CAPÍTULO 84: Verdadeira Identidade
Parte da série Paixão Secreta
Eu estava a caminho do hospital quando começou a chover. No caminho eu olhava para fora se lembrando da minha mãe. Dois dias antes de a minha mãe sofrer o acidente nós tínhamos saído juntos e acabamos voltando na chuva. Eu estava nervoso por ter me molhado e ela simplesmente me mandou olhar para o alto e fechar olhos sentindo a chuva na pele. A sensação de estar vivo. Era como se ela soubesse que sofreria o acidente. Essa era a minha lembrança mais recente da minha mãe sorrindo e se divertindo e o mais importante, nós estávamos juntos.
Eu tinha achado Scott muito estranho aquela manhã. Porque será que ele estava tão assustado por causa do Roman? Eu sei que ele tem o sangue frio e o pavio curto, mas não é para tanto afinal os dois são amigos.
O taxi me deixou em frente ao hospital onde Steve estava. Eu paguei a corrida e sai do taxi correndo na chuva e entrei no hospital. Felizmente não me molhei muito. Eu fui até a recepção do hospital
- boa tarde – falou uma moça muito simpática.
- eu vim ver Steve Joseph King.
- sim, ele está no quarto 47 no terceiro andar. Vou te dar uma credencial de visitante.
- obrigado – falei pegando um crachá e colocando na camisa do lado esquerdo.
Eu então fui até o elevador e entrei e apertei o 3º andar e a porta começou a fechar, mas uma voz pediu para que esperasse. Era um enfermeiro.
- obrigado – falou ele.
- por nada – respondi.
O elevador começou a subir.
- veio visitar alguém? – perguntou ele.
- provavelmente – falei apontando para o cartão rindo – desculpa se fui rude, mas não podia perder a piada.
-desculpa – falou ele – eu sou novo aqui.
- eu entendo.
- você vem visitar quem?
- Steve do quarto 47 – falei.
Ele olhou em um papel que ele segurava.
- Steve Joseph King?
- sim – falei.
- eu vou agora cuidar dele – falou o enfermeiro.
- então eu cheguei na hora certa.
A porta do elevador se abriu eu nós fomos em direção ao quarto 47. O enfermeiro abriu a porta.
- desculpa como é seu nome? – perguntei.
- Patrick – falou ele estendendo a mão e você é?
- Mickey, mas pode me chamar de Mike.
Nós então entramos no quarto e eu vi Steve deitado de olhos fechados e me aproximei dele.
- oi Steve – falei dando um beijo na testa dele – desculpa a demora, não pude vir antes, mas te prometo que toda quinta-feira estarei aqui – falei alisando o rosto dele – sua barba cresceu muito temos que aparar e deixar ela bem feita. – falei rindo.
- é seu irmão? – perguntou o enfermeiro.
- não. Apenas um amigo.
- sério? Onde estavam os amigos como você na minha infância – perguntou o enfermeiro rindo.
- eu posso fazer a barba dele? – perguntei.
- olha eu ainda meio que só observo, como eu disse ainda sou novo aqui, mas vou perguntar para alguém.
Ele então saiu da sala por alguns minutos e voltou com uma enfermeira asiática.
- boa tarde – falou ela entrando.
- ele gostaria de saber se pode fazer a barba dele? – perguntou Patrick
- pode sim – falou a enfermeira Anna Yokoyama – a única regra é usar o que o hospital te fornece não pode trazer nada de fora pelo bem do paciente.
- ok – falei.
Logo que ela trouxe o que eu precisava eu tirei o cobertor de cima de Steve. Eu peguei uma tesoura e comecei a aparar os pelos da barba dele. enquanto eu fazia o enfermeiro Patrick ficou comigo dentro do quarto conversando.
- provavelmente deve estar no prontuário do paciente, mas eu gostaria de te perguntar, como ele entrou em coma?
Eu olhei para ele e fiquei disperso. Ainda doía um pouco pensar nisso, mas eu voltei a aparar a barba dele com a tesoura.
