CAPÍTULO 35: Feliz Halloween
Parte da série Paixão Secreta
Era Halloween e por onde se olhava havia folhas secas no chão. Aboboras enfeitavam a minha porta assim como de todas as casas enfeitadas da rua, do bairro e do país. Ao sair via-se um jardim enfeitado pronto para receber as crianças em sua tradição de doces ou travessuras.
- pai você comprou os doces né?
- comprei sim – falou meu pai chegando a cozinha de terno e gravata.
- a quanto tempo não te vejo de terno e gravata.
- pois é, hoje vamos receber investidores e eles querem me conhecer.
- que bom, mas lembre-se de chegar em casa para dar doces as crianças, não estou afim de ficar limpando a casa suja de ovos amanhã.
- fica tranquilo.
- eu vou demorar um pouco, mas vou estar aqui por volta dás 20h00min e vou te ajudar a distribuir os doces.
- você vai se fantasiar? – perguntou meu pai.
- vou de morto-vivo porque vou estar cansado.
- o seu chefe temporário não deixa você em paz?
- o Steve é legal quando quer, mas quando não quer ele abusa, ele não me deixa em paz um segundo, eu não consigo fazer os serviços internos porque a cada 10 minutos tenho que sair do meu posto e ir ao 18º andar ver o que ele quer.
- força de vontade. Hoje é quinta-feira. Só mais amanhã e tudo acaba.
Eu abri o armário e peguei uma mão cheia de doces.
- não era para as crianças? – perguntou meu pai.
- vai que no caminho encontro algum espertinho já fantasiado.
- sei, você vai é um coma diabético com tantos doces.
- que nada – falei dando um beijo no rosto dele. – até a noite falei me afastando dele.
- vem aqui me dá um abraço está com pressa por quê?
Eu voltei e dei um abraço nele.
- bom trabalho – falou ele.
- bom trabalho para o senhor também paizão – falei dando outro beijo no rosto dele.
Eu sai pela porta e logo vi a rua e fui andando pelo jardim e vi duas garotinhas correndo.
- feliz Halloween Mike – elas disseram em coro pra mim.
- feliz Halloween lindinhas – elas não estavam fantasiadas, mas eu dei doces para as duas e elas saíram correndo e rindo.
Ventava um pouco, o clima estava agradável. Eu fui andando até o ponto de ônibus bem devagar, eu olhava os enfeites e algumas casas capricharam na decoração.
Logo que desci no ponto da empresa eu andei um pouco e logo na entrada vi que estava decorado com bruxas, teias de aranha falsas.
- bom dia – falou o porteiro – feliz Halloween sr. Fabray.
- feliz Halloween Jack – falei sorrindo para ele e entregando alguns doces – é só para as crianças, mas vou quebrar as regras.
- obrigado – falou ele pegando os doces e em seguida pegou um cartão decorado para o Halloween e me entregou.
- obrigado – falei pegando e entrando no elevador. A porta se fechou. O elevador estava enfeitado e eu fiquei entretido com os enfeites e começou a tocar uma música que eu gosto no meu iPhone. Eu aumentei no último volume e fui curtindo o som até o 20º andar e quando a porta se abriu eu sai e liguei a fonte, coloquei comida para os peixes no aquário, liguei meu computador e logo fui para meu local de trabalho. Aguardava a qualquer momento Steve ligar. Como não tinha ninguém mesmo eu tirei os fones e deixei a música tocando.
Logo o elevador chegou e Steve saiu de dentro dele.
- bom dia – falou ele – que barulheira é essa?
- desculpa – falei apertando o botão de desligar rapidamente e o iPhone caiu do balcão e Steve segurou ele na hora – obrigado Steve.
- por favor, evite colocar músicas ou fazer qualquer outra coisa escandalosa que você goste, especialmente hoje. E se fosse um dos investidores? Com que cara eu ficaria? Tenha responsabilidade
- perdão não vai acontecer outra vez.
- acho bom mesmo. – falou ele arrogante.
- já sabe a hora que eles vão chegar?
- ás 10h00min.
- tudo bem, vou deixar a sala de reunião pronta.
- ok – falou ele indo até o elevador – quase me esqueci. – falou ele abrindo a pasta e me entregando vários papéis.
- Mike preciso que você leia esse contrato inteiro do começo ao fim e se estiver ok com o padrão você assina em todas as folhas como testemunha e depois leve pra mim.
- tudo bem.
