Todo Mundo Fala Demais [Capítulo 12]

Parte da série Doces Sonhos

Eu subi as escadas bem devagar. Assim que cheguei ao corredor eu ouvi a voz dele.

- Lara, da próxima vez não precisa vir me perguntar se eu vou atender eu já te disse que não quero ver ninguém.

Eu quase chorei quando ouvi sua voz firme ecoando pelo corredor. Eu cheguei até a porta que estava fechada e bati duas vezes.

- pode entrar Lara.

Eu coloquei a maçaneta e fiquei pensando se teria coragem de abrir aquela porta e percebi que se eu pensasse muito em todas as decisões que eu fizesse eu viveria uma vida com medo então eu abri a porta de uma vez, mas bem devagar.

Assim que eu abri eu o ví deitado na cama assistindo televisão. Ele parecia diferente com a barba no rosto. Quando ele me viu ele ficou pasmo, ele não disse nada e eu também não tive coragem de dizer nada.

Eu fiquei parado na porta esperando para ver a reação dele.

- oi – falei quebrando o gelo.

- oi – respondeu ele se acomodando na cama. – o que você está fazendo aquí? Quer dizer... estou feliz em te ver mas...

- eu me lembrei – falei interrompendo ele. – eu me lembrei de tudo e foi por isso que eu vim.

Eu queria me aproximar dele, mas não queria que ele se irritasse comigo.

Ele ficou sorridente e olhava pra mim sem acreditar no que estava acontecendo.

- vem aquí – falou ele

Eu fui andando até a cama dele e fiquei em pé.

- posso me sentar?

- pode sim – falou ele.

Eu me sentei na cama e nós ficamos nos olhando por um tempo.

- nem acredito que você está aquí – falou ele sorrindo.

- porque você fez isso? – perguntei sem pensar. – eu não teria desistido de você.

- olha só como eu estou agora.

- eu não me importo como você está.

- mas eu me importo – falou ele olhando para baixo.

- o que foi? – perguntei.

- eu era um policial respeitado, era um homem orgulhoso e quando te conheci foi um dos melhores momentos da minha vida, supostamente era para eu ser o homem da sua vida o homem que tentou te proteger e acabou se transformando em um inválido.

- me desculpa – falei limpando uma lágrima do olho – se eu nunca tivesse contado para você... eu devia ter guardado só pra mim.

- não diga isso – falou ele olhando pra mim – me perdoa por não ter sido o homem que você precisava.

- o homem que eu preciso; - disse olhando pra ele.

- eu fui obrigado a me aposentar por causa desse acidente. Eu sinto como se eu tivesse sido castrado, se eu não consegui ser o homem que você precisava no passado imagina agora.

- não diz isso. – falei olhando fundo nos olhos dele.

- você não vai querer isso, olha minhas pernas eu não ando mais. Preciso de alguém para fazer tudo por mim. Minha mão direita fica tremendo – ele disse isso me mostrando a mão que tremia a cada 10 segundos mais ou menos.

- por favor, não me afaste outra vez por causa disso. Não pense que você não me ajudou a superar meus problemas, você ajudou mais do que você imagina.

- sabe, às vezes eu agradeço por ter acontecido esse acidente porque eu ia matar aquele desgraçado com minha própria arma.

- não se preocupa com ele – falei tentando o acalmar – eu contei tudo para o meu pai e meu irmão aquele bastardo do Kenny já está mais do que preso. A morte não seria uma punição justa para ele.

Ele olhou sorrindo pra mim.

- você progrediu bastante quanto a sua doença.

- verdade – falei arriscando a fazer o primeiro contato físico. Eu coloquei a mão sobre a dele. A mão dele estava suada. – está vendo quase não me importo mais de tocar as pessoas.

- comigo não conta – falou ele sorrindo – você nunca teve problemas para me tocar pelo o que eu me lembro.

Eu dei um sorriso pra ele apertando a mão dele e ele correspondeu apertando a minha. Ele abaixou a cabeça e olhou para a nossas mãos juntas. Ele pegou minha mão e deu um beijo nela.

- você não sabe o quanto eu sonhei com esse momento, o momento em que eu fosse te ver outra vez.

- eu não posso dizer o mesmo já que não me lembrava de nada.

