Uma Morte Na Família [Capítulo 19]

Parte da série Doces Sonhos

Passou-se dois meses que eu tinha saído do hospital todo mundo estava me apoiando muito especialmente Jay. Eu realmente sentia muito pelo filho dele ter falecido, mas parece que ele só se importava comigo. Talvez ele ainda não tivesse processado o que tinha acontecido. Enquanto assistíamos TV por volta das 18:02 eu perguntei se eu podia dormir na casa dele naquela sexta feira.

- Jay, eu posso dormir na sua casa hoje? – perguntei segurando a mão dele.

- claro – falou ele sorrindo – finalmente! Lembra quando eu vim aquí na sua casa jantar e pedir seu pai parar morar comigo? Aconteceu tanta coisa depois daquilo, passaram-se quase um ano.

- é mesmo – falei beijando a mão dele.

Jake e meu pai estavam na cozinha conversando com suas namoradas. Jake estava namorando uma amiga de muitos anos, da época em que ele se alistou chamada Zoey, e meu pai namorava a Lara.

Todo mundo tinha conversado muito comigo sobre Kenny, meu pai pediu desculpas por ter me exposto, Jay perguntava se eu realmente me sentia bem e Jake a toda hora me dizia para não se preocupar.

Por volta dás 20:00 nós jantamos todos a mesa. E conversávamos sobre tudo. Às vezes eu pegava alguém olhando para minhas cicatrizes confesso que aquilo me incomodava, mas o que eu podia fazer?

- como está Kyle? – perguntou meu pai para Lara.

- está ótimo - falou Lara olhando pra mim – ele disse que vem te visitar ainda essa semana.

- vou ficar esperando. – falei sorrindo.

Depois do jantar eu arrumei uma mochila com algumas roupas e assim que eu desci ás escadas para irmos para casa de Jay eu ouvi uns barulhos do lado de fora de minha casa. Eu joguei a mochila no sofá e abri a porta. Tinha duas pessoas sentadas na calçada em frente minha casa. Elas riam e conversavam.

- boa noite – falei fechando a porta da sala e indo até eles.

Eles se levantaram; era um homem e uma mulher que aparentavam ter a mesma idade que eu.

- boa noite – falou a garota de cabelos castanhos que iam até os ombros, olhos verdes estendendo a mão.

- me desculpe, mas eu não gosto muito de tocar as pessoas.

- não tem problema - falou ela sorrindo – meu nome é Marisol.

- boa noite Marisol meu nome é Jack.

O garoto tinha cabelos pretos, olhos castanhos escuros e a pela morena clara.

- meu nome é Skyler, mas pode me chamar de Sky.

- eu desculpe, mas parece que nunca ví vocês por essas redondezas – falei sorrindo.

- você não é o garoto do noticiário? Que foi atacado em casa? – falou Marisol.

Eu dei alguns passos pra trás.

- me perdoe – falou ela – eu não estou jugando nem nada.

- não tem problema – falei dando um sorriso forçado – o que vocês fazem sentados aquí uma hora dessas?

- nós gostamos de andar pela vizinhança à noite. Geralmente nós ficamos em casa não gostamos muito de sair – falou Sky.

- eu também – falei sorrindo – gosto mais de ficar em casa.

- posso perguntar outra coisa? – falou Marisol.

- pode sim.

- você ainda está com o psicólogo bonitão? O ex-marido da mulher que te atacou.

- estou sim – falei sorrindo – ele está lá dentro.

- puxa cara não sei se conseguiria passar pelo o que você passou.

- eu também achei que não conseguiria – falei sorrindo. – posso perguntar uma coisa?

- você já perguntou! – falou Marisol rindo de mim.

- ok – falei rindo também – vocês dois são namorados?

- não – falou Sky – apenas amigos.

- você quer ser nosso amigo também? – perguntou Marisol.

- correndo o risco de parecer o cara mais carente do mundo... Sim.

- ótimo. Todos os dias à noite vamos nos encontrar na praça para conversarmos.

- ok – falei sorrindo – vocês não querem entrar? eu posso apresentar vocês para meu pai, meu irmão e até o psicólogo bonitão.

- não podemos, temos que ir! fica pra outro dia ok? – falou Marisol se afastando e sorrindo.

- tudo bem. – falei sorrindo. – até amanhã.

- esperamos você lá! – gritou Sky acenando.

Eles foram andando pela rua e desapareceram.

- com quem você estava conversando? – perguntou Jay saindo pela porta da frente, me abraçando pro trás e dando um beijo na minha orelha.

- dois amigos. Quer dizer... acabei de conhece-los, mas acho que somos amigos.

- isso é bom – falou Jay me puxando pra dentro.

- vocês já vão? – perguntou meu pai!

- sim – falei dando um beijo nele se despedindo.

Eu fui até meu irmão e dei um beijo no rosto dele se despedindo também. Dei um beijo na Lara e na Zoey. Depois de tudo o que aconteceu comigo eu me despedia das pessoas como se fosse à última vez.

Assim que chegamos ao apartamento de Jay ele mostrou onde ficava cada coisa, menos um dos quartos.

- pode ficar a vontade – falou ele tirando a camisa – eu vou tomar um banho e depois você pode.

Ele entrou no banheiro e eu saí do quarto e fui até a sala. Eu estava curioso para ver o quarto que ele não tinha me mostrado, eu tinha quase certeza que era o quarto do Roger. Assim que eu ouvi o barulho de água no chuveiro eu fui andando pela sala e cheguei até no quarto e abri a porta. Era realmente o quarto do Roger, mas o que me espantou é que o quarto tinha algumas coisas caídas, inclusive um pouco de sangue seco no chão. Ele não tinha limpado o quarto, parece que ele tinha apenas fechado à porta para o que tinha acontecido com Roger.

