De Volta Ao Começo [Capítulo 23]

Parte da série Doces Sonhos

O médico me disse que a única saída seria a cirurgia, mas os riscos tinham duplicado. Eu tinha decidido não arriscar. Era o fim. Era o meu fim. Ele tinha sugerido que eu poderia continuar com a quimioterapia mais agressiva para que eu tivesse mais tempo. Ou eu vivia mais 6 meses sofridos ou vivia 3 meses como se fossem os últimos na minha vida e era isso que eu tinha escolhido.

Meu pai e meu irmão não tinham aceitado a minha decisão. Meu pai não aceitava que seu garoto caçula estava morrendo. Jay e eu tínhamos decidido nos casar, mas não seria nada religioso já que nenhum de nós acreditávamos em força maior decidimos fazer apenas uma pequena cerimonia e nos casar no civil para apenas alguns amigos e familiares.

Como eu decidi me casar apenas quando meu cabelo crescesse novamente tínhamos que esperar pelo menos 1 mês e já tinha se passado duas semanas. Eu tinha voltado a se parecer comigo eu tinha engordado um pouco e meus cabelos começavam a crescer. Eu tinha apenas alguns poucos meses de vida até que finalmente partisse deixando para trás todos os que eu conhecia e o amor da minha vida.

Eu estava sentado assistindo TV quando Jay chegou do trabalho.

- boa noite – falou ele sentando ao meu lado e ficando junto de mim.

- obrigado por sempre me apoiar – falei dando um selinho na boca dele.

Jay era o único que tinha me apoiado em minhas decisões até agora. Jake e meu pai não me apoiavam nas decisões. Eu sei que era difícil para eles terem que me ver morrer, mas era mais difícil pra mim ver tudo o que eu amo passando diante de meus olhos e tendo que deixa-los mesmo sem querer.

- eu te amo – falou ele fazendo bico e me dando outro selinho – eu estou aquí pra você.

Jay tirou os sapatos e subiu as pernas no sofá.

- você se sentiu mal hoje?

- um pouco.

- o que você sentiu?

- precisamos mesmo falar sobre isso? Eu não quero gastar meus últimos dias pensando em como estou ruim.

- eu preciso saber. – falou ele com seu olhar de cachorro pidão.

- ok. Eu fiquei tonto a manhã inteira agora a tarde bati um papo o Patolino.

- muito engraçado – falou ele me abraçando e beijando meus poucos cabelos.

- logo vou estar pronto para poder casar. – falei deitando a cabeça em seu ombro.

- por mim eu teria me casado há muito tempo atrás, mas você é tão encucado com esse seu cabelo.

Nós assistimos TV e Jay pediu comida japonesa que eu tanto amava. Peixe era também uma das minhas comidas favoritas.

Jay foi tomar um banho e eu fiquei na sala assistindo TV enquanto a comida não chegava. Por volta dás 20:31 finalmente o entregador chegou na portaria.

- boa noite – atendi o interfone – pode deixar ele subir.

Depois de alguns segundos alguém bateu na porta. Assim que eu abri eu levei um susto. Eu ví Kenny segurando a entrega.

- é aquí mesmo? – falou ele com um sorriso no rosto como se nem me conhecesse. Eu confesso que fiquei assustado, mas logo caiu a ficha de que não passava de uma alucinação.

- é sim – falei tremendo um pouco e estendendo a mão para pegar a comida e entregar o dinheiro.

- obrigado – falou ele se despedindo e eu fechei a porta aliviado.

Eu fui até a cozinha e coloquei a comida em cima da mesa e sentei no chão escorando na parede e encolhi minhas pernas deitando minha cabeça com medo. Eu estava assustado e eu tinha que passar por aquilo sozinho. Às vezes as alucinações eram boas e até uma distração, mas às vezes elas eram muito cruéis.

- tudo bem? – falou Jay entrando na cozinha e se sentando ao meu lado.

- não sei – falei limpando meus olhos.

- teve alguma daquelas alucinações?

- sim – falei olhando pra ele.

- foi melhor do que a outra vez que você correu assustado.

- foi sim... um pouco.

- vem, vamos comer porque estou morrendo de fome.

Passou-se 1 semana e eu acordei naquela manhã de quarta-feira um pouco melhor do que nos outros dias. A cada dia que passava eu me sentia pior, mas por alguma razão eu não me sentia assim.

Eu olhei para o lado e Jay ainda estava dormindo, o relógio marcava 07:20. Eu tinha acordado cedo demais.

Eu decidi não me levantar eu apenas me deitei de lado e fiquei olhando Jay dormindo. Enquanto ele dormia tudo parecia tão mais calmo era bom ver ele dormir, toda sua simplicidade e ternura. Eu estava com raiva porque não queria deixar Jay.

Ele então acordou e deitou de lado.

- bom dia – falou ele.

- bom dia – falei aproximando o rosto do dele e dando um beijo na boca dele. Ele não me deixou se afastar me abraçando.

- está tão gostoso aquí eu queria não ter que trabalhar. – falou ele.

- está mesmo uma manhã linda.

- você dormiu bem esta noite?

- por incrível que pareça não acordei nenhuma vez essa noite.

