CAPÍTULO 04: De Volta

Parte da série Paixão Secreta

Havia se passado uma semana e era segunda novamente. Eu tive muitos dias para pensar em como eu seria visto na empresa. As piadas não iriam acabar, talvez eu não ouviria ou veria nada, mas continuariam e desde que eu não ouvisse sobre eu não me importaria, afinal o que os olhos não veem o coração sente.

Eu me levantei 06:00 fui até o banheiro tomei um banho, escovei os dentes e fui até a cozinha para comer algo e meu pai já estava acordado.

- bom dia pai. – falei.

- pai? Não me chama mais de paizão?

- é seu castigo por ter ido ao meu trabalho.

Eu me sentei de frente para ele do outro lado do balcão e coloquei um copo de leite com achocolatado.

- não precisava ter acordado tão cedo.

- eu me esqueci de te avisar que eu vou te levar hoje. Uma carona sempre é bem vinda.

- obrigado – falei.

Depois que nós comemos eu subi ás escadas escovei meus dentes e peguei meu terno e minha gravata que tinha chegado da lavanderia dois dias atrás e fui até o carro do meu pai. A caminho do trabalho iniciei uma conversa.

- o senhor vai trabalhar hoje?

- vou sim.

- em casa? – sim.

Logo chegamos á empresa e meu pai estacionou o carro do lado e nós dois saímos do carro.

- o senhor vai me levar lá em cima? – perguntei.

- não preciso – falou meu pai tapando o sol em seu rosto com uma mão e com a outra apontou para Adam que saia de seu carro e vinha em nossa direção.

- bom dia – falou Adam apertando a mão do meu pai. – tudo joia Mike?

- sim.

- fico feliz que esteja de volta.

- obrigado.

- o senhor quer subir para tomar um café? – perguntou Adam

- vamos pular as formalidades afinal nós temos praticamente a mesma idade, pode me chamar apenas de Larry.

- aceita Larry?

- não, obrigado, preciso chegar em casa e trabalhar em novos cartoons.

- bom, nesse caso, foi bom ver você Larry.

- digo o mesmo – falou meu pai.

- até a noite filho.

- até a noite paizão – falei baixo e dei um abraço nele e um beijo no rosto.

Ele entrou no carro e partiu e Adam e eu fomos em direção à entrada. Eu desci no 5º andar para vestir meu terno e Adam subiu até o 20º andar.

Eu entrei no elevador que já tinha alguns estagiários. Eu entrei e eles ficaram em silêncio até que desceram no 20º andar. Eu achei estranho, mas eu já esperava por isso.

Eu desci no 20º andar e fui até minha mesa, liguei o computador. Minhas coisas estavam fora de lugar, Sabrina tinha mesmo passado todo aquele tempo. Eu arrumei minhas coisas e logo o elevador se abriu e todos apareceram e vieram até mim.

- bom dia – falei para Gray que apertou minha mão. – senti sua falta cara.

- também senti, é tão chato ficar em casa sem fazer nada.

Steve veio e apertou minha mão.

- beleza? – falou ele.

- sim e você?

- estou ótimo.

Eles entraram na sala junto com Vanessa que também me cumprimentou. Passado alguns poucos minutos Xavier chegou.

- bom dia Mike.

- bom dia senhor. – ele veio até mim e apertou minha mão forte.

Ele também entrou na sala e como eu esperava alguns minutos depois meu telefone tocou e Adam pediu para que eu fosse até a sala.

- com licença falei entrando.

- sente-se aqui – falou Adam mandando me sentar na cadeira de frente para ele de modo que todos estavam em pé.

- Mike, eu gostaria de dizer que você não precisa mais se preocupar, os responsáveis já foram demitidos.

- como o senhor descobriu?

- eu disse que ia usar as armas que eu tinha. Foi fácil.

- mas não vai fazer falta?

- eu demiti 6 pessoas, incluindo Hunter que tratou de dedar os amigos.

- nós já recebemos mais de 40 currículos – falou Xavier.

- bom, eu tenho que agradecer – falei – mas eu tenho que pedir desculpas pelo meu pai ter vindo até aqui.

- não precisa se desculpar, eu também sou pai e sei como seu pai se sentiu. Imagina descobrir que o filho é falado como uma puta no trabalho, como um viado que dá o rabo para manter o emprego.

Adam usou exatamente essas palavras. Era como se a admiração que eu tinha por aquele homem tivesse se despedaçado dentro de mim como caco de vidros.

- você é um rapaz bom e responsável Mike, você não merece ser comparado com esse tipo de gente indecente.

Todos riam um pouco quando ele falava aquelas coisas, eu tentei forçar uma risada, mas não consegui. A única que não riu foi Vanessa que já desconfiava.

