A Besta Interior [Capítulo 14]

Parte da série Papai Me Fodeu!

“Não tema o que você está prestes a sofrer,

Contemplar o demônio é se jogar dentro da prisão...

Eu sou o alfa, o ômega, o primeiro, o último,

O princípio e o fim”

Eu acredito no poder do amor, mas eu morro um pouco toda vez que a dor dentro de mim vem à tona. Acho que quando o amor é puro você tenta entender as razões. As coisas não têm sido as mesmas Desde que ele entrou na minha vida, ele descobriu o jeito de tocar minha alma, com apenas algumas palavras e ações ele me mostrou que a felicidade está na palma da minha mão. Agora eu posso ver as coisas como realmente são... Eu acho que não estou tão distante que não possa fazer retorno.

- Será que estou pronto para pular? – falei para mim mesmo sentindo o vento frio em meu rosto e as gotas da chuva entre meus dedos.

Eu fechei os olhos uma última vez e respirei fundo:

- O que eu vou fazer?

Eu então me apoiei sobre minhas mãos e levantei forçando os pés e antes que pensasse duas vezes. Saltei. Deixei para trás todos os meus medos, tristezas e possíveis alegrias e antes que pudesse tocar o chão e sentir pela última vez o prazer da dor... eu acordei. Estava caído no chão do quarto. Eu tinha desmaiado e Peter estava ajoelhado no chão dando tapas em meu rosto tentando me acordar.

- Ricardo. Acorda. – ele data tapas de leve no meu rosto quando abri os olhos eu juro que consegui ver a face de Deus. Eu estava tonto.

- graças a Deus. – falou Peter se sentando e me deitando no colo dele. – eu falei pra você não se levantar. Meu rosto estava suado e até agora eu não tinha dito nada.

- o que aconteceu. – falei limpando o suor na minha testa.

- eu ouvi um barulho quando estava vindo pra cá e quando cheguei aqui você estava caído no chão. A janela estava aberta. Você estava gelado.

- quanto tempo fiquei desacordado? – perguntei.

- mais ou menos 5 minutos depois que eu cheguei aqui.

Ele começou a apetar de leve partes da minha cabeça.

- está doendo em algum lugar? – perguntou ele. – você estava caído em cima do seu braço, mas você pode ter batido na parede antes de cair.

- não. Só estou me sentido um pouco tonto.

- isso é normal – falou ele me acalmando. – eu vou te colocar na cama.

Eu me forcei a se levantar. Fiquei sentado um pouco para que minha tontura passasse. Ele me ajudou a se levantar e fui até a cama me deitando.

- você me deu um susto. – falou Peter se levantando – não sei como você não passou mal antes. Aposto que você não tem dormido bem.

- bingo. – falei ficando de barriga pra cima – eu durmo, mas é como se eu não descansasse quando eu penso que vou ficar em paz dormindo eu sonho a noite inteira e acordo assustado com meus pesadelos.

- é a besta interior. – falou Peter se sentando na cama coçando a cabeça.

- besta interior? O que é isso?

- você tem passado por muitas coisas e mesmo que você em sua cabeça ache que está tudo bem seu coração e alma sabem que não está nada bem e você começa adoecer por causa disso. É como se fosse uma luta dentro de você e você sai muito machucado. Você tem que se afastar das pessoas e das coisas que não fazem você se sentir bem. O ambiente também te afeta. As lembranças são as espadas mais afiadas. É tipo... não sei... É um lance meio que espiritual.

Ficamos em silêncio um tempo.

- você acredita em Deus? – perguntei.

- sim. Não tenho religião. Deus criou todas as coisas, mas o homem separou o que é certo e o que é errado.

- você tem que ir dormir você trabalha amanha. – falei olhando pra ele.

Ele se levantou da cama e foi na cozinha e logo voltou com um copo de água.

- toma esse comprimido, ele vai te ajudar a relaxar e você vai dormir como um bebê. Eu me sentei e tomei o comprimido. Eu me deitei de novo e ele deixou o copo em cima da cômoda. Ele ligou a luz do abajur que ficava do lado onde estava deitado e deu a volta na cama se deitando ao meu lado. Eu me virei pra ele e fiquei olhando pra enquanto ele se cobria. Eu estava começando a sentir o efeito do remédio. Meu corpo tinha ficado pesado. Eu cheguei perto dele e deitei em seu ombro. Ele provavelmente era o travesseiro mais confortável do mundo. E antes que percebesse já tinha dormido.