- que ótimo – falou ele alisando meu braço.

- eu acho que estou pronto – falei esperando que ele perguntasse o porquê, mas ele apenas ficou olhando pra mim com um rosto sem feição. – acho que devíamos nos casar esse fim de semana. Apenas de estarmos noivos e você não ter me dado uma aliança ainda eu acho que estou pronto.

- mas foi você quem disse que não precisava de aliança para...

- brincadeira – falei interrompendo ele.

- sábado?- perguntou ele.

- sábado. – respondi sorrindo.

Sábado chegou. Apesar da data ter sido decidida muito em cima conseguimos organizar tudo. Nós alugamos uma chácara perto de um lado e de uma área verde muito agradável, exatamente como eu queria. Meu sonho sempre foi se casar ao ar livre.

Os convidados eram apenas alguns amigos e familiares de Jay. Apenas a mãe de Jay veio. Todos estavam sentados em cadeiras brancas.

- estou feliz por se juntar a minha família – falou a mãe de Jay me abraçando. – você faz meu filho feliz Jack de um jeito que Amy nunca foi capaz de fazer.

- obrigado – agradeci.

Por volta dás 19:00 quando o sol brilhava mais decidimos iniciar a cerimônia. Marisol e Sky vieram assim como Kyle e seu namorado Ricky. Lara que namorava meu pai veio também.

O juiz de paz finalmente apareceu e eu e Jay ficamos em pé de frente para ele. Jay usava um terno preto com gravata azul marinho e eu usava um terno perto com gravata verde a cor dos olhos dele.

A cerimonia se iniciou e enquanto juiz de paz dizia algumas palavras muito bonitas era como se todos os sons e pessoas a minha volta tivessem desaparecido eu só conseguia ver Jay. Aquele era o dia mais feliz da minha vida.

- peguem as alianças por favor – falou o Juiz de paz.

- nós não temos alianças – falei para ele.

- temos sim – falou Jay sorrindo e colocando a mão nos bolsos. – me perdoa, mas eu não podia negar a essa tradição.

Ele abriu uma caixa preta com duas alianças de ouro cravadas a frase: “de volta ao começo”.

- não precisava – falei dando um beijo no rosto dele.

- o beijo não é agora – falou o juiz de paz fazendo todos darem boas risadas.

- perdão – falei abrindo a mão e sorrindo para Jay.

- repita comigo – falou o juiz enquanto uma leve brisa nos pegou de surpresa fazendo aquele momento mais especial ainda

- Eu Jay Silver Rodriguez, recebo-te como meu esposo a ti Jackson Daher, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.

Ele disse isso e colocou a aliança em meu dedo. Eu me esforcei para não chorar.

- agora o outro noivo – disse o juiz.

Eu peguei a aliança e peguei a mão de Jay.

- Eu Jack Robert Daher, recebo-te como meu esposo Jay Rodriguez, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.

Eu coloquei a aliança no dedo dele e Jay apertou minha mão e olhou pra mi. Ele apertou os lábios e eu ví uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Eu limpei usando as costas da minha mão.

- pelo poder investido em mim pelo estado de Boston eu vos declaro agora casados. Podem se beijar.

Nós nos aproximamos e nos beijamos enquanto éramos cobertos por uma salta de palmas e gritos.

Nós nos viramos de mãos dadas e ficamos sorrindo enquanto todos batiam palmas. Meu pai veio até mim e me abraçou chorando.

- eu te amo filho.

- eu também te amo pai.

Todos vieram nos cumprimentar. Todos estavam felizes por nós.

Meu irmão veio com Zoey nos dar os parabéns.

- meus parabéns mano – falou ele me dando um abraço.

- obrigado Jake.

Ele estendeu a mão e me entregou um envelope.

- presente de casamento.

Eu abri o envelope e ví que eram passagens de avião.

- são para o Hawaii – falou ele – o voo sai daqui a uma hora.

- mas e a festa e os convidados? – perguntei.

- que se danem – falou Jake – vão para sua lua de mel e aproveitem o presente.

Jay deu um abraço nele.

- estou feliz por te ter em minha família Jay – falou Jake.

- obrigado – falou Jay para Jake.

Jay e eu seguramos nossas mãos e saímos do aglomerado de pessoas que se sentavam ao som de uma música que começava a tocar. Nós então saímos rumo ao aeroporto. Um carro preto nos esperava do lado de fora da chácara. Jay então entrou no carro e antes de entrar eu dei a volta para olhar atrás do carro. Eu ví que tinha fitas brancas longas e latas amarradas e no vidro estava escrito de branco “mantenha distância, recém-casados transando”.

- eu te mato – falei pensando em Jake.

Eu entrei no carro e sentei do lado de Jay. Ele segurou minha mão e me olhou.

- Jay, porque “de volta ao começo”?

- é assim que eu me sinto todos os dias quando te vejo como se fosse aquele dia em que te beijei pela primeira vez ou quando você disse pela primeira vez que me amava ou até mesmo nossa primeira briga. Eu agradeço por me sentir assim todos os dias.

Nós ficamos nos olhando.

- eu te amo Jack.

- eu também te amo. – falei dando um beijo na boca dele. Um beijo demorado e apaixonado.

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