Profecia [Capítulo 13]

Parte da série Papai Me Fodeu!

“Abençoado é aquele que lê em voz alta as palavras desta profecia,

E abençoados são aqueles que escutam!

Pois já está chegando a hora”

Apesar de não acreditar em Deus, algumas das palavras da bíblia me tocavam profundamente. Apocalipse era uma delas. Para falar a verdade era a única passagem da bíblia que eu lia. Não importava o momento e nem a dor aquelas palavras me causavam um conforte e me dava muito que pensar. Cada um entende as palavras de uma forma e minha fora de entender aquelas palavras era o resumo de minha vida. As pessoas sabem como as palavras certas na hora certa podem mudar sua vida.

Minha vida tinha mudado muito naqueles meses. Eu tinha me apaixonado por meu pai e meu tio e da mesma forma que eu caí de amor eu me levantei com o ódio que me consumiu. Eu tinha perdoado eles, mas eu nunca mais queria ver os dois.

Estava deitando na minha cama olhando para fora. Olhei para o relógio e passava das 15h00min. Chovia lá fora. Uma chuva fraca, mas o suficiente para refrescar o ambiente. Eu não estava para me entregar para outra pessoa. Apesar de ter encontrado Peter ainda não tinha me decidido se eu queria arriscar com ele. Eu não tinha forças para sofrer novamente. Era a pior dor de todas. Em meus sonhos eu sempre era esfaqueado por um facão. A meses tinha aqueles sonhos e agora eles faziam sentidos. Por volta dás 15h48min decidi sair do quarto e respirar o ar puro lá de fora.

Eu sai do meu quarto e desci as escadas e assim que passei pela sala Tony estava assistindo TV. Eu atravessei a cozinha e fui até a varando e me sentei em uma cadeira que ficava em uma mas pequena e redonda. Eu sentia algumas gotas da chuva jogadas em mim pela chuva.

Por um momento senti uma paz interior plena. Mas, quando eu menos esperava, Tony puxou uma das cadeiras e se sentou na mesa. Eu o olhei rápido, pois não conseguia olhar para ele por muito tempo: eu sentia ânsia. Eu me lembrava de tudo o que tinha acontecido, tudo o que eu fiz por ele, com ele... Tentava não pensar nisso.

- seu pai quer que você jante com a gente!

Eu não falei nada e apenas dei um suspiro imaginando que aquilo fosse uma brincadeira de mal gosto.

- olha Ricardo... eu sei que você nos odeia, mas seu pai quer fazer as pazes com você. Eu sei que o que você passou esses dias deve ter te matado por dentro, mas acho que devia aceitar esse convite. Devíamos dialogar.

Eu olhei pra ele e fiquei pensando no convite.

“Aqueles de vocês que ainda não aprenderam

O que alguns chamam de ‘as coisas profundas de Satã’

Eu conheço sua resistente paciência, Eu conheço suas armadilhas”

- sinto muito – falei sem rodeios me levantando da cadeira e indo até a cozinha tomar um copo de água. Meu tio então me seguiu.

- porque? O que custa? Ele é seu pai, eu sou seu tio, somos sua única família, aos únicos que você pode contar. Eu sei que você está com raiva, mas nós ainda te amamos.

- vocês tem idéia do que fizeram comigo? Parece que isso foi algo normal para vocês dois. Vocês não ligam para mim e nem para o que eu sinto para vocês eu era apenas uma pedra no sapato que foi fácil demais de tirar.

- não me venha com essa – disse Tony me seguindo enquanto eu ia até as escadas – você tem que superar isso. Eu sei que a decepção amorosa doí, mas você tem que aceitar que eu e sei pai nos amamos. Quando ele disse isso eu senti um ódio profundo e quando ele chegou atrás de mim eu me virei e dei um soco no rosto de Tony. Ele caiu no chão. Ele se levantou alisando o rosto.

Eu me virei outra vez e continuei subindo as escadas.

- você vai se arrepender de renunciar o amor do seu pai. Ele é a única pessoa que você pode contar. Com ele e comigo. Você não tem amigos, não tem mais família. Você acha que sua tia Márcia e seu tio se importam com você?.

Eu parei quase no topo da escada e fiquei parado sem olhar para trás. Pensativo.

- eu sei que doí, mas você vai ter que aceitar o nosso amor. Você vai ter que conviver com a gente. Você vai ter que aceitar que Ben é seu pai.

