Bons Tempos Estão Chegando [Capítulo 22]

Parte da série Doces Sonhos

Eu acordei na cama do hospital um pouco desesperado.

- onde estou? – falei tentando me livras das agulhas em meu braço.

- você está no hospital – falou Jay tentando me acalmar.

Eu respirei fundo e tentei me lembrar do que tinha acontecido. Eu olhei para os lados e ví o quarto do hospital, olhei para Jay e ví que seus olhos estavam inchados e vermelhos.

- você estava chorando? Aconteceu alguma coisa com meu pai ou Jake? – perguntei sentindo uma tontura.

- não é nada – falou ele alisando minha testa.

- vocês está me deixando assustado.

- vou chamar o médico – falou Jay saindo da sala.

Eu não me lembrava direito do que tinha acontecido a última lembrança que tinha era de conversar com Marisol e Sky no meu quarto.

- boa noite – falou o médico entrando no meu quarto. – seu rosto não tinha a mesma feição do que a outra vez que o tinha visto. Meu pai e Jake entraram logo atrás dele.

- eu estou bem doutor?

- pode me chamar de Max – falou ele tentando forçar um sorriso.

- ok, estou bem Dr. Max?

- Jack assim que você chegou na emergência você estava desacordado e seus reflexos não respondiam muito bem, eu em tão pedi que fizessem todos os exames possíveis para descobrir a causa do desmaio.

- algum problema? – perguntei assustado.

- sua tomografia computadorizada mostrou que você tem um tumor intracraniano.

- tumor?

- o tumor está localizado na parte do cérebro que cuida dos impulsos provocando principalmente alucinações.

- mas, eu posso retirar cirurgicamente?

- infelizmente esse tipo de tumor tem os sintomas inespecíficos o que pode confundir o tratamento e é sempre descoberto tarde demais. O tumor no seu cérebro está avançado em estágio III.

Aquilo me pegou de surpresa e fiquei chocado com aquilo, não consegui dizer mais nada. Eu olhei para os lados e ví que meu pai, Jake e Jay estavam todos com os olhos vermelhos. Todos eles já sabiam.

- A esta altura você tem duas opções: fazer quimioterapia para ver se os remédios fazem com que o tumor regrida ou a cirurgia que eu tenho que avisar é muito arriscada. A chance de sucesso é de 50%, mas como eu digo é apenas uma estatística.

- quer dizer então que estou morrendo? – quando disse isso Jay apertou minha mão.

- eu sei que é muita informação então vou deixar vocês sozinhos para que decidam o tratamento.

- obrigado – falou meu pai enquanto o médico saía.

Eu ainda estava sem reação à ficha ainda não tinha caído, aquilo era surreal. Como eu pude ser tão idiota? Eu tinha alucinações o tempo todo, eu me via criança com 9 anos, via monstros na cozinha e tive “relação sexual” com meu próprio irmão.

- não temos o que discutir – falou Jake – você vai fazer a cirurgia.

Eu olhei pra ele ainda calado.

- você está bem? – perguntou meu pai.

- talvez vocês possam nos deixar sozinhos por algum tempo. – falou Jay.

Eles saíram do quarto e Jay ficou segurando minha mão.

Eu olhei pra ele e senti uma lágrima correndo no meu rosto.

- eu não sei o que dizer – falei pra ele em meio de soluços.

- não precisa dizer nada – falou Jay beijando minha mão.

- eu não sei o que fazer, quer dizer, ainda não sei se isso é real ou é um sonho.

- é real Jack, infelizmente, mas é real.

- o que eu devo fazer? Quer dizer, depois de amanhã é meu aniversário de 22 anos e eu descubro que estou morrendo?

- não importa o que você escolher Jack eu vou ficar ao seu lado.

- será que já não sofri o suficiente para uma vida só? Mãe morta, estupro, TOC, ex-namorado na cadeira de rodas, memória apagada, em coma, atacado por uma louca e agora que eu encontrei o homem da minha vida eu descubro que vou morrer?

Jay apenas olhou pra mim e com a outra mão limpou os olhos que estavam húmidos. Eu fiquei olhando para seus olhos verdes que agora tinham um toque avermelhado que ao invés de paz agora me passavam um pouco de confusão. Eu não sabia qual cor se sobressaia o verde de um paraíso lindo ou um vermelho de sofrimento, mas uma coisa eu tinha certeza a escolha era apenas minha.

