Um Caminho A Fazer Sozinho - 07
Parte da série Nas Laterais Do Mundo - Fanfic Original
Cadu andava como um zumbi pela calçada. Ele estava passando por uma ponte, que embaixo ficava uma estrada. Os carros iam e viam, como se não tivessem destino. Seu rosto era iluminado pelos faróis dos carros sempre que um passava. A ponte era escura, e o caminho era longo. Ele andava sem mover seus olhos, ou a cabeça. Umas sirenes soavam da rua debaixo, formava um x junto à ponte.
Cadu olhou para a barra de proteção. Ele subiu devagar até ficar em pé nela. Ele olhou para baixo e viu os carros passando pela rua debaixo.
— Por que você fez isso comigo Bruno? — Ele perguntou sozinho. Uma lagrima caiu, e desceu até o asfalto que ficava sob a ponte e se dividiu em várias gotinhas naquele piso maltratado.
O vento batia na direção contraria. E os pensamentos o levavam a se jogar daquela ponte. O vento era forte, e fazia muito barulho em seus ouvidos.
— Eu te amo — Cadu pensou. Ele fechou os olhos com força. Apertou seu peito onde ficava seu coração destruído com uma mão.
“Resolva isso só de uma vez. Pule” Ele pensou.
— Será que tudo vai se resolver mesmo? Minha dor vai ter fim? — Duvidou.
Sua camisa formava ondas com os impactos do vento forte lá em cima. Os carros faziam aquele barulho toda vez que passavam perto, e toda vez sumia quando eles sumiam. Cadu fechou os olhos e apertou as mãos, como se estivesse segurando elas mesmas. Ele caiu. Mas não foi daquela ponte; foi para a calçada que ficava atrás dele. Com a colisão da sua cabeça contra o cimento duro, ele desmaiou instantaneamente.
Sebastian chegou até casa de Sacha. Quando todo mundo já havia chegado para o aniversário dela. Ele entrou pelo portão da frente ouvindo aquela música alta que vinha lá de trás. Andando pelo lado da casa, que o levaria à piscina, ele viu vários adolescentes. Nunca teria encontrado uma vez na vida aqueles belos rostos que se divertiam na água. Ele observava de longe, próximo a um monte flores que enfeitavam o quintal.
Perto da piscina, ficava um lugar onde as pessoas iam pegar bebidas e comida. Ali havia poucas mesas disponíveis. Elas eram de metal, como as cadeiras. Bruno e Sacha se encontravam ali, em um ritmo de beijos e amasso. Eles formavam um belo casal. Muita gente “shipava” eles na escola. Sebastian os viu. Evitando desafetos, ele resolveu ir embora.
Várias lâmpadas passavam pelo teto branco. Elas eram quadradas, embutidas em bloco. Cadu as observava enquanto era levado em uma maca por duas enfermeiras. Então ele viu um homem que parecia ser o médico. Ele levantou suas pálpebras e sentiu seu pulso enquanto andavam até chegar em uma sala.
Tudo ficou escuro...
As gotas de soro caíam dentro daquele cilindro de plástico, que iam pelo tubo que chegava até à sua veia. Cadu não se mexia. Estava embrulhado com o lençol branco naquela maca. Seus olhos se abriram devagar. Tudo estava muito embaçado, mas logo foi melhorando. De repente ele entendeu o seu estado; estava em um hospital. Logo ele lembrou do que havia acontecido. Todo o ódio já não bastava. Sua alma estava se recuperando, assim como o seu corpo. A porta abriu, e de lá saiu uma senhora que começou a fazer perguntas:
ᅳ Finalmente você acordou, me diga o número dos seus pais para eu chama-los ᅳ Ela falou com uma prancheta na mão e uma caneta azul.
Cadu deu todas as informações necessárias. E 1 hora depois, apareceu Marga. Ela entrou no quarto toda preocupada. Atrás vinha Romulo.