Eu me virei assim que terminei de subir as escadas.

- eu não quero o amor de vocês. Vocês realmente acham que eu preciso do amor de vocês? Foram vocês dois que perderam o meu amor.

“Eu descobriu que são falsos

Eu sei que você está resistindo pacientemente

Mas eu tenho isso contra você:

‘Você abandonou o amor que tinha’”

Eu entrei no meu quarto batendo a porta. Eu não conseguia acreditar que eles estavam sentindo pena de mim. Eles eram dois hipócritas que acham que o que fizeram comigo foi certo. Mas a vida era a melhor professora e parece que eles não tinham aprendido nada. Tudo o que importava para eles era a paixão ardente entre os dois. Mas eu não sentia falta do amor deles. Não sentia falta do amor do meu pai, afinal eu vivi sem esse amor durante 7 anos. Eu agora sabia que podia trilhar meu caminho sozinho, ou pelo menos com ajuda de outras pessoas.

Eu não estava abandonando o amor dele, eu estava me livrando de uma doença em meu coração. Agora mais do que nunca eu estava decidido a encontrar Peter e começar uma nova vida longe daquela casa e longe deles. Eu peguei meu notebook e fui navegar um pouco na internet. Pouco tempo depois recebi uma mensagem no meu celular.

Vou me atrasar um pouco. Pego você ás 19:00. E eu apenas respondi um ok. Depois de uma hora mais ou menos cansei de ficar conectado e decidi ouvir um pouco de música em meus fones de ouvido. Eu fechei meus olhos e coloquei uma música bem alta. E minha maratona começou com “My Prerogative” de Britney Spears. Eu costumava dormir ouvindo música alta e depois de mais ou menos 10 músicas eu cai no sono.

De repente acordei assustado. Olhei rápido para o relógio, mas era 17:45. Eu então me acalmei e deitei na cama. Estava aliviado, pensei que tinha perdido a hora. Coloquei meu celular para carregar. E ví o carro do meu pai entrando. Fui até o banheiro usei o banheiro e logo decidi sair do quarto.

“E eu vi a besta surgindo do mar

Com dez chifres e sete cabeças

E um nome blasfemo em cima de sua cabeça

E a besta que eu vi era como um leopardo

Tinha pés de urso e boca de leão”

Assim que desci as escadas meu pai segurou forte no meu braço e começou a gritar comigo. Eu me livrei da mão dele com muita força.

- pensei que você fosse mais inteligente – falou meu pai. – eu sei que você está com raiva – disse ele tirando o terno e jogando no chão e afrouxando a gravata.

- porque? Porque eu não confio mais em você?

- você é meu filho! – disse ele parando no balcão. – você querendo ou não eu sou seu pai. Eu te amo.

Eu parei e coloquei a mão na cara. Eu respirei fundo. Eu amei meu pai por muito tempo. Até quando ele não me amava, mas não o amava mais.

Meu pai se aproximou e foi colocando a mão na minha cintura. Eu estava fraco emocionalmente. Aquilo tudo era demais pra mim. Estava cansado, estava no meu limite.

- vai dizer que não sente falta do seu velho te dominando na cama?

“Se alguém tem uma orelha deixe-a escutar.

Se alguém está prestes a ser preso, em cativeiro, que assim seja.

Se alguém feriu com a espada, com a espada deverá será ferido”

- Eu não te amo mais. Acostume-se com isso.

- como assim não me ama? Não sente falta de mim? Já se esqueceu das noites em que você não conseguia dormir sem beber meu leite? – disse meu pai apertando o seu pau.

- você me dá nojo. Vou aproveitar esse momento para dizer que vou me mudar daqui até o final de semana.

- como? Você não tem dinheiro nem para pegar ônibus.

Antes que eu pensasse eu falei.

- o Peter vai me ajudar!

Meu pai olhou pra baixo rindo.

- o que faz você pensar que aquele cara vai querer alguma coisa com você? É assim mesmo que você é? É só ter a chance se agarra ao primeiro cacete que passa?

Quando eu pensava que não sofreria mais eu senti aquelas palavras me cortando. Finalmente eu conseguia ver a verdadeira face do meu pai. Ele era um homem nojento e fazia de tudo para conseguir o que queria. Por um momento pensei que iria me desmanchar me lágrimas.

