Histórias Para Dormir [Capítulo 12]

Parte da série Papai Me Fodeu!

Eu já sabia a história inteira. Pelo menos a parte que me interessava. Eu não queria saber dos detalhes. Eu não acredito que todo o ódio que tinha pela minha mãe um dia poderia se transformar em ódio pelo meu pai e na verdade não se tornou. Eu não odiava minha mãe, mas meu pai, meu tio e ela eram iguais só se importavam com eles mesmos, eu fui apenas um fantoche em toda essa história.

Eu estava desorientado, eu me levantei do balcão depois que meu pai contou toda a história. Era como se uma música bem alto ecoasse em meus ouvidos. Eu não me concentrava. Não sabia por onde ia. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu corri para o meu quarto trancando a porta. Deitei em minha cama e chorei muito. A tempos eu não chorava tanto assim.

Depois de um tempo meu pai e meu tio desistiram de bater na porta pedindo para abrir. Chorei até que as lágrimas se acabaram e eu simplesmente fiquei olhando pela janela procurando um motivo para viver. A última vez que tinha olhado para o relógio era 13:11. Toda minha vida nesses últimos meses tinha sido uma mentira e uma piada eu me sentia humilhado e usado era como se tivesse sido estuprado todos esses meses.

Deitado alí mesmo na cama eu adormeci depois de ouvir a mais triste história para dormir no mundo. Nenhuma pessoa devia ouvir uma história como aquela. Quando acordei já era de noite. Aos poucos eu fui despertando. Senti um frio repentino e quando olhei no relógio já era tarde. Era 18:41. Chovia forte lá fora e ventava muito. Eu me levantei fechei a janela e deitei na cama de novo. Eu queria que tudo não passasse de um terrível pesadelo. Queria que eu nunca tivesse me apaixonado pelo meu pai, mas do mesmo jeito que eu me apaixonei por ele eu passei a não sentir mais nada.

Eu estava sem apetite nenhum, e minha vontade era de desaparecer, mas em meio toda aquela tristeza lembrei do Peter. Ele tinha me tratado tão bem outra noite. Mas como eu poderia saber que ele não era só mais um fantoche do meu pai fazendo o que ele manda? E mesmo que não fosse como poderia depositar todas as minhas últimas esperanças e Paixões em uma pessoa que tinha acabado de conhecer? Talvez ele nem tenha gostado de mim. Não queria me machucar novamente, aquela dor era muito ruim era sufocante. Peguei meu celular e apaguei o numero dele da minha agenda... por fim apaguei a agenda inteira, arranquei a bateria e joguei tudo no chão.

Como já diziam: “a única pessoa com quem você pode contar nessa vida é com você mesmo”. eu não podia parar de pensar em como seria minha vida se eu tivesse ido morar com minha tia e meu tio e aceitado o emprego. Meu pai me usou de tantas formas diferentes: usou meu corpo, minha mente, minhas escolhas ele fez de mim o que quis. Estava com muita raiva e mesmo sem querer mais algumas lágrimas escorreram. Mais uma vez dormi.

Eu dormia profundamente. Eu estava em uma floresta verde muito linda e o sol brilhava entre as folhas, mas eu não o sentia em meu rosto. Eu então senti a necessidade de sair correndo. Eu sai correndo como se minha vida dependesse disso. De repente eu caio no chão ficando lá estirado. De repente vi uma figura sem rosto se aproximando com um enorme facão na mão Ele se aproximou e ficou do meu lado e levantou o facão para cortar minhas pernas. Eu olhei pro lado esquerdo e tinha uma pessoa deitada junto de mim. Eu segurei a mão dessa pessoa e disse olhando em seus olhos:

- não tenha medo!

Assim quem o facão atingiu minha perna eu acordei assustado e suado. Eu estava ofegante e com medo e triste ao mesmo tempo. Olhei para o relógio e era 11h11min da noite. Eu me sentei na cama e fiquei quieto ouvindo os barulhos da casa e parecia que estavam todos dormindo ou assistindo televisão.

