CAPÍTULO 101: Longe de Casa

Parte da série Paixão Secreta

Eu vi as luzes do aeroporto brilhando lá em baixo. Eu estava ansioso para chegar porque estava longe casa e meu passado não me perseguiria; não me mesmo jeito que na cidade grande onde todos sabiam sobre a vida de todos, mas não conheciam os outros de verdade. Eu não conhecia nem os vizinhos da minha rua direito e olha que eu morei lá desde que me entendo por gente.

Pelo o que eu tinha ouvido todos eram companheiros onde meu pai morava, os donos das fazendas vizinhas se ajudavam e se conheciam muito bem. Eu precisava disso na minha vida precisava conhecer um outro lado da vida que eu nunca tinha tido contado.

Quando a aeronave posou eu esperei até que ela encontrasse um lugar para parar e abrir a porta. Eu sentia um frio na barriga ao olhar para fora. Estava tudo escuro. Logo a aeronave abriu as portas e eu desci já sentindo a mudança do clima. Nunca tinha sentido tanto frio na minha vida. Uma brisa fria passou cortando pelo meu rosto. Eu fiquei lá de braços cruzados e a boca temendo esperando minhas malas saírem do jatinho. Logo trouxeram minhas duas malas e uma mochila.

- obrigado – falei colocando a mochila nas costas.

- foi bom te conhecer – falou Robert.

- eu também acho e eu agradeço muito pela conversa que nós tivemos.

- não a de que – falou ele.

- boa viagem de volta amanhã – falei pegando as duas malas de rodinhas e puxando enquanto me dirigia para dentro do aeroporto.

Quando cheguei perto um homem me indicou a portão de desembarque e eu passei por ele. Já dentro do aeroporto eu pensei que o clima ficaria um pouco mais aconchegante, mas estava pior do que nunca porque tinha ar-condicionado.

Eu olhei para os lados e não encontrei ninguém que eu reconhecesse. O relógio marcava 23h58min. Eu soltei as malas e peguei meu celular e disquei o número do meu tio. O telefone chamou umas duas vezes e ele atendeu.

- alô – falou ele.

- tio? Sou eu o Mike, já estou aqui no aeroporto.

- estamos aqui de fora, vem andando e nós vamos te ver assim que sair.

- ok – falei pegando com dificuldade as malas. Meus dedos estavam começando a ficar duros porque o frio estava mesmo de matar.

Eu andei por vários corredores enormes seguindo as indicações no alto. Depois de muito andar eu vi a saída. Ao chegar perto senti o frio cortante do vento passando pelo meu rosto e meus dentes começaram a se bater.

Eu olhei para um lado depois para o outro e em meio algumas pessoas vi dois homens vindo em minha direção. Eu olhei bem e vi que era meu tio e meu primo. Eu fiquei envergonhado. Fazia cinco anos que não os via e quando decidia vir era só para dar trabalho. Meu tio era parecido com meu pai, mas seus cabelos eram de um loiro mais claro e ele usava uma barba no rosto, provavelmente por causa do clima frio e meu primo era como eu, com cabelos negros e com uma barba no rosto, mas seus olhos eram claros, um azul quase branco igual ao do meu tio. Meu primo agora era um homem feito tinha 28 anos se não em engano, nem parecia o garotinho que eu vi cinco anos atrás.

Os dois estavam com calça jeans e camisa xadrez enfiada por dentro da calça, botas e cowboy e cintos com grandes fivelas. Típicos fazendeiros.

Eles vieram na minha direção e eu não consegui esconder o sorriso de felicidade de vê-los. Eles chegaram perto de mim.

- oi – falei olhando para eles, mas para minha surpresa eles passaram direto por mim.

- o que? – falei alto – não eram eles. Eu olhei para trás e os dois homens continuaram andando – que vergonha – falei para mim mesmo vendo eles se afastarem. Eu olhei mais um pouco e percebi que eram eles sim.

- tio Roger – gritei e o homem loiro e o outro de cabelos pretos voltaram dando gargalhadas.

- sabia que era vocês – falei começando a rir – vocês me deram um susto, eu pensei eu tinha pagado um mico.

- foi ideia do meu pai – falou meu primo rindo e estendendo a mão e eu apertei.

- foi um teste para saber se você nos reconheceria – falou meu tio me dando um abraço apertado – senti sua falta – falou ele encostando a barba gelada em mim, eu gemi de frio quando ele fez isso – parece que você está com frio? – falou ele rindo.

- parece? Meus dedos estão quase congelando. – falei mostrando minhas mãos.

- usa minha blusa – falou meu primo Leo tirando um blusão que usava e colocando em mim.

- mas você não vai ficar com frio?

- eu já estou acostumado – falou ele – você via precisar se acostumar – falou ele com um sorriso – aqui em Shelbyville é igual ao deserto, de dia e um calor infernal e de noite um frio assassino.

Eu peguei minha mochila e meu tio pegou uma mala e meu primo pegou outra nós saímos andando em direção ao carro deles, mas tinha uns 10 parados e eu não sabia qual era.

- qual é o carro de vocês?

- Aquele Ecosport.