- você não entende? Eu sou seu pai. E sou a única pessoa que te ama o suficiente. Você tem sorte de ter meu amor.

Eu consegui ser forte e apenas me virei e saí para o quintal. Eu vi que ele e meu tio tinham chegado mais perto para conversarem. Eu olhava para cima e via que o sol estava se pondo. Então sem aviso nenhum meu tio me virou e me deu um beijo enfiando a língua em minha boca. Eu tentava me soltar, mas meu tio me segurava forte. Eu batia nele e empurrava seu ombro, mas meu tio era um homem forte e foi me empurrando e me pressionou contra a parede. Eu então mordi a boca dele. No mesmo instante que fiz isso meu tio se afastou rápido e saiu um pouco de sangue dos seus lábios ele veio pra cima de mim com raiva.

- como você se atreve? – disse ele levantando a mão e eu não tinha mais medo. Eu não sentia mais nada. Eu apenas fechei os olhos.

“E a Terra inteira seguiu a besta com admiração

Os homens veneraram o dragão

Pois ele tinha dado autoridade para a besta

E a besta foi dada a boca para que fosse

Proferia arrogâncias e blasfêmias

E foi permitido que a besta exercitasse a autoridade na terra”

Eu estava de olhos fechados esperando pelo tapa em meu rosto, mas ele não veio. Quando abri os olhos ví que meu pai tinha segurado o braço do meu tio e não deixado ele me bater. Eles estavam tentando fazer de tudo para me derrubar, me obrigar a ficar com eles. Eles não admitiam, mas eles me amavam e realmente achavam que eu corresponderia ao amor deles depois de tudo. Eu apenas entrei na cozinha, subi as escadas e entrei no meu quarto.

Nem mesmo o desejo carnal me faria cair em tentação. Eu não conseguia, eu não queria. Acho que nunca mais me entregaria para ninguém. Imaginar que meu próprio pai pensava aquilo de mim. Eu sei que tinha errado, eu sabia dos meus erros, mas eu nunca esperei que meu próprio pai fosse me tratar daquele jeito, ele falava como se eu fosse uma prostituta que fazia tudo o que ele mandava. Mas eu estava errado? Quando se ama não existe certo e nem errado. Eu estava exausto, fraco, não comia direito a mais de três dias. Eu apenas lanchava e aquilo tinha me derrubado e eu apenas deitei na minha cama mais uma chorando.

Depois de mais uma vez descarregar todo o turbilhão de sentimentos através do choro eu me levantei e ví que o relógio já era 18:45. Eu então fui até o banheiro e lá tomei um banho e depois vesti uma roupa aconchegante e saindo do meu quarto eu desci as escadas e meu tio estava com um pano na boca.

- Ricardo, me perdoa.

Eu apenas ignorei e saí pela porta desejando nunca mais voltar. Eu sai no portão e fiquei esperando para ver se Peter iria aparecer. Acho que só não tirei minha própria vida até agora por causa dele. Apesar de parecer errado eu confiava nele. Ele era minha última esperança. E naquele frio, sobre as estrelas, abaixo da luz do poste esperando Peter eu tomei a maior decisão da minha vida. Se ele não aparecesse amanha já não habitaria mais aquele mundo.

“Então, Eu vi um novo paraíso, e uma nova Terra.

Eis a morada de Deus com os homens

Ele habitará com eles e eles deverão ser seu povo

E o próprio Deus estará com eles

Ele limpara cada lágrima de seus olhos

E não haverá mais morte...

Nem choro...

Nem dor...

Nunca Mais!

Pois essas coisas vão passar”

Meu relógio marcava 19:20. Eu não tive coragem de ligar para Peter e ele não tinha me ligado. Realmente tinha sido um tolo por mais uma vez ter depositado minhas esperanças em um desconhecido. Se minha própria família tinha me abandonado o que faria um desconhecido.

Antes que pudesse se lamentar mais ví um carro se aproximando. Era Peter. Eu conseguia reconhecer seu carro de longe. Minhas pernas tremeram à medida que o carro se aproximava. Eu não conseguia me sentir triste perto dele. Ele me levantava. Não consegui evitar o sorriso no rosto quando ele parou o carro. Eu abri a porta e entrei.

- me desculpa pelo atraso. Não te liguei porque estavas no transito. Ainda bem que me esperou.