- ele tomou alguns comprimidos – falei.
- sinto muito – falou ele.
- também sinto muito.
- sabe existe uma chance dele acordar.
- eu tenho muita esperança de que um dia ele acorde.
- e se ele levar tipo, 10 anos para acordar? Você ainda vai vir aqui todos os dias?
- sim – falei – o meu maior medo é ser abandonado. Se eu estivesse nessa situação eu gostaria que alguém me visitasse. É bom ser lembrado e querido.
- sabe, olhando para você assim fazendo a barba dele eu diria que vocês são mais do que amigos.
- parece é? – perguntei rindo.
- sim. Sem querer te ofender é claro.
- não me ofende – falei.
Eu terminei de aparar a barba e peguei o gilete para fazer a barba dele abaixo do pescoço e no rosto, deixar do jeito que ele usava.
- sabe se meu namorado ouvisse você dizer isso ele ficaria com a pulga atrás da orelha.
- ele é ciumento?
- muito – falei – mas com o Steve ele não é assim. Ele sabe que eu gosto do Steve e ele também sabe que Steve gosta muito de mim.
- ele gosta de você como amigo? – perguntou o enfermeiro.
- digamos que não – falei rindo.
- sério? – perguntou ele.
- sim. Ele é apaixonado por mim sabe. Infelizmente eu não sinto o mesmo por ele.
Eu terminei de fazer a barba dele e passei um produto para não irritar a pele dele.
- foi por isso que ele… tomou…
- sim, mas não foi só por minha causa. Ele ainda não tinha se aceitado completamente. As pessoas o faziam se sentir um monstro.
- eu entendo.
Eu usei um pequeno aspirador de pó para pegar os cabelos que eu não consegui catar.
- eu posso não amá-lo, mas vou estar aqui quando ele acordar, pode ter certeza.
- e o Roman não tem ciúme? Mesmo sabendo que ele te ama?
- não – respondi.
Nós ficamos em silêncio pro um tempo. Alguma coisa estava errada. Algo não soou bem aos meus ouvidos.
- como você sabe que o meu namorado se chama Roman? – perguntei.
- o que você sentiu quando descobriu que o governador Griffiths é seu pai? – falou o enfermeiro.
Eu me assustei na hora. Ele é um repórter.
- sai daqui – gritei.
- Mike, por favor me deixe ter uma entrevista exclusiva – falou ele abrindo a porta do quarto eu fui em direção a ele para que ele saísse do quarto e ele saiu.
- segurança! – gritei assim que sai no corredor.
Patrick tirou o jaleco que usava jogou no chão e saiu correndo para a saída de incêndio. Algumas pessoas saíram dos quartos e eu fui em direção ao elevador e desci até o térreo e fui até a recepcionista.
- moça, um homem invadiu o quarto que eu estava.
- um homem? – falou ele pegando o telefone – como ele é?
- pele parda, olhos verdes, cabelos penteado de lado. Ele saiu correndo para a saída de incêndio.
- invasor, homem caucasiano, fugiu pela saída de incêndio. – falou a enfermeira desligando o telefone e saindo da recepção deixando as outras duas.
- ele estava dentro do quarto comigo, ele entrou dentro do elevador e disse que era enfermeiro e eu pensei que fosse. Ele ficou me fazendo perguntas… espera… tem uma enfermeira asiática que conversou com ele.
- sabe o nome dela?
- sim… é… Anna.
- Anna Yokoyama? – perguntou ela.
- sim. – falei.
Ela pegou o telefone e chamou pela enfermeira na recepção. Nós esperamos por 10 minutos e ela não apareceu.
- sinto muito mesmo – falou ela – eu vou chamar o Dr. Chapman. Ele é o médico-chefe.
- não precisa – falei – só tomem cuidado para que não aconteça outra vez ou eu vou ter que trocar ele de hospital.
