Asas São Feitas Para Voar [Capítulo 5]

Parte da série Doces Sonhos

A tarde de sábado chegou logo e eu estava animado para o jantar. Rupert parecia mesmo gostar de mim mesmo com todos os meus problemas. Eu estava animado para contar para Jay.

Assim que o relógio marcou por volta dás 21h00min eu saí de casa. Jay me avisou que o jantar saia tarde. Decidi pegar um taxi já que não sabia o caminho. Assim que cheguei à porta do condomínio dele eu coloquei luvas na mão e peguei o dinheiro e entreguei para o taxista como era sempre o mesmo que eu pegava, ele já sabia do meu problema.

Eu saí do taxi e fui até a portaria do condomínio.

- gostaria de ir ao apartamento 212 do Jay. Rodriguez.

- Jay Rodriguez?

- acho que sim – respondi

O porteiro ligou para o apartamento dizendo que eu tinha chegado e ele autorizou minha entrada.

- apartamento fica na torre quatro no 8º andar.

- obrigado – falei entrando no condomínio. Algumas pessoas tomavam banho na piscina e outras estavam sentadas em uma área verde que tinha. Eu entrei no elevador e apertei o 8º andar. depois de algumas paradas e algumas pessoas entrando ou saindo eu finalmente cheguei no andar. Havia duas portas pro andar. O apartamento 212 e 222. Eu cheguei em frente a porta e preferi não apertar a campainha e bati na porta.

Depois de alguns segundos uma mulher abriu a porta.

- boa noite – falei. –ela ficou me olhando alguns segundos e sorriu.

- boa noite, pode entrar.

Eu entrei e ela fechou a porta me mostrando o sofá da sala.

- sinta-se em casa o Jay já está vindo – falou ela indo até a cozinha e Jay quase esbarrou com ela.

- boa noite – falou Jay vindo e eu me levantei e apertamos as mãos.

- boa noite.

- foi fácil chegar aquí?

- foi sim. Eu vim de taxi então não foi difícil.

- quer alguma coisa para beber? – falou ele pedindo para que eu me sentasse.

- o que você tiver está ótimo.

- champanhe – disse ele se levantando e voltando da cozinha com duas faças. Ele me entregou uma e colocou champanhe. Sua esposa veio da cozinha com uma faça e ele também serviu ela. Nós tomamos um gole.

- então... você é um dos pacientes do meu marido?

- sim senhora.

- por favor, me chame de Amy.

- sim... Amy. – falei sorrindo e tomando um gole – se não se importa que eu pergunte... Jay eu não sabia que você tinhas origem latina, o porteiro disse que seu sobrenome é Rodriguez e você não se parece... latino.

- minha mãe é latina, mas se mudou pra cá para tentar conseguir uma vida melhor e acabou conhecendo meu pai.

- sério? – falou Amy olhando para Jay e depois para mim – você não sabia que o sobrenome dele era Rodriguez? Amor, eu já vi seus cartões de visita e têm ele em todos.

- eu dei uma risada sem graça e olhei para fora e para Jay.

- eu posso não ter reparado.

- Amy o que eu disse sobre perguntas? – falou Jay sorrindo pra mim.

- meu Deus, me desculpa se eu te ofendi.

- sem problemas. – respondi.

- vamos para a mesa, pois já vou servir o jantar. – falou Amy indo para a cozinha e Jay foi atrás dela.

Eu me levantei e me sentei á mesa esperando que eles voltassem e logo eles apareceram com travessas e colocaram sobre a mesa.

Amy foi até um quarto e voltou com seu filho nos braços.

- Jack, quero te apresentar ao Roger. – ela veio andando até mim, mas parou um pouco antes devido ao Jay tê-la advertido.

- ele é uma gracinha – falei de longe.

Ela o colocou sentado na cadeira de bebê e logo também se sentou a mesa. Eu abri minha mochila que levei e peguei umas coisas para poder limpar a cadeira. Eles ficaram sentados me olhando. O silencio tomou conta do lugar.

- você acha que não está limpo o suficiente? – falou ela com um sorriso no rosto.

- não é isso não é que...

- não precisa explicar – falou Jay. – Amy, venha até a cozinha comigo?

Eles se levantaram e foram até a cozinha. Amy pegou o bebê no braço e eles se foram. Eu continuei limpando a cadeira me sentindo humilhado, mas já estava acostumado com a reação das pessoas. Ouvi certo murmúrio vindo da cozinha e ví que a porta estava fechada. Eu coloquei minhas coisas de dentro da mochila e fui andando devagar até a porta e parei do lado de fora tentando ouvir o que diziam.

