CAPÍTULO 3- (A.K.A)

Conto de Alex20 como (Seguir)

Parte da série Paraisópolis

Se tem uma palavra que pode definir um morador de Paraisópolis essa seria guerreiro de fé. Eu sei disso. Eu vejo isso. Eu vivo isso.

Prazer, Caio Oliveira a.k.a o Rei de Paraisópolis, 19 anos de luta e foco.

Tu deve tá se perguntando como alguém tão jovem pode receber um título como esse...bem, essa é história pra outra hora. O foco agora é o dia de hoje porque passado é passado.

-Eu não quero saber de você colocando essas suas calcinhas imundas no meu quintal!

-IMUNDAS? VOCÊ QUER QUE EU TE DÊ UNS TAPAS?

-VEM SUA VAGABUNDA, VEM!

Qual é a rotina maravilhosa que o manda chuva de Paraisópolis leva? Bem, basicamente eu resolvo os problemas aqui da comunidade, e haja problema! O de hoje, é mais uma briga de vizinhos, ou melhor, de vizinhas: Dona Márcia e Dona Wanda, as barraqueiras de Paraisópolis.

-Parô, parô, parô! - como sempre, sou eu quem tem que botar um ponto final na briga das tiazinhas - Não quero saber de ninguém saindo no pau aqui. Dona Márcia, será que a senhora poderia nos fazer o favor de arrumar um outro lugar para pendurar suas roupas?

-OLHA AQUI, EU TÔ COLOCANDO UMA PEDRA NESSE ASSUNTO POR CONSIDERAÇÃO AO AMIGÃO AQUI- Dona Márcia joga as palavras em sua vizinha- SE FOSSE POR VOCÊ EU ENFIAVA ELAS NUM CANTO QUE VOCÊ NEM VAI QUERER QUE EU DIGA!

-COMO VOCÊ SE ATREVE? SUA BRUACA! - Dona Wanda grita em revolta.

No meio da confusão meu celular toca. O uso pra manter contato com meus parceiros daqui.

-Ô JP...ajuda aqui, mano. - peço ajuda ao meu parceiro, que tenta apartar a briga enquanto atendo ao chamado.

É o Muralha quem chama, ele é responsável pelo bloqueio na entrada da comunidade.

-Fala aê, qual é a bronca da vez? - atendo o celular.

-Ei - Muralha começa a falar-, tem um carinha aqui querendo falar contigo.

-Que carinha? Já o viu antes?

-Não, eu não o conheço o cara, mas ele insiste em te ver.

-Que droga...tá, tô indo ai. –desligo o celular.

-Ai, irmão. -JP me chama em meio ao fogo cruzado das duas velhas que cuspiam palavrões uma contra a outra- Parece que as tia tão bem ranzinzas.

-Eu não quero ter que voltar aqui, entenderam? - digo para as barraqueiras- JP você vem comigo.

Subimos em nossas motos, colocamos os capacetes e partimos em direção a entrada onde fica o bloqueio. No meio do caminho outra moto se junta a nós, é o Wesley.

Chegando lá me deparo com o tal problema e também com o tal ''carinha'' que Muralha falava. Desço da moto e vou até lá. Ele está bem vestido com uma roupa que deve ser de alguma marquinha dessas bem caras. Com certeza ele não é daqui, eu não o conheço.

-Posso saber o motivo do manezão aqui me chamar? - pergunto irritado sem tirar o capacete.

-Eu quero entrar na comunidade. - o carinha diz. Realmente eu nunca o vi antes.

-O motivo? - pergunto.

-Eu quero conhecer, seu idiota. - ele parece estar impaciente.

-Cuidado com a boca.- JP entra em defesa.

-Cale-se, macaco treinado. - o estressadinho retruca.

-Iiiiiiih! - todos os rapazes zoam.

-QUIETOS, PORRA! - me irrito com a baderna e com o garoto. Minha vontade é de socar a cara dele.

-Com licença, mas quem é você pra dá ordens na comunidade? – ele pergunta –Pra início de conversa, ela nem deveria ter alguém mandando nela.

-Eu? Quem sou eu? - dou risada- EU SOU O REI DE PARAISÓPOLIS!

-Rei de Paraisópolis? - ele pergunta em tom debochado.

-Tu é surdo, parça?

-Me desculpe, eu não falo sua língua. Pode liberar minha passagem, parça?

-Quem é você?

-O meu nome é Alexandre Grochevits. –sobrenome de gente riquinha –Você deve conhecer o meu pai já que é o manda chuva por aqui. Ele vai começar a trabalhar no posto de saúde da comunidade. O tal projeto do governo.

O carinha tem razão, há sim um projeto aqui na comunidade...uns engravatados falaram que seria bom para todos.

-Pera ai. - tiro o capacete e o garoto começa a me encarar. Viadinho de merda.

--Seu pai é um desses engravatados que vieram trabalhar no postinho? - Wesley pergunta.

-Sim, ele é.- o carinha responde mantendo os olhos em mim

-Aí, cara. – volto a falar - Eu vou liberar a tua passagem aqui na comunidade por respeito ao trabalho que teu coroa vai fazer aqui, só cuidado com esse nariz empinado. – sem querer mais conversa, me viro e peço para JP e Wesley me seguirem.

Antes dou sinal para que Muralha libere a entrada do rapaz e logo então volto ao fluxo.

Enquanto piloto em direção a meu sobrado -que gosto de chamar de meu QG- fico me perguntando quem era aquele cara e qual o interesse dele em conhecer Paraisópolis, pois, que eu saiba, nenhum riquinho quer andar por aqui. A não ser os gringos que querem tirar as fotografia das coisa por aqui.

Chegando ao QG estacionamos as motos, subo as escadas, tiro o capacete e o jogo em um sofá, em outro, sento e levo as mãos à cabeça. Sinto o suor em minha testa.

-Que cara estranho...riquinho metido à besta. - Wesley começa a falar com raiva do tal Grochevits.

-Sim, mó babacão. - respondo olhando para o teto.

-Quer que a gente faça alguma coisa com ele? - JP pergunta –Um susto talvez.

-Não...só deem uma vigiada nele. Um cara com aqueles bagulho de marca dando sopa em Paraisópolis pode dá confusão.

-Pode deixar. - dizendo isso eles saem em busca do playboy e me deixam sozinho.

Me ajeito no sofá e fico encarando a parede quando ouço o barulho de algo sendo derrubado lá embaixo. Vou até a janela ver o que tá acontecendo.

-Que porcaria você fez ai? - vejo o motivo do barulho e me irrito.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Fla Morenna em 2016-04-10 07:10:26
Ta legal esse conto