Mesa Para Três Cap IV

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Parte da série Mesa Para Três

MESA PRA TRÊS

CAPÍTULO IV

KESHA, ABBA, ROD STEWART E MADONNA

12/06/2014

Já era a sexta ou sétima festa aquela semana, Gabriel havia perdido a conta, mas ele não se importava, apesar de estar curtindo todos os dias da maneira que sempre quis, as coisas não aconteciam como ele planejava. E não era nada que ele pudesse evitar, pois era a maneira como ele se sentia sobre as coisas, ele havia ido para os lugares mais bonitos do país, tirado fotos e colocado nas redes sociais, ouvido elogios maravilhosos e para seu maior prazer, comentários invejosos, mas algo ainda estava lhe faltando. Dinheiro não lhe era mais problema, pois o pai numa tentativa frustrada de animar o filho, financiou a viagem toda, foi uma culpa cara, Gabriel tinha prometido a si mesmo que viveria como se não houvesse amanhã, afinal, quando pisaria em solos brasileiros novamente?

Conhecendo vários lugares, Gabriel foi conhecendo várias pessoas, gente estranha, gente legal, gente imatura e irresponsável, ele gostava de sentir que para tudo havia um aprendizado, gostava das coisas que estavam lhe acontecendo, a sensação de despedida despertava nele diferentemente bom e ele não saberia dizer o que havia de errado, mas estava querendo voltar para casa depois de seis meses de viagens de avião, comida diferente, fuso horário, sexo desbocado, dança e djs. Era tudo divertido, mas ela não sabia o que queria, ou ele iria voltar e passar esses últimos cinco meses e meio com Rodrigo, ou já iria pra Europa com cinco meses e meio de antecedência, ele não sabia o que queria e esse sempre foi seu maior problema.

- Acho que é isso! Chega! Vou para casa! Essa será a última dança!

Assim como Gabriel, a família toda dele era negra, a mãe era professora de cultura africana e ele já tinha ido ao continente africano diversas vezes acompanhado pela mãe, que realizava palestras e autografava seus livros que tratavam da cultura brasileira, africana e miscigenação. Gabriel sempre foi apaixonado pelo universo literário, personagens marcantes tiveram sua parcela de responsabilidade em sua personalidade. Ele sempre foi conhecido entre os amigos por sua ousadia e criatividade, ele também sempre se destacava dentre os colegas por sua cor marrom reluzente, ele era de uma cor café que se notava de longe e dificilmente passava despercebido, a melanina nele reluzia, além de que ele tinha um sorriso lindo, largo e espaçoso, que desarmava qualquer pessoa, e ele sabia disso, era muito raro ele ouvir um não. Essa facilidade com que conseguia as coisas mais a somatória do tempo, foi dando a ele um grande ego que fazia um balanço interessante com sua esquisitice, Gabriel tinha umas manias estranhas, falava sozinho, discutia consigo mesmo, era viciado em quebras cabeça, e tinha a curiosidade como seu principal ponto fraco.

Gabriel nunca chegava na hora marcada em seus compromissos, era algo dele, não adiantava reclamar, seus pais sabiam disso, seus amigos e seus professores, ele não mudaria.

Ele sabia exatamente como seria aquela noite e por ora estava certo, fez o que se disse que iria, dançou muito, fez uns passos, deu uns amassos, fez outros passos e deu outros amassos, não perguntava os nomes dos rapazes pois tinha esse problema com memória que sempre acabava passando vergonha, logo cansou e foi para o bar. Sentia a falta de Rodrigo, seu ex, e seu rastafári longo e estranho, a data não ajudava, sentia a falta de suas atitudes bobas em prol da natureza, ele nunca admitiria isso a ninguém, mas sentia orgulho e inveja do seu bom coração, pediu mais uma rodada antes que fizesse a besteira de ligar para o ex namorado sóbrio. “- Bêbado ainda vai, mas sóbrio não.” Ele já tinha se rendido, resolveu beber mais então, a fim de fazer a ligação.

Achou o garçom um charme, mas estava se sentindo mal aquele dia. Já estava na sua segunda Original de 600ml, mais duas garrafas depois e incrivelmente sóbrio, ele avista no meio daquela multidão drag alguém que chamou sua atenção, um homem que não sabia direito para onde olhava e mexia a cabeça rapidamente, como e estivesse assustado com tudo a sua volta, ele parecia ter a aparência de um senhor, mas bem cuidado. Um rapaz que obviamente tinha o dobro da idade da maioria dos que estavam ali, era incrivelmente moderno para também, ele vestia um casaco de couro marrom claro e uma camisa cinza com alguma estampa que parecia o formato de uma caveira, ele era forte, mas obviamente não estava ali para se mostrar, se fosse esse o caso, ele viria de regata como 75% das pessoas naquela casa. Vestia ainda um jeans levemente colado que revelava uma perna forte e um sapato escuro e discreto. Um cara intimidante, mas que aos olhos de Gabriel parecia estar atrapalhado.

Kesha tocava lá no fundo e antes de Gabriel se aproximar lembrou de se limitar no quesito nome.

- Olá – Disse Gabriel sorrindo olhando diretamente nos olhos do rapaz.

- Opa – respondeu o outro indivíduo educadamente desviando o olhar num instante. Gabriel percebeu mas fingiu que não viu.

