CAPÍTULO 37: 66 dias
Parte da série Paixão Secreta
Sessenta e seis dias. Havia se passado sessenta e seis dias desde a tragédia no “Partners Advocacy”. As festas de fim de ano também haviam se passado, eu e meu pai havíamos passado sozinhos.
Na empresa tudo estava do mesmo jeito, a tensão ficou presenta apenas nos primeiros dias, mas depois de umas semanas eu já não sentia nada de estranho quando Kenn estava no mesmo local que eu, ou com Fritz. Vanessa tinha me dito que Fritz e Kenn estavam juntos. Quando me pegava sozinho Fritz ainda conversava comigo como se nada tivesse acontecido e às vezes jogava verde sobre um relacionamento o que deixava Kenn morto de raiva e ciúmes e apesar de eu dizer para parar com aquilo ele não parava.
Eu tinha acertado, Fritz tinha se apaixonado por mim e eu já não sentia nada por ele. Fritz pensou que iria apenas me usar e descartar, mas a vida o castigou e agora ele morria de amores por mim. Apesar disso ele tinha um “relacionamento” com Kenn o qual Fritz não levava a sério, mas Kenn não desistia e fazia de tudo para que Fritz se apaixonasse por ele e me esquecesse.
Eu por outro lado nem ligava, os dois podiam viver felizes para sempre. A minha relação com Fritz e Kenn era estritamente profissional e não passava daquilo. Um memorial tinha sido colocado na frente da empresa com os nomes das pessoas que morreram naquele dia trágico e todos os dias eu trazia flores e colocava em frente ao memorial em sinal de respeito.
Eu não tinha conhecido ninguém em todo esse tempo, eu saia com Denny às vezes para festas ou bares, mas não rolava nada, por um lado por mim. Eu não queria relacionamento e quando saia com Denny era apenas para satisfazer meus desejos carnais.
Eu acordei naquela segunda-feira e olhei para os pés da minha cama, Pluto tinha dormido comigo.
- acorda rapaz – falei balançando os pés – não era pra você estar vigiando a casa?
Ele se levantou e veio até mim todo agitado balançando seu rabo tentando lamber meu rosto.
- para Pluto! – falei tentando segurá-lo.
- bom dia! – falou meu pai abrindo a porta cantarolando.
- bom dia – falei segurando o rosto do Pluto com as mãos.
Meu pai veio até mim e se deitou ao meu lado.
- vai com o meu pai seu cachorro atentado – falei jogando Pluto em cima do meu pai.
- o que deu nesse cachorro – falou meu pai. – hoje ele está muito animado.
- não tenho nem ideia – falei me levantando.
- desce cachorro – falou meu pai jogando ele no chão. Pluto bateu as patas e saiu correndo pela porta do meu quarto.
Eu me estiquei todo me despreguiçando e bocejando.
- pronto pra mais um dia? – perguntou meu pai.
- sim senhor - falei alongando os braços.
- e como está lá no trabalho? – perguntou meu pai.
- eu sei muito bem o que o senhor quer, uma desculpa para ir lá e bater no Fritz.
- claro que não, só quero saber se ele está te tratando direito.
- está sim pai, está tudo certo.
- que droga, pensei que era hoje que iria dar um soco bem na cara dele e na cara do tal de Kenn.
- pai, ele pode ter me traído... várias e várias vezes... com um amigo do trabalho... – falei rindo – mas foi ele que salvou minha vida certo tempo atrás. Mas o Kenn você pode bater a vontade.
- sim, e é por isso que vou dar só um soco e não uma dúzia. – falou meu pai se levantando – em fato se um dia eu precisar bater em Steve eu também só vou dar um soco afinal ele também te salvou.
- sem graça. – falei tirando a camisa e pegando minha toalha – não é engraçado pai? Em menos de um ano sofri tanta coisa, você e a mamãe devem ter me batizado com água de esgoto.
- você não é batizado, você é Judeu.
- eu sei pai, é só uma piada.
Meu pai ficou olhando sem entender.
- talvez você entendesse se fosse católico.
