tempo de me ver vivo.
Comecei a ouvir barulho de alguém discutindo em uma sala próxima. Aproximei-me ao Maximo do som e consegui distinguir algumas palavras. Varias vozes falavam de uma ameaça, falava de um trunfo que tinham, falavam de organização, meus ouvidos captavam apenas fragmentos. Percebi que era uma espécie de reuniões, para discuti assuntos de interesse coletivo ou algo assim, o que as pessoas costumam fazer para decidir o futuro do país ou de sua comunidade.
Contudo, as palavras e expressões que ouvi me diziam que não eram realmente pessoas que ali estavam debatendo, mas monstros. Ouvi algo sobre vampiro e sangue, sobre uma praga de pulgas super desenvolvidas, escutei sobre a escassez de algumas ervas, sobre perigos de se voar hoje, tanta coisa estranha que voltei a me encolher em um canto para voltar para um profundo sono sem sonhos.
(...)
(...) Rafael assume a narrativa. O tempo passa a ser contado do momento em que ele atende ao telefone (...)
Rafael ao telefone – alo?
Desconhecido – (...)... (...)... (...)? ... (...)!
Rafael ao telefone – não posso acredita. Que noticia excelente! Chego ai em quinze minutos, não faça nadada ate que eu esteja com a senhora – desliguei.
Não podia acreditar. Como a mãe do Lucas descobriu onde ele estava? Não esperei, apenas peguei uma espada, uma adaga, a poção de purificação e a poção de rastreamento. Segui voando as pressas para a casa do Lucas, não estava preocupado se alguém poderia me ver. O Lucas está em primeiro lugar.
Viajei na maior velocidade que consegui, creio que levei apenas alguns poucos minutos para chegar à casa do Lucas. Pousei na frente da casa e fechei as asas. Entrei sem bater mesmo e fui ao encontro da Maria que me esperava na sala. Seu João havia ido dormir. Aparentemente ele estava abalado e precisava dormir para não explodir. Quando cheguei, o Dr. Leopoldo estava sentado em uma poltrona, Dona Maria em outra, então sentei também.
Maria – Rafael, sei que posso confiar em você, pois vi o quanto gosta de meu filho.
Eu – obrigado Dona Maria, fico feliz de ter sua confiança.
Leopoldo – sim. Você disse que achou o Lucas?
Eu – onde está o meu amor?
Maria – na verdade, eu apenas consegui uma localização parcial. O localizador que coloquei nele está sofrendo interferência, mas consegui triangular uma área, o problema será procurar.
Leopoldo – você instalou u rastreador no seu filho?
Maria – um implante no seu dente.
Leopoldo – como você fez isso? Onde consegui um aparelho tão pequeno? O que estava pensando para implantar algo assim em sue filho?
Eu – depois você faz seu interrogatório, agora o mais importante. Onde é a área que o sinal do Lucas veio?
Maria – os chamei devido a essa localização. A área fica bem no interior da floresta, não há duvidas que esteja em alguma caverna escondida ou algo do tipo. Os satélites não conseguem enxergar nada devido a essas nuvens de tempestade, e mesmo assim acredito que a mata seja muito densa para verificarmos por fotos de satélite.
Eu – tudo bem. Mostre-me, no mapa, o local, eu irei resgatá-lo.
Maria – eu admiro sua coragem, mas acho que deveríamos ir os três. Primeiro você por ter conhecimento da área, Quer dizer, o Lucas me disse que você conhecia a floresta bem. Segundo o Dr. Leopoldo por poder oferecer ajuda e ser de minha inteira confiança.
Leopoldo – nós percebemos o motivo de partirmos para a expedição, mas porque você vai?
Parte 89
(...) Rafael continua a narrar (...)
Maria – primeiro, é meu filho. Segundo, sei usar armas muito bem, digamos que fui bem treinada em minha antiga carreira. Confiem em mim, não posso contar mais nada.
Leopoldo – preciso saber com quem vou trabalhar.
