Capítulo 2

Conto de BJJ como (Seguir)

Parte da série O Show

Ainda com os olhos fechados caio na real. Estava beijando um cara! Saio do beijo, que foi mais um selinho que um beijo de verdade assustado. Abro os olhos com um grande frio na barriga e me afasto bruscamente de Gustavo. Sua cara refletia um misto de “gostei” e “estou confuso”, assim como acredito que a minha estava. Olhei para o lado e todos os outros passageiros pareciam estar dormindo, então acho que ninguém tinha nos visto naquele momento.

Após estes segundos de não saber o que fazer, encaro o Gustavo que também aparentava querer se enterrar no chão. Já de cara eu começo:

- Man, não sei o que aconteceu… foi mal aí. Não tive a intenção e antes de mais nada queria te dizer que não curto essas coisas… nem sei o que te falar na verdade.

Ele continua me olhando com a mesma expressão por vários segundos sem me dizer nada. Ele parecia estar congelado.

- Ei… é sério, desculpa mesmo. Até entendo se você estiver puto comigo. Eu estou puto comigo mesmo… ah, vou parar de falar para não piorar a situação - disse eu.

No próximo minuto Gustavo ameaçou falar algo várias vezes, mas simplesmente travava e não parava de me olhar. Aquilo estava me deixando desesperado.

“Por que você foi fazer isso? Você é louco?”

- Não esquenta, cara - diz Gustavo me cutucando para me chamar - foi sem querer. Deve ter sido por causa do balanço do ônibus, e eu é quem estava virado para o seu lado - continua dizendo palavra por palavra meio gaguejando.

- É… é… é isso mesmo. Foi por causa do sol aqui na minha cara, então eu virei pro outro lado e o ônibus balançou - disse parecendo um velho gagá de tão nervoso que estava.

Depois desse momento que pareceu uma eternidade, cada um virou para o lado e dormiu. Bom, eu te garanto que não dormi e posso apostar que ele também não dormiu até o fim da viagem. Queria me enterrar e nunca mais ver a cara do Gustavo de tanta vergonha que eu estava sentindo.

Eu tinha curtido aquele momento, tanto que fui eu quem deu o beijo. Eu sabia que ele também tinha gostado pois ele tinha correspondido ao beijo, mas ambos ficaram na defensiva não querendo dar o braço a torcer para o que realmente estava acontecendo.

Eu não queria aceitar que aquela ação tinha partido de mim, um cara hétero que sempre saía e pegava muitas garotas e que nunca tinha sequer pensado na possibilidade disso acontecer.

Durante todo o resto da viagem eu fiquei martelando essas idéias na minha cabeça. Lá estava ocorrendo uma verdadeira guerra entre o meu conhecido lado hétero e esse novo lado que eu nem sabia que poderia existir em mim. A minha vontade naquele momento era de beijar Gustavo. Eu estava me sentindo atraído por ele ali do meu lado e o queria pra mim assim como sempre me sentia quando via uma garota gostosa numa festa.

Quando percebo já estávamos entrando na cidade. Em alguns minutos teria que descer daquele ônibus e voltar a encarar Gustavo. Foi um dos momentos mais angustiantes da minha vida e eu não tinha idéia do que ia dizer nem como ia agir e honestamente estava com medo de como a minha relação com Gustavo ficaria a partir daquele momento. Imaginei a possibilidade dele espalhar isso para todos e aquilo me dava calafrios de nervoso.

O ônibus para. Como estávamos sentados no fundo, teríamos que esperar quase que o ônibus todo descer antes da gente. Eu não tinha tido coragem de olhar novamente para ele depois das suas últimas palavras e continuei olhando para fora do ônibus esperando todos descerem para então a gente sair.

De repente Gustavo diz:

- Juliano, a galera já foi e a gente já consegue descer. Vamos? - diz ele com uma expressão que demonstrava vergonha, porém estava me tratando normalmente.

Eu vou na dele e continuo:

- Opa! Bóra. Já não aguento mais ficar aqui sentado nesse banco duro - digo tentando expressar normalidade e rindo no final.