Ele deu um sorriso e segurou minha mão mais forte. Ele me olhava quase que sem piscar. Nós não falamos nada e apenas ficamos admirando um ao outro. Eu me aproximei um pouco dele. Ele continuou me olhando com a mesma feição de quando estávamos perdidamente apaixonados... definitivamente continuávamos apaixonados um pelo outro.

Eu fui me aproximando o rosto dele bem devagar. Eu fui me aproximando cada vez mais olhando nos olhos verdes dele e logo senti seu bafo em meu rosto e demos um selinho.

Ficamos nos olhando sentindo o bafo quente um do outro.

- você deve ter me achado desleixado com essa barba.

- na verdade te achei uma graça com essa barba – falei isso dando outro selinho na boca dele.

Este selinho levou a outro e a outro e logo começamos a nos beijar de língua. Era um beijo calmo, quente e apaixonado.

Nós ficamos nos olhando por alguns segundos.

- Henry sabe que você está aquí?

- ele está lá embaixo com Laura.

Ele ficou em silencio por alguns segundos.

- se você não quiser vê-lo ele vai entender.

- por favor – falou ele – é difícil olhar para seu pai depois de todo esse tempo. ele me conheceu como um homem forte e capaz e agora ele só vai ver o que sobrou de mim.

- por favor não fica falando isso. – eu disse isso dando um selinho nele.

Ele não me tocava com a mão direita.

- adivinha? – falei sorrindo – meu irmão e eu estamos nos dando melhor.

- sério – perguntou ele rindo. – que bom.

- verdade – falei sorrindo – só não imaginava que uma tragédia era o que iria nos aproximar.

- tragédia?- falou ele.

Eu fiquei pensando se diria ou não. Que diabos, é claro que eu iria contar eu estava muito empolgado.

- Kenny também abusou dele quando ele era criança.

- sinto muito – falou Kyle.

Eu levantei minha camisa e mostrei o curativo da cirurgia que tinha feito e expliquei o porque. Kyle achou muito nobre da minha parte ter feito o que eu fiz levando em consideração a situação em que me encontrava com meu irmão.

- isso deve ser um sonho – falou Kyle.

- também. – falei – é estranho pra mim, sabe eu não percebo o tempo que passou que eu te vi, pra mim parece que eu te ví ontem pela última vez.

- eu sofri muito todo esse tempo.

- eu imagino Kyle. Você precisava de mim todo esse tempo, você poderia ter me deixado cuidar de você.

Eu dei um beijo no rosto dele e sem pedir permissão deitei a minha cabeça no ombro dele.

- está vendo? Você continua sendo o mesmo homem que conheci. Eu me sinto seguro quando estou com você.

Eu fui embora da casa do Kyle feliz por tê-lo visto outra vez. Eu queria dar o espaço que ele precisasse para poder processar o que tinha acontecido afinal não era fácil o que ele tinha passado e ter que abrir mão de mim. Ele teve que abrir mão de ser feliz para que eu fosse feliz.

Assim que cheguei em casa já era por volta dás 20:00. Eu fui para o meu quarto e tomei um banho demorado na água bem quente. Assim que saí do banho e vesti minha roupa meu pai bateu na porta do quarto. Eu abri a porta ele entrou;

- Jack... Jay está lá em baixo.

Eu sequei meus cabelos com a toalha e olhei pela janela e ví as estrelas lá fora.

- e então? – perguntou meu pai.

- fala pra ele que eu já vou descer.

Eu gostava muito de Kyle realmente ainda tinha algo entre nós, mas eu não podia negar que também havia algo entre Jay e eu. Eu me lembrei daquela noite em que eu me machuquei e Jay me levou para o hotel e cuidou de mim a noite inteira.

Eu desci as escadas e ele estava sentado no sofá conversando com meu pai.

- boa noite – falei olhando pra ele.

Ele se levantou com um pacote na mão e me entregou.

- boa noite – disse ele me entregando – eu trouxe os chocolates que você gosta.

Eu peguei e agradeci.

- vou deixar vocês a sós – falou meu pai indo até a cozinha fazer companhia para meu irmão.

- então... – falei sem graça indo até o sofá e me sentando – obrigado mesmo pelos chocolates.

