CAPÍTULO 108: 2 Pais
Parte da série Paixão Secreta
Quatro horas de passaram. A única iluminação que eu tinha era a da lua que para minha sorte estava cheia e o céu limpo como bundinha de bebê.
O relógio marcava 22h46min. Eu tinha encontrado uma árvore para me escorar e tinha me arrastado. Eu estava tremendo como se algo estivesse me sacodindo. Saia fumaça da minha boca. Eu sentia meus dedos endurecendo.
Meu coração batia muito rápido porque meu corpo esfriava e ele bombeava sangue mais rápido e isso poderia me causar problemas. Foi então que eu tive que fazer o que eu não queria. Eu enfiei a mão na cueca e urinei na mão e trouxe a urina e passei no meu rosto. Eu urinei mais um pouco e passei nos braços. Eu tirei as meias que eu usava com muito cuidado e urinei nelas e enrolei nas mãos. Aquilo tinha adiantado. Pelo menos por uns 30 minutos até que a urina esfriou e eu comecei a sentir frio outra vez.
Eu tinha que me esgueirar até o rio tomar bastante água e esperar por mais urina, só assim eu iria sobreviver.
Eu me arrastei até o rio e bebi bastante água. Eu sabia que não se podia beber água de rio por que tinha várias doenças, vermes, mas o desespero fez a ocasião.
Eu tomei bastante água e me levantei em um pé só e voltei para a árvore. Chegando lá eu comi mais algumas frutas. Meu estômago roncava de tanta fome.
- socorro – gritei alto ás 23h45min.
Eu gritei várias vezes usando toda a minha voz, mas ninguém respondia e não ouvia nenhum barulho que não fosse o dos insetos e animais.
Eu comecei a sentir vontade de urinar. Era a terceira vez que eu fazia isso. Eu mais uma vez urinei nas meias e alternava nos lugares. Colocava na testa, colocava nos braços e até no pescoço que estava gelado.
Eu estava fedendo, mas não me importava, tudo o que eu queria naquele momento era uma cama bem quentinha e uma comida caseira bem gostosa. Eu já estava enjoando daquelas frutas e me dava vontade de jogar no rio de tanta raiva que eu tinha de mim mesmo por ter me perdido.
Eu já nem conseguia mover o meu pé machucado o frio tinha tomado conta. Como não tinha ferida eu comecei a enrolar as meias para esquentá-lo por que eu não queria perder o meu pé.
Eu sabia que nas buscas eles procuravam na beira dos rios então eu tinha maiores chances de ser encontrado logo. Eu não sabia o quão grande era a floresta ou o rio então o jeito era ter paciência.
Eu aguentei o ciclo da urina até ás 02h56min da manhã. Eu não aguentava mais jogar urina no meu corpo para me esquentar. O vento estava frio e quando passava pela urina no meu corpo me fazia sentir mais frio do que se não tivesse todo urinado.
Eu comi mais algumas frutas e logo voltei a fechar os olhos imaginando que a noite acabaria. Eu pescava e nessas pescadas eu sonhava que tinha saído da floresta, mas logo eu acordava assustado e descobria que tudo não passou de um sonho de mal gosto.
Eu decidi ir ao rio e lavar meu rosto e meus braços para tirar a urina. A água estava fria, mas eu não suportava mais o cheiro no meu rosto. Ás 03h25min da manhã eu comecei a tremer de frio outra vez. Eu já não sabia o que fazer. Meus dedos outra vez começavam a ficar duros. Foi quando eu vi vários pássaros voando para lá e para cá.
- que droga é essa – falei vendo aquele monte de pássaros voando em várias direções. Logo todos eles desapareceram.
Eu comecei a sentir minha boca seca. Estava com muita sede. Minha cabeça começava a doer.
Eu fechei os olhos esperando dormir e só saberia o que tinha acontecido de manhã. Ou eu morreria ou eu acordaria de qualquer jeito qualquer uma das opções era melhor do que sofrer.
Eu estava com os olhos fechados por uns 10 minutos e quando abri eu vi umas luzes no céu. Pareciam naves espaciais, mas logo eu percebi que não se tratavam de luzes no céu, mas luzes de lanternas nas árvores.
Eu olhei atentamente e comecei a ouvir a vozes chamando meu nome. Eu então percebi que pessoas estavam me procurando. Eu tentei gritar, mas minha voz não saia. Minha voz estava rouca.
Eu comecei a sentir um desespero com medo de que eles não me vissem. Então comecei a pegar algumas frutas e jogar na árvore ao lado. Alguns barulhos começaram a ser feitos e eu vi uma das luzes sendo apontadas na minha direção.
- ele está aqui – falou alguém gritando. Eu olhei para trás e vi alguém escorregando pelas árvores e finalmente chegando ao chão.