ᅳ Oh meu deus. O que aconteceu com você? Está todo machucado ᅳ Dizia Marga, com uma voz que dizia insegurança e alívio. Ela se sentou na ponta do colchão e pegou em seu rosto com uma mão leve.
ᅳ Eu tô bem ᅳ lhe disse Cadu, de uma forma fria.
Romulo ficou escorado na parede perto da porta com os braços cruzados, bem aonde estava a enfermeira das perguntas. Ele estava sério quando disse:
ᅳ Vamos pra casa ᅳ Ele mandou.
Ao ouvir isso, Marga perguntou ao filho:
ᅳ Tem certeza que você quer ir? Podemos te deixar aqui até que você esteja melhor. Você pode faltar à aula amanhã.
ᅳ Eu acho que... ᅳ Ia falar Cadu, quando Romulo o interrompeu:
ᅳ Ele não tem que querer ᅳ Ele disse olhando para Cadu ᅳ Você não aguenta um empurrão que já desmaia. É um frangote.
ᅳ Romulo! ᅳ Repreendeu Marga ao marido ᅳ Deixe de ser um ogro. Nosso filho está com problemas e você fica aí, agindo dessa maneira.
Constrangida com a discussão de família, a enfermeira falou:
ᅳ Ele já recebeu alta. O médico disse que ele apenas sofreu uma queda leve. Nada grave. Mas vai precisar de repouso ᅳ Ela gaguejou.
Cadu estava deitado no banco do carona enquanto seu pai dirigia o carro ao lado de sua mãe. Cadu olhava para a janela e viajava num mundo só dele. Que apenas ele teria a chave para o acesso. Não era a mais bela noite, mas o clima estava relaxante. Eles viajavam em silêncio. Marga não dizia uma palavra. Apenas olhava para frente, sentada formalmente como uma dama. Cadu estava embrulhado com um lençol fino. Já era meia-noite quando eles saíram de lá.
Sebastian andava por uma rua silenciosa naquela noite. Ele voltava do aniversário da amiga. Enquanto andava, ele brincava de apenas pular um quadrado formado no piso e pisar em outro depois, como se estive pisando em números, e ele preferia pular os impas. Era uma forma de ser distrair.
Atrás dele, viam três garotos de preto. Eles saíram da festa que ele saiu. Sebastian estava distraído e cantava uma música sem abrir a boca. Apenas com ruídos. Eles estavam longe, mas se aproximavam cada vez mais. Eles davam passos rápidos. Cada vez mais rápidos, e até que começaram a correr sutilmente. Sebastian olhava o seu caminho; não faltava muito para ele chegar em casa.
Numa manhã de neblina, Cadu abriu os olhos deitado de bruços na cama, com o corpo semicoberto pelo lençol. Ele se levantou um pouco e esfregou seus olhos inchados. Olhou para os lados e desceu da cama indo à porta. Ele saiu do quarto com a mão na maçaneta olhando para a cozinha. Lá, ele tomou um copo de água quando percebeu sua mãe entrando e mexendo na geladeira. Ela falou para ele:
ᅳ Hoje não tem aula? ᅳ Lembrou.
ᅳ Você disse que eu poderia ficar em casa se eu não estivesse me sentindo bem ᅳ Ele respondeu sem olhar para ela.
ᅳ Só disse isso pra aquela vagabunda do hospital não pensar que você fugiu daqui por minha causa. Ela praticamente me acusou de te maltratar com aquelas perguntas imbecis ᅳ Ela lembrou com a cabeça dentro da geladeira, procurando algo ᅳ Você não vai faltar na escola. Quer ser tratado bem? Me mostre que vai ser alguém na vida.
Cadu ouviu aquelas palavras com um olhar sonolento. Ele estava com raiva dela. Saber que ele poderia encontrar o Bruno na escola era torturante.