Eu me deitei outra vez. Comecei a pensar em quando era criança e tudo era mais fácil. Quando a vida era difícil era só ouvir uma história e a gente esquecia-se dos problemas e dormíamos calmamente sem ter que pensar no dia de amanhã. Pensando bem eu não era tão diferente da minha mãe e do meu pai. Eu era como eles e só conseguia fugir de tudo. Ficava preso ao lugar e apenas triste lamentando.

- a vida é mais que lamentar – eu disse pra mim mesmo.

Então como uma epifania eu decidi que tinha que continuar com a minha vida.

- eu vou embora dessa casa – disse um pouco alto me sentando na cama. Mas não podia sair desse jeito, sem um plano. Decidi então ir lá fora comer alguma coisa ou eu não sobreviveria para poder viver o resto dos meus dias e eu não ia deixar que Tony e Ben vencessem. Eles não mereciam que eu os chamasse de pai e tio.

Eu abri a porta do quarto e o corredor estava escuro. Desci as escadas tentando não fazer barulho e vi as luzes da televisão ligada. Eu olhei e eles estavam assistindo televisão cada um sentado em um sofá diferente. Eu então desci normalmente as escadas e meu tio que estava sentado de lado me viu e se levantou.

- Ricardo, me perdoa...

- não quero ouvir nada Tony.

Meu pai também tinha se levantando e vinha atrás dele.

- me perdoa ter mentido pra você – disse Ben se aproximando de mim querendo me abraçar. – eu o empurrei.

- não encosta em mim. – eu disse isso e abri a geladeira pegando margarina - Enquanto eu me iludia de amor pelos dois vocês estavam amando, se tocando e dando uns amassos.

- mas eu te amo filho! Eu não menti sobre o que eu disse pra você. Tudo o que eu disse era verdade.

- não seja hipócrita Ben! Você ama e sempre amou o meu tio. Você só distorceu as coisas por que você sabia que de algum jeito através de mim você conseguiria chegar até ele.

Terminei de passar margarina em algumas bolachas e fui até a geladeira e peguei uma caixa de leite.

- Tony, tudo o que eu disse pra você! Esquece tudo o que eu já disse pra vocês. Eu não amo mais vocês!

- não fala isso filho. – disse meu pai dando um passo pra frente.

- não me chama de filho. Eu também não te chamo mais de pai.

Eu disse isso e fui em direção às escadas.

- Ricardo, por favor. Eu peço perdão pelo que fizemos você passar. – falou Tony.

Eu ignorei os dois e fui para o meu quarto e me tranquei lá. Depois que comi o lanche eu escovei meus dentes, tomei um banho quente e me deitei pensando no amanhã.

Acordei no outro dia cedo. Coloquei o despertador para me acordar ás 06:00. Eu me levantei, tomei banho e fui até a cozinha preparar um lanche. Meu tio estava lá fora fumando junto com o meu pai.

- bom dia – disseram os dois pra mim.

- bom dia – respondi bem ríspido.

Eu me sentei no balcão e comecei a comer meu lanche. Eles então terminaram de fumar e vieram até mim.

- você já perdoou a gente? – perguntou meu tio.

- eu sei que vocês dois se amam há muito tempo, mas eu perdoo vocês. Mas eu deixo claro que o fato de perdoar vocês quer dizer que nosso relacionamento vai ser o mesmo. na verdade... – disse dando um gole do leite. – nós não temos mais relacionamentos nenhum.

- eles se sentaram no balcão á minha frente.

- como assim? – perguntou meu pai.

- pois bem... Bem, Tony eu não vou mais morar nessa casa.

- o que? – disse meu pai. – você não vai a lugar nenhum.

- quem vai me impedir? Você? – eu disse isso indo até a pia e deixando meu prato e meus talheres. Quando me virei meu pai me surpreendeu e agarrou meus braços forte.

- você é meu filho, eu te amo e você não vai a lugar nenhum.

- tira suas mãos de mim. – falei me soltando e me afastando em direção a escada. – eu vou me mudar até o fim de semana. Disse isso subindo ás escadas. Então ouvi meu pai gritando:

- quero ver aonde você vai sem dinheiro!

Eu descia as escadas de volta.