- por falar nisso filho eu estava pensando em voltar a frequentar a sinagoga semanalmente e gostaria que você fosse comigo. Eu precisa ser todo dia, mas talvez uma vez por semana.
- tudo bem – falei – talvez seja por isso que ando muito fraco de espírito e coisas ruins vem acontecendo.
- ótimo – falou meu pai vindo até mim e dando um tapa bem forte na minha bunda.
Eu dei um grito de dor.
- seu filho da...
- Hooooo, não xinga o papai não – falou ele rindo e saindo do quarto.
Eu então fui tomar meu banho e depois que sai tomei café da manhã com meu pai.
- hoje eu vou te levar para o trabalho – falou meu pai.
- ótimo – falei tomando um gole do suco.
Depois de arrumar a cozinha eu fiquei sentado na sala esperando meu pai ficar pronto e decidi ligar a televisão e assistir ao telejornal. Foi quando começaram a falar sobre uma tragédia em uma escola. Um atirador tinha entrado e matado crianças. Eu não aguentei aquilo e desliguei a TV.
- vamos? – falou meu pai.
- vamos – falei me levantando e pegando minha mochila.
Logo nós colocamos o pé na estrada.
Assim que chegamos meu pai parou o carro e logo atrás ao mesmo tempo Fritz parou o carro e Kenn desceu. Eu desci sem ligar para eles, dei a volta e dei um beijo no meu pai se despedindo dele.
- até a noite – falou meu pai.
- até.
Meu pai saiu com o carro e eu entrei no prédio ao mesmo tempo que Kenn, mas eu ignorei ele.
- bom dia – falei para o novo porteiro.
Eu apertei o botão do elevador e fiquei esperando. Kenn parou ao meu lado e eu apenas dei um passo para o lado e esperei o elevador que estava no subsolo.
Logo ele chegou e a porta se abriu. Fritz estava dentro e ficou me olhando quando entrei.
- bom dia Mike – falou ele pra mim.
- bom dia – respondi.
Kenn entrou e ficou ao lado de Fritz. Eu fiquei um pouco mais a frente. O elevador estava devagar e silencioso e apenas o som ambiente do instrumental de Garota de Ipanema quebrava o gelo.
- como foi seu final de semana? – perguntou Fritz.
Pelo canto do olho eu vi que Kenn deu uma olhada indiscreta para Fritz.
- foi ótimo – respondi.
O elevador chegou ao 20º andar
- não vai perguntar como foi o meu? – falou Fritz.
- não me interessa – falei olhando para os dois com um sorriso e saindo do elevador.
- bom dia – falou Adam que já tinha chegado.
- bom dia – falei indo até a recepção.
- bom dia – falou Adam para Fritz e Kenn.
Eu larguei minha mochila e peguei a comida dos peixes, liguei a fonte e voltei para o meu local de trabalho.
Logo eu vi Kenn se aproximando
- Mike, eu quero, por favor, o telefone dos advogados da “JK Kids”.
- só um segundo. – falei pegando minha agenda eletrônica e procurando pelos números.
Fritz e Adam se aproximaram e esperaram eu pegar o número.
- anota – falei.
Kenn pegou o celular e anotou os números que eu falei.
Eu coloquei a agenda em cima do balcão.
- eu já vou indo – falou Fritz para Adam. – tenho um paciente.
- até amanhã – falou Adam.
- até amanhã – falou Kenn dando um beijo na boca de Kenn.
Eu então voltei a organizar uns papéis.
- até amanhã Mike – falou Fritz.
Eu olhei para Kenn com um olhar tipo: “vadia, seu homem nem disfarça” e depois voltei a olhar para os papeis.
- até amanhã. – falei.
Ele se foi e Kenn entrou na sala de Adam.
Eu não sou mesquinho, queria mais é que Kenn e Fritz fossem felizes, mas tenho que confessar que estava sendo ótimo ver Kenn provar do próprio veneno. Fritz ainda gostava de mim, Kenn sabia disso e morria de ciúmes por isso. Deve ser difícil pra ele ver que o namorado nem disfarça perto de mim, mas como eu sempre digo: o mundo dá voltas. Os dois estavam pagando pelo o que fizeram.