Foi uma noite tranquila, sem pesadelos, sem sonhos apenas o descanso. Acordei e olhei para o relógio digital em cima da cômoda. Era 11:11. O quarto estava fresco e um pouco iluminado pela luz do sol que penetrava pela janela ainda fechada.

Peter provavelmente já tinha ido trabalhar, mas assim que me virei eu ví que ele ainda estava dormindo. Ele parecia dormir como um bebê e de fato tinha um bebê dormindo entre nós. Era Max. Ele estava quieto e quando percebi ele estava acordado.

- oi garotão – cochichei baixo. Dei um beijo na testa dele e quando ia acariciar seu rosto ele segurou no meu dedo. Eu balançava o dedo e ele tinha agarrado no meu dedo indicador. Eu alisava sua bochecha e de repente ele começou a sorrir pra mim. Ele tinha um brilho nos seus pequenos olhos.

Ele soltou meu dedo e começou a dar aquela risadinha gostosa de bebê e a bater palmas.

- shhhhhh – fiz colocando o dedo na boca – papai está dormindo. Quando fiz isso ele deu um grito alegre e Peter acordou e virou para nosso lado.

- bom dia – disse ele se virando.

- bom dia – respondi – a culpa foi minha! – falei brincando. – ele está muito alegre esta manhã.

- esse é meu garotão – disse ele pegando Max e levantando ele. Ele deu beijos no rosto do bebê e fazia barulhos com a boca e o deixou mais agitado ainda. Ele tentava segurar no rosto dele. Ele coloca a mão na boca dele e Peter beijava a mão dele.

Eu não conseguia ficar triste com aquela cena. Era muito bonito ver um pai brincando com seu filho. Peter então se levantou e colocou Max no berço.

- papai vai fazer sua mamadeira – disse ele siando do quarto. Ele voltou e chacoalhando a mamadeira deu pra ele.

- ele já consegue segurar a amadeira sozinho?

- consegue sim. – falou Peter se espreguiçando e vindo em direção à cama e se deitando de novo.

- ele é uma gracinha.

- eu diria que ele puxou o pai – falou Peter rindo.

- verdade.

Ele então se virou para mim e me perguntou:

- você dormiu bem?

- dormi sim. E foi bem calmo. Sem sonhos e sem luta interior. Parece que dormi por anos.

- esta vendo. Só de estar longe do ambiente tenso você já se sente melhor.

- bem melhor – falei me aproximando dele. Eu coloquei a mão em seu rosto e dei um beijo. Ele deu um sorriso e me devolveu o beijo.

- obrigado – falei dando outro beijo dessa vez um pouco mais demorado. Sua língua parecia de veludo. Só o pensamento de estar longe dele me deixava com medo. Com ele eu não temia mais nada.

Ouvimos o barulho da mamadeira vazia e Peter me deu um último beijo antes de se levantar. Ele pegou a mamadeira e levou para a cozinha. Ele pegou o Max e andou pela casa dando tapinhas em suas costas até que ele arrotasse. Colocou ele no chiqueiro na sala ligou a televisão em um canal infantil e veio em direção a cama.

- pensei que fosse ir trabalhar. – falei enquanto ele deitava na cama e me dava um beijo.

- eu preferi ficar aqui. Aquele garotinho me deu trabalho essa noite. – eu sorri e ele me deu um beijo. – vocês dois me deram trabalho noite passada. – eu sorri e retribui o beijo.

- obrigado por ter ficado. – falei isso olhando para o teto. Peter me tirou do meu transe me dando um beijo no meu rosto e logo em seguida veio pra cima de mim. Senti todo seu corpo em cima de mim. E nos afogamos em um beijo. Um beijo calmo e gostoso. Eu alisava seu rosto e nossas pernas se entrelaçavam.

- eu te amo – falei entre um beijo e outro. Peter me deu um selinho e ficamos com as testas juntas. Eu sentia sua respiração em meu rosto ele começou a sorrir feliz.

