Laços Mal Feitos - 04
Parte da série Nas Laterais Do Mundo - Fanfic Original
Cadu chegou percebendo que seu pai não estava casa. Ele sabia, pela ausência do carro na garagem. Ele abriu a porta com sua chave, e a fechou fazendo aquele barulho típico. Ele passou pela sala teve um susto ao ouvir:
-Para onde você foi ontem à noite? - Marga perguntou. Sentada em sua poltrona, direcionada para o Cadu. Que a olhou surpreso.
Ele não sabia o que falar. Sua língua travou, e seu corpo paralisou. Ela se levantou com um cigarro acesso na boca, e um olhar invasivo, sedento por uma resposta. Marga se aproximou mais dele e falou:
-Não minta pra mim - Ela disse, apontando o dedo para ele.
-Do que você está falando? Eu ... eu não saí.
-Você não consegue mentir pra mim. Eu sei disso.
Eles se olharam por uns segundos, e pararam quando Cadu resolveu ir para o seu quarto. Ela então falou:
-Se você estiver fazendo merda ... - Nesse momento, Cadu fechou a porta do seu quarto, deixando Marga falando só -... eu te boto pra fora da minha casa. OUVIU? PRA FORA! - Ela gritou.
Cadu deitou sobre sua cama, exausto pelo dia que teve. Ele virou para o lado e olhou a janela de vidro, por onde entrava os raios solares daquele dia. Ele olhava pensando em Bruno; às vezes em Sebastian. Ele estava preocupado com ele. Saber que seu amigo é perseguido era assustador. Depois de muitas perguntas em sua mente, ele fechou os olhos. Quando abriu, ele viu pela janela que já era noite.
Sebastian varria a sala de sua casa. Ele resolveu limpar o seu lar finalmente, embora o seu tio não colaborasse. À essa hora, seu tio deveria estar em algum bar pela cidade. Seu nome era Jorge. Depois que a mãe de Sebastian morreu, ele ficou com a guarda do menino, já que o pai não queria saber dele. Sebastian cresceu cercado pelo perigo. Seu tio não o cuidava devidamente. Muitas vezes ele passou fome, e por isso, teve que aprender a se cuidar sozinho desde pequeno. Depois de sua paixão por Bruno, sua vida na escola se tornou o que é hoje; cheia de brincadeiras sem graça, perseguição e bullying.
Cadu se levantou ainda em cima da cama. Olhou para debaixo da porta e viu que a luz do corredor estava desligada. Ele andou devagar até lá e se deitou perto dela. Olhando por debaixo da porta, ele percebeu que seus pais estavam dormindo. Eles sempre desligam todas as luzes antes de dormir. Ele abriu a porta de seu quarto e olhou para à sala, para se certificar que não havia ninguém. Ele passou pelo quarto dos pais e ouviu o ronco de Romulo; era uma confirmação de sua tese. Ele foi à cozinha; abriu a geladeira e procurou algo que saciasse sua fome. Depois de muito procurar, ele pegou três bananas e as amassou no leite em pó que estava em uma vasilha que ele mesmo pôs. Comeu saboreando cada pedaço.
Voltando ao seu quarto, Cadu desbloqueou a tela do seu celular com um dedo e viu uma mensagem de Bruno, já havia feito 2 horas desde que ele mandou; nela dizia “Podíamos nos encontrar amanhã. Aproveitamos e fazemos o trabalho de artes”. Cadu respondeu com um “Ok”.
Sacha estava sentada de frente para o seu computador, em seu quarto, olhando roupas na tela que ela poderia usar no seu aniversário que iria ocorrer amanhã à noite. Ela faria uma festa de 15 anos, um sonho para muitas garotas. Tudo estava quase pronto. Bruno foi escolhido para ser seu príncipe na festa. O que faltava era a satisfação dela. Para Sacha, sempre faltava algum detalhe. De repente, ela recebeu uma ligação de alguém no celular. Ela atendeu sem pressa:
-Alo? - Ela disse;
-Como assim? - Sacha perguntou;
-Por que querem fazer isso no meu aniversário?
-Você diz que vai ser divertido? - Ela perguntou.
Minutos depois, Cadu recebeu uma solicitação de amizade no Facebook. Ele olhou e viu que era Sacha, que logo em seguida o convidou por meio de uma função nativas para ir ao seu evento (que no caso era o aniversário dela). Ele pensou ... e não sabia se iria marcar presença. Estava em dúvida. “Nem tenho roupa para ir. E também, acho que ela não gostou de mim. Por que ela iria me querer na festa dela? ” Ele pensou.
De manhã...