- esse dinheiro não é só seu! Enquanto você estava morrendo de amores por meu tio minha mãe estava cuidando de mim. Se não fosse por ela eu não seria a pessoa que sou hoje. Ela foi à pessoa que dormia comigo quando eu perguntava por você. Ela era quem mentia pra mim quando eu perguntava porque vocês não conversavam mais. Eu tenho direito, mas tudo bem,... eu não quero. Eu consigo me virar apenas com o dinheiro que está depositado em minha conta pra pagar minha faculdade. Eu disse isso e entrei no meu quarto batendo a porta.

Eu esperei até que o relógio marcasse mais ou menos 08:30. Eu troquei minha roupa e desci as escadas. Eu ia até minha faculdade para trancar ela. Até eu passar por essas mudanças eu não poderia fazer faculdade. Fui em direção à porta e antes que chegasse a ela meu tio colocou a mão no meu ombro.

- eu sei que você me odeia e eu tenho tanto culpa do que aconteceu até mais do que seu pai. – eu fiquei calado sem me virar pra ele. – seu pai deixou esse dinheiro pra você.

Eu me virei pra ele e peguei o dinheiro.

- espero que um dia você me perdoe – disse Tony se afastando e subindo ás escadas. Eu joguei o dinheiro no chão e sai pela porta.

Eu peguei o ônibus para ir até a minha faculdade. Chegando lá eu assinei todos os papeis necessários e tranquei a faculdade. Eu realmente não queria fazer isso, mas eu tinha que fazer. Mudanças nunca são fáceis, mas elas são necessárias. Depois que resolvi tudo eu voltei pra casa.

Já era quarta feira e eu comia apenas o que eu pedia por telefone. Minha casa era meu quarto, pelo menos até eu encontrar um lugar que eu possa bancar. Chegou à quinta feira e enquanto estava deitado eu me lembrei que meu celular ainda estava jogado no chão do meu quarto. Eu peguei ele coloquei a bateria e liguei e chegou um monte de mensagens sobre um número que tinha me ligado. Era no mínimo 4 por dia desde segunda feira. Eu não sabia com certeza quem era, mas eu tinha quase certeza que era do Peter.

Eu me senti mal por não ter atendido suas ligações. Então decidi ligar pra ele. Eu decidi ligar pra ele e o número chamou até cair. Decidi não tentar novamente, pois ele poderia estar dormindo e eu não queria acordar seu bebê.

Eu joguei o celular na cama e fui até o banheiro e enquanto molhava meu rosto ouvi o celular tocando. Eu enxuguei meu rosto rápido e atendi.

- alô.

- Ricardo, bom dia.

- bom dia Peter.

- você não atendeu minha ligações, na verdade seu telefone estava fora de área.

- me desculpa Peter, verdade eu queria mesmo ter atendido.

- eu quase fui na sua casa ver o que tinha acontecido, mas também nunca mais ví seu pai na academia e fiquei sem jeito de ir, fiquei pensando que talvez você não quisesse me ver.

- me perdoa, de verdade. É que aconteceu algumas coisas desde a última vez que nos vimos

- o que foi? – perguntou ele muito atencioso.

- uma longa história. Não precisa se preocupar.

- olha, eu estou saindo agora pra trabalhar, a gente pode ir pra algum lugar e a gente toma café da manha junto.

- não precisa se incomodar, você vai se atrasar pro trabalho.

- não tem problema, eu sou o chefe.

- tudo bem, se não for te atrapalhar.

- combinado então. Eu te busco aí na sua casa daqui 20 minutos. Eu vou passar na creche e deixar o Max e passo pra te pegar.

- tudo bem.

Eu desliguei o telefone e fui tomar um banho frio. Escovei meus dentes arrumei uma roupa e decidi esperar ele do lado de fora do muro para que ele não precisasse entrar. Eu desci as escadas e fui esperar por ele lá fora. O vento estava frio e eu esperava por ele com os braços cruzados logo ví um carro parando. Era ele.

Ele então estendeu o braço e abriu a porta. Eu entrei.

- bom dia! – disse ele.

- bom dia. – eu respondi colocando o cinto.

- vamos pra uma lanchonete que tem no centro e lá a gente conversa.