Jay se sentou ao meu lado.

- seu pai me disse que você foi ver Kyle hoje.

- sim – falei sem graça.

- ele está bem? – perguntou.

- sim.

Nós ficamos em silêncio por alguns segundos.

- sobre ontem – falou Jay – eu queria conversar com você.

- tudo bem – falei me acomodando no sofá.

- na verdade será que não podíamos ir para um lugar mais reservado?

- claro – falei me levantando e levando os chocolates para a geladeira.

- filho, depois eu tenho que limpar a cicatriz da cirurgia e fazer um novo curativo.

- se você não se importar eu posso fazer – falou Jay chegando até a cozinha – se Jack não se importar é claro.

- por mim tudo bem.

Nós subimos as escadas e entramos no meu quarto. Eu abri as janelas, pois meu quarto estava meio quente.

- me deixe colocar esse lençol antes de você se sentar – eu falei isso colocando um lençol por cima da cama.

Ele se sentou na cama e eu me sentei do lado dele tirando a camisa. Jay retirou o curativo e enquanto limpava a cicatriz ele começou a falar.

- eu queria me desculpar por ter ido embora daquele jeito.

- não tem problema – falei reclamando um pouco, pois o remédio ardia.

- como psicólogo foi antiprofissional e antiético.

- não tem problema – falei me lembrando da noite passada com mais clareza. Era como se tudo o que me fizesse sentir mal, todas as lembranças ruins desaparecessem com o tempo. Provavelmente era minha autodefesa.

- e como amigo aquilo foi pior. Eu fui desprezível e fraco.

- amigo? – falei desapontado – ok.

- sim – falou ele limpando os pontos – quer dizer… nós nunca fomos nada de verdade, nós nos beijamos, mas nunca chegamos a morar juntos. O destino foi cruel.

- ontem eu te chamei de namorado – falei ainda mais desapontado.

- sabe por que eu fui embora ontem? – perguntou ele.

Eu decidi não tocar mais no assunto de namoro ou sei lá o que, estava mais do que claro que não significava nada pra ele.

- não. – falei seco.

- eu me senti envergonhado – falou Jay.

- se você se sentiu envergonhado imagina eu que passei pro aquilo e ainda te contei.

- não é isso – falou ele quase me interrompendo.

Eu fiquei calado como que pronto para ouvir o que ele iria dizer.

- minha mãe sempre trabalhou fora, ela sempre foi uma mulher forte e independente mesmo depois de casada. Eu sempre fui um garoto caseiro minha mãe nunca me deixou sair para passar o tempo na rua ela dizia que as más influências iriam me desviar do caminho certo. Hoje eu sou grato por isso, hoje eu sou o homem que sou por causa dela, mas de um outro lado isso me prejudicou.

- ai – falei quando ele puxou um dos pontos.

- perdão – falou ele.

- ok.

- então... minha mãe e meu pai sempre trabalhavam muito e para que eu tivesse tempo para estudar e um pouco de lazer eu nunca precisei fazer trabalho domésticos ela tinha contratado uma diarista que ia em casa duas vezes por semana. Era uma mulher que tinha por volta de 35 anos que tinha filhos, ou seja, parecia ser uma boa mulher com ótimas referências. Quando eu tinha 14 anos essa diarista depois de ter feito o trabalho perguntou se podia tomar um banho em casa, pois ela teria que ir para um compromisso depois que saísse de lá e teria que ir direto. Eu disse que tudo bem. Não vi problema nenhum afinal ela já trabalhava para minha família a mais de um ano.

Aquela história começava a tomar um rumo diferente do que eu esperava.

- durante o banho ela me chamou para pegar a toalha que ela tinha esquecido dentro de sua mochila e quando fui até a porta do banheiro para entregar ela me puxou pra dentro dele.

- você tinha 14 anos? Esse é o sonho de qualquer garoto ficar com uma mulher mais velha.

- pra mim não foi assim – falou Jay pegando a gaze e o esparadrapo. – como eu disse eu tinha poucos amigos e não convivia na rua e eu só fui descobrir o sexo com meus 16 anos até essa idade eu só sabia o básico do básico. Eu não fazia idéia do que ela estava fazendo comigo no banheiro eu só sei que gostava.