- tem que ser antes dás 10h00min.
- tudo bem.
- vou pra minha sala. – falou ele apertando o botão do elevador e logo ele parou e a porta se abriu e assim que ele entrou eu o chamei.
- Steve!
- o que? – falou ele tirando a metade do corpo para fora do elevador.
- Feliz Halloween – falei.
Ele olhou pra mim como se eu tivesse cometido um crime.
- mas que inferno – falou ele entrando no elevador e desaparecendo. Eu fiquei no vácuo esperando um “Feliz Halloween”. Não sei o que tinha dado em Steve, mas ele estava muito nervoso e eu confesso que fiquei até um pouco ressentido por ele ter dito aquilo.
O relógio marcou 08h45min e eu tinha lido pouco mais da metade do contrato, estava muito chato naquele andar sozinho então eu decidi colocar música no meu iPhone. Eu o coloquei para tocar e continuei lendo o contrato.
Ás 09h09min começou a tocar “Rock 'N' Roll” da Avril Lavigne.
- adoro essa música – eu aumentei o volume no máximo e comecei a cantar. Eu então ouvi um barulho e dei pausa na hora e fiquei ouvindo para ver se ouvia outra vez. Esperei alguns segundos, mas nada. Eu então botei outra vez a música para tocar.
Eu continuei ouvindo a canção e cantando alto. Eu quase dançava junto. Eu então ouvi um barulho alto como uma porta batendo.
- droga – falei desligando a música – Steve deve ter vindo pelas escadas apenas pra me pegar ouvindo música alta.
Eu voltei a ler o contrato, eu estava na última folha. Fiquei olhando para a porta da escada de incêndio, mas ele não apareceu eu botei a música outra vez, mas dessa vez começou a tocar “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” dos Beatles. Outra canção que eu adorava. Depois de alguns segundos ouvi outra vez um barulho alto como um estouro, eu fui correndo para olhar na janela e as pessoas se amontoavam em frente ao prédio.
- um acidente – falei comigo mesmo – para os supersticiosos isso é um prato cheio. – falei me afastando da janela e terminando de ler o contrato.
- prontinho, agora é só levar esse contrato para o Steve e estou livre dele no meu pé!
Eu apertei o botão do elevador e assim que ele chegou eu entrei. A porta se fechou.
- droga, esqueci-me de assinar as páginas. Eu apalpei a calça e encontrei uma caneta e comecei a assinar página por página dentro do elevador. Logo ele chegou ao 18º andar e abriu a porta eu continuei assinando e ouvi um silêncio eu parei de assinar e olhei o andar. Estava vazio, nenhum dos estagiários estava lá.
- mas que droga é essa? aonde está todo mundo?
Eu ouvi apenas passos de alguém correndo e que foram chegando mais perto de mim eu olhei para o lado e Steve corria em minha direção e assim como em um jogo de futebol americano ele pulou em mim com toda sua força e me empurrou e me jogou no chão. Eu me machuquei quando cai no chão.
Eu cai de barriga para cima e Steve caiu de barriga para baixo ao meu lado com a perna direita em cima de mim e com a mão direita na minha boca. Eu olhei para ele desesperado e olhei para o lado e duas estagiárias estavam agachadas a dois metros de distancia de onde eu estava caído. Elas estavam chorando bem baixo. Eu olhei por toda a sala e havia outros estagiários em baixo de algumas mesas, mas eram poucos.
- Shhhh – fez Steve pra mim ainda apertando minha boca com sua mão. Logo eu ouvi passos pesados. E olhei por baixo das mesas e vi dois pés vindo da sala de Steve. A pessoa estava calçada com botas de borracha na cor preta.
As pernas usavam duas calças compridas também na cor preta e ela deu alguns passos bem devagar para frente, mas de repente parou e se virou e foi andando para dentro das salas.
- shhh – fez Steve para as estagiárias perto de nós. E depois olhou pra mim. – cala a boca – falou ele sussurrando e bem devagar tirando a mão da minha boca.
- o que está acontecendo? – perguntei.
- um atirador – falou Steve.
- o que?
- cala a boca inferno – falou Steve. – fiquem ai – falou Steve para as garotas.
Ele então foi até elas.
- fiquem calmas, ele não vai machucar vocês.
Elas olharam para mim chorando. Eu ainda deitado sem entender.
- quem é o atirador? – perguntei.
- Hunt – falou Steve abraçando as duas garotas – fiquem calmas.