- não tem problemas – falei colocando o cinto. Ele então começou a mover o carro. Eu estava feliz por vê-lo.

Não queria parecer carente nem desesperado. Mas não conseguia evitar aquele sentimento.

- senti sua falta. – falei. Assim que proferi aquelas palavras eu me arrependi. Mais uma vez eu estava cometendo os mesmo erro. ele deu um sorriso pra mim e olhou pra estrada. Eu não queria que Peter me visse como meu próprio pai me via: como uma prostituta sem valor.

Ele então seguiu viagem. Enquanto íamos nós conversamos um pouco.

- antes de ir pra casa eu vou passar pra pegar meu filho – disse ele me dando um sorriso.

- tudo bem, não se preocupe comigo faça o que tem que fazer – falei retribuindo o sorriso.

Ele então parou em frente a um tipo de escola. Era uma creche particular. Ele pediu para que eu esperasse no carro. Assim eu o fiz. Ele saiu do carro e depois de alguns minutos voltou com um bebê no colo. Ele então colocou o bebê no banco de trás em uma cadeirinha que só agora eu tinha notado. Era um lindo bebê.

- quantos meses ele têm?

- 10 meses – disse ele fechando a porta de trás e sentando no banco do motorista.

- oi bebê lindo – falei me virando pra trás e passando a mão no rostinho dele. Era um bebê muito lindo. Tinha olhos castanhos bem escuro.

- ele é uma gracinha – falei me virando pra frente.

- obrigado – disse Peter partindo com o carro. – eu sempre tive vontade de ter um filho.

- parabéns você tem um bebê lindo.

Nós ficamos em silêncio por uns instantes.

- Peter se não se importar... quantos anos você tem?

- tenho 33 – disse ele. – eu já morei com uma mulher durante 2 anos. Quando tinha 27 anos pra ser mais preciso. Ela sempre vivia dizendo que queria ter um filho. Só me casei com ela por causa do meu pai. Só pra deixar ele orgulhoso. Mas quando minha esposa disse que queria ter um filho eu mudei meu pensamento. Um casamento sem amor é uma coisa, agora trazer uma criança para um casamento sem amor... isso não pode acontecer. Então eu decidi contar para minha família sobre meu gosto.

- e como eles reagiram.

- melhor do que eu esperava. Eles demoraram um pouco para se acostumar, mas eles me amam e me aceitaram. Eu também contei pra minha ex-mulher e por incrível que pareça ela me apoiou.

- verdade?

- sim! – na verdade ela se tornou uma pessoa bem próxima de mim. Nós somos amigos até hoje.

- legal da sua parte ter aberto seus olhos antes de cometer o erro de continuar mentindo.

Falei isso e estava feliz por estar com ele, mas ao mesmo tempo fiquei triste por ver como era diferente a visão de filhos que tinha Peter e Ben. Ele não tinha pensado nele, ele tinha feito uma mudança em sua vida pensando no futuro dois outros.

Em boa parte do caminho nós ficamos em silêncio até que se aproximamos do condomínio onde ele morava. Ele me disse que o condomínio era formado cinco prédios de 22 andares. Cada andar era um apartamento. Era bem grande. Ele passou pela portaria e o porteiro o cumprimentou e assim que entrou ele disse que morava no prédio que ficava á esquerda. Ele então foi para o estacionamento que ficava no subsolo. Ele estacionou o carro e pediu para que eu segurasse a sacola do bebê enquanto ele pegava Max no bando de trás. Ele então trancou o carro e nós fomos para o elevador. Ele morada no 19º andar.

Quando a porta do elevador abriu tinha uma porta de madeira. Ele então com apenas uma mão abriu a porta com a chave e a porta se abriu. Eu fiquei impressionado com o tamanho do apartamento. Era como uma casa.

- bem vindo ao meu lar. – disse ele entrando.

- nossa. Esse lugar é incrível. É muito bonito.

- muito obrigado – falou ele colocando Max dentro de um chiqueirinho.

- então... aceita água?

- sim. Obrigado.

Ele foi até a cozinha e voltou com um copo de água. Eu bebia água e entreguei o copo pra ele.

- fica a vontade já vou te mostrar todo o apartamento e o quarto que eu tenho disponível. Eu me sentei no sofá da sala e ele foi para o quarto trocar de roupa. Ele voltou de chinela e uma bermuda azul claro e uma camisa grande e branca.