- mas, você disse que não gostou – falei.

- não. Eu não sabia o que ela fazia, mas eu senti prazer.

Ele ficou um pouco em silêncio e eu deduzi o que ele quis dizer.

- foi igual a mim – falei respirando fundo – quando você ficou mais velho e descobriu o que ela fazia você ficou com ódio.

- por isso eu estava envergonhado – falou ele – eu fiquei puto quando cresci e descobri pelo oque tinha passado. Pra mim é sempre difícil lhe dar com pacientes com vítimas de estupro, mas eu sempre fiz meu trabalho perfeitamente, mas com você foi diferente.

- mas porque você ficou envergonhado?

- antes de você me contar o que passou eu me odiava por ter passado por aquilo, mas depois do que eu ouvi o que você passou me senti patético. Eu não passei metade do que você sofreu.

Agora eu entendi a reação dele na hora que foi embora na noite passada. Eu não o culpava. Ele era meu psicólogo e sempre sabia o que me dizer para me sentir melhor agora ele precisava de algumas palavras.

- não diga isso – falei tentando parecer indiferente já que ele tinha deixado bem claro que não queria mais nada comigo – você é um sobrevivente assim como eu, você deve saber que o ato não importa o que importa é a cicatriz que deixa e pelo que vejo apesar de nossas experiências terem sido diferentes nossas cicatrizes parecem ter sido iguais, até idênticas. Rasgou a nossa alma.

Ele terminou de fazer o curativo.

- pode vestir a camisa – falou ele. Eu vesti a camisa e esperei ele dizer algo.

- você está certo – falou ele. – eu sei disso, mas não sei por que não consigo ser racional quando se trata de você. Eu só estou arrependido de ter sido um covarde e te abandonado.

- não se sinta assim.

Ele não disse nada e ficou olhando para a parede.

- então... acho que é isso. Obrigado por ter esclarecido. Fico feliz de ter compartilhado isso comigo.

Ele deu um sorriso pequeno.

- se você preferir eu posso arranjar outro psicólogo.

- porque? – perguntou ele.

- você mesmo disse que nunca tivemos nada de verdade, só nos beijamos em algumas horas de tristeza. – eu me afastei um pouco dele.

- não foi isso que eu quis dizer – falou Jay – eu sei tudo sobre Kyle. Eu li as anotações que seu antigo psicólogo fez e agora que você reencontrou ele eu não quero ficar entre vocês. Eu sei como você reage a situações onde está sobre pressão. Eu te amo o suficiente para me afastar de você para que não tenha que fazer uma escolha.

- você não tem esse direito – falei olhando para o chão. – você não tem o direito de fazer essa escolha por mim. Eu não sei direito o que eu sinto. Aquí dentro – falei colocando a mão no coração – e aquí – falei colocando na cabeça – está uma bagunça. Eu sinto tantas coisas. Quando eu ví Kyle hoje eu me senti como da primeira vez que o ví. Eu senti um calor no meu corpo, a sensação de nostalgia eu senti apaixonado...

- então sua escolha está feita – falou Jay me interrompendo olhando pela janela.

-...mas quando eu te vejo Jay, é como se eu não sentisse o chão abaixo dos meus pés. Toda vez que te vejo meu coração pula. Eu não sei direito o que eu sinto exatamente no momento. Eu fiquei triste por você ter ido embora e posso ter me exaltado um pouco mais do que devia e posso ter confundido meus sentimentos.

Ele continuou sem olhar pra mim como se estivesse evitando olhar em meus olhos para não se machucar.

- eu não sei o que eu sinto exatamente aquí no meu coração. Eu fiquei muito feliz ter visto Kyle. Não vou mentir eu o beijei. Nós nos beijamos. Foi bom, excelente. Que merda Jay... eu amei Kyle, ele foi meu primeiro amor é como se tivéssemos parados no tempo. Ele fez uma escolha á três anos atrás e meus sentimentos mudaram nesse tempo eu o beijei, mas Jay Rodriguez eu estou apaixonado por você. Jay eu te amo.

Eu estendi minha mão e virei a palma. Ele pegou minha mão e deu um beijo ainda sem olhar pra mim.

