Bem Vindo A Destruição [Capítulo 15]

Parte da série Papai Me Fodeu!

Eu tive um ataque do coração. Eu tive um pequeno infarto quando Peter me disse eu te amo pela primeira vez. Eu não acreditava que poderia amar ou ser amado outra vez. Para falar a verdade acho que nunca amei de verdade. O que eu amava em meu pai era uma máscara, porque apesar de viver com ele durante 20 anos eu ainda não o conhecia. Meu rosto ainda doía quando era tocado e dava para ver a marca dos dedos em meu rosto. Marcas roxas tinham se formado em minha pele. Peter já não me olhava tanto. Acho que ele não aguentava me ver com aquelas marcas. Ele se sentia culpado de algum jeito. Eu não queria tê-lo envolvido naquilo tudo.

Eu não queria cometer o mesmo erro. Peter tinha ido buscar Max na creche. Eu estava sozinho olhando pela janela que mudou minha vida. O sol preparava-se para se deitar e dar espaço para a lua. Era uma vista tão linda. Escutei a porta se abrindo. Peter estava chegando. Ele estava com Max e uma sacola na mão. Ofereci-me para pegar a sacola, eu não confiava em mim com um bebê na mão. Dei um beijo em Max e Peter me deu um beijo no rosto.

- como está seu rosto? Melhor?

- muito. Já não doí mais... só quando tocado.

- porque não disse isso antes de eu te beijar? – disse ele com um sorriso no rosto indo colocar Max no chiqueiro. Eu coloquei a sacola em cima do sofá e Peter se aproximou de mim e segurou em meu rosto como se fosse um médico analisando a ferida.

- logo logo melhora – disse ele segurando meu queixo e me dando um beijo. – eu trouxe algumas roupas para você. – falou ele pegando a sacola e tirando de lá duas camisas, bermudas e cuecas.

- obrigado. – falei pegando.

- é só por enquanto. Amanhã é sábado e a gente sai pra comprar mais coisas.

- não precisa.

- claro que precisa.

- eu estava pensando e... eu tenho que ir na casa do meu pai pegar minhas coisas. Eu não posso deixar você comprar tudo o que eu já tenho.

- não vou deixar você voltar lá. E você sabe o que vai acontecer se eu for com você.

- Peter. – falei sentando no braço do sofá. – eu também não quero voltar lá, mas mesmo que compre tudo eu preciso dos meus documentos. Tenho coisas que não pode ser compradas.

Ele se sentou no sofá.

- eu sei. Mas... você não vai voltar lá.

- mas, como eu vou pegar todas as minhas coisas?

Ele ficou pensativo por uns minutos e logo teve uma idéia.

- meu tio Tony. – falei arriscando a sorte. – ele olhou pra mim sem falar nada. – eu sei... eu sei. É a última coisa que eu quero, mas eu posso conversar com ele. Ele parece ser mais flexível. – Peter levantou a mão e passou os dedos de leve no meu rosto.

- não quero que você vá lá. Eu vou conversar com meu advogado e ver o que ele fala sobre essa situação.

- tudo bem.

Ele se levantou pegou o celular e foi até o quarto e fechou a porta. Eu fiquei sentado no sofá calado apenas esperando. Depois de alguns minutos ele saiu do quarto.

- boas novas. – disse ele com o celular na mão – meu advogado falou que ele pode conseguir um mandato para pegar tudo o que for seu. Mas ele só pode obrigar a pegar o que estiver de fato em seu nome, ou seja, seus documentos.

Antes que ele terminasse de falar e respirasse meu celular tocou. Peguei ele e ví quem me ligava. Meu pai.

- deixa que eu atendo – falou Peter. Eu entreguei o celular para ele.

- Peter falando – disse ele com a voz firme. Por alguns instantes achei que ouviria gritos, mas a conversa foi calma.

- ele não quer falar com você. – fiquei curioso para ouvir o que estava sendo dito. – mas, eu te aviso que ele não vai.

Essa frase me despertou curiosidade. O que será que meu pai estava pedindo. Depois de mais alguns minutos em silêncio ele falou a última coisa antes de desligar. – ok, até daqui a pouco.

- o que foi? – perguntei curioso e nervoso. – aonde você vai?

- seu pai ligou e disse que você pode buscar todas as suas coisas.

- Você vai lá buscar?

- vou sim. – você fica aqui com o Max? Eu não vou demorar muito.

