CAPÍTULO 164: Um Ano Sem Chuva

Parte da série Paixão Secreta

Os dias passaram e eu já tinha começado a escrever algumas ideias no computador. Eu tive que perguntar para todas as pessoas envolvidas se eu poderia inclui-las no meu livro e Adam tinha feito vários contratos para que todos que permitissem assinasse. As pessoas que não tinham autorizado eu teria que mudar o nome porque caso eu colocasse o nome real eu poderia ser processado.

As pessoas que eu tive contato ,mas não eram tão importantes na história teriam seus nomes alterados porque questões de segurança. Eu tinha recebido aquela carta estranha e eu a tinha jogado no lixo porque eu tinha certeza que era um repórter engraçadinho. Eu já tinha caído uma vez nessa história de “não conte a ninguém” e “Me encontre atrás do prédio”. Eu nunca mais cairia nessa história pra boi dormir.

O mais estranho daquele dia não tinha sido a carta secreta, mas Roman. Desde aquele dia ele tinha voltado a tratar Adam e eu como antigamente. Eles até tinham passado a noite bebendo e fumando charutos em nosso apartamento no último final de semana. Eu estava feliz por tudo ter se resolvido entre nós três. Roman podia ser um canalha e manipulador, mas eu já tinha amado aquele canhada e manipulador. Ele tinha sido uma parte importante da minha vida e independente do que ele tenha feito eu gostava dele mesmo assim.

Era 30 de dezembro de 2022. Adam e eu estávamos no shopping com as crianças. Elas estava comendo seu lanche e tínhamos acabado de sair do cinema. Eles tinham gostado muito do filme. Infelizmente eles passariam o ano novo na casa dos pais de Megan, a mãe, então tínhamos que aproveitar o último dia do ano com as crianças.

- papai, podemos ir com o tio Mike na loja de brinquedos? – perguntou Christian.

- deixa o tio Mike em paz filhos, você vão matar ele de tanto andar.

- não tem problema – falei dando um selinho na boca de Adam e se levantando.

- vou lá fora fumar e volto para esperar vocês aqui.

- ok – falei pegando na mão de Arthur e em seguida na mão de Christian.

Nós fomos até a loja de brinquedos e em menos de um minuto eles já corriam para todos os lados com alguns brinquedos na mão assim como várias crianças. Era uma loucura e eu tinha que ficar de olho neles.

Tinha uns puffs coloridos em uma espécie de brinquedoteca onde as crianças resolveram ficar parados. Eu me sentei em um dos puffs e respirei fundo.

- vou ter que ligar para o pai de vocês e dizer onde estamos, pelo o que estou vendo não vamos sair daqui tão cedo.

Eu peguei o celular e chamei por Adam.

- oi amor – falou ele atendendo.

- Adam, as crianças e eu estamos dentro da loja. Tem uma brinquedoteca aqui e eles já fizeram até amizades.

- tudo bem, eu encontrei um amigo da faculdade, você se importa se eu ficar aqui e conversar com ele?

- claro que não. Fique a vontade.

- obrigado, assim que acabar aqui vou encontrar você ai na loja.

- ok, beijo.

- beijo – falou ele desligando o celular.

Eu então peguei um livro infantil que estava em uma pequena mesa colorida e comecei a ler. Eu fiquei entretido por um longo tempo até que alguém se sentou no puff ao lado do meu.

- parece que nossos filhos são amigos – falou o homem.

- parece que sim – falei olhando para as crianças brincando com um garotinho – é seu filho? – perguntei olhando para o homem sentado ao lado de mim. Eu levei um susto, era Scott. O homem que tinha feito sexo comigo e tinha gravado o vídeo e vasado ele na imprensa. Eu quase não o reconheci sem a barba.

- oi Mike – falou ele com um sorriso.

- o que você está fazendo aqui?

- isso é um shopping. Que eu saiba eu não sou proibido de vir aqui.

- crianças vamos embora.

- não tio Mike – falou Arthur.

- não tio Mike, fique aqui – falou Scott colocando a mão no meu ombro amigavelmente, deixe as crianças brincarem.

Eu olhei para ele.

- ok – falei olhando para as crianças.

- eu disse pra você não jogar a carta no lixo – falou Scott.