- Esperando alguém?

-Talvez...

- Você sabia que isso aqui era uma boate gay quando entrou, certo?

Gabriel o viu sorrir e dessa vez manteve um contato visual mais prolongado.

- Tá tão óbvio assim é?

Gabriel estava desarmado agora, estava encantado pela sua voz meio rouca e eu charme que concretizava o ar.

- Você tem uma cara de mal... – Gabriel imitou ele na hora, atitude que surpreendeu o outro rapaz.

- Você tá dizendo que eu espanto, é isso?!

- Não espantar... Mas intimida... – Gabriel já se sentia confortável naquela conversa, mesmo não sabendo onde ele estava querendo chegar. – Tenta uma cara mais assim... – E Gabriel fez uma cara do que acreditava ser um galã americano. O outro rapaz tentou, mas caiu no riso logo depois. O dois riram, quando entre o silêncio do final da voz de Kesha, se estabeleceu e a próxima música começou a tocar. .

- Adoro ABBA, vamos dançar? - Disse Gabriel estendendo a mão.

- Você conhece ABBA? – Perguntou surpreso - Aposto que a maioria aqui nunca ouviu falar de ABBA.

- Para de ser tão negativo – Gabriel o agarrou pela mão – Vem, quero ver o que você sabe fazer. - Disse em voz alta transpassando malícia se envolvendo em meio aquelas pessoas. O outro rapaz não queria ir, mas duvidava que se divertiria mais do que estava se divertindo agora, então simplesmente se deixou levar. Ao som de Mamma mia, o rapaz arriscou alguns passos mas desistiu na metade e viu Gabriel dançar, ele acreditava saber ser sexy, os dois se mantinham no básico até o refrão até que o Dj cortou a música começou a falar:

- Em homenagem a todos os casais aqui presentes nesse dia dos namorados, eu dedico essa música.

Um ritmo leve e dançante começou a tocar e a maioria das pessoas abandonaram a pista de dança. Mais escura do que o normal, um jogo de luzes formava corações se movimentando nas paredes, iluminando copos pela metade e um papel de parede meio brega. Gabriel ouviu ao pé do ouvido:

- Agora eu tenho certeza que ninguém aqui conhece essa música. – E riu.

Gabriel mordendo os lábios observou aquela figura sorrir e falou sem pensar ao seu ouvido.

- Se eu souber você me dá um beijo?

O outro rapaz arregalou os olhos sorrindo, pensou balançando a cabeça em movimentos negativos e respondeu para Gabriel:

- Dou.

- Então dança comigo antes.

Os dois dançaram aquela música inteira com os corpos grudados, o passo era simples, no salão, muitas pessoas estavam os encarando, mas eles nem notaram, ou se notaram não pareceram se importar, Gabriel segurava na cintura do rapaz e sentiu que o moço tinha um corpo duro, mas que podia dançar, mesmo que não arriscasse algo amplo. O rapaz, por sua vez, não fazia ideia do que estava acontecendo, diversas vezes aquela noite pensou que era velho demais para estar ali, e ainda não tinha mudado de opinião, mas por ora ele só agradecia ter decidido ter saído de casa, mesmo dizendo para ele mesmo que não ia bancar o ridículo num lugar tão jovem. Agradeceu por ter internet e esse endereço ser o mais perto que aparecera na tela de seu monitor quando jogou as palavras balada gay numa ferramenta de busca.

Agora ele estava ali, dançando uma de suas músicas favoritas com um belo rapaz, ‘’- ah infernos, mesmo que ele não saiba o nome dessa música ele iria beijá-lo. Mesmo se ele errasse, mesmo se ele quisesse dançar outra música, mesmo que ele quisesse fazê-lo dançar a coisa mais ridícula que o século vinte e um teria criado, ele iria beijá-lo.’’ Foi quando a música acabou e Gabriel suspirou baixinho:

- The Way You Look Tonight, Robert Stewart.

Os dois se desgrudaram um tantinho e ali contiveram seu primeiro beijo.

Quando começou a próxima música, A virgem Madonna, era dona da próxima voz, todo o pessoal que tinha abandonado a pista de dançar, retornava para dançar, Gabriel então puxara o rapaz em direção a saída e o levou para fora, onde havia um espaço aberto e meia dúzia de fumantes.

- Desculpa, eu... Não saio beijando os caras assim, eu só... Espera um pouco, qual o seu nome mesmo? – E sorriu meio que sem graça.

- Gabriel!

- Anjo... Será!?

- Acho que não heim – Disse Gabriel retribuindo o sorriso – E o seu?

- Jorge.

- Bonito nome, Jorge!

- Não vai perguntar minha idade?

- Não vai me beijar mais?

Comentários

Há 3 comentários.

Por dfc em 2016-02-03 00:25:48
Legal
Por Cookie em 2016-01-27 10:33:20
Olá! Fico feliz que esteja gostando... Olha só, eu também estou publicando essa hstória na Casa dos Contos e lá, eu publiquei até o capítulo IX, te convido a dar uma olhada lá! Meu pseudônimo é Cookie! :D Tenha uma ótima semana! Abraços!
Por André B C em 2016-01-27 10:12:22
Muito bom o seu conto... Não vejo a hora de você publicar o próximo capítulo. Li todos os capítulos hoje.