Apresentação e Cap. I

Parte da série Americana

Filho do solteirão estrela da internet Tomi Costa (Thammy Miranda), Bernard (Ryan Potter) tem 15 anos, faz vídeos para a internet e acabou de se mudar para a Califórnia para fugir da homofobia que sofria em seu antigo colégio. No Secundário Americana, Bernard conhece sua melhor amiga Rebecca (Jay River a.k.a. Aja), e o gato Dave Jones (Roshon Fegan) com quem vai dividir seus medos e alegrias, que só a Costa Leste poderia proporcionar.

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I

Quando você sofre homofobia velada, você não tem como provar que sofreu. Você é apenas um "vitimista" que está tentando transformar sua “peculiaridade” em motivo para sofrimento.

Foi por isso que precisei mudar de escola depois do recesso de primavera. Foi a solução que papai encontrou para que eu não ficasse no mesmo ambiente que meus agressores, já que em Nova Iorque, onde eu morava desde que me entendia por gente, não iam fazer nada a respeito.

Eu estava analisando meu visual de cima a baixo, no primeiro dia de aula, antes que papai me chamasse para o café da manhã. Desde os tênis brancos, passando pela bermuda de brim rosa bebê dobrada acima do joelho, até a camisa estampada de fundo azul-marinho.

O rosto indígena norte-americano me encarou de volta, quando finalmente olhei da minha roupa para meus olhos. E um sorriso invadiu meus lábios quando percebi que eu ainda era eu mesmo, que a confiança ainda estava ali, e tudo isso, porque eu sempre tive uma casa, e uma família – constituída por um pai solteiro – para onde voltar, onde eu seria bem recebido, aceito, e amado, sempre que eu precisasse.

Papai era o típico "jovem" que tinha acabado de enriquecer com a internet, e trabalhava online. A parte não tão típica assim, era aquela que não tinha vontade de se casar, mas aos vinte e cinco foi chamado pela paternidade, e eis que Bernard, o pequeno indiozinho deixado em um orfanato qualquer, aos dez anos de idade ganhou um pai.

A batida na porta não esperou pela minha resposta para abri-la. O sorriso de admiração e orgulho entrou no quarto, e me olhou de cima a baixo.

— Fico muito feliz que tudo isso não te amedronte e não mude quem você é – disse papai, com seu sorriso sereno, e olhar protetor, segurando sua grande caneca com seu suco matinal – o aroma gritava cramberry.

— Não amedronta, pois tenho o senhor por aqui. Sempre incentivando meu verdadeiro eu – respondi, recebendo um abraço.

— Animado para a nova escola? - Perguntou, indo até a janela que ia do teto ao chão.

— É uma escola à beira-mar – disse, deixando bem claro minha excitação. - Quão animado o senhor acha que eu estou?

— Espero que muito… Você cresceu sua infância inteira dizendo o quanto queria uma casa na praia. E Santa Mônica foi o primeiro lugar que veio a minha mente, quando a necessidade da mudança caiu sobre nossas cabeças.

— Obrigado, pai… Por fazer tudo isso por mim.

— Não se preocupe, ursinho. Essa mudança vai ser muito boa para nós. Eu amo os Estados Unidos. Vim pra cá assim que Barack assumiu. Morei na Califórnia a maior parte da minha juventude, e então me mudei para Nova Iorque, quando estava a procura de novos ares. Mas os novos ares que eu queria na verdade, era você… Demorou para perceber que o que faltava na verdade não era um lugar. Mas felizmente eu percebi o que era, e consegui.

— Hoje o senhor é uma das maiores personalidades da internet, e tem um filho.

— E moro de frente pra a praia. Não se esqueça desse detalhe… Pergunta. O que vamos fazer com esse quarto?

— Quero dar uma modernizada no armário, e um tom mais sóbrio para as paredes – disse, apontando do armário embutido no lado oposto ao da cama tatame, para as paredes muito azuis. - E queria fazer um quadro-negro ali – terminei apontando para a parede onde estava minha cama. - Como na casa antiga, para poder escrever coisinhas, montar cenário pros vídeos…

— Perfeito – disse papai. - Vou comprar umas coisas enquanto estiver na escola, e quando voltar, vamos fazer uma bagunça por aqui. Você pode dormir comigo esta noite. Não é como se fosse o capitão do time de basquete…

— Pai? - Briguei em tom de brincadeira, rindo, enquanto ele me arrastava para fora do quarto que ficava no porão da casa.

— Ele por acaso te ligou, desde que chegamos a Califórnia? - Perguntou, enquanto eu me acomodava na banqueta, sentado ao balcão, me servindo um bowl de salada de frutas.

— Eu terminei com o Lincon, pai. Digo… ele é o capitão do time de basquete, totalmente no armário, ficava com garotas enquanto estávamos juntos. Não que estivéssemos oficialmente juntos, já que o status dele não nos permitia ter um.

— Nunca tive paciência para caras no armário – desembuchou. - Era como se nunca me permitissem ser quem eu realmente era. - E confie em mim, seu pai era a garota mais afeminada que o Brasil pode ter… Tá, não tão afeminada assim, mas bastante, acredite – pontuou, fazendo-me rir.

— Pai? Por que o senhor nunca se casou? - Perguntei, dando uma colherada na salada.

— Por que eu acho que nunca me senti conectado de verdade com alguém – disse. - Nunca encontrei alguém por quem me senti devastadamente apaixonado… Quando eu tinha sua idade, nunca me imaginei com um grande amor do meu lado, mas eu sempre me imaginei como pai, cuidando de alguém, deixando meu legado, ensinando como ser uma boa pessoa, e deixando-a no mundo para ensinar aos outros, o que eu ensinei a ele. E ainda estou ensinando.

— Sempre – disse, pegando sua mão. - E eu me sinto orgulhoso de ser filho do senhor.

— Obrigado, meu amor – disse ele. - Eu é que sinto um orgulho enorme de poder ser pai de uma criaturinha tão linda como você.

— Podemos eliminar criaturinha do vocabulário? - Perguntei.

— Combinado – disse ele, me fazendo rir. - Agora, vamos para o carro? É seu primeiro dia e eu não quero de forma alguma que você chegue atrasado. Que bela primeira impressão eu causaria para o diretor?

Comentários

Há 1 comentários.

Por Ben&Vick em 2018-05-31 06:32:01
Nossa. Não sabia que aqui tinha Fanfic também. legal. Ah gostei. To assistindo Os Gretchens. que tem o Thammy.