Não É Fácil Ser Verde [Capítulo 11]

Parte da série Doces Sonhos

Eu sinto que vou sufocar se não contar para alguém e eu não quero contar isso para o meu pai e meu irmão;

- tudo bem – falou Jay.

- eu me lembro que houve uma “última vez” que Kenny me tocou.

- porque você destaca “ultima vez” com aspas?

- porque nunca era a última vez. Eu lembro que pedia para Deus para que o titio Kenny nunca precisasse me ver outra vez. Eu lembro que me ajoelhava na cama todos os dias antes de dormir e eu só pedia uma coisa, eu queria que Kenny morresse para que eu não precisasse sentir ele me tocando outra vez. Acho que foi a partir daí que parei de acreditar em Deus.

- você nunca mais pediu para Deus?

- não. Desisti de não ser ouvido e fazia tudo o que Kenny pedia torcendo para que ele não voltasse mais.

- o que aconteceu desta vez que você ia me dizendo.

- bom. Meu pai precisava trabalhar naquela sexta-feira até mais tarde para não me deixar com uma babá ele me deixou na casa do Kenny por volta dás 18:00. Eu me lembro que ele me deixou lá com uma mochila nas costas. Eu tinha 10 anos na época. Ele me deu um beijo e disse para “obedecer o tio Kenny”.

Eu comecei a chorar quando disse isso.

- se meu pai soubesse na época o que ele fazia ele nunca teria dito isso. Jay pegou um lenço no bolso e me entregou. Eu limpei minhas lágrimas e continuei a contar.

- eu entrei e me sentei no sofá deixando minha mochila. Eu estava assustado porque eu sabia que ele faria alguma coisa. Kenny veio até mim com um copo de refrigerante e sentou do meu lado e disse que queria brincar.

- Jack quer brincar com o titio Kenny?

Eu apenas balancei a cabeça concordando.

- hoje nós vamos brincar de seu mestre mandou – falou ele – eu vou ser o mestre e tudo o que eu pedir você tem que fazer.

- eu estava assustado – falei para Jay.

- porque?

- ele ameaçava.

Kenny se levantou e tirou a camisa dizendo pra mim que se eu não obedecesse as regras ele “machucaria o papai”

Ele se sentou do meu lado e tirou a bermuda que ele usava e tirou a cueca também. Eu lembro que ele olhava pra mim como se fosse um predador e eu fosse uma ovelhinha ele pediu para que eu...

- se acalma – falou Jay – se não estiver pronto pra falar não precisa.

- tudo bem – falei engolindo seco sentindo vontade de vomitar. – eu fico enjoado de lembrar disso.

- tudo bem. – falou Jay – quando estiver pronto é só dizer.

- vou continuar.

Kenny abriu bem as pernas e mandou eu me ajoelhar entre as pernas dele e chupar o pênis dele. Eu lembro que mal cabia nas minhas mãos eu lembro que sentia nojo, mas mesmo assim eu o fazia porque eu tinha medo dele machucar meu pai. tinha um gosto ruim, salgado e suado. Eu lembro que não fazia idéia do que eu estava fazendo só sabia que Kenny gostava e muito e sempre no final saia um leite branco. Era isso o que eu pensava.

Desta vez ele mandou eu parar e ficou se masturbando o que na época eu não sabia o que era também... meu pai e eu nunca tínhamos falado de sexo eu era muito novo pra saber o que era isso. Desta vez o leite branco saiu tudo na mão dele.

Eu fiquei calado por um tempo.

- acho que não precisa falar – falou Jay.

- tem só mais uma coisa.

- tudo bem, pode continuar.

Depois que ele lambeu minha bunda ele se levantou e pegou um iogurte Danoninho na minha mochila e abriu colocando o “leite branco” dentro sem misturar me mandou comer.

Eu comecei a tremer e a chorar outra vez.

- você comeu? – perguntou Jay.

- comi – falei chorando – de todas as vezes que ele abusou de mim essa foi a pior. Não foi a última e foi a pior de todas. O mais difícil é crescer e descobrir o sexo. Imagina como eu me senti quando eu descobri o sexo e imaginei tudo o que ele fazia comigo, imagina o que eu senti quando descobri o que ele me fez comer aquele dia. Ele não é apenas um pedófilo ele é um pervertido.

- se sente melhor de ter contado? – perguntou ele.

- sim – falei limpando o rosto.

- acho que descobrimos de onde surgiu o TOC.

- acho que a partir de agora que sabemos o problema será mais fácil de tratar.

Eu balancei a cabeça positivamente.

- como meu terapeuta foi progresso?

- foi sim – falou Jay forçando um sorriso.

- e como Jay... meu namorado? Acho que preciso dele agora.

Jay se levantou e ficou olhando pra mim. Eu ví que começou a chorar. Ele limpava o olho.

- não consigo fazer isso. – falou Jay saindo do quarto.

Eu fiquei surpreso com a reação dele. Realmente não esperava que ele reagisse dessa forma. Eu fiquei triste eu precisava de um abraço. Alguns segundos depois ouvi o carro saindo eu fui até a janela para confirmar e realmente era ele indo embora.