Eu pensei por mais ou menos 15 minutos e pedi para Jay chamar todos no quarto.

- então Jack eu sei que é cedo, mas quanto antes você tomar uma decisão melhor – falou Dr. Max.

- eu já tomei uma decisão – falei olhando para Jake e meu pai. – eu decidi não fazer a cirurgia, eu vou tentar a quimioterapia.

- ok – falou Max segurando minha mão – vamos iniciar o tratamento o quanto antes. Eu vou te dar alta e você pode ir pra casa e voltar na quinta para iniciar o tratamento – ele deu um sorrido e saiu do quarto.

- o que? – falou meu pai – Jay você conversou com ele sobre isso?

- eu não posso – falou Jay – não posso interferir na escolha dele.

- você vai fazer essa cirurgia – falou meu pai. – eu não posso perder meu garoto.

- me perdoa pai, mas eu não quero a cirurgia.

- me perdoa – falou Jake – me perdoa por ter feito você sofrer tanto sua vida toda, por ter sido o pior irmão do mundo. – Jake disse isso limpando os olhos e vindo até a cama e pegando na minha mão.

- eu te perdoo Jake.

Nós ficamos em silêncio por um tempo.

- quantas horas? – perguntei.

- 06h40min da manhã – falou Jay olhando no relógio – nós podemos ir embora se você quiser.

Assim que cheguei em casa entrei no meu quarto e deitei em minha cama tentando acordar de um pesadelo. Eu nem acreditava que aquilo estava acontecendo comigo.

- você está bem? – falou Jay entrando no meu quarto.

- onde está Jake e meu pai?

- estão lá em, baixo.

- eles não querem vir até aquí? – perguntei enquanto Jay sentava na cama.

Ele ficou olhando pra mim e pegou minha mão.

- eles não querem que eu os veja chorando? – perguntei.

- eles precisam de um tempo – falou Jay.

- eu é quem mais preciso de tempo – falei olhando pro Jay.

- então, seu aniversário é depois de amanhã? Dia 14?

- sim – falei suspirando.

- eu não sabia disso agora eu tenho pouco tempo pra comprar um presente. – falou Jay.

Eu olhei pra ele dando um beijo na mão dele.

- me perdoa – falou Jay – não devia ter falado de tempo e... foi mal.

- me perdoa você – falei suspirando mais uma vez olhando para a parede tentando encontrar um sentido para a minha vida. – me perdoa por ter entrado na sua vida, ter matado Roger e agora morrer te deixando sozinho.

- você não matou Roger Jack, não diga isso – ele disse isso soltando minha mão e alisando meu rosto – e você não está morrendo Jack. Você pode se salvar.

Eu olhei para Jay e dei um sorriso e olhei pra a parede onde tinha três crianças em pé olhando pra mim, uma delas era eu com 9 anos.

- acho que é tarde demais.

Fazia 5 meses que eu estava fazendo quimioterapia. Eu nunca pensei em como o tratamento de uma doença poderia nos deixar mais doentes. Meu cabelo tinha começado a cair e eu tinha rapado a cabeça e agora andava só de boné. Eu tinha emagrecido bastante e me sentia sempre fraco apenas deitado na minha cama ou no sofá. Kyle me visitava todas as semanas. Lara e Zoey continuavam indo lá em casa e às vezes conversavam comigo. Até Rupert me visitava já que ele tinha pagado uma indenização. Os advogados do meu pai eram realmente muito bons.

Sempre que ia as sessões de quimioterapia sempre alguém me acompanha às vezes era: Jay, Jake, meu pai, Marisol e Sky. Eu nunca ia sozinho. Jay tinha voltado a trabalhar todos os dias e depois de um dia inteiro de trabalho ele dormia na minha casa todos os dias e cuidava de mim a noite quando acordava passando mal e enjoado vomitando. Às vezes eu me olhava no espelho e não me reconhecia eu parecia diferente. Faltava apenas um mês de tratamento e eu iria refazer todos os exames para saber que a quimioterapia tinha funcionado e naquela quinta feira quem iria me acompanhar era Sky e Marisol.

Eu entrei em uma sala onde tinha outras pessoas que estavam com os remédios em suas veias. Algumas estavam melhores do que eu e outras pareciam muito piores. Eu me sentei e logo a enfermeira colocou os remédios vermelhos para entrar em minha veia. Sky e Marisol de sentaram ao meu lado.