Eu – eu não! Basta saber que é a mãe do meu amado e o ama quanto eu. O resto é resto – falei com firmeza em minha voz. O Leopoldo concordou que esse não era o momento para perguntas.
Leopoldo – mesmo nessa área, o espaço é grande para achar uma caverna, ainda mais uma subterrânea, pode ser, inclusive uma antiga base de emergência para ataque e a entrada é uma porta pequena. O melhor é que esperemos até amanham.
Eu, Maria – Não!
Eu – amanhã será tarde. Temos que partir agora.
Leopoldo – entendo o que vocês estão sentindo, mas agora é muito escuro. Será difícil encontrarmos.
Maria – você tem razão, mas eu não posso esperar até amanhã!
Eu – eu tenho um modo de rastreá-lo nessa área.
Maria e Leopoldo – qual?
Eu – um feitiço. Encontrei na biblioteca como prepará-lo logo antes de receber a ligação da Maria.
Maria – você está de brincadeira?
Leopoldo – um feitiço... Porque não o usou logo de cara?
Eu – tem um curto alcance e eu só podia preparar um frasco, suficiente para uma vez, apenas.
Maria – que história é essa? Meu filho correndo perigo e vocês brincando?
Eu – não posso explicar tudo agora, você terá que confiar em mim.
Leopoldo – acredite, é melhor confiar.
Eu – já faz um tempo que conseguimos descobrir o que está atacando as pessoas. Não é uma pessoa e sim um monstro.
Maria – o que?
Eu – vamos de carro até o mais próximo que pudermos, depois seguiremos andando.
Maria – vocês acham que acreditarei que monstros são reais?
Minha paciência estava esgotando, então tirei a camiseta e abri minhas asas, que estavam completamente negras.
Maria – u...
Eu – no caminho explicaremos os detalhes, agora precisamos partir.
Fomos no carro do Dr. Leopoldo, pois ele havia dito que desde que falei sobre o monstro ela mandou preparar umas balas especiais, de prata ouro e cobre. No caminho contei o que sabia. A Maria ficou aterrorizada pelo que o filho estava se metendo, mas não falou nada que denunciasse seu atual desgosto por eu estar namorando ele.
Quando chegamos dei ao delegado um frasco com a mistura pura que é venenosa para a estringa. Ele a despejou nas balas e entregou algumas armas para a Maria e pegou outras. Não quis, agora ele pareceram notar a espada que eu carregava. Provavelmente pensaram que idiotice usar uma espada ao invés de arma, mas eu sabia no fundo de meus ossos que mais vale uma espada que nunca te deixará na mão do que uma arma que em algum momento falhará ou destruirá aquele que a carrega.
Prontos para irmos pelo escuro intenso da noite, quebrado apenas pela luz de nossas lanternas, preparei a poção. Joguei os fios de cabelo do Lucas e pronunciei algumas palavras para completar o feitiço. Assim que acabei de recitar o encantamento o vidro mudou de tonalidade e começou a puxar, como um imã atraído por outro. Seguimos, com a orientação da poção, por um longo caminho.
Finalmente chegamos perto da entrada de uma caverna. Na entrada estavam dois javalis. Imaginei que fosse esse o lugar, pois os bichinhos possuíam o meu tamanho e suas presas pareciam bem mais afiadas do que animais comuns.
Leopoldo – pegue Maria – ele deu a ela uma arma de longa distancia, havia outra consigo. Eles miraram. Um, dois, três... Os javalis estavam aparentemente mortos.
Eu – está muito fácil.
Aproximamo-nos e percebi uma sensação esquisita. Não sei exatamente como, mas podia sentir que havia muitos monstros por perto. Guardei a porção e puxei minha espada, não que eu soubesse usá-la perfeitamente, mas eu contava com um pouco de sorte. Os javalis mortos apodreciam em uma velocidade espantosa, de modo que ao adentrarmos a cavernas eles já estavam praticamente indistintos do solo. Comecei a ver Luz à frente, uma fogueira, podia ouvir varias vozes à frente. Atrás de mim estavam à mãe do Lucas, segurando firme uma escopeta e com uma segurança espantosa, e o Leopoldo mais atrás, com a expressão clara de medo. Paramos por um momento, pois havia uma porta antes de chegar ao salão de onde vinha a luz e as vozes...