- não – falei rápido – me deixa ir junto.

- não. – falou ele coçando o queixo. – sem chances.

- eu fico no carro com o Max, não precisa nem falar que eu estou junto com você. Eu só não quero que você vá lá sozinho. Por favor.

Ele pensou por alguns minutos.

- tudo bem. – falou ele pegando as chaves do carro em cima do criado mudo na sala. – nós vamos agora.

Eu me levantei e Peter pegou Max nos braços. Eu abri a porta do apartamento e nós fomos até o carro. Quando chegamos ao estacionamento ele me entregou a chave e eu abri o carro. Ele colocou Max no banco de trás e logo ele sentou no banco do motorista e ligou o carro.

quando ele saiu de dentro do condomínio ele me falou.

- tive uma idéia. Vou chamar um amigo meu para ir com a gente. Por segurança.

- tudo bem. – falei.

Ele então se desviou um pouco do caminho e chegou a um outro condomínio e estacionou de fora, pegou o celular e ligou para o amigo. O amigo dele atendeu ao telefone e ele disse que precisava de ajuda em algo. Ele explicou a situação e o amigo concordou. Ele autorizou a entrada do carro do condomínio. Ele então parou o carro no estacionamento. Logo apareceu um homem alto e à medida que ele ia se aproximando Peter me avisou.

- é ele que vai com a gente. – quando ele disse isso eu abri a porta do carro.

- é melhor ele ir na frente com você. – eu sai e entrei na porta de trás.

O amigo dele entrou no carro e o cumprimentou.

- esse aqui é o Ricardo. – o amigo se virou e apertou minha mão.

- prazer, meu nome é Chris. – quando ele viu meu rosto fez uma cara estranha assustado com a marca no meu rosto, mas não falou nada.

Peter explicou novamente o que eles iriam fazer. E logo chegamos até a porta da minha casa. Ou melhor, minha antiga casa.

Ele estacionou o carro de fora.

- Ricardo. Você fica aqui e não sai desse carro por nada. Nós vamos entrar lá e vamos pegar suas coisas. Seu pai disse que estava tudo pronto.

Eles saíram do carro e tocaram a campainha e logo o portão de pedestres se abriu e eles entraram. Depois que eles estavam longe, Max começou a dar sinais de que iria chorar. Eu acalmei ele dizendo que o pai voltaria logo, como se ele entendesse algo, mas ironicamente ele se acalmou e logo começou bater palmas.

Eles estavam demorando um pouco demais lá dentro. Logo meu celular tocou. Era Peter.

- o que foi Peter? Aconteceu alguma coisa?

- fica calmo. Ricardo você tem que vir aqui. Seu pai disse que quer te ver ou não vai entregar suas coisas.

- como ele sabe que eu vim?

- ele sabe que eu não deixaria você sozinho. Você pode pegar o Max e trazer até aqui. É só fechar o carro e ligar o alarme.

- ok. já estou indo.

Eu tirei Max da cadeirinha, peguei nos braços com muito cuidado, pois não me lembrava da última vez que peguei uma criança nos braços. Fechei a porta e fui em direção ao portão. Que estava aberto. Fui com cuidado para não cair. Assim que cheguei à porta Peter estava de fora me esperando. Eu entreguei Max pra ele. Eu entrei até a sala e lá estava meu tio e meu pai.

Eu ví seus rostos surpresos quando viram a marca em meu rosto.

- eu fiz isso? – disse meu pai dando dois passos até mim e eu dei três passos para trás.

- o que você acha?

- me perdoa por isso. – disse meu pai enchendo os olhos de lágrimas. Não sei se as lágrimas eram de verdade, mas não fiquei comovido com aquilo. Ele era bom em manipular as pessoas e eu não cairia naquela outra vez.

- posso pegar minhas coisas e ir embora?

Meu tio pegou duas grandes malas e colocou elas perto de mim.

- eu sei que não tem palavras para me desculpar, mas espero que algum dia você me perdoe.

- você está certo, não existe palavras. Falei pegando uma das malas com rodinhas.

- posso te dar um abraço? – perguntou meu pai limpando os olhos com a mão.

- eu não estou indo pra faculdade, encare isso como uma fuga de você. Porque eu ia querer te abraçar?

- por favor! – falou ele.