- foi você? O que você quer comigo? Não vê que estou casado agora, que tenho uma família?

- sim. E eu tenho uma coisa muito importante para falar com você – falou ele cochichando.

- me poupe de suas mentiras ou sei lá o que você vai falar… a última vez que te dei, literalmente, uma chance para conversar você jogou na internet um vídeo nosso. Pra falar a verdade não foi muito inteligente de sua parte né? Liberar um vídeo de sexo para me atingir e acabar sendo atingido porque deixou mostrar seu rosto.

- é isso que eu quero falar com você, não fui eu quem gravou aquele vídeo, não fui eu quem vazou.

- e você acha que eu vou acreditar nisso? – nós agora falávamos em um tom baixo.

- Mike, olha pra lá. Aquele é meu filho, quando ele ficar mais velho com 16 anos ou sei lá os amiguinhos da escola vão mostrar pra ele um vídeo do pai fazendo sexo com outro homem. Você que eu queria isso para meu filho? Você acha que eu gravaria uma fita de sexo e jogaria ela na internet sem censurar meu rosto? Eu teria editado.

- se você não gravou o vídeo e você nem é gay… porque fez sexo comigo?

- eu admito que fui pago para fazer sexo com você.

- porque? Por quem?

- você lembra sobre a “Fábrica de Manequins”? o projeto?

- sim. Esse projeto foi finalizado quando o candidato a presidência assumiu que foi ele quem o pagou para fazer sexo comigo.

- você não está entendendo Mike. P projeto nunca foi finalizado. Ele continua em andamento.

- como assim?

- Mike, eu fui pago para fazer sexo com você porque eu sou o seu tipo: alto, usava barba, boca sexy… eu fui contratado por encomenda. Eu sou apenas um contador, mas eles me ofereceram muito dinheiro e eu precisava na época e por isso eu aceitei, mas eu não sabia que eles nos gravariam. Eu fui contratado para te seduzir. Fui contratado para acabar com seu namoro com Roman.

- mas isso não está certo… Kenn foi contratado por você para acabar com meu namoro com Fritz. Foi isso que me disseram.

- Eu nunca ouvi falar em nenhum Kenn.

- se você não conhece o Kenn, quem está contratando pessoas para acabar com meus relacionamentos?

- isso vai além de seus relacionamentos – falou Scott olhando em volta. Ele estava cauteloso, se assegurando de que ninguém ouviria.

- como assim?

- Mike… lembra que eu te mostre um arquivo com fotos de pessoas? Um arquivo sobre os envolvidos na fábrica de manequins?

- sim.

- aquele arquivo me foi entregue pelo meu contratante. Ele disse para que eu te seduzisse e te mostrasse esse arquivo. Ele me contou essa história maluca sobre a Fábrica de Manequins e pediu que eu te contasse.

- então quer dizer que esse projeto não existe?

- existe sim Mike. E existe a mais tempo do que você sabe. Depois que o vídeo vazou a minha vida virou um inferno, minha esposa ficou ao meu lado, mas eu tive que provar para ela que o que eu dizia era verdade. Eu devia ter voltado a minha vida, mas eu fiquei pensando no mal que eu tinha te feito e eu tentei de todos os jeitos falar com você, mas sem provas era difícil.

- e você tem provas do que está dizendo?

- sim. Certa noite um homem me ligou e nós marcamos de nos encontrar em um lugar reservado. Ele estava encapuzado e eu não consegui ver seu rosto, mas ele me entregou o arquivo verdadeiro.

- e o que tem nele?

- você não vai querer saber Mike.

- mas eu preciso. Eu estou em uma nova fase na minha vida, eu estou casado, tenho um marido, duas crianças lindas, tenho contrato para escrever meus livros eu não posso continuar com ela sabendo que essa história de “Fábrica de Manequins” não está encerrada.

- você tem certeza?

- tenho.

- os arquivos estão no meu carro, venha comigo.

- ok – falei em levantando. – Christian, Arthur o tio Mike vai ali com o amigo dele rapidão, não saiam daqui ok?

- oi tio Mike – falaram os dois.

