CAPÍTULO 115: Capela do Amor
Parte da série Paixão Secreta
No domingo todos se preparavam para ir embora.
- não demore a se arrumar Vanessa se não vamos nos atrasar – falou meu pai para Vanessa.
- não precisa ter muita pressa – falou meu tio – ainda tem duas horas e meia para o voo.
Eu estava lá fora olhando para o pasto, não queria que eles fossem embora, eu já sentia saudades antes deles irem embora.
- então… - falou Adam me assustando – eu estava bêbado ontem a noite e o que eu disse… esquece…
Eu olhei para ele e o fiquei encarando.
- brincadeira – falou Adam.
- acho bom – falei olhando de volta para o campo.
- porque você não volta com a gente?
- eu não queria ir embora daqui nunca, é tão bom aqui.
- mas você sabe que vai ter que ir embora quando eu finalizar o divorcio, certo?
- sim, mas isso pode demorar meses.
- eu sei, só quero que você leve isso a sério – falou Adam.
- eu estou. Só que eu criei uma defesa. Quando eu sou cortejados por homens bonitos que me oferecem amor e uma vida de completa alegria eu já não me sinto feliz porque tenho medo de me machucar.
- eu sei, eu entendo, mas eu vou destruir essa barreira.
- espero que sim – falei colocando minha mão junto à dele e nós seguramos a mão um do outro enquanto olhávamos para o sol brilhando lá no alto.
- vamos indo? – falou Leo aparecendo de repente. Nós dois soltamos nossas mãos.
- vamos – falou Adam batendo as mãos no bolso – nossa, meu celular não está aqui, você me ajuda a procurar lá em cima? – falou ele para mim.
- sim – falei.
Nós então subimos as escadas. Nós entramos no quarto onde Adam dormiu.
- onde você deixou pela última vez? – perguntei quando ele fechou a porta.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou o celular.
- está no seu bolso?
- você realmente não entendeu que eu quero me despedir de você né? – perguntou ele se aproximando de mim.
- lembra o que eu disse? Relacionamento só depois do divorcio.
- não precisa ser relacionamento – falou ele segurando meu rosto com sua mão direita. – somos só dois estranhos beijando na boca; ou vai me dizer que não quer me dar um beijo de despedida?
Eu aproximei meu rosto do dele e nós demos um selinho.
- vou sentir sua falta – falou Adam me dando outro selinho.
- vou sentir a sua também. – falei beijando a boca dele e abraçando ele e alisando suas costas.
- vou pensar em você todos os dias – falou ele me abraçando e me dando um beijo de língua e eu não resisti e correspondi ao beijo que deixou minhas pernas bambas.
- boa viagem – falei dando um selinho na boca dele e o abraçando.
- obrigado – falou ele beijando meu rosto.
Em seguida nós descemos as escadas.
- encontrei – falou Adam levantando a mão com o celular.
Meu tio e Peter se despediram de Adam e logo nós entramos no carro. No aeroporto nós nos despedimos outra vez e eles prometeram voltar.
Os primeiros dias foram difíceis, era ruim tê-los pro apenas um dia e meio porque eu já sentia saudades de todos e eu andava pensando em Adam. Seria possível o homem que sempre esteve ao meu lado, meu chefe, heterossexual ser o homem que ficaria ao meu lado toda a vida? Eu sei que parece meio conto de fadas, mas eu queria alguém para ser meu Alex. Isso ficou em meu pensamento pelas duas semanas que se seguiram.
na quarta-feira 3 de julho ás 17:00 horas meu primo veio falar comigo.
- então Mike, mudou de ideia? Vai passar o quatro de julho conosco na floresta? Apenas nós e a natureza contra os fogos de artificio iluminando o céu noturno?
- não, eu realmente agradeço o convite, mas vou passar com meu tio – Minha ideia era na verdade passar sozinho em casa.
- tem certeza? – perguntou Peter com sua mochila nas costas. – vai ser divertido e você nunca acampou.
- eu prometo que da próxima vez eu vou com vocês.
- nós vamos te cobrar – falou Peter.
- podem cobrar.
- tudo bem então – falou Leo – todos os anos assistimos a queima de fogos e em seguida dirigimos para a cidade para festejar com todos.
- se divirtam e nos encontramos quando for à cidade
- até – falou ele entrando no carro de Peter. Ele iria buscar um por um em suas casas e já iriam para o local montar as barracas.
