(Não) Vou Me Casar Esta Noite [Capítulo 22]

Parte da série Papai Me Fodeu!

Eu fiquei sem reação. Eu não sabia o que falar. Fiquei calado por tempo demais.

- não vai responder. – falou Peter tirando o sorriso do rosto.

Eu não conseguia responder. Eu não podia aceitar um pedido daqueles com a dúvida que eu tinha. Eu coloquei a mão na testa.

- me desculpa – falei me levantando. – não posso fazer isso.

Peter se levantou e me perguntou aflito.

- rápido demais?

- não é isso. Eu preciso te perguntar uma coisa.

Eu me sentei de novo e pensei em como perguntar.

- me desculpa por ter xeretado no seu celular, mas eu ví ligações e mensagens do Tony.

Quando disse isso Peter se sentou meu lado.

- me perdoa por não ter te contado.

- quer dizer então que você e o Tony e meu pai tem um caso?

- o que? – falou ele olhando pra mim – é claro que não.

- então o que significa tudo isso.

- você entendeu errado. Eu não quis te contar antes, não queria te deixar triste. Quando eu descobri que você tinha sofrido um acidente eu fiquei desolado e fui direto para o hospital. Dois dias depois que você estava em coma Tony veio te visitar no hospital e se declaro pra mim. Ele disse que você nunca ia acordar e que ele estava lá para mim.

- quer dizer então que... todo esse tempo ele foi apaixonado por você?

- é o que parece.

Eu fiquei pensativo. Agora as coisas pareciam fazer sentido.

- é claro que eu não quis nada com ele. eu briguei com ele e pedi para não voltar ao hospital e que era um desrespeito com você.

- foi por isso que ele mandou o vídeo pro seu celular e não pro meu.

- exatamente. O problema é que ele continua me ligando e me mandando mensagens. Sério seu tio tem algum problema. Ele realmente acha que eu quero alguma coisa com ele.

- quer dizer então que ele queria que eu desistisse de você e ficasse com o meu pai assim ele teria a chance de ficar com você.

Depois que refleti e tudo fez sentido eu me senti envergonhado. Eu tinha duvidado dele e estragado um momento que era pra ser perfeito.

- me perdoa – falei segurando a mão dele.

- não tem problemas. Só estou triste por você ter duvidado do meu amor. Eu pedi para que não fizesse isso outra vez.

Eu fiquei de cabeça baixa triste. Eu tinha sido traído tantas vezes que eu não conseguia mais confiar em ninguém. Aquilo ia me marcar pelo resto da minha vida.

- me desculpa por estragar a noite. Se quiser retirar o pedido eu entendo.

- não. Eu te amo. – falou ele pegando minha mão e colocando uma das alianças.

- eu te amo – falei dando um beijo nele.

- não esquece que você tem colocar sua aliança em mim também.

Meus olhos tinham lágrimas. Ele realmente me amava. Eu coloquei a aliança e dei um beijo nele. Um beijo longo e demorado.

- ninguém vai conseguir nos separar – falou ele com um sorriso no rosto.

Eu o abracei e deitei a cabeça no ombro dele.

- me perdoa falei outra vez arrependido.

- me perdoa você por não te contato. Não se preocupa mais porque eu vou trocar o número do meu celular e o seu também. Eu não quero ter contato nenhum com aquele cara.

- obrigado por manter o pedido de casamento mesmo depois do que eu fiz.

- que nada, mas isso vai ter um preço.

- qual preço falei olhando pra ele.

- eu conheço sua família até demais está na hora de você conhecer a minha. E claro minha ex esposa que é uma grande amiga minha.

- preço grande. Vou ficar muito nervoso por conhecer sua família.

- não precisa. Eles vão gostar de vocês.

- você nunca me falou da sua família. Eu tenho que saber alguma coisa sobre eles.

- bom. Ao básico que você deve saber é que minha mãe e meu pai ainda são casados, minha família toda sabe sobre minha sexualidade. Tenho dois irmãos e uma irmã. Meu irmão Ryder é bombeiro, meu outro irmão Alex é policial e é casado a mais de três anos, minha irmã Dianna é advogada e é divorciada e têm dois filhos.

- uau, família grande.

- sim, mas não fica preocupado com isso. Vou ver se eles vem aqui no fim de semana.

