Pai & Filho [Capítulo 26]

Parte da série Papai Me Fodeu!

Não posso negar que de algum modo àquelas palavras me deixaram triste. Todo mundo merece uma segunda chance. Eu sei que ele tinha feito da minha vida um inferno, mas eu não queria sua morte.

- ele está morto?

- eu estou no hospital. Ele estava desmaiado quando eu cheguei em casa. Eu fiquei desesperado e chamei a ambulância.

- mas pai, ele...

- eu não sei o que vou fazer.

- eu e o Peter vamos para o hospital agora.

Eu desliguei o celular. Contei o que tinha acontecido para o Peter e nós tomamos um banho e nos arrumamos para ir ao hospital. A família dele se despediu e foi embora.

Assim que cheguei no hospital Ben estava sentado na recepção chorando.

- o que aconteceu? – perguntei me sentando do lado dele.

- porque ele fez isso? – perguntei.

- não tenho idéia.

- sinto muito – falei alisando as costas dele.

- vou ficar aqui esperando pra assinar alguns papéis e esperar a liberação do corpo.

- se você quiser eu fico aqui.

- não precisa. Vai pra casa. – falou ele.

Eu e Peter nos levantamos e fomos embora. Assim que entramos no carro eu pensei em quão triste estava meu pai. Ele amava meu irmão.

Assim que chegamos em casa Peter arrumou o jantar e me perguntou se eu estava bem.

- estou sim – falei pra ele que logo sentou do meu lado.

- tem certeza.

- tenho sim. Eu estou triste pelo o que aconteceu com ele. Ao que parece ele não era tão forte como eu pensava.

- eu sei.

Apesar da tristeza não senti vontade nenhuma de chorar. Eu não derramaria mais lágrima por ele. eu estava mais triste em pensar no que meu pai sentia naquele momento.

Eu estava abalado com aquela noticia. A noticia da morte era sempre ruim, mas é muito pior quando a pessoa tira a própria vida. Podia pensar que aquilo tudo poderia ter sido evitado. Eu me sentia um pouco culpado, mas mesmo na solidão profunda da noite eu conseguia ver o paraíso através dos meus olhos: Peter.

- a culpa foi minha – falei triste segurando pra não chorar.

- não pensa nisso. A culpa foi dele. Ele fez a escolha. Não importa o que aconteceu na vida dele. Ele e só ele fez as suas escolhas. Por mais que você possa tentar mudar uma pessoa ou persuadi-la a fazer algo é a própria pessoa que toma a decisão final.

- foi minha culpa. – falei limpando uma lágrima que tinha escorrido no meu rosto. – ele não parecia que faria isso. A última vez que nós vimos ele estava feliz por ter infernizado minha vida.

Peter me deu um beijo na testa e me abraçou forte.

- eu não posso esconder isso. – falou Peter. – especialmente de você.

- esconder o que? – falei olhando pra ele.

Hoje de manhã quando estava no hospital antes de você acordar eu saí para respirar e comprar algo para comer. Eu saí por volta dás 07h00min. Quando estava no meio do caminho eu fui parado pelo seu tio.

Ele parou o carro e veio até mim.

- Peter – falou Tony saindo do carro.

- o que você quer? – falou Peter parando.

- você sabe que pertencemos um ao outro. – falou Tony parando em frente ele.

- de onde você tirou isso? Nós não temos nada. – falou Peter tentando dar a volta. – não quero mais te ver.

Tony ficou na frente dele e não deixou ele passar. Tony pegou na mão do Peter e rápido Peter empurrou ele.

- não encoste em mim. Me esquece. – falou Peter dando um passo pra trás. – o Ricardo está agora no hospital por sua culpa. Se você não tivesse feito ele sofrer tanto talvez ele nunca tivesse desmaiado. Se ele tivesse desmaiado no meio da rua?

Tony ficou olhando pra ele com o olhar fixo. Peter ficou parado olhando pra ele e passou por Tony. Mas antes que Peter pudesse passar Tony segurou no braço dele.

- por favor. Pare – falou Tony olhando pra ele.

- tenho que saber... antes de ir diga que me ama, que precisa de mim pra sempre. Me promete que nunca vai me deixar.

- como é que é – falou Peter balançando pra ele soltar o braço.

- você vai me fazer feliz pelo resto da minha vida.

Peter balançou o braço forte e Tony soltou o braço dele.

- você e eu não temos nada e nunca vamos ter. eu vou amar o Ricardo pra sempre e espero passar o resto da minha vida com ele. – Peter falou isso e seguiu seu caminho. Tony ficou parado sem dizer ou fazer nada ele entrou no carro e foi embora.

- pareceu tão certo – falou Peter me soltando e se levantando. – agora parece tão errado o que eu fiz. É isso... – falou ele passando a mão na cabeça. – foi culpa minha.

Eu me levantei do sofá e o abracei por trás.

- não foi culpa sua. Você acabou de dizer que a culpa não foi de ninguém a não ser dele. Você fez a coisa certa.