Um turbilhão de coisas vieram na minha cabeça.
- ele veio nos matar – falei.
- shhh – falou Steve.
- eu vou me entregar – falei me sentando bem devagar – eu vou me levantar e ir até ele. Vocês podem correr enquanto ele...
- não – falou Steve – fica quieto.
Meus olhos estavam pegando fogo. Eu não queria dar uma de herói, mas era o que eu queria fazer. Era um sentimento dentro de mim.
- Mike, quando eu disser você se levanta bem devagar e nós dois vamos juntos até o outro lado da sala – falou ele apontando para a outra ponta. – e entramos na escada de incêndio.
- tem certeza? – perguntei tremendo. Eu tremia como se estivesse com frio.
Eu olhei em volta e consegui contar 12 funcionários embaixo das mesas e escondidos no canto espalhados pela sala.
- no três Mike – falou Steve.
- tudo be-bem, tudo bem – falei me preparando para se levantar.
- um...
Eu olhei para os lados e respirei fundo.
- dois...
Eu olhei para Steve e depois pro chão e comecei a chorar. Minhas pernas tremiam.
- três – falou Steve e nós dois nos levantamos e demos passos silencioso para que Hunt não nos ouvisse.
- eles estão aqui Hunt – gritou um dos estagiários – por favor, pegue eles e nos deixe em paz.
- que droga – falou Steve agarrando meu braço e me puxando para correr, nós corremos e Hunt apareceu e levantou uma das mãos que estava com uma arma e deu um tiro, mas ele errou por pouco, as garotas gritaram quando ouviram o tiro. Antes que ele desse outro eu e Steve conseguimos abrir a porta e finalmente chegar à escada de incêndio e começamos a descer.
Hunt com raiva olhou para o lado e viu o estagiário que tinha gritado e mirou na cabeça e deu um tiro. Ele então correu para a escada de incêndio.
As luzes eram automáticas e se acendiam e apagavam quando alguém estava no ambiente. Teríamos que descer 18 andares o que dava 72 lances de escada. Steve e eu descíamos a escada de incêndio com toda a velocidade, certa hora Steve pulou vários degraus e caiu de mal jeito no chão. Eu voltei e o ajudei a se levantar.
- Mike, Mike, Mike – falou Hunt chutando a porta e começando a descer os lances de escada.
- vamos Steve – falei.
- Mike, Mike, Mike, Steve, Steve, Steve, Mike e Steve, dois cordeirinhos prontos para o abate – falou Hunt dando uma risada. Nós ouvíamos os passos dele aumentando e ficando mais alto.
- eu não aguento mais – falei parando – parece que tem algo cortando meu peito. – falei parando e me sentando no chão de uma vez. Tinha dado câimbra na minha perna.
- vamos Mike – falou Steve me puxando.
Eu me levantei e voltamos a descer.
- vem aqui – falou Steve abrindo a porta que dava no 11ª andar. Era o arquivo. Nós entramos e nos escondemos em meio ás dezenas de prateleiras.
Eu fiquei á 6 prateleiras distância dele.
Esperamos um pouco e logo ouvimos Hunt chegar.
- vocês esqueceram a porta do andar aberta – falou ele.
Steve colocou o dedo na boca para que eu não falasse nada. Eu coloquei as duas mãos na boca e apertei. Eu tremia e as lagrimas começaram a escorrer na minha mão. Steve então se levantou e desapareceu entre as prateleiras.
De repente a sala ficou silenciosa. Por alguns instantes eu não consegui ouvir o som de nada. Eu ouvi os passos de Hunt na prateleira ao lado, mais alguns passos e ele me teria.
- Hey – gritou Steve. – olha aqui seu babaca.
Hunt então se virou e voltou correndo atrás de Steve.
Eu me levantei e fui andando ao lado da outra prateleira cheia de pastas de arquivos e eu corri rápido e ouvi passos, mas era tarde para voltar e logo bati de frente com Steve.
- vem – falou Steve correndo em direção a porta. A cada passo que dávamos chegávamos mais perto da porta.
Foi quando ouvimos um tiro e Steve e eu tropeçamos em um monte de pastas no chão e caímos.
- azar o meu foi escolher o dia em que só tem dois de vocês aqui – falou Hunt ao longe. – eu queria todos.
- levanta – falou Steve.