Depois que eu ajudei Peter a arrumar toda a cozinha nós fomos nos deitar. Eu nem ligava mais pra história do Tony estar apaixonado pelo meu futuro marido. Nada mais importava porque finalmente eu estava feliz.

“Provavelmente do inferno”. Tony só podia vir de um lugar como o inferno para tentar arruinar minha vida. Mas como diz a canção do La Roux e do David Guetta: “Sou à prova de balas”. Agora mais do que nunca eu queria distância dele e do meu pai. Eu cansei da minha família e estava na hora de criar a minha própria.

Peter tinha marcado com a família em duas semanas. Eu estava ansioso e nervoso.

Os dias pareciam passar devagar. Eu estava meio que triste. Eu deveria estar feliz com o pedido de Peter e realmente estava, mas não ter ninguém pra partilhar aquela noticia me fez lembrar o quão solitário eu era. Eu tinha desistido dos meus amigos por causa do meu pai e do seus ciúmes.

Finalmente tinha chegado à sexta feira. A família de Peter iria ficar até no domingo. Eles moravam em outro estado e aproveitariam para ficar uns dias. Eles ficaram de chegar à parte da noite. A ex do Peter Anna iria chegar mais cedo.

O relógio marcava 17h49min e Max e eu assistíamos televisão. Então o telefone chamou e eu atendi. O porteiro avisou que Anna estava na portaria. Ela tinha chegado antes de Peter.

- pode deixar ela subir.

Eu então fiquei preparado pra abrir a porta. Então depois de alguns segundos alguém bateu na porta e eu abri.

- oi – falei nervoso.

- você deve ser o Ricardo. – falou ela entrando

- sou sim – falei dando a mão para cumprimenta-la.

Ela então não pegou na minha mão e me deu um abraço e um beijo.

- é muito bom te conhecer.

- também – falei abraçando ela – Peter me falou muito de você.

- tudo de bom e tudo verdade – falou ela entrando e indo até o sofá pegar Max.

Ela brincou com ele um pouco. Eu fechei a porta e ofereci algo para beber.

- então. Você foi casada com o Peter?

- sim – falou ela colocando Max no sofá. – estou feliz de conhecer a pessoa que conseguiu amarrar o coração dele.

Eu sei um sorriso sem graça quando ela falou aquilo.

- é sério não fica rindo não – falou ela rindo e me dando um tapa na perna. – quando ele me falou que era gay eu perdi o marido, mas ganhei um grande amigo. A gente saia muito e íamos muito pra festas e tal. Quando foi uns meses atrás ele me ligou falando que tinha conhecido alguém e eu disse “Peter eu tenho que conhecer ele”.

Nós ficamos conversando por muito tempo. Eu tinha gostado dela. Eu tinha ficado mais tranquilo quanto a visita dos pais dele.

- olha. Não se preocupa e não fica nervoso, Peter me falou que você não se dá bem com sua família, mas fica tranquilo que sou sua nova amiga.

- obrigado – falei dando um abraço nela.

Então Peter chegou. Ela se levantou e deu um abraço nele.

- então, vocês se conheceram?

- sim, gostei dela.

- e Peter tudo o que você escondeu dele eu já contei – falou Anna.

- espero que não tudo – falou Peter.

Depois que Peter se trocou ficamos conversando nós três por mais algum tempo. Nós três fomos pra cozinha fazer o jantar e eu disse que queria ajudar, mas Anna não deixou ela disse que eu tinha que relaxar.

Quando o relógio marcou por volta dás 19h55min o telefone do Peter ligou. A família dele estava na porta. Eu me levantei e respirei fundo e senti um frio na barriga e sentei outra vez.

Peter foi até lá em baixo recebê-los.

- não fica nervoso. – falou Anna me acompanhando até a sala. – eles são legais.

Então depois de algum tempo subiu com a mãe o pai e o seu irmão. Ele nos apresentou. Eu estava ficando nervoso atoa. Eles se sentaram no sofá e logo veio os irmãos dele. Ele me apresentou todos. A irmã dele não estava com os filhos porque eles iriam passar o fim de semana com o pai.

Nós todos sentamos na sala e conversamos. Peter e Anna foram pra cozinha e me deixou sozinho com todos. Queria matar os dois por isso.