Já na sala de aula, ele percebeu que o Sebastian não havia chegado. Ele estava sentado na mesma carteira atrás da do amigo. Ela estava fazia, e lhe transpirava solidão. Logo chegou o Bruno sem olhar para ele. Cadu abaixou a cabeça para não o ver. Bruno estava acompanhado de um amigo quando se sentou lá no fundo da sala.
Cadu já sentia seu coração acelerar, e um medo lhe tomar o controle. Seus lábios e corpo estavam pálidos. Sua boca ficou um pouco aberta enquanto olhava para o chão. Ele não se sentia bem.
O professor chegou na porta da sala conversando com a Srta. Megan. Eles pareciam chocados com algo. A professora estava sutilmente apavorada enquanto o professor a acalmava. Megan olhou para Cadu e ficou quieta enquanto entrava com o professor. Ela cochichou com o professor. Cadu nem percebia tamanha cena.
Megan andou até a sua direção e lhe chamou:
ᅳ Ei! ᅳ Ela disse pegando em seu braço.
Cadu a olhou surpreso:
ᅳ Oi professora.
ᅳ Preciso ter uma conversa séria contigo. No intervalo, você vá até a sala dos professores e me procure. OK?
ᅳ Tudo bem ᅳ Ele respondeu, sentado em sua cadeira.
No intervalo:
Cadu acabava de terminar de copiar o texto dado no quadro negro pelo professor. Às vezes ele olhava para a carteira do Sebastian, que estava fazia. Quando terminou, ele guardou o seu material na mochila, preparado para o intervalo.
Ele andou pelo corredor movimentado com as mãos no bolso. Estava procurando a sala dos professores. Ao passar por uma sala dos funcionários, que normalmente fica vazia, um garoto abriu a porta do lado e dentro e chamou Cadu:
ᅳ Psiu! ᅳ Assoviou ᅳ Entra aqui!
Cadu olhou para ele e estranho. Estava escuro lá dentro. Ele ficou com medo e ignorou mas foi segurado por trás pelo mesmo garoto que o levou para dentro. Um outro e menino apareceu e ajudou o outro a segura-lo. Eles o deitaram no chão, ainda preso. Bruno apareceu do escuro e eles se encararam:
ᅳ Oi fofinho ᅳ Caçoou Bruno.
Cadu tentava fugir, mas era difícil:
ᅳ Seu filho da mãe! ᅳ Cadu xingou ᅳ Vai pro inferno.
ᅳ Parece que o novo viadinho da escola ainda precisa ser ensinado a como se comportar aqui ᅳ Anunciou Bruno. Eles riam com a situação.
Bruno tirou do bolso o seu celular e mostrou para Cadu o vídeo em que era estuprado pelo Bruno:
ᅳ Lembra disso? ᅳ Bruno perguntou ᅳ Se você abrir sua boca, nós vamos espalhar esse vídeo. Entendeu fofinho?
Cadu não respondeu. Ficou calado olhando a cena. Seus olhos soltaram lágrimas.
ᅳ Own, ele tá chorando galera ᅳ Riu Bruno ᅳ Calma aí que eu tenho o que você gosta.
Bruno abriu o zíper da calça e mostrou seu genital dizendo:
ᅳ Você gostou? ᅳ Ele sorria. Bruno começou a mijar na cara do Cadu ᅳ Fica com essa urina pra você e lembra de mim.
Cadu fechou os olhos e boca enquanto recebia o mijo.
ᅳ Beleza. Soltem ele ᅳ Bruno mandou. Eles saíram da sala enquanto Cadu ficou deitado ali.
Depois do ocorrido. Cadu pegou suas coisas e saiu da escola chorando. Ele passou pelo portão correndo, de olhos avermelhados. Ele acabou esbarrando em Megan quando ela estava tirando as coisas do carro estacionado na calçada:
ᅳ Cadu? ᅳ Ela falou, olhando para ele correndo ᅳ CADU! ᅳ Ela gritou.