- também te amo – falou ele me dando outro e longo beijo. Ele então do mesmo jeito que estava deitou sua cabeça em meu peito. Eu o abracei e o segurei. Não queria soltá-lo nunca mais. Eu passava meus dedos entre seus cabelos. E assim ficamos por um bom tempo.

- eu não seria nada sem você amor – falei.

- ele levantou a cabeça deu um beijo entre meus peitos e logo em seguido subiu um pouco e deu um beijo na minha boca.

Ele então saiu de cima de mim e se deitou ao meu lado.

- deita aqui pertinho de mim – disse ele me puxando e me fazendo deitar em seu ombro e como a noite passada eu coloquei minha mão em seu peito.

- você vai na sua casa buscar sua coisas? – perguntou ele.

Por um momento pensei em dizer não. Eu não queria mais voltar para aquele lugar. Eu tinha medo. Eu tinha medo depois do que aconteceu noite passada. Ainda doida um pouco lembrar o que minha própria família pensava de mim.

- você vai comigo? Eu não quero ir sozinho.

- claro! – disse ele entrelaçando seus dedos aos meus. – na verdade não deixo você ir lá mais sozinho.

Depois de 10 minutos nós dois resolvemos nos levantar. Eu não tinha roupa então não tomei banho, mas Peter sim.

Ele saiu do banheiro de toalha e pegou roupas e voltou para dentro do banheiro para se trocar.

- você quer ir lá agora? Ou prefere depois do almoço.

- a hora que você quiser, mas posso te pedir uma coisa.

- o que você quiser – disse ele saindo do banheiro sem camisa e vestindo ela.

- não leva o Max. Não quero que ele vá com a gente.

- claro. Eu o deixo na creche. – ele vestiu a camisa e sentou na cama calçando seu tênis. Ele foi até o guarda roupas e pegou uma escova de dentes ainda lacrada e me entregou. – escova seus dentes e a gente vai almoçar fora.

Eu escovei os dentes e vesti minha camisa. Cheirei-a e não estava com o cheiro forte. Fiquei mais tranquilo e antes de irmos almoçar nós fomos até a creche deixar o Max. Eu me despedi dele com um beijo. Adorava o cheirinho de bebê. Ele era tão inocente. Era bom pensar que todos já fomos assim. Nós chegamos a um restaurante e logo fizemos nosso pedido.

Nós almoçamos e conversamos bastante. Depois que almoçamos nós tomamos sorvete e ficamos um pouco sentados conversando. Lembrei do meu celular e liguei ele. Tinha mais de 30 chamadas de Tony e Ben. Tinha mensagens de voz e sms, mas não li nenhuma e também não ouvi nenhuma das mensagens.

- estou nervoso por ter ir até lá.

- não fica – falou Peter segurando minha mão.

- eu só quero pegar o que for essencial e não quero voltar para aquela casa nunca mais. Aquela casa era pior do que a da série “American Horror Story”, tinha lembranças demais lá. Lembranças que nunca sairiam daquele lugar. Aquela casa me assombrava e eu só queria sair de lá e nunca mais voltar.

O celular do Peter ligou e ele se levantou da mesa para conversar. Ele voltou dizendo.

- você está pronto pra ir? – perguntou Peter.

- sim, vamos.

- deixa eu te falar – disse Peter ainda sentado. – você se importa de ter que passar na minha empresa? Tenho que ir lá assinar uns papeis. Não vai demorar muito.

- sem problemas – eu disse.

Nós fomos e assim como ele disse não demorou muito. Eu preferi ficar esperando do lado de fora do carro. Depois de 20 minutos ele voltou. Nós entramos no carro e fomos em direção a minha casa assombrada.

Assim que chegamos eu disse pra ele não entrar com o carro e deixar estacionado do lado de fora e assim ele o fez. Nós entramos e atravessamos o portão.

Parecia que algo estava conspirando contra mim. Era pouco mais dás 15:00 e o carro do meu pai estava na garagem. Senti um frio na barriga. Eu não queria ter que enfrenta-lo de novo.

Antes que eu chegasse a porta de entrada meu pai saiu rápido e gritou:

- quero você fora da minha casa – se referindo ao Peter.