Antes que ele saísse eu fechei a porta e voltei para o quarto e sentei na cama. Ele saiu do banheiro só de toalha e secando o cabelo com outra.

- pode ir – falou ele.

Eu entrei no banheiro e comecei a me lavar. Depois de tomar banho eu saí do quarto e Jay estava apenas de bermuda no quarto sentado na beirada da cama sem expressão no rosto.

- tudo bem? – falei estendendo a toalha na cabeceira da cama.

- você entrou no quarto do Roger? – perguntou Jay.

- entrei. Me desculpa – falei cruzando os braços. – eu não queria me intrometer.

- mesmo assim você se intrometeu? – falou ele ainda sentado sem olhar pra mim.

- sinto muito – falei.

- eu não estou me sentindo muito bem – falou Jay se levantando – como não tem quarto de hospedes eu vou dormir no sofá.

- não precisa – falei descruzando os braços – a casa é sua eu durmo no sofá.

Eu falei isso e ele ficou calado olhando pra baixo. Eu dei a volta na cama e abri o guarda-roupa pegando um travesseiro e um cobertor e saindo do quarto.

Eu me sentei e retirei o tênis que eu usava, coloquei o travesseiro e me deitei me cobrindo. Eu sentia muito por ter me intrometido naquele assunto que pra falar a verdade não tinha nada a ver comigo.

Eu ví quando Jay fechou a porta do quarto, trancou e apagou as luzes. Eu demorei há dormir um pouco porque estava chateado por ter ferido os sentimentos dele. Essa jamais foi minha intenção, mas eu sabia que Jay não tinha superado a morte do filho, na verdade ele nem tentou e isso me deixava triste e pra baixo. Depois de alguns minutos que ele se deitou eu dormi profundamente imaginando milhões de coisas que deviam estar passando pela cabeça dele.

Era por volta dás 14h50min e eu dormia profundamente quando ouvi um barulho. Eu abri meus olhos bem devagar e ví que a luz do quarto de Jay estava acesa então decidi voltar a dormir. Eu fechei novamente meus olhos para continuar a dormir, mas me surpreendi com Jay em pé ao lado do sofá.

- Shhhhhh – falou ele se agachando ao lado do sofá ficando na altura do meu rosto – me perdoa;

Ele disse isso alisando meu rosto com sua mão gelada.

Como eu estava com sono, meio dormindo e cansado eu dissessem me preocupar com nada:

- você tem o direito de ficar bravo, não precisa pedir perdão. Eu estou cansado das pessoas ficarem me pedindo perdão porque se sentem mal por mim.

Eu disse isso e me virei pro outro lado. Apesar do sofá mal me caber ele levantou meu cobertor e se deitou atrás de mim me encoxando, entrelaçando seus dedos no meu. E com o bafo quente na minha nuca disse:

- eu não quero e não posso ficar com raiva de você. Eu me arrependo do que fiz com você não é porque eu sinto pena, mas por tudo o que você passou e continua aquí de pé. – falou ele cochichando e beijando minha nuca.

- tudo bem – respondi ainda de olhos fechados.

- vamos pra cama! – falou ele se levantando e puxando minha mão me fazendo ficar de pé. Ele me guiou até seu quarto e eu me deitei na cama.

Ele acendeu a luz da sala e apagou a do quarto fechando a porta que era de vidro. Ele se deitou atrás de mim e me abraçou.

- me perdoa, eu disse que nunca mais ia te abandonar.

Eu me virei pra ele e ficamos dividindo o mesmo travesseiro. Eu alisei o rosto dele e dei um beijo na ponta do nariz gelado.

- eu não posso nem imaginar a dor de perder um filho. Você pode me abandonar quantas vezes quiser eu sempre vou te perdoar de braços abertos.

- obrigado.

- mas posso te falar uma coisa?

- pode.

- Jay, agora eu estou bem. Eu sei que você não ficou de luto pelo seu filho e você nunca vai conseguir seguir em frente enquanto você não aceitar a perda dele.

- eu perdi um filho – falou Jay.

Eu coloquei minha mão no rosto liso dele.

- sinto muito – disse.

- eu perdi um filho Jack, meu bebê.

- eu perdi meu bebê – Ele disse isso e começou a chorar.

Eu puxei sua cabeça e ele chorou no meu ombro enquanto eu o reconfortava alisando seus cabelos e seu rosto. Nós ficamos acordados por um bom tempo e depois de um bom tempo Jay já não tinha mais lágrimas para chorar. Eu me levantei e fui até a cozinha e tomei um copo de água e peguei um copo de água para ele. Assim que entrei no quarto ele se sentou na cama e tomou o copo de água. Eu me sentei na cama e escorei na cabeceira e Jay colocou o copo no criado mudo e virou pra mim e me deu um beijo na boca. nós ficamos nos olhando e sorrindo.

- posso dormir em cima de você?

- claro – falei em deitando e ele deitou em cima de mim e deitou o rosto em meu peito. Fiquei sentindo o cheiro de seus cabelos em meu nariz e logo pegamos no sono.

Eu acordei com o sol entrando pela janela do quarto. Olhei para o relógio e marcava 8:50. Jay ainda estava dormindo. Ele estava virado de costas pra mim. Eu me levantei fui ao banheiro e depois fui até a sala para assistir um pouco de TV.

Estava passando o noticiário quando uma notícia me a chamou a atenção e levei um susto quando o jornalista falou: Acusado de abuso sexual Kenny Morgan tinha morrido noite passada com um tiro na cabeça dentro da própria casa.

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