- oi – falei sem reconhecer a pessoa.
- você está gelado – falou a pessoa tirando a camisa e se deitando ao meu lado e me abraçando para me esquentar.
Eu finalmente senti algum calor. Estava tão bom que eu fechei os olhos e toquei o rosto da pessoa para ver se conseguia identifica-la e eu senti uma barba.
- seus dedos estão congelando – falou o homem pegando minhas duas mãos e colocando dentro da calça, dentro da cueca e seu senti um calor bom nas minhas mãos.
Me deu vontade de rir quando ele fez isso e eu apenas olhei para ele e vi que era Roman.
- o que está fazendo aqui? – perguntei com a voz fraca.
- vim te salvar é claro. Estamos te procurando há horas.
- obrigado – falei massageando levemente o pênis dele na calça e dando um beijo na boca dele.
- por nada – falou ele.
Logo eu vi várias luzes e pessoas chegando. Roman se levantou e os paramédicos me deram vários cobertores e começaram a me analisar.
Foi quando eu vi que um dos paramédicos era Fritz.
- o que você está fazendo aqui? – perguntei para ele.
Fritz me olhou sem dizer nada.
- ainda bem que te encontramos – falou Charley – eu não devia ter deixado você vir sozinho
- o que está fazendo aqui? Você está proibido de chegar perto de mim se lembra? E você não manda em mim eu vou onde quero;
- ele está tendo alucinações – falou Fritz.
Eu ví alguém mexendo na sacola de frutas e logo disse:
- ele sofreu intoxicação por beladona – falou um dos paramédicos.
- temos que levar ele daqui – falou Fritz.
Foi a última coisa que me lembro antes de cair no sono… ou desmaiar… não sei bem só sei que foi a melhor coisa que podia acontecer.
Eu abri os olhos devagar e senti um cheiro peculiar que só se sente em hospitais. Eu abri os olhos e vi que estava no quarto de um hospital. Eu notei algumas manchas roxas na minha pele.
- bom dia flor do dia – falou meu tio entrando no quarto.
- vocês me encontraram? – falei quando ele, meu primo, Gwen e Peter entraram no quarto.
- sim – falou Peter – nós te procuramos durante horas até que finalmente te encontramos.
- o que são essas manchas?
- o médico disse que são feridas do frio. Você ficou muito tempo no frio congelante – falou meu tio.
Eu então tentei mover meu pé e consegui, já não doía tanto.
- o médico colocou no lugar e enfaixou. Disse que alguns dias de repouso e vai voltar a andar normalmente.
- onde está o Roman?
- quem? – perguntou Gwen.
- ele me encontrou. Ele me abraçou e me aqueceu.
- você estava tendo alucinações – falou Leo – o senhor espertou comeu beladona pensando que era jabuticaba – falou ele rindo.
- quem me encontrou então?
- fui eu – falou meu tio.
- oh meu deus – falei alto.
- o que? – perguntou Leo assustado – sente alguma coisa?
- não é que… - eu parei por um momento. Eu realmente não queria que ninguém soubesse do que tinha acontecido.
- não é nada… eu só senti uma pontada no braço.
- vamos lá perguntar para o médico se é algo sério – falou Leo saindo com todos os outros e apenas meu tio ficou.
quantas horas? – perguntei.
- 10h17min. – falou meu tio.
- nossa eu dormi bastante.
- filho eu não acredito que você ia contar oque aconteceu. – falou meu tio rindo.
- nossa tio que vergonha do senhor, porque me deixou fazer aquilo?
- não fica com vergonha – falou meu tio – você estava alucinando e a seu favor, foi eu quem colocou suas mãos dentro da minha cueca.
- porque fez aquilo? – perguntei rindo sem graça.
- o médico disse que foi isso que salvou seus lindos dedos. Eu contei para ele o que tinha feito e ele disse que foi muito bem feito. Depois que eu te encontrei os paramédicos levaram 20 minutos para chegar até você.
- nossa, mas pareceram segundos.
- você estava meio drogado – falou meu tio.
- bom, nesse caso… obrigado por ter salvo os meus dedos, mas da próxima vez não faça isso. deixe eu perder os dedos – falei brincando.
- vou colocar na bunda da próxima – falou meu tio rindo – mas se você massageou meu pau porque coloquei na frente imagina o que vai fazer se eu colocar na bunda?
- para tio está me matando de vergonha. – falei colocando a mão nos olhos querendo rir.
- veja pelo lado bom – falou meu tio – pelo menos agora você tem uma história engraçada para contar aos seus filhos e netos.
- só se for pra traumatiza-los – falei rindo – para com isso tio.