Cadu escovava os dentes de frente para o espelho. Ele estava no banheiro, com o corpo molhado. Acabara de tomar banho. Depois de muito cuspir na pia, ele enxaguou sua boca e foi ao seu quarto. Ele vestiu seu uniforme branco e preto junto com sua calça jeans; Era o padrão da escola. Quando já estava preparado, ele andou pelo corredor com a mochila nas costas por uma alça e saiu de casa em direção a parada de ônibus. Ele se sentou no banco que havia ali, e esperou seu transporte chegar. Logo, chegou mais pessoas ali pelo mesmo motivo. 5 minutos depois, Cadu entrou no ônibus e acabou encontrando Sebastian sentado em um dos bancos no meio do ônibus. Ele estava com os olhos fechados e com fones nos ouvidos. Cadu sentou do lado dele, e o empurrou com seu braço no ombro do seu amigo para chamar sua atenção. Sebastian percebeu:
-Oi? - Disse Cadu.
-Ah?! Oi! Nem te vi. Eu estava ocupado.
-Sei... - Cadu respondeu com uma risada rápida. Ele se lembrou da Sacha e contou - Ei. A Sacha me convidou para o aniversário dela.
-Sério? - Disse Sebastian tirando os fones- Sorte a sua. Ela me falou que a festa já estaria lotada. Por isso não convidou mais ninguém.
Cadu viu um ferimento no antebraço do amigo. Ele tocou levemente e Sebastian recuou ao sentir o toque causando uma dor:
-Eu posso te ajudar com isso - Disse Cadu.
-Não. É só arranhão.
-Eu tenho um curativo aqui na minha mochila - Ele falou pondo sua mochila nas coxas e abrindo um dos zipes dela. Cadu retirou o curativo da mochila e colocou em Sebastian com todo cuidado. Ele sentiu dor, mas Cadu continuou mesmo assim:
-Ótimo. Agora vai ficar melhor - Disse Cadu.
-Obrigado - Ele falou, com um sorriso sem graça.
Eles seguiram a viagem, que duraria 15 minutos. Cadu olhou para a janela onde Sebastian estava encostado e falou:
-E você vai?
Sebastian olhou para ele e disse:
-Acho que não. Eu sinto que não serei bem-vindo ali. Só a Sacha que fala comigo e o resto me ignora.
Sebastian notou que a parada que ele e o Cadu desceriam estava perto e falou:
-Melhor nos levantarmos.
Eles se levantaram. E Sebastian puxou a corda que ficava lá em cima para eles descerem - Vamos! - Sebastian falou para ele.
Eles desceram na parada que ficava em frente a um hospital. Andaram pela calçada de cimento cinza claro com algumas folhas amareladas jogadas no caminho. A escola estava perto, eles já podiam vê-la. Do outro lado da rua, tinha algumas meninas com o mesmo uniforme que eles. Era claro que elas estudavam na mesma escola. Elas conversavam e riam a cada passo dado. Cadu as observava discretamente. Ele sentia uma vontade de estar ali, com elas, rindo, conversando, debochando dos problemas da vida. No céu, apareceu uma fila de pássaros desorganizada; eles cantavam uns para os outros, e sumiram no céu mais distante.
Quando eles chegaram à escola, um grupo de meninos começou a falar:
-Olha o Sebastian. Já descolou um namorado hahaha - Um disse.
-Qual dos dois devem ter mais AIDS? - Os outros riram.
Cadu os olhou sem falar nada. Apenas olhou bem nos olhos deles e abaixou a cabeça, seguindo o seu caminho. Sebastian olhou para ele falou:
-Não liga pra isso. São todos uns babacas - Ele falou para Cadu.
Chegando à sala de aula, eles sentaram nos mesmos lugares que haviam ficado no primeiro dia de aula. Em seguida, Sacha passou pela entrada da sala, dando um sorriso largo e rápido para Sebastian, que fez o mesmo. O professor de matemática entrou na sala dando um “Bom Dia” sem tirar os olhos da papelada que segurava com o braço inteiro. Ele se sentou pendurando a sua bolsa na cadeira.
Bruno chegou com um grupo de garotos, que estavam rindo com ele quando entraram na sala. Seu olhar se encontrou com o de Cadu por um momento, mas foi cortado pelos dois. Cadu não sabia do namoro de Bruno com Sacha. Nem Sacha sabia que Bruno e Cadu se conheciam, e nem Sebastian. Bruno também se encontrava na mesma situação; não sabia que Sacha havia conhecido Cadu. Uma teia de desconhecimento tinha se formado entre eles. Durante as aulas, Cadu e Bruno não se falavam; apenas mantinham um contato visual, com olhares que diziam coisas que ninguém poderia ouvir. No intervalo, Sebastian acabou percebendo isso.
-O que tá rolando entre vocês? - Sebastian perguntou ao Cadu, que estavam na biblioteca. Eles foram levados pela professora de literatura até ali. Cadu estava dividindo a mesa com Sebastian quando ouviu sua pergunta. Ele lia seu livro quando foi interrompido:
-Como assim? Não entendi - Ele respondeu levantando sua cabeça.
-Eu vi você e ele trocando olhares.