- o que eu te falei? Nada de perguntas. – disse Jay.

Eles falavam sussurrando.

- eu não fiz nada de mais.

- eu quebrei o sigilo entre médico e paciente e te disse o problema dele. Você sabia muito bem que não devia ter feito o que fez. o que você pensou que conseguiria fazer provocando ele? me atacar?

- eu não pedi para me contar nada. Eu não queria ninguém para o jantar. Você mal passa tempo em casa é sempre sobre seus pacientes e agora você trouxe um pra cá.

- aquele não é só um paciente. Eu quero realmente que ele melhore e você sabia muito bem qual minha profissão quando se casou comigo.

- é sempre sobre você.

- não, é sempre sobre você. Não precisava usá-lo para me provocar. Nossos problemas podem esperar até depois do jantar.

- admita você nunca gostou da minha família e nunca quis se casar.

- eu não acredito que é sobre isso outra vez. Eu tenho meu trabalho eu não posso simplesmente tirar um mês de folga para ficar com você e sua família.

- Eu sempre quis chamar minha família para nos visitar e você nunca quis, mas você têm tempo para seus pacientes e nunca têm tempo para mim e para seu filho! Porque eu tenho que receber aquela aberração de braços abertos?

Quando ela disse aquilo me cortou o coração. Eu senti um breve arrepio na espinha e senti um pouco de falta de ar.

eles continuaram discutindo e o bebê começou a chorar. Eu me afastei da porta da cozinha peguei minha mochila e abri a porta da sala bem devagar. Eu sai andando pelo corredor e entrei no elevador. Eu estava com falta de ar e meu corpo todo pinicava. Eu passava a mão ao invés de coçar para não deixar cicatrizes. Algumas pessoas entraram no elevador e eu decidi sair. Olhei pra cima e eu estava no 4ª andar. Decidi descer pelas escadas. Eu comecei a descer os degraus vagarosamente. Procurava não pensar no que tinha acontecido. Eu realmente era uma aberração.

As luzes eram sensores de movimento e a cada lance de escada que eu descia as luzes se acendiam e se apagavam. Eu só queria sair daquele lugar. Eu ainda estava no sendo andar e parei um pouco pra pegar o fôlego. Eu sentei no chão e tentei respirar quando percebi toda a sujeira eu me levantei rapidamente e me abanei e peguei vários lenços e limpei minha mão suja de poeira. Coloquei tudo dentro da mochila e os lenços em um saco plástico e continuei descendo. Meu coração estava partido. Não devia ter saído de casa.

Finalmente cheguei ao térreo e saí andando até a portaria. O vento estava frio e a noite escura. Eu saí pela portaria. Eu tinha que chamar um taxi, peguei o telefone celular, mas ele estava descarregado. Eu olhei para os dois lados e segui para a esquerda. Cruzei os braços, pois o frio era intenso e a rua quase não tinha ninguém. Continuei seguindo, mas não tinha rumo. Minha respiração ainda esta irregular

Eu não estava longe do prédio tinha acabado de atravessar a rua e colocar o primeiro pé no outro quarteirão e ainda andando dei uma olhada para trás e eu ví Jay. Ele me procurava olhando de um lado e depois pro outro. Assim que me viu ele começou a andar em minha direção.

- Jack – falou ele andando atrás de mim.

Eu não parei e nem olhei pra trás.

- espera Jack – falou ele correndo até mim.

- vai embora – falei parando um pouco e pegando um lenço dentro da minha mochila e colocando álcool em gel nas minhas mãos. Eu esfreguei as mãos e com o lenço umedecido passei nos braços. Eu estava tremendo de frio.

Ele parou pouco antes de chegar até mim.

- me perdoa por aquilo. – falou Jay.

- ela está certa. Talvez eu seja uma aberração é por isso que minha mãe morreu, meu irmão me odeia. – eu soltei o lenço e o álcool em gel fazendo com que caíssem no chão e comecei a coçar meus braços com tanta força que rasgou minha pele ao ponto de criar uma ferida. Na mesma hora Jay veio até mim.

- para com isso. – disse ele segurando meus braços.

- me solta - gritei tentando me livrar dele.

Jay olhou em volta:

- para de gritar, por favor, se acalma ou as pessoas vão pensar que eu estou te atacando.

Eu continuei tentando me livrar dele. Eu via tudo em câmera lenta, meus olhos corriam lágrimas e tudo o que eu queria era arrancar minha pele.