- está bem, eu paro – falou ele – mas se serve de consolo você beija bem. Melhor do que minha namorada. – falou ele rindo. – eu nunca imaginei que beijaria a boca de um homem na vida e quando beijo é a boca do meu sobrinho.
- ainda bem que foi só um selinho.
- selinho? – falou ele – sua língua tinha gosto de banana.
- credo tio, mentira que foi de língua? Eu acho que vou morrer. – falei começando a rir.
- imagine eu? – falou ele rindo também – foi uma nova experiência para ambos.
- porque você correspondeu? Podia ter me empurrado.
- tá doido? Você estava quase morrendo, além do mais eu não correspondi. Eu não enfiei minha língua na sua boca foi você que me beijou. Eu fiquei parado esperando você terminar.
- menos mal.
- posso contar para todo mundo? Eles iriam rir muito – perguntou meu tio fazendo graça.
- psiu – falei vendo os outros entrarem outra vez
- o médico disse que é normal sentir pontadas – falou Leo.
- ainda bem – falei disfarçando, pois não tinha sentido pontada nenhuma.
- filho quase esqueci de te falar – falou meu tio – seu pai está vindo para cá.
- qual deles?
- seu pai Stephen.
- porque?
- porque? – pergunto meu tio – só por causa do seu acidente.
- nossa, mas nem foi tão sério – falei.
- você que acha, você quase morreu criatura – falou Leo – e como meu tio Larry não pôde vir o Stephen está vindo. Ele inclusive está quase chegando.
- bom essa é a vantagem de se ter dois pais – falei.
- pois é – falou Gwen – nós podemos compartilhar essa sensação.
- por quê?
- o Leo não te contou? – perguntou Gwen olhando para Leo de, pois para mim.
- digamos que eu meio que esqueci – falou Leo.
- contar o que?
- eu também fui adotada Mike, quando tinha seis anos meu pai Alex me adotou. Ele é gay então logo se casou com meu pai Derek.
- sério? Dois pais? Que fofo.
- pois então? – falou ela com um sorriso – nós temos mais coisas do que em comum do que imaginamos: somos adotados, temos dois pais e somos lindos.
- convencida – falou Peter beijando o rosto dela.
- você não reclama – falou ela para Peter.
- verdade – falou ele.
Logo alguém bateu na porta e abriu.
- com licença – falou uma voz conhecida. Era meu pai Stephen. Ele deu um sorriso quando me viu. – posso entrar?
- claro que pode – falei esticando os braços.
Ele veio até mim e me deu um abraço.
- senti saudades filho – falou ele beijando meu rosto – você me assustou.
- vamos deixar vocês a sós. – falou Gwen.
Gwen e Peter saíram.
- pai esse aqui é meu tio Roger.
- muito prazer – falou ele apertando a mão do tio Roger.
- esse é Leo, meu primo.
- muito prazer – falou Leo.
- o prazer é todo meu – falou ele para Leo. – esse garoto quase nos mata de susto.
- pois é? – falou meu tio Roger – o pior é que ele vai para a floresta sozinho pela primeira vez na vida e come um monte de beladona. Ainda bem que a quantidade que ele ingeriu não era o suficiente para matar.
- pois é – falou meu pai.
- então pai? coo está minha imagem lá fora? Todo mundo te criticando por causa do meu vídeo?
- nós conseguimos provar que foi um dos meus adversários que mandou gravar o vídeo. Oferecemos dinheiro ao Kenn e ele nos deu prova disso.
- que bom pai e qual deles foi?
- Anthony. Ele inclusive se retirou da campanha.
- que bom. Levou o que merecia. E o Scott? – perguntei lembrando do homem que tinha me seduzido.
- Scott? – perguntou meu pai – o cara nem Gay é Mike. Ele é casado e tem três filhas. O nome dele apareceu em todos os jornais como o homem que estava fazendo sexo com você. A vida dele virou um inferno pior do que a sua.
- o Karma é uma vadia, mas quando funciona, funciona bem.
- pois é, significa que eu subi nas pesquisas.
- que bom pai. Eu sei o quanto significa para o senhor essa campanha.
- obrigado filho – falou ele beijando meu rosto.
- vai almoçar conosco Stephen? – perguntou meu tio Roger.
- se não for incomodar.
- de maneira nenhuma – falou Roger.
- combinado – falou ele.
Logo o médico me deu alto e pediu que eu não forçasse o pé durante uma semana. Aquela experiência tinha sido ruim, mas de certa forma engraçada. Eram essas experiências que eu queria ter que eu não tinha na cidade grande. Boas ou ruins eram experiências de vida e eu estava grato por ter acontecido comigo porque pelo menos eu consegui provar a mim mesmo que quando estou lutando por minha vida eu sou capaz de tudo. Até de me cobrir de urina.