Cadu notou que poderia estragar tudo contando à Sebastian. Ele não queria sair por aí contando um segredo. Por isso, ele resolveu mentir:
-Eu costumo olhar para o nada e acabo lembrando de alguma coisa legal, que me faz ou sorrir simplesmente. Talvez você tenha me visto nesses meus momentos e gerou essa ideia.
Sebastian olhou para baixo sem mover a cabeça; uma forma de pensar. Ele separou suas mão na mesa e falou para Cadu:
-É ... talvez tenha sido isso mesmo.
Cadu olhou para ele e riu:
-Como pôde imaginar isso?
-É ... nem eu sei. Desculpa.
-Ah ... tudo bem - Disse Cadu, voltando a ler seu livro
No último horário, Sebastian acabou se desencontrando com Cadu na aula de Ed. Física. Eles estavam jogando vôlei com três colegas de classe quando o professor começou a liberar alunos aos poucos para irem embora. Cadu foi um dos primeiros; Bruno foi logo em seguida e Sebastian demorou para sair. Quando ele saiu, não soube mais o paradeiro de Cadu. Perguntando à alguns alunos que estavam no pátio da escola, Sebastian descobriu que Cadu saiu com o Bruno em um carro. Ele se lembrou do que ele perguntou ao Cadu mais cedo, sobre sua suposta troca de olhares com Bruno.
Cadu estava dentro do carro do Bruno, junto dele. Eles estavam a caminho de uma papelaria:
-Você já tem ideia de como vai ser nossa obra de arte? - Bruno perguntou, virando a cabeça para ele e voltando a se concentrar no trânsito.
-Podíamos fazer o planeta Saturno. Pensei que se seria uma ótima forma de leitura por tato - Ele disse, tímido.
-Boa ideia. Opa, chegamos - Ele disse, começando a estacionar.
Sebastian estava na sua bicicleta, pedalando até uma papelaria. Nela, ele foi olhar umas maquetes que ficavam entre a prateleiras. Naquela loja, havia cinco prateleiras que continham exemplos de trabalhos e materiais à venda. A dona era uma velhinha de 70 anos chamada de Joanina. Ela estava em uma escada organizando os materiais na prateleira que ficava do lado de dentro do balcão. Sebastian se aproximou dela e perguntou:
-Onde posso achar dados?
Joanina ouviu a pergunta com um susto:
-Quem está aí? - Ela perguntou, deixando seus óculos cair sobre o chão.
-Um cliente ... eu acho - Ele respondeu.
-Ohh ... meu deus. Meus óculos - Ela disse.
-Eu pego pra você - Ele disse, pulando o balcão e se abaixando para procurar os óculos dela. Quando nesse exato momento, Cadu e Bruno entraram na loja conversando. Sebastian os reconheceu pelas suas vozes. Ele então manteve-se escondido lá. Cadu foi ao balcão pediu ajuda de Joanina:
-Com licença. Aqui tem isopor? Aquelas bolas de isopor?
-Tem sim claro. Estão logo ali - Ela falou apontando com o dedo.
-Obrigado.
-De nada, querido.
Bruno observava a loja enquanto Cadu escolhia os materiais:
-Ei, vem cá - Cadu chamou por ele.
-Quais dessas a gente leva? - Cadu perguntou à ele. Eram duas bolas de isopor que ele segurava com as mãos, mas uma era um pouquinho maior.
-Acho melhor levarmos a maior. Um trabalho assim fica mais visível - Falou Bruno. Eles concordaram.
Depois da compra, Bruno e Cadu levaram dali pinceis, papel EVA, tinta e papeis diferentes. Ao perceber a saída deles, Sebastian se levantou deixando os óculos de Joanina no balcão. Bruno e Cadu entraram no carro e saíram dali. Sebastian saiu da loja logo em seguida, e os seguiu com sua bicicleta. Depois de uma perseguição oculta, o carro em que eles estavam chegou à casa de Bruno; que ficava bem longe de tudo. Sebastian já estava cansado. Por muitas vezes, ele os perdeu de vista.
Cadu e Bruno entraram pelo portão que os levava até a porta. Sebastian os observava de longe. Eles entram, com Cadu com as sacolas na mão:
-Joga aí no sofá - Bruno falou. Ele obedeceu. Quando percebeu, Bruno já o beijava pelo pescoço.
-Bruno. Eu ... Não é pra isso que viemos aqui.
-Temos muito tempo pra isso. Vem cá. Quer ver o meu quarto - Cadu fez que sim e se deixou levar.
Chegando lá, Bruno voltou a beija-lo. Dessa vez, de forma mais forte. Cadu se deixou seduzir e seus beijos com ele foram parar na janela do quarto de Bruno, que ficava de frente para rua, onde Sebastian viu tudo. “Eu não acredito. Isso não pode estar acontecendo” Sebastian falou para si mesmo, com as duas sobre sua boca; demonstrando surpresa. Ele estava chocado.
Nota: O Capitulo 5 marca o meio da fase 01 dessa história, que será dividida em 3 fases. Espero que estejam gostando. Agradeço ao Edu, por estar acompanhando esta história :-)