- bom eu perguntei esperando que me dissessem só a cor ou talvez apontassem, por que eu não sei nada sobre carros.

Os dois deram risadas.

- aquela – falou meu tio desligando o alarme.

- é um carro grande – falei colocando minha mochila no porta malas.

- precisa ser porque a estrada que vamos andar não é para qualquer carro.

Depois que eles guardaram tudo nós entramos no carro. Tio Roger e Leo na frente e eu atrás.

- quanto tempo ainda vamos ter de viagem até chegar em casa?

- aqui é o centro – falou meu tio colocando o cinto de segurança – nós moramos a duas a uma hora do centro e depois que chegamos na área rural andamos 30 minutos por estrada de chão até as fazendas.

- ok – falei colocando o cinto de segurança. Enquanto eles falavam comigo eu pude perceber o sotaque deles. Eles tinham o sotaque de “caipiras” era diferente porque nunca tinha ouvido ninguém com esse sotaque. – estou tão cansado – fale bocejando.

- você vai ver o quarto que preparamos para você – falou meu primo – acho que vai gostar.

- eu vou ter um quarto só para mim?

- é claro, ou achou que colocaríamos você em um colchão na sala ou no sofá cama?

- sinceramente foi o que eu achei.

- bom se quiser nós podemos fazer isso – falou meu primo rindo – nós podemos colocar o cachorro na sua cama e você dorme na sala.

- não obrigado, prefiro a cama – falei rindo.

Eu olhei pela janela e mesmo escuro eu fiquei olhando sem piscar vendo a cidade. Eu olhava atentamente como um cachorro que sai para passear pela primeira vez, estava excitado para conhecer os lugares, as pessoas, saber como era a vida delas. Era sempre bom mudar de ares.

Depois de uma longa viagem chegamos a uma área mais afastada onde quase não tinha civilização e ele virou a esquerda em uma longa estrada asfaltada.

- estamos chegando à estrada de terra – falou meu primo.

Depois de alguns quilômetros viramos para a esquerda outra vez e finalmente chegou à estrada de terra. Ela era instável com subidas e decidas às vezes e tudo o que se via era pasto, árvores e vacas de montão.

Depois de pouco mais de 30 minutos de viagem começamos a passar por várias fazendas. Todas tinham o sobrenome das famílias na entrada e um pouco mais longe as casas enormes e rusticas: Os Johnson foi o primeiro depois foram Os Hughes em seguida Os Russell, Os Meyer, Os Evan e Os Morgan.

- a próxima é nossa – falou meu tio. Nós andamos alguns quilômetros e em seguida meu tio diminuiu a velocidade e o farol iluminou a entrada: Os Fabray. Tinha o esqueleto da cabeça de um touro pendurado na entrada. Logo que o carro passou pela entrada e em seguida foi em direção a garagem.

Nós então saímos do carro e eu peguei a mochila e eles pegaram as malas.

- onde estão os animais?

- estão lá no fundo – falou meu tio quando entramos na casa. – temos porcos, vacas, touros, carneiros, ovelhas e cavalos – falou ele colocando minha mala na sala.

- por falar nisso, seu cavalo está lá no estábulo – falou meu primo.

- tinha me esquecido dele – falei animado.

- agora está muito frio, mas amanhã você pode vê-lo – falou meu tio.

Eu então reparei na casa e ela era feita toda de madeira o chão, as paredes, os móveis. Os móveis e as portas tinham sido talhadas a mão e a decoração era impecável e dava dó de pisar no chão porque até ele parecia uma obra de arte.

- gostou da casa? – perguntou meu tio.

- sim é muito bonita. Ela está bem diferente de quando eu vim aqui na última vez.

- está sim passamos por uma reforma – falou ele.

- ficou muito linda.

Meu primo chegou com a segunda mala e colocou no chão.

- bom Mike – falou meu tio – agora que chegou eu quero te dizer umas coisas que precisa saber.

- ok – falei prestando atenção.

- olha não sei se você costuma dizer isso, mas as pessoas da cidade grande nos chamam de caipiras, eu particularmente não em importo, mas nunca chame alguém disse e nem se refira alguém.

- ok – falei.

As fazendas que passamos são de famílias que moram aqui a anos e todos nós nos conhecemos e somos amigos, você vai conhece-los no tempo que estiver aqui, faça amizade com eles e os filhos deles, são todos gente de bem, só tente ficar fora de confusão quando estiver na cidade nada de brigas ok?

- ok, nada de brigas. Essa vai ser fácil.

- Meu filho vai te levar para passear por algumas coisas que tem aqui, bares, festas, feiras todos tem muita dança Country e eu pedi que ele te apresente aos amigos deles.

- entendido – falei.

- nós compramos roupas para você, porque você não vai ficar andando por ai com roupas de cidade grande. Compramos botas, cintos, calça jeans, camisas e até chapéus.

- ok, vai ser bom mudar meu estilo.

- bom – falou meu tio – essas são as regras de fora, agora eu vou dizer as regras da minha casa.

- ok – falei curioso.

