CAPÍTULO 132: Daltônico

Parte da série Paixão Secreta

Havia chegado o dia em que Peter iria embora apenas para buscar suas coisas. Haviam se passado cinco semanas e eu andava muito apreensivo, nervoso e ansioso. Leo e Roger tinham ido embora três semanas atrás, mas Peter e eu decidimos que era melhor ele ficar por aqui para namorarmos e vermos se realmente daríamos certo. Melhor do que nos precipitarmos. Meu namoro com Peter continuava, mas infelizmente eu não nos via no futuro. Eu estava nervoso porque eu sabia o que tinha que fazer, mas tinha medo de magoar seus sentimentos.

- o que foi filho? – perguntou meu pai me vendo apreensivo na cozinha enquanto tomávamos o café da manhã.

- não é nada – respondi mordendo o pedaço do pão doce sentindo um frio na barriga.

- filho, eu te conheço – falou ele olhando para mim. – pode me dizer.

Eu estava em dúvida se contava ou não para meu pai como eu me sentia. Vanessa já tinha ido para o trabalho e Peter estava dormindo.

- ok pai, eu vou te falar, mas não comenta com ninguém, nem com a Vanessa.

- tudo bem – falou meu pai.

- pai… eu acho que cometi um erro.

- qual?

- eu disse “eu te amo” para o Peter. No começo eu achava realmente isso, mas já não sinto o mesmo por ele. Acho que eu só estava apaixonado e essa paixão acabou e eu não sei como dizer isso a ele.

- você quer dizer o que? – perguntou meu pai.

- eu quero terminar com o Peter pai e eu estou me sentindo horrível.

- você precisa fazer o que o coração manda, se você quer mesmo terminar com ele, termine.

- como? Ele vai se mudar para a nossa casa, ele já fez planos. Vai ser como jogar um balde de água fria.

- como você sabe que não está apaixonado? – perguntou meu pai – o que te dá certeza?

- acho que o erro foi ter apressado as coisas, porque podíamos ter esperado mais um pouco antes de dizer eu te amo. Peter é novo no universo gay eu devia ter conversado com ele quando ele me disse eu te amo e não ter dito de volta, quer dizer o sexo é bom, é maravilhoso, mas eu não consigo olhar para o futuro e nos ver juntos e sinceramente eu não ligaria se ele me traísse eu o vejo maios como uma ficante eu acho que ele está coçando a pensar o mesmo de mim.

- como tem certeza?

- a duas semanas atrás nossos amigos Robbie e Gloria nos chamaram para irmos a um bar para bebermos algo e eu percebi que Peter estava realmente disperso porque nós fomos em um bar GLS. Ele ficava encarando os homens de lá e eu sentia que ele estava desconfortável, mas não era com a presença deles. Era com a minha. Ele quer experimentar pai, ele se descobriu agora e ele finalmente está conhecendo esse mundo tão grande e eu não acho que estar preso a mim é uma boa opção.

- então porque está tão preocupado? É só dizer o que você sente.

- mesmo assim pai, eu me sinto mal. talvez eu esteja enganado.

- pois é, mas para você saber se está ou não enganado de qualquer jeito vai ter que dizer como se sente.

- obrigado pelo conselho, eu vou fazer isso hoje ainda. Pela primeira vez eu vou terminar com um namorado e o motivo não é traição.

- tudo bem filho o que você escolher eu te apoio, mas me responde uma pergunta?

- sim.

- você não vai inventar de ir para a África de novo não né?

- não pai, segunda-feira eu tenho uma entrevista, eu vou conseguir um emprego e seguir meus planos se alguém aparecer nesse meio tempo, ótimo.

- ok – falou ele me dando um beijo no rosto.

Eu terminei de tomar o café da manhã e subi as escadas para escovar os dentes. Eu entrei no banheiro e enquanto escovava os dentes ouvi algum barulho no quarto e com certeza era Peter que tinha acordado.

- bom dia – falou Peter.

- bom dia – falei cuspindo na pia.

Depois que eu escovei os dentes e lavei o rosto eu fui até a cama e dei um beijo de bom dia nele.

- Peter eu preciso falar com você.

- pode falar – falou ele.

Eu então me deitei ao lado dele na cama e nós ficamos olhando para o teto. Pra mim era mais fácil conversar com ele por que dessa maneira não precisaríamos olhar nos olhos um do outro.

- o que você quer conversar?

- Peter… eu andei pensando que… talvez… você já pensou na possibilidade de sair com outras pessoas?

Ele não disse nada de inicio, mas depois ele quebrou o silêncio.

- tipo um relacionamento aberto?

- não, tipo um término de namoro.

- você quer terminar comigo? – perguntou ele olhando para mim.

- Peter você é muito novo no mundo gay, talvez você queira experimentar, viver um pouco antes de querer se amarrar em alguém. Eu sinto que estou pronto para me amarrar em alguém, casar e ter filhos e eu não acho que você esteja preparado para isso.