- me desculpa pela roupa. Não existe nada melhor do que chegar em casa e ficar a vontade.

- sem problemas.

Ele então me acompanhou mostrando todo apartamento. Tinha até uma varanda. Três quartos. Um dos quartos era do bebê, cozinha, lavabo, um escritório e a sala era enorme e bem espaçosa. O último lugar que ele me mostrou foi o quarto disponível.

- então... é esse aqui. – disse ele acendendo a luz. Era um quarto grande. Era todo mobiliado e a única diferença do meu atual quarto é que não era suíte.

- perfeito! – falei elogiando.

- então gostou de tudo? Não precisa se sentir forçado a tomar uma decisão agora.

Nós fomos até a sala e nos sentamos no sofá. Ele se sentou em uma poltrona paralela ao sofá onde sentei.

- se quiser discutir isso com seu pai antes de tomar uma decisão, fique a vontade.

Quando ele disse isso eu não aguentei. Estava muito vulnerável, muita coisa tinha acontecido. Realmente não queria que ele me visse daquele jeito, mas eu abaixei a cabeça e comecei a chorar. Peter olhou assustado pra mim e em um pulo sentou do meu lado colocando a mão nas minhas costas.

- qual é o problema? Você está bem?

Eu não conseguia responder. Eu soluçava. Estava fraco. Minha alimentação não era das melhores. Minha vida estava difícil. Meus problemas era muito grande para que eu carregasse sozinho.

- estou sim. – falei limpando as lagrimas do meu olho.

- as coisas com seu pai estão ruins?

Eu não respondi e apenas afirmei com a cabeça.

- quer um copo de água?

Mais uma vez apenas afirmei balançando a cabeça. Ele se levantou apressado e foi á cozinha. Eu respirei fundo e me escorei no sofá. Meu olho estava inchado e meu nariz escorrendo.

Ele veio com a água e eu peguei o copo dando um gole.

- se acalma – disse ele sentando do meu lado mais uma vez alisando minhas costas em um sinal de consolo.

- você não sabe o que eu tenho passado todos esses dias. Minha vida está um inferno. Eu perdi todo o amor pelo meu pai, ele e meu tio me deixam pra baixo todos os dias, não tenho saído do meu quarto pra quase nada. E toda vez que os vejo nós brigamos. Não tenho nem comido direito.

- eu percebi que você está um pouco abatido. Você podia ter me ligado. Se eu soubesse que você estava tão mal eu tinha feito alguma coisa.

“Mas quanto aos covardes, infiéis e poluídos?

Como os assassinos, fornicadores, feiticeiros, idólatras

E todos os mentirosos?

Sua parte será no lago

Que arde com fogo e enxofre”

Eu dei outro gole da água e coloquei em cima da mesa de vidro e suspirei limpando meus olhos. De repente eu fiquei tonto.

- estou me sentindo mal. – falei mais uma vez me recostando ao sofá e tapando meus olhos. A luz estava me incomodando.

- qual foi a última vez que comeu alguma coisa?

- hoje cedo com você. Eu não como direito e quase uma semana.

- você não pode fazer isso. – falou ele se levantando. – vou fazer alguma coisa pra você comer.

- não precisa – eu falei tentando me levantar, mas ele não deixou.

- vem pro meu quarto, você tem que se deitar.

- não quero te incomodar com meus problemas.

- o que eu te disse hoje mais cedo? Deixe eu te ajudar. – ele disse isso e me ajudou a me levantar. Ele me apoiou até seu quarto. Então eu me deitei na sua cama.

- fica deitado aí. Não se levante.

Ele foi até o Max pegou ele e colocou no berço que tinha em seu quarto. Nós nunca queremos que as pessoas nos vejam daquele jeito. Ninguém quer ser visto em seu pior estado.

- vou preparar alguma coisa pra você comer. – ele falou isso saindo do quarto e depois de uns 15 minutos ele voltou com uma bandeja com várias frutas, suco, bolachas e pão.

- se senta pra você poder comer.

Eu me sentei e ele colocou a bandeja em meu colo.

- pode se servir. Quero ver a bandeja limpa. – disse ele conseguindo arrancar de mim um sorriso. Bem pequeno, mas conseguiu.

