E Se... [Capítulo 24]

Parte da série Doces Sonhos

Fazia duas semanas que estávamos no Hawaii. Nós tivemos dias muito bons e outros muito ruins, mas isso não nos impediu de aproveitarmos todos eles. Como dizem, na saúde e na doença.

- acordei – falei indo até a varanda do hotel que ficava de frente para o mar onde Jay estava sentado vendo o por do sol.

- se sente melhor? – perguntou ele me olhando.

- um pouco. – falei colocando a mão do estomago – estou um pouco enjoado.

- senta aquí do meu lado. – falou ele largando o livro.

Eu me sentei e nós ficamos olhando o sol se por e uma leve brisa passou entre nós.

- você está arrependido? – perguntou Jay.

- de que?

- de não fazer a cirurgia?

- Jay, a cirurgia não vai me curar só vai me dar mais tempo, isso se não me matar.

- me desculpa por perguntar.

- Jay, às vezes na vida a decisão mais difícil é desistir. Eu quero aproveitar o tempo que eu tenho eu não quero ter que ir para uma cirurgia ao qual eu posso não sair vivo.

- tudo bem – falou ele olhando para o sol se pondo e seu último raio de luz iluminando o dia.

Eu me levantei e fui para dentro e me sentei na cama para poder assistir um pouco de TV. Jay sentou-se aos meus pés e colocou-os no seu colo.

- se você quiser não precisamos ir embora amanhã podemos ficar aquí o tempo que você quiser.

- tudo bem, temos que voltar para nossas vidas.

Eu me levantei naquela manhã e como todos os dias assisti Jay dormindo. Depois de algum tempo ele acordou e me deu um beijo e se levantou e foi para o banheiro tomar um banho. Eu me levantei e fui até a sacada e ví ás pessoas na praia se divertindo.

Eu olhei para o meu lado e me ví com 9 anos de idade olhando pra mim mesmo com uma cara de cachorro pidão.

- o que foi pequeno Jack? – falei olhando para ele eu estendi a mão e sacudi os cabelos dele. Minhas alucinações eram tão reais que eu podia sentir como se fosse real.

- vou sentir saudades Jack – falou ele tentando ficar na ponta dos pés para ver o mar.

- eu também vou sentir saudades de muitas coisas. De muitas pessoas.

Eu olhei para o mar azul e via suas ondas quebrando ao longe.

- sabe às vezes eu penso que minha estadia nesse mundo foi desnecessária. Parece que eu nasci para morrer. Só isso.

- não é verdade – falou o pequeno Jack.

- eu não tenho idéia do motivo de ter vindo aquí. Eu não queria deixar esse mundo sem ter deixado minha marca.

- você falou comigo? – perguntou Jay vindo até a varanda e me abraçando por trás.

- eu só estava pensando alto.

- você quer tomar café da manhã aquí no quarto ou lá em baixo.

- lá em baixo

Nós saímos do quarto e descemos até o restaurante do hotel e nos sentamos e logo vieram nos atender. Alguns minutos depois de anotar os pedidos nosso café da manhã chegou.

- então, sobre o que você pensava alto.

- não era nada, algumas bobeiras.

- que tipo? – perguntou ele.

- do tipo que eu não tenho o direito de pensar.

- como assim – perguntou ele dando um gole de algo.

- não quero falar sobre isso.

- diga, se não vou ficar triste.

- promete não ficar com raiva?

- prometo.

- eu estava pensando que quero ter um filho. – falei olhando sem piscar para ver sua reação. – pode ser até o câncer se infiltrando por partes do meu cérebro querendo me fazer querer isso. Eu sei que essa é a última coisa que você quer pensar especialmente por causa de Roger.

- eu estou com raiva na verdade nós poderíamos sim ter um filho.

- para de brincadeira – falei dando um sorriso.

- não estou brincando. Eu falo sério eu adoraria ter um filho com você.

- não alimente minhas esperanças.

- é sério Jack - falou ele chegando mais perto de mim, é possível. Existe tantas maneiras diferentes de termos um filho, adoção por exemplo se você não se importar de ter um filho que não é do seu sangue.