Eu me levantei e nós corremos para a escada de incêndio e continuamos a descer desesperadamente os lances de escada. Eu estava suando muito e meu peito pedia por ar e foi quando eu parei de correr e me sentei no chão.
- temos que ir Mike – falou Steve.
- vamos pensar um pouco.
- pensar no que? Vamos morrer se não corrermos. – gritou Steve.
- Steve, você ouviu ele abrir a porta?
- qual porta?
- a porta do 11º primeiro andar para a escadaria.
- não.
- pois então – falei respirando um pouco – ele foi de elevador. E se ele estiver esperando nos andares abaixo? Apenas esperando nós dois darmos de cara com ele?
Ele então se apoiou na parece. Ele também respirava ofegante.
- em que andar estamos? – perguntei.
Steve olhou a placa que indicava em cada lance.
- o próximo é o 9º. – falou Steve.
- no 6º andar fica o financeiro, nós podemos nos esconder lá. Tem várias salas podemos nos trancar em uma delas e esperar ele ir embora ou a policia chegar.
- boa ideia – falou Steve. – mas nós vamos ter que usar a sorte. Ele pode estar no 9º, 8º, 7º ou até no 6º andar apenas esperando.
- vamos ter que nos arriscar. – falei me levantando.
- pronto? – perguntou Steve.
- pronto – falei.
Nós então começamos a descer as escadas bem devagar e a cada porta que passávamos o medo nos corroía. Chegamos ao 6º andar e ficamos encarando a porta.
- se ele estiver aqui já era - falei.
- vamos lá – falou Steve
Ele abriu a porta e não tinha ninguém. Nós ficamos aliviados e fomos até as portas do financeiro, mas todas elas estavam trancadas.
- está tudo trancado – falei forçando uma por uma.
Steve então abriu uma delas.
- vem aqui – falou Steve.
Eu fui correndo e nós entramos em uma das salas. Steve escorou na parede eu eu fiquei agachado na frente dele.
- estou tão cansado – falei.
- si-sim. eu-eu também – falou ele.
- estou suando muito – falei.
- nós vamos ter que sair daqui – falou Steve.
- porque? – perguntei.
- por nada – falou ele se levantando. – vai na frente – falou Steve.
Eu fui andando na frente e abri a porta. Quando chegamos na recepção do andar nós vimos que o elevador estava em movimento.
- é ele – falou Steve.
- como você sabe? – perguntei.
- por que o prédio está isolado e os policiais não subiriam de elevador. O marcador mostrava que ele tinha entrado no 5º andar e o elevador começou a subir e passou pelo 6º e continuou subindo.
- ele acha que nós subimos – falou Steve – é nossa chance.
Nós dois voltamos para a escadaria e começamos a descer as escadas correndo. Nós corríamos feito loucos. Quarto andar, terceiro andar, segundo andar, primeiro andar...
- térreo – falou Steve atrás de mim ele abriu a porta e nós chegamos ao andar vazio. Havia portas de vidro de gigante que levava a saída. Nós fomos andando e eu vi Jack morto em cima do balcão.
- Jack! – falei chorando.
- vem – falou Steve mostrando o marcador do elevador – Hunt está descendo e já esta no quarto andar.
Nós corremos em direção á porta e abrimos com todas as nossas forças nós olhamos em volta e havia uma área enorme sem ninguém. Pessoas estavam atrás de faixas amarelas. Vários policiais miraram para nós dois. Nós levantamos os braços.
Ás pessoas gritavam na rua. Eu não sei porque, mas me senti aliviado e ao mesmo tempo cansado.
- limpa as minhas costas – falei para Steve. – estou suando muito – falei olhando meu braço e o que escorria não era suor. Eu vi o sangue pingando no chão e me senti tonto e fui caindo quando Steve me segurou e com cuidado me colocou deitado no colo dele.
- eu estou sangrando? – perguntei fraco.
- sim – falou Steve – você deve ter levado o tiro quando estávamos no arquivo, mas você não sentiu nada por causa da adrenalina.
Os policiais vieram me ajudar e outros policias especializados entraram armados no prédio.
- Mike! – gritou meu pai tentando se aproximar, mas alguns policiais não deixavam.
Um deles jogou um cobertor em mim.
- eu sou o pai dele – falou meu pai empurrando os policiais e vindo até mim e se ajoelhando alisou minha testa.
- feliz Halloween – falou Steve.
- feliz Halloween – respondi. Foi à última coisa que eu disse antes de desmaiar.