Ele foi até o berço pegou o Max e com uma mamadeira dei leite pra ele. Ele balançava o bebê e dava o leite. Eu comi vendo aquela cena de afeto. Quando será que meu pai passou daquilo para se tornar o que é hoje?

Eu tomei todo o suco e comi todas as frutas, e comia a última bolacha quando ele disse que ia levar o bebê para o quarto dele.

Ele então voltou e pegou a bandeja das minhas mãos.

- bom garoto – falou ele rindo e pegando a bandeja e levando para a cozinha. Ele voltou com um copo de água.

Eu tomei metade do copo e agradeci. Ele colocou em cima da cômoda e sentou na cama.

- se sente melhor?

- sim. Obrigado.

Ficamos em silêncio. Ele se levantou pegou o copo e saiu do quarto. Eu então sentei na cama e ele entrou no quarto.

- onde você vai?

- eu acho que consigo ir embora.

- não senhor. – disse ele sentando ao meu lado. – deita de novo. Não vou deixar você ir embora nesse estado. Agora eu estou preocupado com você. Se as coisas vão tão ruim na sua casa eu não vou conseguir descansar sabendo que você vai estar lá.

- esta vendo? não queria que você se envolvesse nisso. Só vai te dar preocupação.

- vou fingir que não ouvi isso – disse ele me dando um empurrão pra me deitar. Eu me deitei de novo e ele se levantou. – você pode dormir aqui hoje.

Eu me deitei e fiquei calado. Estava muito agradecido, mas minha vida estava uma bagunça. Não queria envolver ele nisso. Afinal ele tinha um filho e não precisava de uma pessoa atrapalhando sua vida.

Ele foi ao banheiro do quarto e ficou lá alguns minutos. Depois ele saiu e sentou na cama.

- eu vou ficar aqui com você, caso você confie em mim e possamos conversar. Você pode me contar qualquer coisa. Não fica guardando só pra você, isso é ruim.

- obrigado. – falei pra ele. quando disse isso eu juntei minhas pernas com frio.

Ele se levantou e pegou o cobertor e me cobriu.

- pronto. Você está quentinho agora.

- porque você é tão bom comigo? – perguntei pra ele. – ninguém nunca se importou muito comigo. Minha própria família me abandonou e você mal me conhece e me recebe sempre com um sorriso no rosto.

- posso me sentar ao seu lado? – perguntou ele.

- claro. A cama é sua. – falei com uma risada.

Ele então deu a volta tirou a chinela que usava e se sentou na cama.

- eu não sei responder essa pergunta. Porque os pássaros voam? Porque tem dias que chove e tem dias que faz sol? Você consegue uma explicação cientifica para essas perguntas, mas não consegue explicar o porque de ser assim e não de outra maneira.

Eu entendi o que ele tinha dito. Eu me virei pra ele e abaixei o cobertor apenas para a minha cintura para baixo, pois apenas minhas pernas estavam com frio.

- obrigado. – falei pra ele.

Ele então alisou os meus cabelos. E meio que sem jeito ele parou da mesma forma que começou.

- desculpa. – falou ele sem graça.

Eu então cheguei mais perto dele e deitei bem perto dele de modo que abracei sua cintura com meu braço direito. Ele então voltou a alisar meus cabelos. Fiquei deitado abraçando ele por muito tempo. Estava muito bom. Era bom me sentir perto de outra pessoa outra vez. De repente Max começou a chorar no outro quarto

- deixa eu ver como está o Max e eu já volto. – ele disse isso e eu me afastei dele e ele se levantou.

Aquela sensação tinha durado pouco, mas tinha sido perfeita, seria um bom desfecho. Apenas a sensação de ser querido era boa o suficiente pra mim. A janela do seu quarto era grande. Ele iria demorar um pouco. Eu me sentei na cama e descalço fui até a janela, eu a abri em silêncio. A vista era muito bonita. Dava pra ver ao longe. O vento era frio. Tinha que tomar minha decisão rápido. A minha vida valia ou não ser vivida? Nesse momento percebi que Max não chorava mais. Estava na hora de ir?

“Não pregue as palavras desta profecia,

Pois a hora está chegando

Deixe os malfeitores continuarem fazendo maldades

E o imundo continuar sendo imundo

E os justos continuarem fazendo certo

E o sagrado continuar sendo sagrado

Contemple por que

Eu Estou Chegando!

Então, o que você vai fazer?”

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