Enquanto ele dirigia eu olhava pra ele. Ele era um homem encantador. Ele não tinha tentado nada nem um beijo ele tinha tentado arriscar. Assim que chegamos à lanchonete nós sentamos em uma mesa do lado de dentro, pois ventava forte do lado de fora.

- então... você trabalha com o que? – perguntei pra ele.

- eu sou dono de uma empresa de automóveis. – mas não vamos falar de mim por enquanto, o que foi que aconteceu com você esses dias.

Eu tive que selecionar as palavras com cuidados, pois eu não ia contar sobre o incesto. Contei sobre meu pai ter traído minha mãe e nos abandonado etc... contei também que tinha descoberto tudo e que todo mundo que meu pai conhecia era só mais uma pessoas pra me manipular e disse que esse foi o motivo de não telo procurado.

- nossa, você está conseguindo passar por tudo isso como? É muita coisa, eu não sei se conseguiria.

- pois é... eu estou querendo fazer algumas mudanças. Eu fiquei com muita raiva disso tudo.

- eu também ficaria – disse ele tomando um gole do seu café com leite com sua boca perfeita e seus olhos hipnotizantes.

- eu até tive que trancar minha faculdade porque eu não quero mais nada dele. Por mim ele pode desaparecer com o dinheiro dele.

- não faz isso – falou ele – eu te aconselho a não parar a faculdade você precisa dela.

- eu sei, eu fiz isso com o coração apetado. É meu último ano, mas eu tive que fazer isso. E eu estou querendo me mudar e ainda não encontrei um lugar que eu possa bancar.

- olha, eu sei que pode parecer loucura e eu digo logo que não sou nenhum psicopata, mas se quiser eu posso pagar o restante da sua faculdade pra você.

- não posso aceitar! – eu disse me acomodando à cadeira e tomando um gole do copo de leite.

- não seja orgulhoso, aceite.

- olha Peter, muito obrigado, mas eu não posso aceitar verdade.

Ele não falou nada apenas terminou de beber o leite com café.

- olha... eu sei que você está com problemas pra confiar em pessoas novamente, eu te entendo, mas eu quero te ajudar de algum jeito.

- não precisa. – só de ter alguém pra conversar já é bom.

- tive uma idéia! Eu tenho um quarto sobrando no meu apartamento, você pode morar comigo até você conseguir algo melhor. – disse ele pegando um bloco de notas e uma caneta. – esse aqui é o número da minha empresa, especificamente o meu telefone, não me responde agora. Pensa e se você quiser é só me ligar e quando eu for embora eu te pego pra você conhecer meu apartamento.

Eu peguei o papel sem jeito, mas com um sorriso no rosto.

- não precisa se preocupar, eu posso ser só um amigo se você quiser, não precisa ser mais do que isso.

Ele então pagou a conta e nós entramos no seu carro.

- vou te deixar em casa – falou ele dando ré.

- não precisa! É só me deixar perto de um ponto de ônibus e eu vou o resto do caminho de coletivo.

Ele olhou pra mim com uma cara de cansaço.

- olha, você está passando por mudanças e ninguém consegue passar por nada nessa vida sem ajuda, deixa eu te ajudar.

Eu dei um sorriso e fiquei calado. Ele então me levou pra casa. Quando chegamos na frente da minha casa ele estacionou em frente a uma das árvores e desligou o carro.

- então... quando tiver a resposta é só me ligar. Não se sinta pressionado, não precisa ser hoje.

- ok.

- te vejo em breve então.

Entes de abrir a porta eu me aproximei dele passei a mão no seu rosto e dei um beijo na boca dele. Nós nos beijamos por um tempo. Eu dei uns beijos no rosto dele e enfiei o papel com os números que ele me deu dentro do bolso da camisa dele. Nós demos mais uns selinhos.

- você pode vir me buscar hoje quando você sair. – ele deu um sorrido.

- quando eu chegar eu dou um toque no seu celular.

Antes de sair dei mais um selinho apaixonado na boca dele. Sai do carro e vi-o indo embora. Era nele que eu depositaria minhas últimas esperanças, era nele que eu depositaria meu novo amor. Eu poderia estar errado, mas seria um pecado não tentar.

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