- mas e tudo o que conversamos a respeito?- eu sei, mas as pessoas mudam, as coisas mudam, a convivência… você acha que está realmente preparado para isso? quer dizer… eu vi como você ficou no bar quando saímos com Robbie e Gloria.

- o que?

- eu vi como você olhava para os outros homens de lá.

- eu não te trai Mike.

- eu sei, eu sei. Não é questão de traição. Nós dois não procuramos as mesmas coisas nesse relacionamento e eu preciso de alguém que se comprometa comigo e tenha metas na vida parecidas com as minhas. Nós somos ótimos parceiros na cama, nos passeios, mas quando eu penso no meu futuro eu não te imagino nele. Não é nada pessoal eu só acho que devemos sair e conhecer outras pessoas.

- nossa… eu nunca imaginei que terminaríamos – falou ele.

- espero que não fique com raiva de mim.

- não vou – falou ele.

- que bom, fico feliz.

- eu ainda posso passar um tempo aqui até eu conseguir um emprego e um lugar para morar?

- mas é claro que pode.

- obrigado – falou ele.

- não precisa agradecer. Você pode ficar o tempo que quiser.

- ok – falou ele se sentando na cama. – bom… acho que vou para o meu quarto então.

- é melhor – falei me sentando.

- foi bom te namorar – falou ele.

- eu posso te apresentar a alguns amigos se quiser.

- eu adoraria – falou ele com um sorriso – você foi e é uma pessoa muito importante na minha vida, obrigado por me ajudar tanto.

- de nada – falei colocando a mão no ombro dele – você também é uma pessoa importante para mim.

- podemos dar um beijo de despedida? – perguntou ele.

- claro – falei me aproximando dele e nós nos beijamos. – espero não estar te magoando.

- não está não – falou ele – e me desculpe ter dito eu te amo, eu acho que nem sei o que é realmente estar apaixonado eu só estava empolgado por você ser meu primeiro namorado, ter sido minha primeira tranza e minha primeira paixão. Eu achei que fosse amor.

- quem pode te jugar? Quem nunca disse “eu te amo” para pelo menos quatro namorados que atire a primeira pedra. Eu mesmo disse “eu te amo” para uns cinco ou seis – falei rindo – você ainda vai dizer muitos “eu te amo” na vida e vai se arrepender de dizer alguns. É a vida.

- pela primeira vez eu estou animado para viver minha vida. Eu sinto que minha vida está nos trilhos pela primeira vez.

- fico feliz por você.

- eu também estou feliz por mim e por você é claro. Fico feliz que nós tenhamos vivido esse romance. Eu aprendi muito com você. Eu era daltônico no passado e você me fez enxergar as cores da vida. As rosar se tornaram vermelhas e o céu azul.

- fico feliz de saber que eu fui uma peça importante para a sua aceitação. Saiba que se aceitar é mais importante do que ser aceito pelas pessoas. Não importa o que as pessoas pensam de você o mais importante é como você se vê. As pessoas, o mundo vai tentar te dizer o contrário, mas tenha sempre em mente isso.

- obrigado – falou ele se levantando e eu me levantei também. Nós saímos do quarto conversando.

- você vai hoje e volta que dia? – perguntei enquanto íamos em direção ao quarto dele.

- no sábado. Vou ficar pelo menos uma semana lá para me despedir de todos. Eu não vou trazer tantas coisas assim. Apenas o necessário.

- essa semana eu também estarei bem ocupado, eu terei várias entrevistas de emprego, espero que consiga ser selecionado em alguma.

- vou torcer por você.

- obrigado – falei quando chegamos a porta do quarto dele.

- foi bom enquanto durou – falou ele com um sorriso.

- também achei.

- vou tomar um banho e já vou descer.

- ok – falei me afastando – até daqui a pouco.

- até – falou ele fechando a porta.

Ainda bem que tinha ocorrido tudo bem. Eu tinha perdido um namorado, mas tinha conseguido um amigo fiel. Agora eu estava focado na minha carreira, pelo menos por um período de tempo até eu conseguir alugar um lugar para morar. Ser independente financeiramente é o primeiro passo para maturidade.

De tarde meu pai e eu levamos Peter até o aeroporto e assim que chegamos a fila para a sala de embarque nós nos despedimos porque dali pra frente nós não poderíamos ir.

- foi bom te conhecer Peter – falou meu pai abraçando ele – você vai ser bem vindo em minha casa o tempo que precisar ok? Não precisa ficar receoso de vir.

- muito obrigado Sr. Fabray. – falou Peter abraçando ele e em seguida ele veio até mim.

- te vejo daqui a uma semana Mike.

- até daqui uma semana – falei apertando a mão dele – boa viagem.

- obrigado – falou ele.

Nós o vimos entregar a passagem para o segurança e depois ele passou para o outro lado e nós acenamos com as mãos. E essa foi à última vez que eu vi ele naquele dia. Peter só voltaria em uma semana, mas minha vida continuaria.