- não me importo com isso, não é um sangue que te torna uma família, mas eu creio que eles adorariam entregar uma criança para um pai em estado terminal.

- me desculpa – falou ele.

- eu é que não devia estar pensando nessas coisas.

Depois que terminamos de comer nos arrumamos e fomos direto para o aeroporto. Assim que chegamos em Boston eu fui direto para a casa do meu pai que agora não podia mais chamar de minha.

- que saudades – falou meu pai me recebendo na porta. – como foi à viagem?

- melhor do que esperávamos.

Assim que viu Jay meu pai mudou o olhar e a feição no seu rosto com certeza eu tinha mudado durante a viagem provavelmente mais magro e mais abatido.

- como você está Jack - Lara também me recebeu na porta.

- você está morando aquí? – perguntei sem pensar.

- sim – falou ela com um sorriso – devíamos ter-te contato.

- não... eu fico feliz, me perdoa por perguntar de uma vez é que não tenho muito tempo.

Realmente eu não fazia muito sucesso com minhas piadas. Porque ninguém deu uma risada sequer. Eu então me sentei no sofá da sala.

- onde está o Jake?

- no trabalho. – respondeu meu pai

- sério? ele está trabalhando de que?

- ele está trabalhando de mecânico ele entrou como sócio de um amigo.

- ótimo.

- o almoço está quase pronto – falou Lara.

- como Kyle está?

- ele está morando com o namorado também.

- fico feliz por ele. – quando disse isso Lara foi até a cozinha

- então – falou Jay – Jack está pensando em ter um filho.

- Jay! – falei olhando pra ele – por favor.

- sério? – perguntou meu pai.

- não quero falar sobre isso.

- eu disse pra ele que nós podemos se ele quiser.

- como eu posso ter um filho nas condições que eu estou?

Todos ficaram calados.

- eu estou morrendo, eu sei que posso parecer a pessoa mais conformada do mundo, mas eu estou morrendo de medo. Acho que ninguém quer saber quando vai morrer de verdade porque é aterrorizante. Isso é uma das poucas coisas que eu tenho certeza nesse momento.

Jay me abraçou e meu pai ficou em pé com os braços cruzados.

- você pode tentar – falou meu pai.

- como? Eu não estou em condições de adotar.

- pode ser através de uma barriga de aluguel. – falou meu pai.

- como? Esse processo leva meses, eu não tenho esse tempo.

- pode ser eu – falou Lara.

Todos nós olhamos para ela.

- eu poderia ser sua barriga de aluguel.

- não precisa – falei. Esse assunto já está mais do que encerrado.

- Jack eu sei que não sou sua mãe e nos conhecemos um pouco, mas eu realmente ficaria feliz de te realizar esse último desejo. – ela falou isso se sentando ao meu lado e pegando em minhas mãos.

- você faria isso? – perguntei sentindo uma vontade tremenda de chorar, mas me segurei.

- sim – falou ela sorrindo.

- mas, eu não teria tempo nem de vê-los nascer.

- você pode! – falou Jay – é só fazer a cirurgia.

- não quero mais falar sobre essa cirurgia – falei me levantando. – eu já tomei minha decisão e não quero ter essa cirurgia.

- Jack! – gritou Jay se levantando – eu sou a única pessoa que ficou ao seu lado desde que isso tudo começou, eu te apoiei incondicionalmente mesmo que te apoiar me rasgasse o coração, mas agora eu não sou só seu namorado agora sou seu marido e estou te pedindo. Se você não fizer essa cirurgia por bem eu arrumo um jeito de um amigo alegar insanidade e você vai ter que fazer ela de qualquer jeito.

Eu fiquei olhando pra ele que estava alterado de pé olhando pra mim.

- eu tenho medo – falei limpando um dos meus olhos – e se eu morrer na cirurgia?

- eu preciso de mais tempo com você – falou ele começando a chorar, mas ainda mantendo a postura. – vamos ter um filho vamos aproveitar um pouco mais eu não tive o suficiente de você.