Meu pai e meu irmão entrou porta.

- sinto muito – falou meu pai me dando um abraço. – Jay foi embora.

- ele não gosta de mim mais? – falei deitando a cabeça no ombro dele.

- é muita coisa pra processar. – falou meu pai batendo nas minhas costas. – dê a ele um pouco de tempo.

- tudo bem – falei soltando-o e sentando na cama.

- você precisa dormir Jack – falou meu irmão.

- tudo bem. Eu vou me deitar.

Eu me deitei e assim que eles saíram e apagaram a luz eu me virei para o lado e fechei os olhos tentando dormir. Demorou um tempo, mas finalmente eu dormi. Eu acordei várias vezes durante a noite e ficava acordado pensando em várias coisas.

Se passou quatro dias e como todos os dias eu acordei por volta dás 08:00. Eu tomei um banho e fui até a cozinha tomar um café. Jay ainda não tinha dado noticias e não atendia os telefonemas. Eu não queria pressioná-lo, mas eu sentia falta dele.

- bom dia – falou meu pai.

- alguma novidade sobre o caso do Kenny? – perguntei.

- você vai ficar feliz em saber que você salvou a vida de várias outras crianças, eles encontraram fotos, vídeos e Kenny vai ficar preso por muito tempo.

- que bom – falei sorrindo. – eu sei que o senhor queria mata-lo, mas eu acredito na filosofia do Karma: aquí se faz e aquí se paga. Morrer seria um presente pra ele.

Meu irmão desceu as escadas e se sentou a mesa conosco.

- pai, posso te fazer uma pergunta! Você promete me falar a verdade mesmo que me machuque?

- sim – respondeu ele.

- o que aconteceu com o Kyle? Como ele morreu? Eu não me lembro disso. Quer dizer. Eu lembro do que aconteceu e sei que ele morreu no acidente de moto, mas qual foi a causa da morte?

Meu pai ficou um pouco desconfortável de dizer.

- eu sei que não sou psicólogo, mas acho que esse é um grande passo para você Jack. Lidar com a morte.

- esse é o problema – falou meu pai – Kyle não morreu.

Eu sinto muito por ter escondido isso de você filho.

- Kyle está vivo? – perguntei esperançoso

- sim – falou meu pai. – me desculpe filho, mas esse foi um pedido de Kyle, eu não pude negar.

- como assim pedido? – falei pensando na pior das hipóteses.

Meu pai olhou para Jake e ele olhou de volta.

- por favor pai, me conta o que aconteceu.

- filho, ele sofreu um acidente de moto e teve um problema neurológico, ele precisava de cirurgia urgente no cérebro para par um sangramento, mas o sangramento era em um lugar muito perigoso e havia riscos durante a cirurgia.

- ele está em coma? – falei esperando para que as palavras acabassem com todas as minhas esperanças.

Meu pai ficou calado e se sentou na cadeira.

- ele precisa saber – falou Jake. – nós não temos mais o direito de esconder pai, ele se lembrou de quase tudo. Eu não sei o que aconteceu na verdade eu nem conheço Kyle, mas parece ser alguém importante.

- por favor pai, Jay foi embora. Eu preciso me concentrar em outra coisa. Eu preciso saber.

Meu pai apertou os lábios não querendo falar.

- ele não queria que você sofresse filho.

- ele está mesmo em coma?

- não – falou meu pai.

- Durante a cirurgia a medica conseguiu parar o sangramento, mas infelizmente a cirurgia danificou a parte motora de Kyle e ele perdeu 80% do movimento das pernas e perdeu o controle da mão esquerda... ela tem espasmos e treme.

Eu fiquei olhando pra ele imaginando o pior e no final das contas não era algo tão ruim. Não acredito que todo esse tempo Kyle estava vivo.

- ele está vivo? – perguntei.

- sim – falou meu pai – mas Kyle sabia dos seus problemas e depois da cirurgia ele me prometeu nunca contar o que tinha acontecido.

- mas ele está vivo. O pior seria a morte.

- não pra ele. – falou meu pai. – ele não queria que você se preocupasse com ele.

Aquelas palavra me deram um alivio. Eu sei que o que tinha acontecido com ele era terrível, mas significava que eu poderia falar com ele outra vez.

- eu quero vê-lo.

- não sei se ele vai querer te ver filho.

- eu sei que ele queria me proteger, mas agora que eu sei de tudo eu não vou simplesmente deixar pra lá.

Nós todos ficamos em silêncio por alguns segundos.

- ele ainda mora na mesma casa?

- não sei eu não mantive contato com ele desde aquela época. A única coisa que nós podemos fazer, se é realmente o que você quer, é ir até lá.

- eu quero ir hoje.

- filho se acalme, você tem que processar muita coisa, é muita informação para você. Talvez você queira que eu ligue para o Jay para vocês conversarem sobre isso...

