CAPÍTULO 77: Μορφεύς
Parte da série Paixão Secreta
- ele ainda não saiu do quarto – falou Vanessa descendo as escadas. Ela em seguida se sentou ao lado do meu pai.
Roman, Adam e Gray se entreolharam preocupados comigo.
- eu vou até lá – falou Roman.
- não – falou meu pai. – eu já liguei para o psicólogo dele, ele deve chegar em breve – falou meu pai se levantando preocupado – O pai biológico vem hoje. Ele não pode ficar mais preso naquele quarto, sem comer, sem beber, sem tomar banho apenas deitado no escuro já se passou uma semana.
Eu estava deitado na minha cama no escuro fazia quatro dias. Eu nem sabia quando era dia ou noite, mas eu sabia porque sempre alguém conversava comigo e me dizia as horas e o dia.
Eu não tinha o menos ânimo de me levantar de lá. Eu estava deitado de bruços olhando para a parede. A cena ficava passando na minha mente várias e várias vezes.
QUATRO DIAS ANTES
Eu fui para o trabalho na terça-feira pensando em Denny, mas ainda não tinha decidido o que faria, afinal por mais que eu tentasse perdoar Charley eu não conseguia. Talvez se ele tivesse me estuprado seria mais fácil de perdoar, mas ele mexeu com meu pai, ele fez algo de, muito ruim com a pessoa que mais amo nesse mundo e talvez por isso seja tão difícil de perdoá-lo.
Cheguei no trabalho de fui para o 5º andar. Eu fui para o vestiário e abri meu armário e tirei a roupa que eu deixava lá e me vesti.
Enquanto me vestia eu ouvi a porta da do vestiário se abrindo. Eu olhei entre os armários, mas não vi ninguém eu ainda estava só de cueca e quando olhei para o lado esquerdo e vi Gray.
- Mike, me desculpa – falou ele se assustando a me ver e ele se virou de costas.
- não tem problema Gray.
- eu queria conversar com você – falou Gray forçando um sorriso.
- eu vou terminar de me vestir e conversamos ok? – falei.
- sim – confirmou Gray parado esperando em me vestir. Eu percebi que ele estava um pouco apreensivo.
- tudo bem Gray? Se estiver com pressa pode me falar agora – falei.
- não é nada – falou ele forçando um sorriso e sem querer deixou uma lágrima escorrer no rosto dele.
- o que aconteceu? – perguntei preocupado.
- não é nada, pode se vestir.
Eu então deixei a roupa social de lado e vesti a roupa que eu tinha ido para o trabalho.
- o que aconteceu? – perguntei para Gray.
- vamos lá pra fora – falou Gray.
Eu então deixei minha mochila para trás e sai do vestiário. Adam estava parado do lado de fora.
- bom dia – falou Adam com os olhos vermelhos.
- bom dia – falei apreensivo – o que aconteceu. Me diz o que aconteceu – falei começando a ficar nervoso.
- vamos pra minha sala – falou Adam com os olhos vermelhos.
Nós então entramos no elevador.
Eu sempre tive esse medo de vir trabalhar e recebesse uma noticia ruim no trabalho. Todas as pessoas que eu conheço passavam pela minha cabeça.
Logo o elevador se abriu e vi Xavier abraçado com Vanessa. Vanessa chorava muito. Bastou um olhar de Vanessa para que eu adivinhasse.
- Steve? – falei deixando Adam e indo até Vanessa. – o que aconteceu Vanessa? O que aconteceu com o Steve?
- sinto muito – falou ela chorando.
Eu senti as lágrimas nos meus olhos.
- o que aconteceu? Alguém me responde – falei.
Adam então veio até mim e me fez sentar nas poltronas na recepção.
- Mike, encontraram o Steve no apartamento dele… – falou Adam suspirando.
- o que? – perguntei surpreso. - O Steve? Eu falei com ele ontem Adam.
- ele deixou uma carta para você – falou Adam pegando um envelope no bolso do terno e me entregando. O envelope era branco e tinha meu nome nele.