Eu fui até ele e o abracei.

- tudo bem – falei apertando ele. – eu faço a cirurgia.

- nós vamos ter um filho – falou Jay me beijando ainda abraçados.

Nós tínhamos decidido que não saberíamos quem seria o pai biológico. Eles pegariam o meu esperma e o do Jay e misturariam fazendo a inseminação no útero de Lara. Quando chegou o dia da inseminação todos foram para o hospital, na verdade uma clinica particular.

Tudo ocorreu bem e tínhamos que esperar alguns dias para saber se Lara estava grávida ou não. Minha cirurgia tinha sido marcada para uma semana depois da inseminação e eu estava com muito medo de não acordar mais. Marisol e Sky estavam me dando a maior parte do apoio. Eu os fiz prometerem que se eu não sobrevivesse à cirurgia e Lara ficasse grávida eles fariam parte da vida do meu filho ou filha.

Quanto mais se aproximava o dia da cirurgia mais nervoso eu ficava e com isso mais mal eu passava. Eu estava enjoado e minhas alucinações estavam piorando, mas eu tentava comer bastante para estar forte o suficiente para a cirurgia que o Dr. Max iria realizar Já que ele era neurocirurgião. Minha cirurgia seria em uma terça-feira o mesmo dia que saberíamos se Lara estava grávida ou não.

Finalmente chegou a terça. Eu dormi o máximo que eu pude a noite e antes da cirurgia assinei papéis para não ser ressuscitado em caso de parada cardíaca e em caso de coma os aparelhos fossem desligados.

Apesar de eu querer me despedir de todos nenhum deles aceitou a despedida dizendo que a cirurgia iria ocorrer tudo bem.

Eu estava deitado na maca esperando para me levarem para a sala de cirurgia. Ela estava marcada para ás 10:00 da manhã e Jay entrou no meu quarto.

- não fica assustado! Vai ficar tudo bem. – falou ele.

- eu te amo Jay. – falei levantando a mão para que ele me desse um beijo.

- eu também te amo.

- já sabe o resultado do exame? Lara está grávida?

- ainda não sabemos.

- Jay, se por acaso eu morrer durante o procedimento eu falei o nome que eu quero para nosso filho ou filha para Sky e Marisol.

- quais são os nomes?

- você só vai ficar sabendo quando o bebê nascer.

- você vai me dizer pessoalmente, está ouvindo? Não se atreva a morrer. – ele disse isso me dando um beijo.

Após alguns segundos todos vieram me desejar boa sorte, Lara meu pai, Jake, Zoey, Marisol, Sky e Kyle. Depois de mais alguns minutos de muito nervosismo finalmente veio um enfermeiro ao meu quarto para me levar para a sala de cirurgia. Eu estava muito nervoso.

Assim que eu entrei na sala as enfermeiras e os enfermeiros arrumavam a sala e eu olhava assustado para tudo eram tantos aparelhos e logo apareceu um homem com uma máscara no rosto com uma voz familiar. Era o Dr. Max.

- está pronto Jack? – perguntou ele.

- sim. – respondi respirando fundo.

Eles colocaram uma máscara no meu rosto e logo eu peguei no sono.

Eu abri meus olhos devagar. Minha cabeça doía. Olhei em volta e ví o Dr. Max.

- Jack tudo bem? Consegue me ouvir? – falou Max. – não responde apenas balance a cabeça positivamente.

Eu balancei a cabeça e ele viu meus reflexos e pupila.

- Jack agora eu preciso que diga alguma coisa, qualquer palavra?

Eu me forcei e mesmo muito fraco e com dor disse a primeira palavra que veio a minha boca.

- “obrigado” – falei para o médico.

- Jack a cirurgia correu com sucesso. Conseguimos retirar o máximo do tumor o que deve te dar muito tempo.

- quanto tempo? – perguntei fraco

- mais ou menos 10 meses de vida.

Jay estava logo atrás dele. Ele veio e pegou minha mão.

- você vai ser papai! – falou ele beijando minha mão.

Eu sorri e me forcei a dizer.

- você também.

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