- Jesse o papai vai ali e já volta ok? – falou Scott dando um beijo no filho e nós dois

Nós então saímos da loja de brinquedos e fomos rapidamente até o estacionamento. Eu confesso que estava assustado, mas eu estava curioso. Eu olhei em volta e havia carros entrando e saindo então não tinha perigo dele me jogar no carro e sair de lá.

De longe ele desativou o alarme do carro e assim que chegou lá abriu a porta de trás e pegou uma mochila preta.

- está aqui dentro – falou ele me entregando a mochila.

Eu peguei e coloquei em cima do carro e abriu. Tinha uma pasta com vários documentos. Aqui tem as informações de todas as pessoas envolvidas no projeto. São informações básicas, mas o que você precisa ler é o relatório e o resumo do projeto.

- eu posso ficar com a mochila?

- claro que pode – falou ele fechando a porta do carro e nós andamos de volta para dentro do shopping. Nós chegamos a loja de brinquedos e levamos um susto porque Adam estava com as crianças e ele levantou o rosto com um sorriso, mas ele desapareceu quando viu Scott ao meu lado.

- Mike? O que você está fazendo? – falou Adam se levantando – sai de perto desse cara.

- ok – falei indo para o lado de Adam.

- mil perdões foi só coincidência – falou Scott.

- mentira. – falou Adam.

- é verdade Adam, na verdade ele veio se desculpar.

- e você acredita nele? – perguntou Adam olhando para mim.

Eu olhei para Scott e ele balançou a cabeça negativamente discretamente e eu respondi

- não.

- nos deixe em paz – falou Adam.

- ok - falou Scott – Jesse vem com o papai – falou ele pegando o garotinho – desculpem qualquer coisa, não foi minha intenção. Scott saiu da loja com Jesse nos braços.

- está tudo bem aqui senhor? – perguntou uma funcionária da loja.

- está sim – falou Adam com um sorriso.

- vamos indo crianças – falei pegando na mão de Christian.

- papai leva esse pra mim – falou ela com um boneco.

- agora não filha – falou Adam. Ele estava visivelmente nervoso.

- por favor papai.

- já disse que não – falou Adam pegando o brinquedo de uma vez da mão dela.

- Adam! – falei pegando Christina no braço que tinha começado a chorar – não chora não, o tio Mike compra pra você.

- eu não sei o que deu em mim – falou Adam – não chora não filha o papai compra o que você quiser.

- escolhe um brinquedo você também Arthur – falei entregando Christian nos braços de Adam.

- esse aqui – falou ele sorrindo com um boneco na mão.

Eu peguei alguns brinquedos que estavam no chão e que eles tinham brincado e levei até o balcão.

- sinto muito Mike – falou cochichando.

- não é pra mim que deve pedir desculpas – falei respirando para tentar me acalmar.

- que mochila é essa? – perguntou ele olhando para a mochila preta que estava na minha mão esquerda.

- é… - falei rindo – eu que comprei, estava precisando de uma sabe… pra carregar meu notebook por ai, afinal eu vou precisar carregar posso encontrar inspiração para escrever meu livro em qualquer lugar.

- ok – falou ele pagando tudo e depois que eles colocaram tudo em sacolas nós colocamos as crianças no chão e seguramos na mão até a saída do shopping.

- papai não queria ter gritado ok? – falou ele enquanto andávamos para o carro – aquele homem que estava lá é um homem mau e o papai ficou nervoso com ele, não com vocês tudo bem?

- sim papai – falou Arthur e Christian com um brinquedo cada. Adam estava com Arthur nos braços e eu segurava a mão de Christian enquanto eu carregava a mochila e as sacolas de brinquedos.

Nós chegamos ao carro e colocamos as crianças no banco de trás e fechamos o cinto de segurança delas.

- você está bem? – perguntou Adam ajudando Arthur a se ajeitar.

- estou sim.

- onde você encontrou ele?

- eu estava sentado com as crianças e ele apareceu, ele então pediu desculpas pelo o que tinha feito.

- e você o perdoou?

- sim, quer dizer não tem porque…

- você é muito manso, se fosse eu teria arrebentado a cara dele lá mesmo.

- manso? Eu posso não acreditar no que ele disse, mas não significa que não possa perdoá-lo.

- tudo bem, tudo bem – falou ele fechando a porta do carro e nós entramos no carro. Nós colocamos os cintos de seguranças e ele ligou o carro.