Eu estava na cozinha pegando um copo de água e meu tio apareceu.
- está aqui filho? – falou meu tio que tinha mania de me chamar de filho – pensei que você fosse com o Leo e seus amigos.
- eu vou, ele foi lá montar as barracas e preparar tudo, ás 20h00min ele vem em buscar.
- muita irresponsabilidade dele, ele devia ter te levado.
- foi eu que pedi tio. Eu queria tempo para tomar um banho e organizar minhas coisas.
- tudo bem – falou meu tio tomando um copo de água e indo enxaguar na pia – só que eu combinei de buscar Maya na casa dela ás 19h00min para irmos para a cidade, porque vai ser uma festança, você não se importa de ficar sozinho até ele vir te buscar certo?
- não, pode ir tranquilo. Eu vou tomar meu banho e ficar pronto esperando ele aparecer.
- ok – falou meu tio com um sorriso subindo as escadas.
- perfeito – falei para mim mesmo – eu sei que eles ficariam chateados comigo no dia seguinte, mas eu gostava de passar o quatro de julho em casa. Afinal dia quatro de julho é o dia do aniversário da mamãe e não era uma data que eu e meu pai gostávamos muito.
Meu tio se foi e eu prometi estar pronto quando meu primo voltasse. Logo que meu tio se foi eu tranquei a casa toda e liguei a TV e me sentei em frente ela e fiquei hipnotizado por várias horas.
Ás 22h00min eu levantei do sofá e fui até a cozinha arrumar o que comer. Preparei algo fácil, uns sanduiches e em seguida voltei para a sala. Enquanto comia o segundo sanduiche o meu celular tocou.
Era meu pai, eu atendi ao telefone celular com o coração na mão porque eu sabia que ele falaria sobre a mamãe.
- boa noite pai – falei atendendo o celular.
- olá filho. – falou meu pai.
- e então? Passando o4 de julho na cidade? Ou com a Vanessa?
- sozinho em casa como todos os anos. Daqui a pouco vou me deitar.
- eu queria estar ai com o senhor.
- eu sei – falou ele.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos.
- sua mãe estaria fazendo 39 anos amanhã.
- eu sei – falei.
Nós ficamos em silêncio mais alguns segundos.
- eu enganei meu tio e meu primo, eles acham que eu estou com um deles, mas a verdade é que eu estou em casa sozinho.
- não é perigoso? – perguntou meu pai.
- não. Eu sei que a vizinhança está longe e eu sou provavelmente sou a única alma viva a uns 15 quilômetros, mas é melhor do que estar lá comemorando uma data que só me trás tristeza.
- você não pode uma data como essa ser passada em branco filho.
- o senhor também não.
- mas eu sou um homem velho e tolo.
- eu sou um homem novo e tolo.
- ok filho, você venceu. – eu vou me despedir porque já vou me deitar.
- boa noite pai.
- boa noite filho – falou ele – eu te amo muito.
- também te amo pai.
Eu desliguei o telefone celular e fiquei lá parado olhando para a televisão. Pela primeira vez eu sentia vontade de ver os fogos ao vivo. Eu então decidi que colocaria uma cadeira na porta de entrada e ficaria lá olhando para o céu para ver os fogos.
Ás 23h50min eu desliguei a TV e coloquei a cadeira lá fora e em sentei. Eu esperei por dez minutos em pleno silencio apenas o som dos grilos me faziam companhia.
Então de repente eu me assustei com um estouro e quando olhei para o céu vi as cores da bandeira se espalhando pelo céu. Eu fiquei maravilhado com aquilo, de repente outros fogos subiram lá no alto e estouraram em forma de estrelas brancas.
Esse show durou por uns 15 minutos. Durante esses 15 minutos eu esqueci que dia era aquele e apenas aproveitei a vista. Depois que os fogos cessaram eu fiquei outra vez sozinho com meus pensamentos e minha mãe foi mais uma vez o assunto principal na minha mente.
Eu fiquei lá olhando para o céu estrelado por uns 10 minutos e fechei os olhos por alguns segundos.
- feliz aniversário mamãe – falei alto.
Eu então abri os olhos assustados com o barulho de um carro que vinha a toda velocidade. Os faróis iluminaram a rua.