Nós paramos. Ele estava irritado, ele tinha visto que eu não dependia mais dele. Ele me feriou com a espada e com a espada ele estava sendo ferido.

Eu vi que Peter se assustou um pouco.

- fica aqui – falei pra ele indo em direção ao meu pai. – eu só vim buscar minhas coisas e desapareço da sua vida.

Logo apareceu meu tio Tony e saiu pela porta.

Eu passei pelo meu pai e fui entrando em casa:

- você não vai destruir minha família – gritou meu pai, ele se virou e agarrou no meu braço – você não vai sair de casa, essa é sua casa e eu sou sua família.

Tentei me soltar do braço dele, mas logo Peter veio e puxou meu pai pelo braço.

- larga ele. – falou Peter. Nesse instante meu pai soltou meu braço e empurrou Peter.

- pai. Para com isso. Aceite.

- você entra na minha casa e acha que pode fazer o que bem entender? – falou meu pai para Peter. – fora daqui ou eu chamo a policia.

Eu via nos olhos do Peter o ódio. Eu não queria que ele se machucasse, mas não queria ficar sozinho. Naquele momento imaginei que minhas coisas não valiam nada. Eu não queria mais nada daquele lugar. Só a liberdade. Então eu virei às costas e fui em direção do Peter.

- vamos embora. Eu não quero nada desse lugar.

Quando passei pelo meu pai ele segurou forte no meu braço e falou alto.

- ele deve ter te comido gostoso. – eu me senti humilhado mais uma vez. Algo dentro de mim desmoronou. Eu ví que Peter deu um passo pra frente e se segurou mais uma vez. Eu olhei pra ele e fiz sinal para que não fizesse nada. Era isso o que ele queria.

– tira a mão de mim. – falei tentando soltar meu braço. Ele não falou nada e continuou segurando forte meu braço.

- eu te amo – falou meu pai.

- eu te odeio – falei ríspido. – meu pai então soltou meu braço e me deu um tapa na cara. O som do tapa ecoou e foi tão forte que eu me desequilibrei e caí no chão. No mesmo instante ví Peter ir até meu pai e o derrubar com um soco. Meu rosto estava doendo e latejando, mas eu me levantei rápido e Tony saiu da porta e foi em direção ao Peter. Então antes que ele chegasse até ele eu fiquei na frente do Peter.

Meu rosto doía e eu estava com muita raiva. Tony então parou quando ficou em frente a mim. Meu pai se levantou e estava o nariz sangrando. Ainda na frente do Peter fui andando de costas.

- vamos embora. – falei pra ele e me virando. Nós fomos andando. Eu estava tonto. Todo aquele estresse estava me matando.

- você está bem? – perguntou Peter abrindo a porta do carro e entrando.

- estou sim – falei entrando no carro. Meu rosto estava doendo e Peter acelerou o carro com tudo e disparou. Ele estava com raiva.

- vai ficar tudo bem – disse ele apertando meu ombro. Toda vez que eu pensava que minha vida iria melhoras só chegava mais problemas. Eu me sentia humilhado. Dessa vez doía mais porque eu fui humilhado em frente ao Peter. Eu não queria que ele tivesse visto aquilo. Eu estava sem asas. Fiquei calado o caminho todo até a casa do Peter. Eu tinha prometido a mim mesmo que não derramaria mais lágrimas por aqueles dois e não derramei.

- seu rosto está doendo? – perguntou Peter se aproximando e passando mão de leve no meu rosto.

- um pouco – falei.

- ele está vermelho – falou Peter. Ele viu que eu estava triste e deu um beijo no meu rosto. – pronto agora vai melhorar. – disse ele me fazendo rir.

Eu me sentei no sofá e fiquei pensativo. Peter veio com um copo de água. Tomei toda a água.

- eu vou comprar tudo o que você precisa. Eu não vou deixar você voltar lá. Me perdoa por ter deixado você ir para aquele lugar de novo.

- não foi culpa sua.

- deita no meu colo – disse ele se sentando no sofá. Eu me deitei. Era aconchegante, gostoso. Sua perna era um anestésico e meu rosto não doía como antes. Eu estava pronto para começar aquela nova etapa da minha vida.

Comentários

Há 0 comentários.