- você está se sentindo melhor esses dias – perguntou Sky.

- é difícil saber, as vezes parece que eu estou bem, mas de repente eu tenho uma recaída e fico tonto ou vomitando.

- você ainda tem alucinações? – perguntou Marisol.

- noite passada eu dormi com George Clooney – falei tentando parecer engraçado, mas eles não se permitiram rir de mim. – é sério, se um dia eu conhecer George Clooney eu vou agradecer por ele ser tão bom de cama.

Eles deram umas risadas.

- eu estou traindo Jay com todos os tipos de pessoas, eu não percebo é tão real que quando eu vejo já aconteceu e eu caio a ficha de que foi apenas uma alucinação.

- Jay percebe quando você está tendo uma alucinação dessas... você sabe de sexo?

- ele se levanta da cama e vai até a cozinha e espera até que eu pare de gemer e gritar. E nem sempre eu tenho alucinações de sexo com pessoas que eu quero. Algumas vezes é bem desagradável.

- me desculpa perguntar, mas me deixou curiosa.

- meu irmão, meu pai e às vezes... – eu parei por um instante.

- Kenny? – perguntou Sky.

- exatamente

- Porque Jay não interfere quando você começa a ter as alucinações? – perguntou Marisol

- Jay disse que não é bom interferir, como psicólogo ele acha melhor que eu tenha minhas alucinações, mas nós sempre conversamos sobre isso. Eu conto exatamente o que ví nas alucinações e as vezes ele me aconselha.

- você tem alucinações apenas de sexo? – perguntou Sky?

- não. – falei procurando pela sala algumas pessoas que ficavam me encarando, mas não encontrei. – as vezes eu vejo crianças no meu quarto, as vezes vejo pessoas ao meu redor me encarando. Fica difícil saber quem é real e quem é fruto da minha imaginação.

Depois de mais ou menos 2 horas nós já estávamos a caminho de casa. Eu estava com um boné vermelho já que agora eu tinha uma coleção e bonés que meu pai e Jake compravam pra mim. Inclusive Jake, Jay e meu pai usavam boné quando estavam comigo. Antes de chegar em casa decidimos tomar um sorvete.

Assim que chegamos no condomínio Marisol e Sky me deixaram na porta de casa. Eu entrei e chamei pelo meu irmão que me ajudava a subir ás escadas.

- como foi à sessão – falou ele me ajudando a subir ás escadas.

- parece que a cada dia que passa pior fica – falei.

- não pense assim.

- eu não penso assim eu sinto. Os remédios são muito fortes.

Eu entrei no meu quarto e logo deitei na minha cama.

- eu vou trazer algo para você comer – falou Jake.

- não quero estou sem fome.

- você precisa comer Jack, você sabe disso. Se você se sente fraco agora imagina se não se alimentar.

Eu liguei a televisão que tinha no meu quarto e assisti até que adormeci na cama.

Por volta dás 19:45 Jay entrou no meu quarto.

- boa noite – falou ele entrando e se sentando na cama me dando um selinho.

- você demorou um pouco – falei me espreguiçando.

- tive que comprar algumas roupas pra mim – falou Jay – não dava tempo de passar em casa pra pegar.

- não podemos continuar desse jeito – falei me sentando na cama. Jay alisou minha cabeça careca e me deu um beijo no rosto.

- não pode mais passar o dia inteiro trabalhando e comprar roupas novas todos os dias e passar a noite no meu quarto cuidando de mim. Você não tem a mesma privacidade aquí do que na sua casa.

- já falamos sobre isso Jack nós não vamos terminar só por causa dessa doença.

- eu não falei em terminar.

- então o que?

- eu estou dizendo que devíamos ir morar juntos, no seu apartamento.

- sério? – falou Jay sorrindo – porque você decidiu isso agora?

- eu não sei se vou viver muito tempo...

Jay me interrompeu.

- você não vai vir morar comigo se estiver pensando desse jeito. Você não vai morrer – falou ele.

- tudo bem – falei sorrindo. – eu te amo Jay e acho que já está mais do que na hora de morarmos juntos.

Ele me deu um beijo na boca e logo depois demos um beijo demorado.

- tudo bem – falou Jay entre um selinho e outro.

Passou-se três semanas que eu estava morando com Jay. Meu pai e Jake me visitavam todos os dias. Na verdade Jake passava o dia inteiro comigo e ia embora todas as noites quando Jay chegava do trabalho.