Parte 90
(...) Lucas assume a narrativa. Não se sabe em que ponto do tempo está (...)
Eu estava com fome e cede. Não sabia quanto tempo mais aguentaria. De repente ouvi um barulho metálico que indicava que alguém abriu a cela. Uma mão fria me segurou pelo braço e me arrastou para fora. Percebi que outro prisioneiro era arrastado por uma silhueta masculina. Aproximávamos-nos de uma sala iluminada por luzes que pareciam vir de uma fogueira, a temperatura subia conforme nos chegávamos ao nosso destino. Vi que a outra pessoa arrastada era a Madalena.
Finalmente chegamos a uma sala grande, cheia de criaturas pavorosas... Ok, algumas eram bem bonitas, como a garota que me levava. Fui levado até um canto onde um homem com um bigode bem escuro e de cabelo de mesma cor, pele esbranquiçada e expressão séria falava aos outros. Eu e madalena fomos jogados junto a uma mulher que percebi ser a diretora.
Homem de bigode – Agora vamos fazer um lanchinho, temos um banquete pronto e para todos os gostos, depois vamos decidir como usar esse garoto e finalmente julgar os atos de traição dessa mulher – ele apontou para mim e depois para a diretora.
Vários garotos e garotas, com a pele bem lisa e pálida, serviram os convidados com os mais diversos pratos. Havia uma mesa em um lado do grande salão, mas ninguém parecia interessado em levantar para buscar algo, preferiam ser servidos. Não posso descrever o como repugnante algumas das coisas que estavam ali. Duvidei que qualquer um naquela sala, os prisioneiros, fosse humano.
Por que tudo isso estava acontecendo? Se eu nunca houvesse conhecido o Rafael, provavelmente eu estaria vivendo minha vidinha normal, talvez eu houvesse encontrado outra pessoa para amar. Pensei em falar algo para a madalena, mas antes de eu fazer isso o Homem de Bigode a pegou e aproximou sua boca do pescoço dela. Vi os dentes dele e percebi o que ele era e o que pretendia fazer.
Tentei fazer algo para evitar, mas antes de eu chegar ao sujeito, a garota que estava atrás me jogou no chão e colocou o pé em minhas costas, de modo que eu fiquei com o rosto no chão. Eu não tinha forças para levantar. Estava em algum lugar entre acordado e em profundo sono, quer dizer, eu sabia que não estava dormindo, mas as coisas ao redor eram muito indistintas e meu corpo não respondia a minha vontade...
(...)
(...) Rafael assume a narrativa. O tempo passa a ser contado do ultimo momento em que o Rafael narrou (...)
Entramos pela porta e descobrimos que era apenas uma sala com uma mesa no cento e algumas coisas que eu tinha quase certeza que eram ossos. Saímos rapidamente e andamos silenciosamente até a entrada do salão. As luzes que vimos não eram de uma fogueira, mas rios de lava que incandesciam em algumas paredes.
A primeira coisa que notei era que todos estavam comendo. A segunda, Muitos eram velhos ou muito pequenos para ser uma real ameaça. Por fim avistei uma cena perto de um palanque que chocou meu coração. O meu Lucas caído no chão com um claro aspecto de morto e a madalena sendo mordida por um sujeito que logo a jogou, inerte, ao lado de meu amado.
Leopoldo – fique calmo, não é uma boa ideia atacar com todos esses ai – ele disse percebendo meu corpo latejar de raiva.
Era inevitável. O ódio subia por meu corpo e gerava um poder absurdo. Tudo ao redor ficava meio fora de foco excetuando as criaturas que pareciam estar em minha mira. Gritei, novamente, como no parque, a caverna tremeu e todos olharam para mim. Alguns expressavam terror nos olhos, enquanto outros apenas observavam.