- meu primo – falei assustado – eu esqueci que para ir a cidade eles passariam em frente de casa, eu me levantei rápido para entrar em casa e quando abri a porta eu ouvi outro estouro.
Por alguns segundos eu pensei que fosse os fogos de artificio outra vez, mas quando eu olhei para trás tive uma surpresa. O carro do meu primo tinha batido na entrada e tinha arrebentado a frente. Tinha fogo no motor.
Eu sai correndo na direção do carro e vi Leo e Katty desmaiados na frente com sangue no rosto. Atrás estavam Peter, Joe e Gwen desacordados. Peter parecia meio consciente porque ele gemia.
- Leo! – gritei, mas ele não demonstrou reação. Eu então com muito esforço abri a porta do carro do lado do carona e balancei Katty, mas ela não se mexia. Eu então tirei o cinto de segurança dela e a arrastei para fora do carro e a deixei longe. Eu voltei correndo para o carro e tirei o cinto de segurança de Leo e foi quando eu percebi que ele tinha um caco de vidro enfiado no abdômen.
- meu deus – falei com os olhos cheios de lágrimas. Eu suava por causa do calor do fogo. Eu então comecei a puxa-lo, mas com cuidado para que o pedaço de vidro não saísse. Eu o arrastei para fora do carro e o deixei ao lado de Katty de barriga para cima.
- Mike? – falou Leo abrindo os olhos. Seu nariz sangrava. – o que está acontecendo.
- um acidente – falei ajoelhado ao lado dele – não se mecha Leo, eu preciso tirar os outros do carro.
Eu me levantei e fui até o carro e abri a porta de trás e Peter já estava acordado, mas com as pernas presas.
- me ajuda Mike – falou Peter – eu não quero morrer – falou ele.
- tudo bem, mas você tem se forçar um pouco.
- tudo bem - falou ele.
- no três eu vou puxar você ok?
- ok.
- um… dois… três! – falei começando a puxá-lo para fora do carro. Ele começou a gritar freneticamente. No começo não entendi porque, mas logo percebi que um ferro tinha enfiado na perna dele e à medida que eu o puxava o ferro saia da perna dele.
Ele gritou bastante, mas conseguiu ficar de pé apoiado em uma perna só. Eu o levei para longe e o deitei na grama.
Eu voltei correndo para o carro e puxei Joe desacordado. O único lugar machucado era um corte pequeno na cabeça.
Eu o puxei para fora e o joguei no chão e o arrastei porque ele era muito grande para carrega-lo.
- Gwen! – gritou Peter.
Eu voltei correndo para o carro e entrei. Gwen tinha colocado o cinto de segurança e estava preso. Eu olhei para fora e uma faísca de fogo tinha acendido na grama com a gasolina que tinha derramado e ia para baixo do carro.
- sai dai – gritou Leo.
- não vou deixar ela – falei forçando o sinto de segurança e ele saiu. Eu a puxei com todas as minhas forças e ela acordou enquanto eu a puxava.
- o que…
Eu a puxei e nós dois caímos no chão.
- se levanta Gwen, corre – falei para ela.
Ela então se levantou manca e eu a abracei apoiando ela e quando nos afastamos do carro ele explodiu e nós fomos jogados no chão.
Por alguns instantes eu fiquei tonto no chão, mas consegui me virar para frente e me sentar no chão. Meu rosto um pouco esfolado. Aquele incêndio no carro era enorme e a fumaça negra logo traria o corpo de bombeiros.
Eu cai de costas no chão e fiquei olhando para o céu ofegante e assustado. Todo meu corpo doía à tensão tinha me feito dar câimbra em todas as partes possíveis. Katty e Joe continuavam desacordados.
- vocês nos salvou – falou Gwen tossindo forte com a voz rouca – você salvou nossa vida – falou ela com lágrimas nos olhos. – meu deus – falou ela quando percebeu o pedaço de vidro enfiado em Leo.
- você foi corajoso – falou Leo olhando para mim. – segura minha mão – falou ele – eu estou com medo. Eu segurei a mão dele. - não fica com medo, vai ficar tudo bem – falei apertando a mão dele. Na minha cabeça tocava a música que tocou no casamento do meu pai e da minha mãe. Eu já tinha assistido a aquela fita milhões de vezes. “Capela do Amor” era o nome da canção.