Ele dá um leve sorriso e segue curso para a saída. Já fora do ônibus, subimos as escadas lado a lado para o saguão principal da rodoviária em completo silêncio, até que ele para na minha frente e me puxa para um lado onde não havia ninguém por perto.

- Olha, eu já não aguento ficar em silêncio depois do que aconteceu. Eu sei que não foi porra nenhuma de balanço do ônibus e nem nada do tipo. Você me beijou, de livre e espontânea vontade - dizia ele meio nervoso com a voz um pouco trêmula - e eu correspondi! Eu também não sei o que aconteceu, cara, mas eu também curti e não sei o que dizer à você!

Nessa hora eu já estava visivelmente nervoso e também já tremia um pouco.

- Fala alguma coisa! - diz Gustavo num tom impaciente.

- Calma! Eu estou em choque. Não sei o que te dizer… Sim, eu gostei, desde que te vi ontem aqui nesse lugar eu senti alguma coisa estranha em mim com relação a você. Durante toda a viagem e no show eu me pegava olhando pra você e tendo pensamentos que nunca tinham me ocorrido antes com outro homem. Eu nunca senti isso - digo já descarregando todo o caminhão de honestidade, cansado de segurar aquilo dentro de mim.

- Cara… eu senti a mesma coisa por você, mas também estou confuso. A minha situação é a mesma que a sua. Eu não sou gay e nunca senti atração por homens antes - disse Gustavo já recobrando sua normalidade.

- Agora fodeu… eu nem sei o que te falar agora, cara - digo olhando pra ele com um leve sorriso muito sem graça que ele retribui.

- Vamos fazer o seguinte - Gustavo me interrompe - vamos embora descansar porque estamos muito cansados dessa viagem. No fim da tarde a gente conversa melhor, já com a cabeça descansada. O que acha?

- Beleza! Vamos embora então. Eu vou pegar um taxi aqui. Você vai como? - pergunto.

- Vou de taxi também. Não vou ligar pro pessoal de casa me buscar e nem fodendo que vou de ônibus, é perigoso eu dormir e perder o meu ponto hahahaha - ele disse num tom mais descontraído.

- Você mora na direção oposta da minha casa, então nem rola rachar o taxi. Sendo assim vamos ali no ponto de taxi, aí cada um segue o seu caminho - sugiro.

- Fechou - diz ele.

Quando chegamos no ponto, já haviam dois taxis esperando, então ele pegou o primeiro e eu o segundo e seguimos cada um para a sua casa. Durante o caminho de volta eu estava aéreo; respondia as perguntas do taxista com relação ao meu endereço, caminho que preferia passar e etc e voltava ao martírio da minha última conversa com Gustavo.

“Eu não sei por que curti esse cara, e ele me disse que sentiu a mesma coisa por mim! O que vou fazer agora? Levar a situação pra frente como se fosse uma garota que tivesse conhecido e curtido numa festa?”

Cheguei em casa e cumprimentei todos. Tentei maquiar a minha preocupação e fiquei conversando por um tempo com a galera de casa sobre a viagem, o show e etc. Após fazer esse pequeno social disse à todos que estava esgotado e que ia tomar um banho e dormir a tarde toda. Tomei o meu banho, comi alguma coisa rápida na cozinha e fui para o meu quarto. Achei que não conseguiria dormir com o turbilhão de pensamentos na minha cabeça, mas estava errado. Minutos depois de deitar eu apaguei.

Acordei com um som de mensagem do meu celular. Já era 19:30h. Peguei o meu celular e tinha algumas mensagens, porém uma em especial me chamou atenção no whatsapp:

“Já acordou, cara? Se tiver a fim, vamos dar um rolê em algum bar pra beber algo e conversar?”

Comentários

Há 3 comentários.

Por Andrey em 2015-01-07 00:56:09
Nossa o beijo mexeu mesmo com Gustavo e com Juliano, e agora? Será que eles vão se entregar a esse sentimento? To amando seu conto ;)
Por Victor secrets em 2015-01-07 00:43:27
continue
Por Victor secrets em 2015-01-07 00:42:46
historia interresante.