Ele parou de correr e olhou para ela. Andou devagar e aproximou perguntando:
ᅳ O que é?
ᅳ Por que está assim? Correndo com esses olhos vermelhos. Estava chorando?
Cadu se aproximou mais e disse:
ᅳ É problema meu. Não quero falar.
ᅳ Você nem me procurou.
ᅳ Eu estava ocupado ᅳ Ele respondeu limpando seu rosto.
ᅳ Preciso conversar contigo. Pode ser agora?
ᅳ Pode.
Megan deixou suas coisas no carro e atravessou a rua junto com ele. Eles se sentaram no banco da pracinha. Ela ajeitou o cabelo e começou a falar:
ᅳ Me disseram que tu eras o melhor amigo do Sebastian. Informaram à escola hoje.
ᅳ Informaram o que? ᅳ Perguntou Cadu olhando para ela.
ᅳ Eu acho que você deveria saber. O Sebastian se suicidou ᅳ Ela lamentou.
Cadu não acreditou no que ouviu.
ᅳ O quê? ᅳ Ele perguntou com voz falhando.
ᅳ Eu lamento.
Um silêncio tomou conta. Um vento leve batia enquanto umas crianças brincavam ali perto, bem naquela grama verde.
ᅳ Não pode ser ᅳ Desacreditou Cadu ᅳ Eu vi ele ontem. Ele estava bem...
ᅳ Cadu ... ᅳ Ela interrompeu o menino ᅳ Ele se enforcou no próprio quarto. A perícia já examinou o local. O responsável dele já soube. O corpo dele foi levado ao necrotério.
Cadu começou a ficar alterado. Suas tremiam, e seu coração parecia lutar para sair do seu corpo.
ᅳ Quer que eu te leve em casa? ᅳ Ofereceu Megan.
Cadu fez que sim, e eles foram ao carro dela.
Chegando em frente à casa dele, Megan olhou para a casa e falou:
ᅳ Seus pais estão aí?
ᅳ Não ᅳ Ele respondeu. Nesse momento, Marga apareceu na janela da frente.
ᅳ Quem é aquela? ᅳ Ela perguntou apontando o dedo.
ᅳ É a minha mãe.
ᅳ Entendi. Não quer que eu entre?! ᅳ Ela comentou com um tom de pergunta.
ᅳ Acredite. É melhor assim ᅳ Ele se explica com uma voz grave de ar.
Cadu saiu do carro e agradeceu a Megan pela carona.
Deitado na cama, Cadu lembrava de Sebastian. A dor era grande. Ele chorava baixinho em baixo do lençol.
ᅳ Eu sou um otário ᅳ Ele pensou ᅳ Eu devia ter me jogado daquela ponte. Como fui burro.
Ele começou a ficar com raiva. E dessa raiva, ele começou a puxar seu cabelo. Ele se debatia debaixo daquele pano. Se sentia horrível.
Seu nariz começou a escorrer água. Uma torce veio ele cuspiu pela janela sem se levantar. Ele começou a sentir o cheiro de urina na roupa. Cadu lembrou do Bruno.
ᅳ Eu odeio você ᅳ Ele falou para o Bruno ᅳ Odeio, odeio, odeio, odeio ᅳ Ele afinou voz com quando sua garganta fechou sutilmente. Uma falta de ar veio, e ele tirou o lençol do rosto. Ele se sentou na cama, e abraçou os joelhos. Cadu dizia:
ᅳ Não, não, não, não ᅳ Ele gemia baixinho. Ele engelhou os olhos enquanto fazia isso.
ᅳ Sebastian. E sinto tanto sua falta ᅳ Ele dizia com uma voz de choro naquela cama desarrumado como aquele quarto ᅳ Eu te adoro. Você se vestia melhor que eu ᅳ Ele lembrou com um sorriso ᅳ Eu nunca vou te esquecer.