Antes que qualquer um pudesse fazer algo, a Dona Maria jogou algumas granadas que explodiram perto de alguns dos bichos os deixando atordoados. A gritaria começou, alguns corriam para as saídas que estavam desmoronando e outros partiram para cima de mim. Cortei a esquerda e a direita, em cima e em baixo. Desviei de algo que parecia ser gliter roxo e cortei a cabeça de um vampiro que mostrava os dentes e havia pulado para me agarrar.
Uma criatura peluda e do tamanho de um urso me deu um golpe no ombro e me jogou contra a parede. Ouvia os disparos e vi que alguns tiros acertaram “o olho” da criatura. Levantei rapidamente e vi que os bichos estavam mais preocupados comigo do que com os meus ajudantes, vi que a Maria sabia usar uma adaga, provavelmente a que eu dei para o delegado e ela pegou. Matei um e outro monstro, e fui novamente acertado por algo quente que queimou minha perna, percebi vários arranhões no meu corpo.
Não tenho certeza se foi descuido ou falta de sorte, mas aquela criatura que me jogou na parede desferiu um golpe nas costas da Maria. A vi esbugalhar os olhos antes de uma coisinha parecida com um anão com garras e cabelo espetado arrancar a cabeça dela. O ódio apenas aumentava no meu interior.
Abri as asas e todos pararam momentaneamente. Senti a espada mais leve em minhas mãos estão comecei novamente a acertar um e outro monstro. E curioso algo que percebi somente depois: alguns dos monstros apenas ficavam atordoados com os meus golpes.
Pensei naquela arma que o Velho me deu. Assim que o fiz ela se materializou na minha mão. Nesse momento, um menino de cabelo verde pegou o arco e mirou em mim. Pensei em um escudo e antes de a flecha me atingir a pequena esfera, agora nega como minhas asas, tomou a forma de um escudo, feito de alguma coisa indistinta e muito fria que parecia leve, porém inquebrável.
Continuei a golpear, mas os monstros voltavam estavam se recuperando rápido. Pensei em algo que pudesse matar. Uma foice surgiu em minhas mãos. O seu cabo parecia madeira velha, como se o galho houvesse sido arrancado da arvore e sido usado assim mesmo. A lamina curva da ponta era negra e parecia muito pesada... Comecei a usar essa arma, estava funcionando, a lamina rasgava as criaturas e elas se desintegravam. Alguns bichos chegaram a fugir quando me viram empunhar aquilo.
Finalmente me vi sozinho. Corpos em decomposição por todos os lados. Maria e Leopoldo estraçalhados, eu mesmo cheio de feridas e arranhões. Cheguei a notar facas no meu corpo e vi que uma de minhas pernas estava toda queimada. Senti o peso da arma em minhas mãos, ouvia gritos de dor ao longe e sentia muita dor também. Meu estado de ódio não havia me deixado sentir esses sentimentos, mas agora... Fiz a arma desaparecer, fui até onde estava o Lucas e vi ele estatelado no chão, ao lado a madalena, morta.
Tomei meu amado em meu colo e comecei a chorar. Ele se mexeu! Parei de fungar e aproximei meu rosto do dele. Senti sua respiração quase cessando e seu corpo fragilizado ainda tremendo. Graças a Deus, ele viveria!
Parte 91
(...) Lucas retoma a narrativa (...)
O meu Rafael veio me salvar, senti quando ele chegou e ouvi o grito dele, este me deixou apavorado. Mas o desejo de ter meu amado perto era maior que esse medo. Quando senti a segurança relativa de seus braços adormeci profundamente.
Não sei quanto tempo passei dormindo. Sei apenas que acordei na cama do Rafael, vi que era dia e reparei, também, que alguém estava no banheiro. Tentei levantar mais uma forte tontura me fez cair no sono outra vez. Quando voltei à consciência o Rafael estava falando com alguém. Logo percebi que era meu pai. Eles não perceberão que eu estava acordado.
João – o funeral da Madalena foi hoje, amanhã será a da Maria – ele falou com um grande pesar em sua voz.
Rafael – como eu vou falar para ele isso?
João – você terá que dizer assim que possível... Se quiser eu dou a noticia.