- eu também te amo. – falou Jay olhando pra mim com os olhos vermelhos e escorrendo umas lágrimas.

- nunca mais se atreva a me abandonar – falei dando um beijo na mão dele.

- nunca mais – falou Jay – eu prometo.

Nós aproximamos nosso rosto e nos beijamos de língua, um beijo quente e calmo, um beijo apaixonado com gosto de lágrimas. Eu alisei o rosto barbudo dele decima pra baixo. Nós paramos de nos beijar e ficamos com as testas coladas olhando bem perto um para o outro.

- Seja meu primeiro – falei dando um beijo no rosto dele.

- me perdoa – falei me levantando da cama um pouco aflito. – eu não quis dizer isso, quer dizer eu não...

- não tem problema – falou Jay tentando me acalmar.

- a culpa é minha sim – falei alisando minha cabeça – eu posso ter dados falsas esperanças para Kyle. Eu sou muito agradecido pelo o que ele fez por mim, eu o amava, mas não sei se sinto a mesma coisa agora. Quando ele preferiu apagar minha memória de alguma forma esse sentimento foi embora.

- mas você mesmo disse que se beijaram – falou Jay ainda sentado na minha cama.

- eu sei, quando eu me lembrei eu senti uma sensação de nostalgia afinal ele foi meu primeiro amor, foi ele quem deu o primeiro beijo, mas eu não sinto o mesmo que sinto por você Jay.

Eu então fui até a janela respirar um ar mais puro.

- eu tenho que conversar com ele.

- tudo bem, você pode conversar com ale amanha então Jack, eu não tenho pressa.

- tudo bem – falei me sentando na cama – amanhã eu vou ir vê-lo outra vez.

Jay então foi embora e logo me deitei esperando pelo dia seguinte em que eu teria que conversar com Kyle.

Na manhã de sábado me levantei e tomei um café da manhã enquanto conversava com meu pai.

- hoje eu estou pensando em ir conversar com Kyle pai.

- têm certeza? – perguntou meu pai.

- sim – falei tomando um copo de leite – eu conversei com Jay ontem e sinto que não posso seguir em frente enquanto não esclarecer as coisas.

- você estão bem outra vez? – perguntou meu pai.

- sim – respondi com um sorriso – eu tenho medo de ter visitado Kyle em um momento de carência. Eu posso ter dado falsas esperanças pra ele.

- você quer que eu te leve?

- eu gostaria.

- mas, eu só posso agora de manhã. Pode ser?

- acho que sim – respondi. A verdade é que eu estava nervoso. Eu sabia por tudo o que Kyle tinha passado e não queria decepciona-lo, mas eu sabia que era o certo a fazer.

- assim que você terminar me avisa que nós podemos ir.

- tudo bem – respondi. Meu pai se levantou e meu irmão entrou na cozinha.

- bom dia – falou ele.

- bom dia.

Eu me meu irmão estávamos muito bem, mas não tínhamos o que conversar. Afinal nunca tínhamos sido amigos todos esses anos.

- tudo bem? – arrisquei querendo puxar algum assunto.

- tudo e você?

- sim.

Nós ficamos em silêncio e assim foi até que eu terminei de comer. Depois que terminei coloquei luvas na mãos e limpei onde estava sentado e lavei minhas louças. Eu joguei as luvas fora e subi as escadas para chamar meu pai para podermos ir.

Depois de algum tempo dentro do carro finalmente chegamos onde Kyle morava. Ele parou na frente da casa e olhou pra mim e viu que eu estava ansioso e nervoso.

- não precisa fazer isso agora, nem hoje.

- eu preciso – falei respirando fundo – vai ser pior se eu ficar com isso na minha mente.

Nós saímos do carro e fui até a porta e logo Lara atendeu a porta.

- bom dia – falei.

- bom dia – falou ela dando um sorriso.

- o Kyle já está acordado?

- está sim, pode entrar.

Eu entrei e meu pai ficou sentado no sofá com ela enquanto eu subia as escadas. Quando cheguei na porta dele eu bati.

- Kyle sou eu Jack.

- pode entrar – falou ele.

Eu abri a porta e ele estava sentado na cama.

- desculpa – falou ele.

- quer que eu te ajude? Falei indo até a cama.

