#Cap1- Vida Nova (ou nem tanto)

Parte da série O Diário de Ernest

24 de julho, 07:45AM

"Depois de tanto tempo fora, não da nem pra acreditar que voltei pra esse buraco!"

Este foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça aquele dia, mas não tinha muito o que fazer então resolvi voltar a dormir.

–Acorda bixa preguiçosa, já chegamos.

Disse minha mãe Grace enquanto me sacudia. Ela sempre foi do tipo louca, sempre usa gírias lgbt que nem eu entendo. Me assumi gay pra ela aos 14, achei que seria mais um problema na vida dela, porém ela me aceitou e continuou me amando do mesmo jeito. Quando eu tinha 10 anos, meu pai nos abandonou pra viver com outra família, e desde então minha mãe trabalha duro para me criar, tudo o que sei e que tenho hoje foi graças ao esforço dela.

–Ain, o que aconteceu? Que foi ?

–Acorda, nós ja chegamos.

Olhei pela janela do carro e estávamos em frente a nossa antiga casa, tantas coisas ruins aconteceram nela, porém resolvi não pensar muito nisso, abri a porta e subi até meu quarto.

–Faz bastante tempo não é mesmo?

Disse minha mãe entrando em meu quarto.

–Faz mesmo.

Falei rindo.

– Não se acomode muito, hoje a tarde você vai a escola.

–Ok. Pera aí, o que ????

–Antes de virmos pra cá, eu liguei pra sua escola antiga e fiz sua matricula, você vai começar hoje à tarde.

Fiquei sem reação ao ouvir aquilo, mal havia chegado e já teria que ir à escola, mesmo que aquilo doesse no fundo da minha alma, era preciso pois minhas notas não estavam aquela maravilha.

01:20PM, ponto de ônibus.

Lá estava eu, esperando o ônibus, olho para a esquina e vejo uma garota me olhando fixamente enquanto vinha em minha direção, quando ela chegou um pouco mais perto…

– ERNEEEST!!!!

Dei um pulo pra trás com o susto que tomei.

–Lembra de mim, sou eu, Clara.

Demorei um pouco para reconhecer ela, mais ai me lembrei que ela era minha amiga antes de eu ir embora.

–Oii, como poderia esquecer, você é minha melhor amiga.

Falei isso mas se ela não tivesse dito o nome dela eu não ia lembrar quem era.

Conversa vai, conversa vem, o ônibus e nós embarcamos demorou uns 20min e estávamos naquela joça, ops… escola.

Quando entramos um bando de meninas vieram correndo me abraçar.

–ERNEEST! Você voltou!! Que saudades!!

–Voltei sim, também estava com saudade de vocês.

Disse isso com um sorrisinho amarelo estampado em meu rosto, pois foi a mesma história, não me lembrava quem era aquele bando de meninas.

Bateu o sinal e fomos para nossa classe.

Havia apenas a última carteira da última fila vazia, era atrás da carteira da Clara.

Sentei lá olhei para o lado e vi um garoto, ele tinha olhos castanhos, cabelo preto com mechas azuis, um pouco bombadinho, e com um sorriso muito bonito, fiquei olhando para ele pois tinha a sensação de já ter visto ele em algum lugar, e aliás ele era muito bonito. Até que ele olhou para mim e disse

–Ooii, tudo bem?

-Tudo e vc?

-Tudo também, meu nome é Joseph.

–O meu é Ernest.

Na hora saquei que ele era gay, cutuquei as costas de Clara e perguntei:

–Clara, ele é gay?

Ela olhou pra mim e disse.

–Claro que não, ele até tem namorada.

-Hmmm.

Mesmo com o que ela me falou, continuei desconfiando, pois se existe algo que eu sei, é quando um menino é gay.

Chegou o professor de educação fisica na sala

–Gente, temos um carneirinho na sala.

Disse ele rindo junto com toda a turma, fiquei boiando por alguns segundos mas aí entendi que era sobre meu cabelo enrolado, e ele estava fazendo uma daquelas piadinhas ordinárias que todo professor faz quando tem aluno novo.

– Ha ha ha.

Dei uma risadinha forçada, pois aquela piada foi uma das mais lixo que eu ja tinha ouvido.

– Vem se apresentar pra nós aqui na frente.

Disse ele. A essa altura eu ja estava desejando que caisse um meteoro em cima dele, pois, se tem algo ruim no primeiro dia de aula em uma escola, essa coisa é ter que se apresentar na frente de todos. Mas levantei na calma e fui la na frente pois queria acabar com aquilo logo.

– Bom, meu nome é Ernest, tenho 15 anos, vim da cidade de Bornhill, sou legal e…

– E é uma bixinha.

Fui interrompido por um menino, enquanto todo mundo ria olhei de rosto em rosto até que vi a pessoa que tinha dito isso, era Jason, achei que havia me livrado daquele demônio que sempre me atormentava antigamente, mas lá estava aquela criatura.

– Deixa ele Jason.

Disse Joseph.

"Omg ele me defendeu. Cara, ele ta tão na minha"

Pensei enquanto estava esperando com cara de Monalisa aquele bando de gralha calar a boca, mas não adiantou, então fui sentar por que não sou obrigada.

As aulas se passaram e chegou o recreio.

Sentei-me com as minhas amigas e de repente aparece Isaac o mauricinho de cabelo arrepiado e também melhor amigo de Joseph e diz:

–O Joseph mandou perguntar se vc é gay.

Me deu vontade de deixar ele no vácuo, porém resolvi levantar e fazer algo melhor.

– Deixa que eu respondo pessoalmente.

Cheguei na mesa em que ele estava com os amigos dele e disse:

–Se eu sou ou não, não é da sua conta, e se quiser saber, por que não vem pessoalmente descobrir?

Todos os que estavam na mesa começaram a rir da cara dele e a gritar, só vi ele ficar vermelho até as orelhinhas.

Virei as costas e saí, pensei que aquilo foi desnecessário porém eu queria demonstrar quem é que mandava naquela bagaça.

Fim de tarde, voltei para casa e abri meu Facebook​, tinha uma notificação de alguém.

"Joseph Harvey te mandou uma mensagem."

–hmm, Joseph Harvey. Harvey? Aquele da terceira série?

Naquele momento lembrei que ele era o meu melhor amigo, e também o menino por quem eu era apaixonado