- sinto muito – falou ela – qual o seu nome?
- Mickey Foz Fabray.
- me passa o seu telefone – falou ela – qualquer coisa eu te ligo, nós vamos deixar seguranças na porta dele 24 horas.
- obrigado – falei anotando o telefone em um papel para ela.
Eu então peguei meu celular e fui para a saída do hospital. Já tinha parado de chover. Eu disquei o número do Roman e ele atendeu depois do terceiro toque.
- oi amor – falou ele.
- um repórter – falei.
- o que? – perguntou ele.
- tinha um repórter no hospital e ele sabe meu nome e sobre Stephen.
- onde você está? – perguntou Roman.
- do lado de fora do hospital.
- foi apenas um?
- sim. Ele me pediu uma entrevista exclusiva.
- isso é bom – falou Roman – significa que a história ainda não vazou para todos.
- o que eu faço Roman?
- procura um taxi e vem direto pra cá.
- ok.
- eu vou te esperar aqui em baixo. – falou Roman.
- até daqui a pouco – falei desligando o celular. Eu desci as escadas do hospital que ficava em frente a uma enorme praça. Eu sai andando e olhando para os lados procurando por um taxi. Eu encontrei um do outro lado da rua. Eu sai correndo e quando fui atravessar a rua uma vã branca parou na minha frente e a porta se abriu.
- Mickey! – falou uma mulher com um microfone e um homem com uma câmera no ombro. Era uma repórter.
Eu dei alguns passos para trás.
- Mickey como foi saber que seu pai é Stephen Campbell Griffiths, governador de New Hampshire e possível próximo presidente desse país?
Eu não disse nada e me virei para começar a andar e um homem veio em minha direção e assim que se aproximou de mim falou comigo:
- Mickey uma declaração para os leitores do New York Times? – falou um homem com um gravador apontado para minha boca.
- New York Times? – falei surpreso.
Eu senti meu coração acelerar. Eu fiquei parado sem saber o que fazer. Eu pensei rápido e disse o que via nos filmes
- não tenho nada a declarar – falei andando para a esquerda e ao longo da praça vi vários carros, várias vãs parando e pessoas saindo de dentro.
- meu deus – falei vendo aquela multidão se preparando para um tipo de guerra. Elas andavam na minha direção, todas gritando meu nome e várias perguntas que eu não conseguia ouvir.
Eu olhei em volta e eu estava cercado por todos os lados. Eu peguei o celular e disquei para Roman e ele atendeu.
- Mike? – falou Roman atendendo.
- a história vazou – eu estava suando muito. Eu comecei a dar passos rápidos de volta ao hospital. Era o púnico lugar estaria seguro.
- onde você está?
- eu vou voltar para o hospital tem dezenas de repórteres me seguindo. – falei olhando para trás e eles se aproximavam.
- eu vou te buscar – falou Roman desligando o celular.
Um homem então entrou na minha frente com um gravador na mão.
- é verdade que você é gay? – perguntou o homem, mas eu passei esbarrando nele.
Eu comecei a correr em direção ao hospital. O hospital se aproximava lentamente. Nunca quis tanto na minha vida entrar em um hospital como agora. Depois de correr bastante eu estava na escadaria do prédio. Eu subi correndo e entrei dentro do hospital.
Todas as pessoas olharam para mim.
Eu olhei para trás e os repórteres estavam todos loucos gritando na porta do hospital e os seguranças estavam impedindo que eles entrassem.
Eu então olhei para os televisores que estavam ligados e vi minha foto. Estavam fazendo reportagens sobre mim na TV. Eu olhei em volta e as pessoas cochichavam olhando para mim.
Eu me senti um boneco, um animal em um zoológico um brinquedo caro e engraçado na loja de brinquedos. Eu senti meu coração acelerar e comecei a suar frio. Eu olhei outra vez para a porta e minhas pernas tremeram.
- estou ferrado – falei baixo sem saber o que fazer parado no meio do saguão do hospital.