- olha eu sei que você é gay e eu convivo com isso desde que descobrimos, mas enquanto estiver dentro dessa casa não quero que fale sobre homens ou traga eles aqui. Não queremos ficar mal falados pelos vizinhos, eu sei que você é judeu, gay e não sei mais o que, mas enquanto estiver aqui você tranza com mulher como deus nos fez, acredita em jesus e come carne de porco.

- tudo bem – falei sentindo minha animação inicial sendo cortada e logo o sorriso do meu rosto desapareceu e fui inundado por um sentimento de tristeza, se eu soubesse que não poderia ser eu mesmo nunca teria vindo para cá. Sempre pensei que meu tio me aceitasse como sou, mas parece que era tudo fingimento dele com o meu pai.

- pai ele vai levar a sério – falou Leo rindo.

Meu tio deu um passo até mim e colocou a mão no meu ombro

- é brincadeira filho – falou ele para mim rindo.

- você quase me matou – falei sentindo duas lágrimas caindo do meu rosto – não era um choro de tristeza e sim de alivio.

- não precisa chorar – falou meu tio me abraçando e rindo da minha cara.

- desculpa – falei abraçando ele – você me assustou mesmo. Eu pensei tipo: “preciso voltar para casa.”.

- desculpa – falou meu tio rindo – mas você vai ter que se acostumar com as brincadeiras

- e o senhor vai ter que se acostumar ao meu sentimentalismo exagerado – falei limpando os olhos.

- queremos que você fique a vontade – falou Leo – colocamos na parede do seu quarto fotos e pôsteres de homens vestidos de cowboys sem camisa e alguns até sem cueca, não foi fácil encontrar, mas está lá para que se sinta em casa.

- mal posso esperar para ir para meu quarto então, só faltou colocarem um cowboy de verdade na minha cama – falei rindo.

- ai você vai ter que encontrar sozinho – falou meu tio pegando a mala e rindo.

Nós subimos as escadas e logo chegamos ao meu quarto. Tinha guarda-roupas, cama de casal e até um banheiro enorme.

- vou me sentir em casa – falei colocando a mochila em cima da cama.

- esperamos que sim – falou meu tio.

- obrigado.

- eu quase me esqueci – falou meu tio – amanhã seu primo vai ensinar algumas coisas para você ajudar aqui na fazenda.

- tudo bem – falei sorrindo.

- não se preocupa eu vou te pagar como eu pago as outras pessoas.

- não precisa tio, eu trabalharei para pagar a estadia e a alimentação.

- até parece que eu cobro de você por estar aqui. Eu vou te pagar porque assim você tem seu dinheiro e não precisa se estressar trabalhando para outra pessoa.

- sendo assim eu aceito – falei com um sorriso no rosto.

- amanhã é cedo primo – falou Leo – ás 05h00min eu te acordo.

- mas eu vou dormir só três horas?

- ninguém disse que a vida aqui seria fácil – falou ele rindo.

- ok então.

- você quer comer algo? – perguntou meu tio.

- não obrigado, eu comi algumas coisas no avião e não estou a fim de comer agora. Vou tomar um banho e depois vou me deitar.

- não precisa se preocupar com o frio da noite é só ligar o aquecedor.

- vou sim - falei

- boa noite – falou ele fechando a porta.

Eu então tranquei a porta e fui para o banheiro tomar um banho quente. Tinha uma banheira no banheiro e eu decidi ficar um pouco de molho e logo eu comecei a cochilar e decidi tomar o banho no chuveiro.

Depois do banho tomado e os dentes escovados eu arrumei minha cama e logo me deitei apenas com a luz do abajur acesa. Eu fiquei pensando em várias coisas e pessoas. Pensei em Roman e em Felix. Afinal eu tinha tido um amor que transcendeu os anos e durou até o dia que a morte nos separou. Eu admito que ainda doía pensar em Roman, imaginar que nesse momento ele poderia estar com outra pessoa. Nesse momento ele estaria esquentando alguém com seu corpo do mesmo modo que ele costumava me esquentar quando o clima estava frio.

Era uma droga, sempre que terminava um relacionamento eu me sentia um lixo e ficava pensando nas coisas que eu poderia ter feito para melhorar e que o fim não acontecesse. eu pensei a mesma coisa quando Felix morreu. Talvez se eu tivesse insistido um pouco mais ele tivesse criado coragem e deixado á esposa. Pode parecer egoísmo porque ele tinha uma filha, mas ao mesmo tempo eu pensava em como Felix era infeliz no casamento. Talvez ele tivesse partido desse mundo um pouco mais feliz, mas eu pensava também que podia ter sido pior, eu poderia não tê-lo conhecido.

Eu fiquei pensando sobre todas essas coisas que aconteceram no passado e sobre as coisas que tinham acontecido naquele dia. Eu fechei os olhos por alguns instantes e pensei: “tenho que colocar o celular para despertar”, “tenho que colocar o celular para despertar”, “tenho que colocar o celular para despertar”... e foi assim que eu dormi e não coloquei o celular para despertar.

Comentários

Há 1 comentários.

Por limaajonas em 2014-03-28 23:06:51
*--* posta mais please haha