- nós vamos mesmo brigar por causa disso?

- não – falou ele coçando o rosto – que droga a barba está começando a crescer e fica coçando.

- pode dirigir eu coço pra você.

Ele então colocou as duas mãos no volante e eu cocei o rosto dele e depois de um tempo ele disse que estava aliviado e já não coçava.

- esquece, eu fiquei nervoso por que encontrei ele, foi mesmo melhor ter perdoado, era pior se tivesse começado uma briga e você ficasse nervoso e desmaiasse.

- viu só as vezes brigar não é a melhor opção.

Nós levamos as crianças para a casa da mãe e deixamos os brinquedos e o feliz ano novo porque nós não nos veríamos mais. Todo o caminho de volta eu fiquei pensando no que Scott tinha me dito. Eu estava ansioso para chegar em casa e ler o relatório da fábrica de manequins, mas ao mesmo tempo eu não sabia se aguentaria o que tinha lá. Eu não sei se estou preparado para descobrir mais coisas em minha vida. Agora que ela está nos trilhos aparece isso. Eu tenho que tomar uma decisão: Devo conviver com a verdade dolorosa ou a mentira reconfortante?

Assim que chegamos Adam tirou sua roupa e foi direto para o banheiro tomar um banho.

- depois que você sair eu vou – falei dando um beijo na boca dele.

Adam entrou no chuveiro e fiquei esperando a água do chuveiro cair para abrir a mochila e ler o arquivo. Logo ouvi o barulho da água e eu peguei a mochila e abri. Dentro havia duas pastas pretas. Pareciam livros de capa dura. Eu coloquei uma delas no colo e assim que coloquei a mão para abrir Adam saiu do banheiro de uma vez.

- você não ouviu eu te gritar? – falou ele vindo até mim enrolado na toalha.

- não – eu joguei a pasta que estava no meu colo no chão e empurrei para debaixo da cama com o calcanhar e coloquei a mochila preta no chão fechando o zíper – o que você queria?

- vem tomar banho comigo.

- eu não sei, estou tão cansado

- deixa de bobeira, vem – falou ele pegando minha mão.

- ok – falei arrancando a roupa e entrando no banheiro. Acho que poderia esperar mais alguns minutos.

Depois do sexo, eu tomei meu banho rápido e sai do banheiro. Eu me enrolei na toalha e assim que sai do banheiro fechei a porta e dei a volta na cama para pegar a mochila, mas para minha surpresa ela tinha desaparecido.

- o que? – falei desnorteado – não pode ser, eu deixei ela bem aqui – falei olhando em volta – será que eu fiquei louco? – falei saindo do quarto e indo até a sala, mas ela não estava em nenhum lugar. Foi quando eu me lembrei que uma das pastas tinham caído no chão. Eu então entrei no quarto e me abaixei e para minha sorte ela estava em baixo da cama. Eu enfiei minha mão para pegar e na mesma hora Adam saiu do banheiro.

- Mike? O que está fazendo ai?

- nada, só procurando meus chinelos.

Ele deu a volta na cama e eu procurei me levantar.

- estão nos seus pés – falou ele rindo pra caramba.

- pois é – falei rindo sem graça.

Eu me levantei e vesti minha roupa.

- vamos pedir comida? – perguntou Adam.

- vamos – respondi.

- depois de hoje – falou Adam vestindo a roupa – eu só tenho um desejo para o ano novo: Um ano sem chuva.

- como assim? Eu adoro chuva.

- não nesse sentido – falou ele ajeitando a cueca – uma metáfora, quero um ano normal e sem problemas. Amanhã quando formos passar o ano novo com seu pai esse será meu desejo.

Eu apenas me forcei a dar uma risada. Adam continuou conversando comigo, mas eu nem estava ouvindo o que ele dizia. Eu tinha essa melodia horripilante se repetindo em minha mente. Quem estaria tentando sabotar minha vida? Eu tinha vontade de contar para Adam o que tinha acontecido, mas Scott tinha me advertido que não contasse para ninguém. Eu estava ansioso para saber o que estava naquela pasta, mas infelizmente eu teria que esperar por outra hora.

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Comentários

Há 1 comentários.

Por Guhh em 2014-05-17 01:24:50
quando será postado o ultimo capitulo?