Eu olhei pra trás e olhei para o Peter e ele fez sinal positivo com a cabeça. Eu larguei a mochila mais uma vez e meu pai se aproximou e me deu um abraço. Eu mal o abracei. Meu corpo sentia repulsa pelo dele. Depois de alguns segundos ele me soltou. Meu tio se aproximou e me deu um abraço. Eu também não abracei ele direito. O cheiro dele me trazia lembranças ruins. O que antes eram lembranças boas tinha se tornado pesadelos diurnos.

Eu peguei a mala outra vez e me virei e antes que saísse pela porta ouvi meu pai dizendo para Tony.

- o que eu fiz?

Eu continuei andando e não me atrevi a olhar para trás. O que ei tinha passado naquele lugar não tinha explicação. Era dolorido de lembrar. Eu não queria ter lembranças ruins. Colocamos as duas malas no porta-malas e entrei no carro sentando no banco de trás.

Todos nós estávamos em silêncio. Peter então foi deixar Chris em casa. Por fora eu parecia normal e até triste, mas por dentro eu estava explodindo de felicidades. Apesar de meu pai parecer me amar eu não conseguia mudar o que estava sentindo por ele. Ele me dava nojo. Ele e meu tio. Assim que chegamos ao apartamento levei as malas pra cima. Eu tinha que me acostumar com elevadores. Eu tinha medo, mas depois de tudo o que tinha passado os elevadores eram o menor dos meus problemas.

- pode colocar suas coisas no meu guarda-roupas. – falou ele colocando Max no chiqueiro e ligando a televisão. – quer ajuda? – perguntou ele se aproximando.

- não precisa. O Max precisa do pai. – quando disse isso ele pegou minha mão e me deu um beijo na minha boca. Um beijo demorado.

- está vendo? Tudo se resolve. – falou ele indo até a cozinha preparar algo para Max e nós comermos.

Eu então abri todas às duas malas e retirei tudo o que tinha dentro. E levei para o quarto e arrumei no guarda-roupa. Tinha outras coisas minhas, meu notebook, carteira, documentos, papeis, revistas e algumas coisas que guardava. Também guardei essas coisas no quarto.

Depois que arrumei tudo e Max já estava dormindo no berço

- já terminei o jantar – falou Peter. – se quiser tomar banho primeiro eu te espero.

- esta bom.

Eu entrei no chuveiro e na água fria eu tomei o melhor banho da minha vida. Finalmente estava livre daquela casa e daquelas pessoas que tinham se tornado estranhas pra mim. Depois do jantar eu e Peter nos deitamos na cama e assistimos televisão. Mais uma vez estávamos bem juntinhos. Eu estava deitado do lado esquerdo da cama o mesmo que eu sempre deitava, até mesmo porque se eu deitasse do lado direito meu rosto machucado ficaria deitado em seu ombro e isso iria doer.

Eu adormeci. Estava tendo um sonho estranho. Eu estava em uma cidade completamente vazia. Cada vez que olhava para o lado a paisagem mudava. Hora a paisagem ficava bonita hora ficava feia. Então do nada quando olhei para o lado direito pela terceira vez um carro enorme vinha em minha direção. E quando ele ia me atingir eu acordei assustado. Era um daqueles sonhos em que se tem a sensação de estar caindo. Eu quase matei Peter de susto.

- assim você me mata de susto. – falou Peter.

- desculpa – falei me sentando na cama. Eu tinha cochilado por alguns segundos. Olhei para o relógio e era 11h11min. Olhei pela janela e começava a chover.

- Ricardo eu quero te falar uma coisa. – falou Peter se sentando na cama.

- o que foi? – falei deitando no ombro dele.

- eu podia guardar isso pra mim o resto da minha vida, mas eu sinto que tenho que ser honesto com você.

Aquelas palavras me deixaram um pouco assustado.

- o que foi? Eu fiz alguma coisa?

- não. Não é isso.

Fiquei imaginando o que seria.

- não fica triste comigo e nem chateado, mas... ele me contou tudo.

Meu coração disparou. Eu não queria entender o que aquelas palavras significavam.

- tudo o que? – falei rezando para que não fosse o que eu estivesse pensando. Antes que ele respondesse eu me afastei um pouco dele. E fiquei de cabeça baixa.

- sobre o relacionamento de vocês no passado ter sido mais do que só de pai e filho.