- então – falou a mãe do Peter segurando Max no colo – seus pais vão demorar a chegar eu quero conhece-los afinal seremos todos famílias.

Mais uma vez eu me senti sozinho e fiquei nervoso sem saber o que responder. Antes que eu respondesse Peter chegou com cerveja na mão e ofereceu para todos menos para a mãe e Alex que não bebiam.

- o Ricardo não vê a família dele faz um tempo, ele não se dá bem com eles.

Todos ficaram calados.

- azar o deles – falou o pai do Peter. – nem todo mundo aceita, mas pode ter certeza que eles vão se arrepender.

- é o que eu sempre digo – falou Peter me entregando um copo grande de refrigerante. - Eu dei um sorriso concordando e tomei um gole do meu refrigerante. Quando eu engoli olhei pro Peter. Ele tinha colocado alguma bebida alcoólica junto.

Ele apenas deu dois tapas no meu ombro e sorriu e eu entendi que ele tinha colocado de propósito pra relaxar. Eu tinha que tomar bem devagar, pois não era acostumado a beber e ficaria tonto logo.

Depois de mais um pouco de conversa eu fiquei sozinho com os irmãos dele, mas graças ao Buda, Anna veio até a sala e sentou com a gente.

- hoje é uma noite especial – falou Alex – meu irmão está muito feliz.

- verdade – Falou Dianna – ao contrário de todos eu sempre soube que ele era gay desde que tinha 14 anos eu sabia. Ele me contou. Ele sempre sofreu na escola. Sabe... o famoso bullying.

- e seus pais? – perguntou Ryder. – eles não aceitam você?

- mais ou menos – falei tomando um gole bem grande – eles não me aceitam e ficou pior ainda porque meu pai não aceita meu namoro Peter.

- puxa... que barra – falou Alex tomando um gole da cerveja.

- é, mas eu não vou desistir dele por causa da minha estúpida família.

- isso mesmo – falou Anna. – não deixa eles definirem quem você é.

- você já está melhor do acidente? – perguntou Dianna.

- bem melhor com a fisioterapia quase todo dia eu já consegui de volta os movimentos da minha perna quase que 100%.

Depois de mais ou menos 20 minutos o jantar ficou pronto. Nós todos sentamos á mesa para jantar. Pela primeira vez eu me sentia em família. A mesa estava cheia. Depois da refeição todo mundo ajudou a deixar a cozinha limpa. Eu admito que enquanto arrumávamos a cozinha eu bebi rápido demais e tinha ficado um pouco alto. Eu tinha bebido ao ponto de não estar mais com vergonha.

Depois que terminamos de organizar Peter colocou uma música do DVD e ficamos todos conversando e bebendo mais um pouco. Eu tinha pegando refrigerante puro dessa vez.

Nós ficamos conversando até bem tarde. Quando todos resolveram ir dormir era por volta dás 02:00 da manhã. Tinha três quartos no apartamento o do Peter, o do Max que também tinha uma cama de solteiro e um outro com uma cama de casal. Anna foi dormir no quarto do Max. A mãe e o pai de Peter foram dormir na cama de casal é claro e os irmãos todos dormiram na sala. O sofá se transformava em cama e em colchões dormiram os irmãos do Peter.

Me despedi de todos e perguntei pro Peter.

- seus pais não se importam da gente dormir junto?

- é claro que não. A gente vai casar.

- não é por isso... eles não se importam que tenhamos consumado o casamento... Antes do casamento?

- não. Deus me deu pais bem modernos e eles gostaram de você.

- estou aliviado de ouvir isso.

Nós então fomos nos deitar. Eu dormi muito rápido afinal estava um pouco bêbado. No outro dia acordei com o sol nos meus olhos. A porta do quarto estava fechada. Eu ouvia que todos estavam conversando. Quando olhei para o relógio me assustei. Era 11h45min da manhã. Eu me levantei correndo. O que eles iriam pensar de mim.

Eu tomei um banho rápido e assim que abri a porta do quarto eu ví que Tony estava na sala sentado conversando com todos.

- bom dia dorminhoco – falou ele.

- olha quem veio te ver! – falou Ryder – você não falou que alguém na sua família te aceitava.

Peter então apareceu e me deu um beijo de bom dia me empurrando dentro do quarto.

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