- não deixe os bastardos te deixar pra baixo – disse Jay tentando me acalmar – esqueça as pessoas que te odeia porque alguém te ama.

Eu continuava a tentar me soltar. Comecei a sentir falta de ar.

Jay desesperado sem saber o que fazer apertou meus braços e me pressionou contra a parede e largou meus pulsos e segurou meu rosto em suas mãos e me deu um beijo na boca. na mesma hora eu me acalmei. Ele me deu um beijo de língua que retribui. Eu ia me acalmando e finalmente parei de lutar contra ele colocando a mão no seu rosto barbudo.

- está mais calmo? – falou ele me olhando respirando em meu rosto.

- não precisa fazer isso – falei olhando em seus olhos.

Ele não disse nada e apenas deu um beijo no meu rosto.

- eu te amo – disse ele me olhando esperando uma resposta.

- eu também te amo. – eu dei um sorriso quando terminei de falar – é sério. Eu te amo. não pensei que teria coragem de dizer isso, pensei que fosse apenas uma paixão boba, mas não conseguia parar de pensar em você, mesmo quando beijava Rupert eu não via a hora de te ver para te contar. Toda vez que forcei a fazer algo que não queria era apenas para poder te contar.

Dei uma pequena pausa

- Me desculpa se estou falando demais, mas você não sabe a vontade que eu tinha de te dizer isso.

Ele me deu um beijo de língua, um beijo calmo e logo após vários selinhos na boca.

Sentir sua barba em meu rosto fez eu me arrepiar, nunca senti nada parecido com aquilo.

- também te amo – disse ele.

- você já disse – falei.

- eu sei. Só quero ter certeza de que já disse, pois não quero deixar essa oportunidade passar.

Nós continuamos abraçados por um tempo e então senti meu braço arder.

- o que foi? – perguntou Jay. – estou te machucando? Abraçando-te muito forte? – falou me soltando e pegando meus braços para olhar. Meus braços tinham marcas de unhas e sangravam.

Eu olhei para os meus braços e olhei para ele outra vez.

- e sua esposa? E seu filho?

- fica calmo – disse ele – não vamos pensar nisso agora, vou te levar para um hospital para fazer um curativo.

- ok – falei entrelaçando os dedos. Meus braços tremiam, a dor era intensa.

- fica aquí! Eu vou lá pegar meu carro e já volto. – ele disse isso e saiu correndo. Eu fiquei em pé parado e respirando fundo. Estava muito frio. Depois de alguns minutos eu ví o carro dele se aproximando.

Ele saiu do carro com um cobertor e colocou em minhas costas e me guiando até seu carro e abriu a porta. Ele entrou no carro e pegou minhas mãos e começou a esfrega-las querendo esquentá-las. Ele assoprava o bafo quente nelas e apertava.

- está melhor?

- sim – falei sorrindo.

- ótimo. – agora vamos levar você para o hospital.

Ele ligou o carro e começou a dirigir. Depois de alguns minutos na estrada o celular dele tocou. Ele pegou o celular e desligou.

Meus braços doíam tanto que nem pensei sobre o cobertor que ele colocou em mim. Eu olhei para o Jay e ví que a camisa dele estava suja de sangue. Eu realmente tinha machucado meu braço muito profundo, pois a pesar de não sangrar muito era o braço inteiro.

Ele parou o carro no hospital e saímos do carro entrando no hospital.

- boa noite - disse a enfermeira.

- boa noite – preciso de faça um curativo nele.

Eu mostrei meus braços pra ela.

- o que aconteceu? – perguntou ela.

- ele se cortou. – disse Jay.

- fui eu mesmo – falei mostrando as unhas sujas de pele e sangue.

- ok, venha comigo. – disse a enfermeira indo até uma sala.

- fica calmo eu vou com você.

Nós entramos na sala e apoiei meus braços estendidos em uma mesa. Antes que ela passasse o remédio no meu braço Jay apertou minha mão.

- vai ficar tudo bem.

Ela passou o remédio e ardeu bastante, mas depois colocou gaze e fez um curativo com esparadrapo. Ela repetiu a mesma coisa com o outro braço. Depois que o curativo estava pronto eu fiquei sentado na sala de espera enquanto ele conversava com a enfermeira provavelmente explicando o ocorrido.

Eu não me sentia bem naquela sala com outras pessoas então decidi me levantar e sair do hospital. Lá fora o frio era intenso, mas era melhor do que ficar lá dentro.