- mentira – falei começando a chorar.
Alguém bateu na porta. Eu não movi um músculo.
- vá embora – falei.
- Mike sou eu, Jay.
Eu sabia que eles chamariam o psicólogo.
- posso entrar? – falou ele.
- pode – falei ainda deitado na cama me virando para o lado direito olhando para o envelope branco em cima da cama.
Jay abriu a porta e assim que entrou meu pai acendeu a luz.
- deixe a luz apagada – falou Jay e meu pai apagou – talvez ele se sinta mais confortável – falou Jay para o meu pai.
- ok – falou meu pai.
- nos deixa sós, mas deixe a porta aberta para ter alguma iluminação.
Meu pai se foi e Jay veio para perto da cama.
- está se sentindo bem Mike?
- não
- porque? Me conta o que aconteceu, seu pai me disse que você está dentro do quarto desde terça-feira, não toma banho, não come, mal bebe água.
- a culpa foi minha – falei ainda deitado.
- porque? Pelo o que aconteceu com o seu amigo Steve?
- ele não era meu amigo, não era nada meu. Esse foi o problema.
- não foi culpa sua – falou Jay.
- claro que foi.
Jay não disse nada e respirou fundo – posso me sentar na cama? – perguntou Jay.
- pode.
Ele então se sentou na cama e escoroou na cabeceira e viu o envelope branco em cima da cama ao meu lado, mas não moveu ele de lugar.
- o que você está fazendo aqui? – perguntou Jay.
- não sei – respondi suspirando. Eu já não tinha mais lágrimas nos olhos.
- o que você fez aqui todo esse tempo? Não me diga que foi nada porque você tinha uma ótima companhia, você mesmo.
Eu não respondi nada pro alguns segundos.
- sei lá… eu estava só imaginando minha vida se eu tivesse dado uma chance para ele. Talvez ele não tivesse se matado.
- uma chance? – perguntou Jay.
- sim. Ele era apaixonado por mim, mas eu não correspondia do mesmo jeito.
- Mike você não podia se forçar a amá-lo.
- mas eu poderia ter forçado.
- mas você não tem namorado? Aquele na sala… Roman não é mesmo?
- sim – falei começando a chorar, eu estava errado. Eu tinha lágrimas.
- então, você não precisa se sentir culpado por não ter amado Steve.
- e se eu sei lá… tivesse sido um pouco safado? – eu andei pensando muito nisso.
- o que você pensou? – perguntou Jay – pode me dizer, não precisa ficar com vergonha.
- posso? – perguntei.
- claro, leve o tempo que precisar.
- bom, na terça-feira Steve entrava no vestiário e eu me declarava para ele. Steve ficaria tão feliz por isso. Eu então conversava com Roman então Steve, Roman e Eu seriamos uma espécie e trio amoroso.
- bem moderno – falou Jay com um sorriso.
- isso – falei – nós então teríamos um encontro, eu compraria uma aliança para os dois e daria de presente depois de um bom e pervertido sexo. – falei sentindo uma pequena chama de felicidade, mas logo se apagou, pois a vida real não me fazia feliz nesse momento.
- foi o que você imaginou? – perguntou Jay.
- sim, nós seriamos as pessoas mais felizes do mundo.
- porque você não sugeriu isso antes para o Roman – falou Jay.
- está doido? Ele nunca aceitaria – respondi.
- então você sabe que a vida real não seria tão perfeita – falou Jay.
- sim, mas eu poderia ter pelo menos tentado. Ele é uma boa pessoa ele merecia ser valorizado.
- porque você acha que foi o culpado?
- nós nos encontramos na segunda. Eu disse pra ele que o amava a muito tempo atrás, mas que não amava mais ele então foi embora para o apartamento dele, pegou uma garrafa de uísque, tomou mais de 50 comprimidos e engoliu com bebida. – falei começando a chorar outra vez.
Jay não disse nada e olhou para a carta.
- ele escreveu isso? – perguntou ele.