Eu comecei a chorar com o rosto colado em suas costas. Senti uma dor forte na cabeça.

- estou tonto. – falei me soltando dele.

Peter se virou imediatamente e colocou as mãos no meu ombro.

- fica calmo. Faz como o médico mandou: quando você sentir que está passando mal e vai desmaiar você tem que se deitar e colocar as pernas pra cima apoiadas em algo.

Eu então me deitei no chão e coloquei as pernas em cima do sofá.

- fica assim até você melhorar – falou Peter.

Eu fiquei deitado no chão com os olhos fechados e respirando fundo. Mil coisas passavam por minha cabeça. Algumas vezes pensava não ter culpa, mas algumas vezes pensava que eu era um verme e que era tudo culpa minha.

Eu fiquei deitado pro um longo tempo. Peter veio até a sala se sentou no sofá e colocou minhas pernas no colo dele.

- se sente melhor?

- estou melhorando. A tontura está passando.

Ele então se recostou no sofá e também fechou os olhos. Ele também estava sofrendo com a idéia de que tinha sido culpa dele. Ambos estávamos sofrendo e de repente eu sofri mais ainda quando pensei no que meu pai estava passando. Ele queria ficar sozinho. Eu podia imaginar a dor que ele ia sentir ao avisar para ao resto da família o que tinha acontecido.

Ficamos em silêncio por muito tempo até que Max chorou no berço. Peter se levantou e foi olhar ele. eu já estava me sentindo melhor e devagar me levantei e me sentei no chão e fiquei um pouco sentado. Logo após me levantei e me sentei no chão. Eu comecei a imaginar na dor que eu iria causar nas pessoas se eu tivesse me matado como tinha planejado há algum tempo atrás.

Eu me levantei e fui até a cozinha tomar um copo de água. Assim que cheguei na cozinha peguei um copo e fui até o bebedouro e assim que o copo começou a encher senti uma respiração na minha nuca.

- eu já estou me sentindo bem melhor. Falei me virando.

Não tinha ninguém. Eu senti um arrepio gelado e bem lento que percorreu todo o meu corpo. Minha garganta começou a se fechar. Eu olhei por toda a cozinha e não tinha ninguém. Eu estava assustado. Estava eu imaginando coisas? A respiração tinha sido tão real que pensei que era Peter.

Sem tomar a água eu coloquei o copo na pia. E dei alguns passos bem lentos.

- Peter – gritei alto. – vem aqui por favor.

Demorou um pouco, mas ele veio com o Max nos braços.

- o que foi? – falou ele vindo até mim. Antes que ele chegasse a mim eu fui até ele e o abracei. Não falei nada. Tinha sido minha imaginação. Mas uma parte de mim sabia que não tinha sido. Alguns segundos depois que abracei Peter o meu celular tocou. Não reconheci o número, mas quando atendi ví que era a minha mãe.

- seu pai me ligou há alguns minutos e disse que vai fazer o velório do Tony amanhã. Vai ser na casa dele.

- obrigado por avisar.

- está se sentindo bem? – perguntou ela.

- estou sim. E o meu pai? – perguntei. – a senhora falou com ele... como ele está?

- você sabe. Ele amava o irmão de tantas maneiras diferentes. Não consigo achar palavras para o que ele deve estar sentindo.

- tudo bem – falei cortando assunto. – eu sei onde ela queria chegar com aquela conversa e dizer que meu pai tinha destruído a família por causa dele. O que ela tinha feito? Ela tinha tentado me matar três vezes, mas nem toquei no assunto apenas me despedi e desliguei o celular.

Peter disse que iria fazer Max dormir no quarto do bebê. Eu confesso que estava com medo de ficar sozinho.

- vou com você. – eu então me sentei no chão enquanto o Peter se sentou em uma poltrona para fazer Max dormir.

Depois de 15 minutos Max finalmente dormiu e Peter colocou o no berço. Nós fomos para nosso quarto. Nenhum de nós estava com fome, mas Peter me obrigou a fazer um lanche afinal não podia ficar muito tempo sem comer ou eu passaria mal e realmente eu me sentia tonto e com o estomago embrulhado. Pedi para ele ficar comigo na cozinha enquanto lanchava.

- não quero ficar sozinho – falei.

- tudo bem. – respondeu Peter.

Depois que eu lanchei nós fomos para o quarto. Eu tomei um banho gelado e demorado. Peter ficou na cama esperando. Ele estava muito pensativo. Provavelmente pensando na última vez que tinha visto Tony.

Assim que saí do banheiro já vestido Peter se levantou e quando ia passar por mim eu segurei a mão dele e o abracei. Dei um beijo no rosto dele.

- não foi culpa nossa. – falei olhando pra ele.

- eu sei. – falou Peter me dando um selinho.

- livre arbítrio. Ele escolheu.

Eu me deitei na cama e me cobri afinal estava com frio, pois tinha tomado um banho na água gelada. Eu ouvia o barulho da água caindo. Eu realmente tentei esperar Peter tomar o seu banho, mas estava muito cansado e logo dormi.

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