Apesar da dor eu me forcei a cruzar os braços. Esperei alguns minutos e Jay apareceu e ficou me olhando.

- vamos?

- sim – respondi indo até o carro e entrando.

Ficamos sentados por alguns minutos pensando.

- você vai pra sua casa? – perguntou Jay.

- não... não quero que meu pai me veja assim... pelo menos hoje.

Ficamos alguns segundos em silêncio.

- você vai pra sua? – perguntei.

- nem pensar – falou ele coçando a barba. – o que você acha de irmos para um hotel? Podemos passar a noite lá. Não precisa se preocupar nós não precisamos ficar no mesmo quarto.

- ok. – falei balançando a cabeça positivamente.

Nós fomos para um hotel no centro.

- boa noite, você têm quartos disponíveis? – falou Jay para o recepcionista.

- sim senhor. Quantos quartos?

- dois – falou Jay.

- um – falei interrompendo olhando para ele – não quero ficar sozinho.

- ok então, apenas um.

Ele pegou a chave do quarto e entregou para Jay.

- quarto 27 no 5ª andar. Vocês têm bagagem?

- apenas estas duas mochilas – falou Jay – mas obrigado assim mesmo e tenha uma boa noite.

- boa noite – respondeu o recepcionista vendo a roupa de Jay suja de sangue.

Nós entramos no elevador e assim que chegamos no 5ª andar fomos até o quarto 27 e entramos.

Era um quarto gigante com uma cama de casal. O que eu mais queria era tomar um banho quente. Quente e demorado.

- você quer tomar banho? – perguntou Jay.

- quero sim.

- senta aquí na cama pra mim tirar os curativos e depois que você banhar eu faço outros com as coisas que me deram no hospital.

Ele sentou na cama ao meu lado e estiquei os braços para ele tirar os curativos. Enquanto ele tirava eu olhava pra ele.

- você disse aquilo só pra me acalmar? – perguntei olhando pra ele.

- não – falou ele sorrindo. Eu fui chegando meu rosto perto do dele e dei um beijo no rosto dele. Depois outro e depois outro se aproximando da boca. demos um beijo de língua. Eu sorri e me afastei para que retirasse os curativos. Depois eu fui até o banheiro e tomei um banho demorado. Assim que saí peguei uma roupa na minha mochila e vesti.

Depois que fez meu curativo Jay entrou no banheiro e também tomou um banho. Eu tomei um copo de água e me deitei na cama me cobrindo. Ele saiu apenas com a toalha enrolada no corpo. Eu olhei rapidamente e depois voltei a deitar de lado e a olhar para a parede pensando. Ele voltou para dentro do banheiro com a mochila dele e logo após saiu com uma bermuda e sem camisa.

- você ligou para o seu pai?

- sim. Já avisei ele.

- você vai querer comer alguma coisa?

- estou sem fome.

- você está bem? – perguntou Jay.

- estou sim – falei virando de barriga pra cima. Só meu braço que doí um pouco. E também...

- o que? – perguntou ele sentando na cama.

- estou sentindo uma dor aquí – falei colocando a mão no coração. – sinto que está sendo apertado.

Ele deitou na cama se cobrindo.

- deite-se aquí pertinho de mim Vai ajudar a melhorar essa dor.

Eu me aproximei dele.

- chega mais perto e deita a cabeça aquí no meu peito.

Eu cheguei mais perto e deitei a cabeça no peito dele e colocando meu braço direito sobre o peito dele que tinhas alguns pelos.

- você é tão quente – falei.

- você também.

- eu sou mesmo uma coisa bizarra e anormal. – falei soltando uma lágrima do meu olho.

- não, você não é. – na humanidade sempre que uma pessoa é diferente ela é atacada tendo sua diferença apontada, mas isso não quer dizer que você é bizarro. Quer dizer que você é especial – Jay disse isso limpando a lágrima que tinha caído e dando um beijo na minha testa. Ele alisou meu braço.

Eu me sentia bem do que jeito que estava e aos poucos a dor que sentia foi passando.

- posso dormir?

- claro que pode. – falou ele alisando meu rosto e diminuindo as luzes do quarto. – fecha os olhos e logo você vai dormir.

- quantas horas?

- são 23:22.

Eu então fechei os olhos tentando dormir, geralmente eu tinha dificuldade em dormir levava pelo menos de 20 há 30 minutos, mas desta vez não... enquanto Jay alisavam eu braço com o dedão eu adormeci em menos de 5 minutos.

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