- sim.
- você já leu?
- não – respondi.
- porque não?
- não tive vontade – falei me virando para o outro lado.
- você não quis ir vê-lo?
- eu não gosto de despedidas. Eu acho que é mórbido demais e nos deixam uma impressão muito ruim da pessoa. Eu gosto de me lembrar da pessoa sorrindo.
- então porque mesmo não tendo ido nem ao velório e nem ao funeral você está tão triste?
- sabe a última coisa que eu disse pra ele?
- não – respondeu Jay.
- “eu não te amo” – falei sentindo ás lágrimas caírem no colchão. – e sabe o que ele me respondeu? “eu te amo”.
- isso não foi bom? Ele disse que te amava.
- mas eu disse que não amava.
- sabe, essa não foi a última conversa que vocês tiveram – falou Jay.
- claro que foi. – respondi.
- a última conversa entre vocês dois está nesse envelope – falou Jay tocando o envelope com o dedo.
- eu fico imaginando o que passava pela cabeça dele enquanto tomava aqueles remédios, se ele tivesse me ligado… para qualquer um… se estivéssemos lá por ele, mas nunca estamos.
Eu então olhei para o envelope e ficamos em silêncio durante 15 minutos. Eu apenas encarando o envelope sem coragem para encostar nele.
- você quer lê-lo? – perguntou Jay.
- quero.
- vou estar aqui fora – falou Jay se levantando e fechando a porta do quarto antes de sair. Eu peguei o envelope, acendi a luz do abajur e abri com cuidado. Retirei um papel branco dobrado de dentro.
“Mike, o mundo ficou louco. As pessoas querem que eu acredite que não sou perfeito, que sou uma aberração, que o que eu sinto é nojento, mas como posso ser tudo isso se foi deus quem me criou? Começo a achar que deus não existe e o que ouço são apenas reflexos do ódio que está dentro das pessoas. Não se sinta culpado pelo o que eu fiz, eu não fiz por você, mas por mim. Às vezes é difícil dormir a noite pensando no dia terrível que tivemos. Às vezes fica difícil se levantar da cama de manhã pensando no que pode acontecer, mas uma coisa me fez se levantar todos os dias. Você. Pensar em te ver é o meu ânimo. Você é minha motivação. Quando te contei como me sinto ficou mais difícil viver sem te ter. Não pense que estou morto, pense que eu apenas me deitei para dormir um sono longo e profundo e tenha em mente que você será meu sonho para sempre.”
As lágrimas caíram no papel e eu fechei os olhos.
- Steve… – falei dobrando o papel de guardando dentro do envelope – seu babaca.
Eu me levantei e abri a porta do quarto.
- estou pronto – falei com os olhos cheios de água para Jay.
Nós descemos as escadas e todos ficaram de pé quando em viram.
- ele está pronto – falou Jay.
Nós saímos do carro e entramos naquele enorme lugar, andamos pelos corredores, subimos escadas. Roman abriu a porta pra mim.
- não precisa ter pressa – falou Roman.
Eu entrei e ele fechou a porta. Eu me aproximei e vi ele deitado na cama. A enfermeira estava anotando algo.
- ele respira sozinho? – perguntei.
- sim – falou ela com um sorriso de lado – sabe, não pense muito nisso. É como se ele estivesse dormindo…
- …um sono longo e profundo – falei terminando a frase dela.
Ela balançou a cabeça sorrindo afirmativamente e saiu do quarto. Eu cheguei perto dele e coloquei a mão no peito dele e senti o coração dele batendo.
- é bom você acordar um dia – falei alisando o rosto dele. Eu me abaixei e dei um selinho na boca dele. Algumas lágrimas caíram no rosto dele e eu limpei com o dedão. – eu não vou deixar você partir sem dar um beijo na pessoa que ama – falei com um sorriso pra ele. Sonhe o quanto quiser Steve, mas um dia você vai ter que acordar e eu vou estar aqui, eu posso não te amar, mas serei seu melhor amigo.