- se não for incomodar.

Eu peguei as pernas dele e enquanto ele se ajeitava na cama escorando na cabeceira eu coloquei as pernas dele pra cima.

- obrigado – falou ele.

- não foi nada.

- se senta aquí – falou ele batendo na cama.

Eu me sentei do lado dele e tirei meu tênis e subi meus pés.

- que bom que voltou – falou ele sorrindo.

- também estou feliz de ter voltado.

Ele e olhou e se aproximou para me dar um beijo. Ele encostou os lábios nos meus, mas antes que avançasse eu disse que queria falar com ele.

- preciso falar com você – falei.

- tudo bem – falou ele me dando um sorriso.

Eu estava triste por ter que magoá-lo.

- Kyle, tem uma coisa que eu não te disse o dia que eu vim aquí.

- puxa acho que é sério – falou Kyle.

- eu conheci uma pessoa nesse tempo em que não lembrava de nada.

Ele ficou olhando para a TV ligada e não disse nada.

- você gosta dele?

- muito – falei.

- onde você o conheceu?

- ele é meu psicólogo.

Ele ficou sem dizer nada ainda olhando para a TV.

- é por causa da minha condição? – perguntou ele.

- não, claro que não. – falei olhando pra ele. – não tem nada a ver com isso Kyle.

- me desculpe por te perguntar isso. Eu sei que você não é superficial, especialmente com isso.

- não se desculpe, eu é que peço perdão se eu te dei falsas esperanças, eu devia ter sido mais claro quando vim aquí outro dia.

- você não sente nada por mim?

- sinto. Eu gosto de você, você tem uma parte importante da minha vida, mas não te amo como antes.

Ele ficou calado como se estivesse processando tudo o que eu tinha dito.

- sabe, eu pensei que minha vida tinha acabado, até antes de ontem quando você apareceu. Eu ainda gosto muito de você Jack.

- me perdoa – falei.

- não precisa se desculpar. Eu gosto muito de você. No passado eu fiz uma escolha ruim e eu paguei por isso. Tudo o que eu queria era te defender e isso é o que eu ganho.

Eu tinha ficado triste por tê-lo magoado, mas não escolhemos a quem amar.

- então... você estão namorando?

- sim… quer dizer… não pelo menos até que eu conversasse com você.

- eu fico feliz por você Jack, verdade.

- mas, isso não é tudo Kyle. O fato de não namorarmos não quer dizer que não podemos ser amigos. Eu quero estar presente para te ajudar a voltar a fazer tudo o que fazia antes do acidente. Eu sei que não vai ficar 100%, mas você não pode passar o resto dos seus dias deitado e depressivo.

- seu namorado não vai se importar.

- não. Na verdade ele iria adorar te conhecer.

- se você acha que não tem problema eu gostaria de conhece-lo também.

- você pode jantar lá em casa hoje. Eu vou chama-lo para jantar e assim vocês se conhecem.

- tudo bem. Eu vou indo então. Espero você e a Lara em casa.

- que horas?

- por volta dás 20:00

- tudo bem, vou estar lá.

Eu dei um abraço nele.

- me desculpa se eu te magoei, eu estava nervoso e com medo de te magoar, mas devo confessar que me sinto bem.

- não se preocupe com isso – falou ele me dando um beijo no rosto.

- obrigado – falei.

Ele pegou meu rosto e me deu um selo na boca.

- me desculpe – falou ele. – não sei de onde vaio isso.

- eu preciso saber se você realmente concorda com isso. Se eu for ser seu amigo eu preciso saber que você não vai sofrer por me ter por perto.

- me desculpe não devia ter te beijado. Confie em mim. Quando você começou a falar eu realmente pensei que não aguentaria, mas o fato de saber que você está bem, feliz e está disposto a ficar perto de mim para levantar faz eu me sentir bem melhor.

- confio em você. Te vejo hoje a noite então. Beijos

Falei saindo do quarto e descendo as escadas pegando meu pai conversando com Lara.

- como ele está filho?

- bem – falei descendo o último degrau. – Lara você e Kyle vão jantar hoje lá em casa. Não é só para fazer companhia, você está convidada também.

- não se preocupe – falou ela. – estaremos lá.

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