Rafael – não, eu faço isso.
João – vou comer alguma coisa e daqui a pouco vou embora – disse saindo do quarto.
Eu – há quanto tempo estou dormindo? – falei com a voz embargada.
Rafael – amor... Três dias – disse se aproximando, mas eu não queria os braços dele, queria minha mãe.
Eu – quem morreu?
Rafael – a sua mãe, a madalena e o Leopoldo – falou desviando seus olhos do meu.
Não pude deixar de conter as lagrimas, elas vieram rápido e intensamente. Ele tentou me abraçar novamente, mas eu estava com raiva. Todo mundo que eu amava estava morrendo. Nesse momento me perguntei se era compensador ficar com o Rafael a custo de todo o resto. Sim, em algum momento outra coisa seria atraída pelo por ele e o meu pai poderia ser a próxima vítima, ou os meus amigos.
Decidi que voltaria para casa, para ver o enterro de minha mãe. Falei para o Rafael não vir, pois o pior já havia passado. No caminho meu pai evitou falar, disse uma coisa ou outra, apenas. Chegando a casa fui tomar um banho, longo e calmante.
Refleti os acontecimentos, minha mãe morta? Minha amiga querida? Por quê? Eu amava o Rafael tanto, mas será que valia realmente a pena?
Os questionamentos bombardeavam minha cabeça e as lágrimas corriam por meu rosto, misturadas a água do chuveiro. Acabei o banho e fui dormir. Acordei antes de o despertador tocar, rolei na cama a noite inteira e apenas consegui dar alguns cochilos. De manhã eu me arrumei para o velório, o dia estava meio nublado, mas não parecia que ia chover.
Durante o enterro o padre falava algumas coisas sobre minha mãe. Enquanto ele “rezava” pensei... Como ela morreu? Puxei o máximo de lembranças até que a imagem da silhueta dela, lançando bombas, vinha à mente. Ela estava com o Rafael, pensando bem o Dr. Leopoldo também estava lá. Voltei meus pensamentos para as lembranças de minha mãe, um ódio subia pelo meu corpo, eu culpava o Rafael, mas eu sabia lá no fundo do meu coração que o culpado era eu.
O enterro acabou, porém resolvi ficar mais um pouco. Meu pai foi embora, afinal nossa casa era dobrando a esquina. Depois de um tempo, um homem de óculos escuros redondos, careca e de chapéu circular, começou a falar comigo. Eu tinha certeza que já o conhecia, não me lembrava de onde.
Desconhecido – sua mãe era uma mulher maravilhosa. Ela te amava, e aquela outra garota também.
Eu – é mesmo – por algum motivo que eu não me preocupei no momento eu estava confiando no cara.
Desconhecido – seria tão bom se as coisas tivessem sido diferentes – falou com um tom de saudosismo.
Pensei no Rafael e em como seria bom nunca ter encontrado com ele, seria ótimo ter continuado em minha cidade ou mesmo estudado em outra escola. Eu queria isso tanto que até chegava a doer. Se eu pudesse escolher, nunca teria cruzado o olhar com o dele, pois agora eu o amava e nada me afastaria dele, pois isso me mataria. Mesmo que todos ao redor morram, eu não posso mais viver sem ele.
Desconhecido – e se eu dissesse que é possível voltar e refazer o passado?
Eu – seria tão bom – falei ainda perdido em meus pensamentos.
Desconhecido – então você deseja nunca ter conhecido o Rafael?
Eu – é... Eu desejo nunca ter conhecido o Rafael – depois de dizer isso eu pensei que não era verdade, eu adorava meu Rafael e o Amor dele é a melhor coisa que já me aconteceu.
Desconhecido – então que assim seja...
Eu vi os olhos dele brilhando em azul atrás dos óculos e percebi tarde de mais que fiz uma besteira. Ele estalou os dedos e tudo rodou... Rodou... Rodou. O mundo perdeu suas tonalidades até não restar cor alguma... Eu estava morto? Perdi-me em um profundo sono, ao qual eu temia nunca acordar.
Fim...??