- não pai, Jay foi embora sem me dizer nada. Ele provavelmente deve ter nojo de mim. – eu disse isso sentindo meu corpo todo começando a coçar. – e se Kyle também me achar nojento. E se ele me vir e não quiser mais me ver.

- está vendo? – falou meu pai vindo até mim – é por isso que eu acho melhor você deixar pra lá essa história.

- não pai, eu preciso vê-lo. Eu acho que eu ainda o amo.

- tudo bem – falou meu pai alisando minhas costas.

Eu me assustei um pouco.

- me desculpa – falou meu pai.

- tudo bem – respondi. – mas, eu realmente quero ir. Eu sei que eu estou de repouso da cirurgia, mas eu consigo.

- nós podemos ir hoje de tarde, que tal?

- ótimo – falei dando um sorriso.

Meu pai ficou me olhando com um sorriso.

- eu sou patético. – falei parando de sorrir. – sou tão carente que fico indo atrás de uma pessoa que pode nem me amar mais.

- não pense nisso. – falou meu pai. – não fique se torturando com perguntas.

- ok.

Meu pai disse que iriamos por volta dás 16:00 horas e assim o fez. Meu pai e eu entramos no carro e meu pai dirigiu tentando lembrar o caminho da casa do Kyle.

- você se lembra desse caminho? – perguntou meu pai.

- não muito, algumas coisas parece que eu reconheço.

- todos os dias depois que você conheceu Kyle você vinha para a casa dele. Você realmente ficava melhor quando estava com ele.

- pai

- sim.

- você acha que com Jay eu apenas estava tendo um dejavú?

- só você pode responder isso – falou meu pai.

Depois de uns 20 minutos de viagem finalmente chegamos a um bairro que me lembrei de algumas coisas.

- a casa dele é a próxima – falou meu pai diminuindo e parando em frente a casa dele.

- eu estou nervoso – falei respirando fundo. – e se ele não morar mais aí.

- vamos tirar essa dúvida agora.

Nós saímos do carro e andamos pela entrada comprida de grama. Era um bairro bonito. Todas as casas eram separadas por uma linda cerca viva. Chegamos até a porta da casa e eu bati na porta. Esperamos por alguns segundos e uma mulher abriu a porta.

- olá. – falou ela.

- boa tarde, não queremos incomodar, mas gostaríamos de falar com Kyle.

A mulher deu um sorriso e olhou pra mim rapidamente.

- aguardem só um minuto.

Ela disse isso fechando a porta.

- e se essa mulher for esposa dele?

- filho ele não é gay?

- sim, mas nunca se sabe. E se ele gostar de garotas também?

- se acalma – falou meu pai.

A mulher que atendeu a porta demorou um longo tempo. Depois de alguns minutos finalmente ela apareceu.

- sinto muito ele não está – disse ela.

- então porque demorou? – falei.

- perdão, mas eu não terminei – disse ela sorrindo pra mim. – ele não está, mas acho que ele precisa disso. Falou ela saindo da frente da porta e nos deixando entrar.

Nós entramos e ela fechou a porta.

- gostaria de alguma coisa para beber?

- não obrigado – falei nervoso. Minhas mãos estavam suadas.

Nós nos sentamos no sofá e ela sentou em frente a nós.

- não façam muito barulho ele não sabe que deixei você entrarem.

- você é?

- perdão, meu nome é Lara, eu sou enfermeira de Kyle.

- meu nome é Jack.

- eu sei quem você é. – falou ela sorrindo.

- sabe?

- sim. Foi por isso que deixei você entrarem. Como vocês devem saber devido aos problemas de Kyle ele não pode viver sozinho então a família dele me contratou para morar com ele. É claro que ele nunca quis, mas ele acatou ao pedido da mãe.

- mas, como você sabe quem sou eu?

- Kyle me fala muito de você. Ele me mostra fotos suas.

- ele sabe que sou eu e meu pai que está aquí?

Ela deu um sorriso.

- não. Desculpem-me, mas como eu disse ele precisa de companhia. Ele ficou muito sozinho depois do acidente e não aceita visitas de ninguém. Em todos esse 3 anos ele perdeu todos os amigos e o único momento em que ele esquece de sua condição é quando fala de você.

- será que ele vai querer me ver? – falei.

- pra saber isso você vai ter que ir até lá.

Eu fiquei calado e senti um frio na barriga, mas eu criei coragem e me levantei. Lara se levantou e me explicou.

- é só subir as escadas e virar a direita o segundo quarto é dele.

- é estranho ter escadas, devido ao que aconteceu com ele. – falou meu pai.

- desde que desde o acidente ele só desceu as escadas 2 vezes porque o irmão o obrigou.

- será que eu devo? –falei olhando para meu pai.

- lembra do que eu te falava quando você era pequeno? “seja verde filho”.

- lembro.

Lara deu um sorriso.

- verde? – disse ela

- verde é a cor preferida de Jack e também e a cor da esperança. A esperança é a última que morre – falou meu pai.

- mas quando morre é a que mais machuca – falei indo até a escada.

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