Quando ele falou aquelas palavras lágrimas rolaram do meu rosto. Era a última coisa que eu queria que ele soubesse. Como se eu já não me sentisse humilhado o suficiente, meu pai me fez o favor para que eu me sentisse pior. Eu sentia nojo de mim e não queria que ninguém soubesse daquilo. Eu tinha vergonha daquele amor. Como eu poderia me relacionar com alguém que soubesse daquele meu passado?

Eu me levantei da cama e fui andando até e sala e antes que saísse do quarto eu me ajoelhei no chão chorando.

Peter pulou da cama e se ajoelhou ao meu lado.

- não precisa ter vergonha. Eu poderia continuar fingindo pra sempre que não sabia disso, mas isso significaria que eu não estaria sendo honesto com você.

Ele se sentou no chão se encostando-se à cama e com calma e carinho me obrigou a chorar em seu ombro sujando sua camisa com minhas lágrimas. Quando tudo parecia resolvido meu passado voltava contra mim.

- não chora meu amor – falou Peter limpando as minhas lágrimas. – eu não estou te jugando só quis ser honesto com você. Eu nunca te jugaria.

- me perdoa não ter te contato – falei entre um soluço e outro.

- eu queria te perdoar, mas, não tenho o que perdoar.

Eu continuei chorando. Gradualmente meu choro foi diminuindo.

- eu não te mereço – falei pra ele. Eu pressionava meu rosto contra seu pescoço e ombro. Acho que nunca mais conseguiria olhar para ele outra vez. Eu sentia vergonha.

- olha pra mim – falou Peter.

- não – respondi com a voz rouca.

- não precisa ficar envergonhado por causa disso. Todos temos coisas que não nos orgulhamos, os erros e acertos nos fazem ser melhores.

Eu continuei calado. Eu não chorava mais. Além do meu rosto agora meu coração também doía. Eu amava Peter e estava com medo de ter magoado ele.

- se quiser que eu vá embora, eu entendo. – falei abrindo meus olhos. A luz os fazia doer. Eu via um pouco embaçado por causa das lágrimas.

Ele deu um beijo na minha testa.

- nunca vou deixar você ir. Porque eu mandaria você embora? – falou ele passando o dedo no meu rosto machucado.

- porque você não? – perguntei. – porque você iria querer ficar comigo depois de descobrir uma coisa como essa.

Ele pegou minha cabeça e desceu um pouco e colocou meu ouvido no seu coração.

- está ouvindo meu coração bater? – perguntou ele. – consegue ouvir a resposta?

- não – não respondi.

- consegue sim. Ele está batendo não está?

- sim.

- por você! – completou ele. - nada do que os outros fizerem ou disserem para me afastar de você vai funcionar.

Ficamos em silencio por mais um pouco.

- vem se levanta, deixa de ser bobo. – falou ele com um tom de brincadeira. – se você me ama você vai se levantar.

Então eu me levantei sem conseguir olhar para o rosto dele. Fiquei olhando para baixo. Ele então segurou meu rosto entre suas mãos e me fez olhar para ele. ele estava sorrindo e meu deu um selinho. Depois outro e depois um beijo longo. Eu me rendi ao seu charme e o abracei.

- eu te amo. – falou ele me dando outro selinho.

Eu prometi a mim mesmo que não me apaixonaria outra vez, mas meu coração não obedecia. Eu também coloquei minhas mãos em seu rosto e dei um beijo nele.

- eu também te amo.

Ele então me abraçou forte. Eu sentia seu corpo e sua alma.

- eu te amo muito – falei outra vez. – mas doí saber que você sabe.

- vai denta na cama – falou ele.

Eu me deitei na cama de barriga pra cima. Eu olhava o teto. Até olhar o teto parecia errado. Ele se deitou ao meu lado e me cobriu com o cobertor.

- fecha os olhos. – falou ele. – esquece isso. Tenha um sonho bom. Comigo de preferencia. – ele conseguiu arrancar uma risada de mim. – se estiver difícil sonhar comigo lembra que eu estou bem aqui do seu lado. Eu cheguei perto dele e deitei a cabeça no ombro dele. Mais uma vez meu pai tinha conseguido fazer com que eu o odiasse mais.

Eu armei minhas defesas, porque não queria me apaixonar. Mas Peter conseguiu me desarmar totalmente. Poderia existir alguém tão bom como ele? eu não sabia se eu merecia o amor de Peter. Mesmo assim eu adormeci no ombro dele ouvindo o barulho da chuva que agora estava forte.

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