Ouvir aquilo me doeu bastante, era pior do que levar um tiro, eu iria ficar pensando naquilo o dia inteiro, iria ficar remoendo dentro de mim, então decidi abrir logo o jogo, para que não precisa-se que meu pai viesse no meu trabalho outra vez.

- senhor com todo o respeito, mas essas palavras que disse agora me doeram muito.

Todos pararam de rir e prestaram atenção em mim. Eu estava nervoso, mas eu tinha que fazer o que tinha que ser feito, doesse a quem doer.

Eu vi que a expressão de Adam mudou.

- desculpe, mas eu sou gay e posso te garantir que não tem nada de indecente no meu comportamento.

Todos ficaram em silêncio e Adam mudou sua expressão transparecendo um rosto arrependido.

- Mike, eu não quis... não teria... – falou ele se concertando na cadeira.

- não adiantou muita coisa ter demitido pessoas se eu vou ser ofendido por você que é meu chefe.

Ficamos todos em silêncio e eu sentia algo dentro de mim, que não me deixava calar a boca e agora que eu tinha dito tudo aquilo, só restava apenas uma coisa para ser dita.

- sendo assim... Eu me demito. – eu disse isso pegando o meu crachá e o cartão que eu usava para entrar no prédio e me levantei e sai pela porta.

Eu fui até o balcão dei a volta e peguei minha mochila e comecei a colocar algumas coisas dentro quando Xavier saiu pela porta andando rápido e foi até mim.

- Mike, meu irmão não quis dizer isso.

- vocês são advogados e podem estar com medo que eu processe vocês, eu posso, mas não vou fazer isso. Eu realmente aprecio tudo o que fizeram por mim.

Adam e Vanessa saíram da sala e vieram até mim.

- Mike por favor – falou Adam se aproximando.

Eu não falei nada e apenas continuei colocando minhas coisas na mochila.

- Xavier, Vanessa por favor, me deixem conversar á sós com ele – falou Adam um pouco arrogante.

Ele deu a volta no balcão e me chamou para perto da parede e me chamou para junto dele e chegou perto de mim e falava em um tom baixo de modo que apenas eu escutasse.

- Mike, pelo amor do que você acredita, não vá embora.

- eu não posso continuar sabendo que o senhor pensa daquele jeito, se um dia você disser algo parecido perto do meu pai, ele é capaz de ir pra cima de você.

- me perdoa, eu não quis dizer aquilo, é que achei que estávamos todos entre amigos e héteros.

- quando está com seus amigos héteros é assim que você fala o meu tipo de gente.

- eu não sei o que dizer para concertar o que eu disse.

Eu respirei fundo e tentei me acalmar. Estaria eu equivocado?

- eu sinto muitíssimo, fique, eu te dou um aumento de 50%.

- 50% para ficar ouvindo o que eu ouvi?

- eu não penso daquele jeito, é que costumamos fazer esse tipo de brincadeira.

- para se sentir superiores? Fazer essas brincadeiras infla seu ego o suficiente? Se achar melhor do que os gays realmente faz com que você se sinta melhor consigo mesmo?

- Mike, você entende... essas brincadeiras surgem quando o assunto surge.

- quer saber? Eu não entendo. Nunca entendi, não sei o que tem de engraçado. E seu eu dissesse para você que vive uma vida indecente traindo sua esposa? Que você não merece o que come?

- me perdoa Mike. Eu realmente não tive muito contato com gays em minha vida, só no colegial e você sabe como é. Ou você zoa os gays ou você se torna um deles. Eu não fui homem o suficiente para defender os gays que sofriam bullying e acabei me tornando um bully. Eu sei que tenho muito que aprender e vou aprender, especialmente pelo tipo de pessoa que você é. Se todos os gays forem como você, responsáveis, trabalhadores, humildes... o mundo será melhor se estiver cheio deles.

Eu olhei para baixo e fiquei encarando o chão, já estava me arrependendo de tudo o que tinha dito para ele.

- me desculpa pelo o que eu disse – falei.

- depois do que eu disse, você é que precisa aceitar minhas desculpas. Você não sabe o quanto eu estou envergonhado pelo o que eu disse, quando você me falou que é gay eu quase morri por dentro, me senti impotente e no colegial outra vez.

- mas dessa vez o senhor fez a coisa certa. – falei.

- vivendo e aprendendo. – falou Adam – batendo a mão em meu ombro e mantendo ela. – posso contar com você?

- pode sim. – respondi.

- obrigado – falou Adam.

Ele me acompanhou até a sala dele aonde eu pude pegar meu crachá e voltei para a mesa.

Os outros estavam em frente ao balcão conversando. Eles se despediram e logo estava de volta ao trabalho, pronto para outra semana.

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