Todo aquele tratamento estava me deixando fraco e demasiadamente cansado. Aquela minha nova rotina estava me destruindo, ainda bem que faltava apenas mais uma sessão e eu faria todos os exames para saber se o tratamento estava funcionando.

Mais uma vez eu me sentei em uma cadeira e a enfermeira como sempre colocou o remédio em minha veia. Dessa vez foi Jake quem me levou para a sessão.

- então Jack, já sabe o que vai fazer quando ficar livre dessa doença? Vai se casar? estudar?

- ainda não sei Jake, já acho bem difícil passar os dias pensando em como partir sem deixar vocês muito tristes.

- Jack não fala isso. Esse pensamento negativo não ajuda na cura.

- eu não estou sendo negativo Jake. Você não sabe o quanto eu quero ser curado o quanto eu quero me ver livre de todos esses remédios e ter meu cabelo de volta. Eu não estou sendo negativo eu estou sendo realista.

- me perdoa. – falou Jake – e só pra constar com esse cabelo raspado você fica parecidíssimo comigo quando estava no exercito.

- porque você acha que eu quero meu cabelo de volta? – falei dando uma gargalhada.

Jake sorriu. Ele estava feliz de me ver sorrindo, pois por alguns instantes todo aquele pesadelo desaparecia.

Depois da sessão eu fui até o meu médico o Dr. Max e nós fizemos todos os exames necessários para saber se o tratamento estava funcionando.

- te vejo amanhã – falou Max se despedindo.

Assim que chegamos em casa Jay já estava lá.

- você chegou mais cedo hoje? – falei indo até ele e dando um beijo na boca dele.

- saí mais cedo, temos que comemorar a sua última sessão da quimioterapia.

- bom nesse caso eu já vou indo – falou Jake.

- tem certeza? – perguntou Jay – vou fazer algo para jantar.

- tenho certeza, esse momento é para vocês dois comemorarem.

- até amanhã – falei para Jake me levantando e dando um abraço nele.

- porque todos os dias você se despede de mim como se não fosse acordar? – perguntou Jake. – amanha vou embora sem te avisar. – falou rindo da minha cara.

O relógio marcava 19:00 horas quando Jay começou a fazer o jantar. Ele iria fazer meu prato preferido, estrogonofe de frango com cogumelos.

Depois de pronto nós comemos e eu admito que comi um pouco a mais do que eu costumava, tinha ficado realmente bom. Depois que comemos, tomamos um banho quente e nos preparamos para dormir, mas antes assistimos TV porque ainda era cedo mal passada dás 22:07. Nós deitamos na cama e ligamos a TV.

- você deve estar ansioso para ver os resultados dos exames – falou Jay dando um beijo no meu rosto.

Eu cheguei perto dele e coloquei minha mão em sua perna peluda para poder esquentar minha mão.

- mais ou menos – eu não aguento mais essa nova rotina de casa-hospital, hospital-casa. Quero minha vida de volta.

- você vai ter. – falou Jay dando um selinho na minha boca. eu coloquei minha mão em seu rosto barbado e alisei dando um beijo de língua nele.

Enquanto nos beijávamos o meu telefone celular tocou.

- quem deve ser uma hora dessas? – perguntou Jay.

- é o Dr. Max – falei.

- atende logo – falou Jay.

- boa noite – falei.

Jay ficou distraído com a TV e enquanto Dr. Max falava comigo eu viu como eu era sortudo por ter encontrado alguém como Jay. A medida que Max falava eu não sabia o que sentir. Eu tinha um turbilhão de sentimentos dentro de mim.

- obrigado – respondi desligando o celular.

- e então? – perguntou Jay – o que ele queria.

Eu olhei para Jay e dei um enorme sorriso.

- Jay, vamos nos casar! – falei.

Ele ficou olhando pra mim e sorrindo por alguns segundos e logo ví seu sorrido desaparecer.

- o que o médico disse Jack.

- ele não queria me perturbar a essa hora da noite, mas ele não podia esperar até amanha. Era meio que urgente.

- o que? – perguntou Jay.

- o tratamento não funcionou! – falei olhando pra baixo. – na verdade o tumor cresceu e ele disse que não tenho muito tempo.

Correu uma lágrima dos meus olhos quando disse isso. Eu limpei meu rosto com as costas da mão e olhei para Jay que estava sorrindo.

- sim – respondeu ele me dando um beijo na boca – vamos nos casar.

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