CAPITULO 2- ( O REI DE PARAISÓPOLIS)
Parte da série Paraisópolis
Me desculpe por não ter postado ontem. Por isso irei postar dois capítulos hoje. Bjs, obg pelos comentários e Boa leitura.
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Acordar em uma casa nova sempre provoca uma sensação diferente. Em mim, há uma falsa animação. Acordei curioso por causa da pesquisa de ontem, com vontade de conhecer a região. Conhecer Paraisópolis, e eu vou independente do que a minha mãe me diga.
Levanto da cama com um pulo. Faço minha higiene e vou tomar meu café.
-Bom dia, filho. - minha mãe está na mesa tomando o seu café da manhã. Uma porção de pães, bolo, suco, frutas e algumas geleias fazem parte do cardápio de hoje.
-Oi. - digo sentando na cadeira- O pai já saiu?
-Estou indo agora. - meu pai aparece apressado. Ele passa pela mesa e dá um beijo em minha mãe- Você viu a chave do meu carro?
-Na estante da sala, querido.
-Tudo bem então. Até mais, filhão. - meu pai passar por mim e bagunça meu cabelo. Uma mania bem feia.
-Tchau. - digo puxando uma banana do cacho.
Meu pai sai pela porta e deixa eu e minha mãe sozinhos em casa.
-Então, tem planos para hoje? - minha mãe puxa assunto comigo.
-Por que a curiosidade? - digo dando uma mordida na banana.
-Ah, eu só quero saber! Se eu não tivesse tirado aquela ideia maluca do seu pai vocês estariam indo para aquela favela agora.
-Não, mãe...eu não tenho planos. –menti.
-Ótimo, vamos ao shopping.
-Oi? –indaguei.
-Vamos fazer compras juntos, como mãe e filho!
-Haha. - forço uma risada- Eu prefiro levar um tiro.
-Não diga isso, Alex Grochevits!
-Mãe, você sabe que eu não gosto que fale o meu sobrenome.
-NOSSO sobrenome! Somos uma família nobre, devia se orgulhar do sangue que leva em suas veias. É sangue azul, Alex.
-Que seja...- digo revirando os olhos- eu estava pensando em dar uma volta no bairro.
-Sozinho? - minha mãe parece não gostar da ideia.
-Isso mesmo. –arqueio uma sobrancelha enquanto tomo um gole de suco de laranja –Sozinho.
-Você sabia que o governo nos assegurou de segurança total enquanto o seu pai estiver ativo no projeto? Você pode sair com um deles.
-Eu não quero andar rodeado por uma muralha! E façam-me o favor de não colocar um desses caras me vigiando pelos cantos! - digo levantando-me da mesa.
-Por que você é tão implicante comigo? Eu só quero ser sua amiga, Alex!
-Eu agradeceria se você parasse de tentar! Eu estou bem. - dizendo isso saio em direção ao meu quarto e tranco a porta.
As pessoas devem achar que trato muito mal a minha mãe, bem, elas têm razão! Mas acontece que elas não precisam aturar metade das doidices dela! Minha mãe é uma lunática, isso é um fato! Argh! Preciso de um banho. Vou conhecer Paraisópolis e ela não vai me impedir, além do mais, ela nem precisa saber disso.
Deixa ela pensar que estou dando uma volta pelo bairro.
Entro no chuveiro e deixo um pouco do estresse descer pelo ralo. Saio e coloco uma roupa legal e que me seja confortável. Com o celular no bolso, deixo meu quarto e vou em direção a porta.
-Aonde você vai? - minha mãe aparece e começa seu interrogatório.
-Eu já disse, vou dá uma volta no bairro.
-Eu não quero que vá para aquela favela, está me ouvindo?
-Eu não vou até Paraisópolis! Por que você tem que ser tão chata? - digo e saio pela porta.
Desço pela portaria, e, por ânimo, cumprimento o porteiro. Saio pelo portão e começo a andar sem rumo pela rua. Pra falar a verdade eu não sei por onde seguir para chegar na comunidade...eu deveria ter dando uma olhada no mapa. Como sou burro! E acho que por aqui ninguém tenha coragem ou interesse de colocar os pés lá para me dar tal informação.
Depois de caminhar por alguns poucos minutos lembro que estou com o celular. Vejo como chegar na comunidade pelo Google Maps. Só ai é que as coisas começam a caminhar direito. Entro em uma rua, cruzo outra e dou um arrodeio até que chego em uma espécie de bloqueio que parece ter sido feita pelos moradores, ou, o mais provável, considerando o fato de haver alguns caras esquisitos na entrada, é que tenha sido feito por marginais que acham que mandam no lugar. Estes, por si, tentam impedir minha entrada.
-Aonde pensa que vai, florzinha? - um homem negro e forte, porém, com uma barriga de cerveja fica na minha frente.
-Eu quero entrar! - digo e tento passar mais uma vez, em vão. O grandalhão coloca sua mão enorme em meu peito- Dá licença? -digo empurrando sua mão.
-Não posso deixar você entrar aqui. - ele diz com sua voz grossa.
-Posso saber o motivo?
-Ordens do patrão. Ninguém desconhecido entra.
-Patrão? - indago em tom de desdém- Eu quero falar com esse seu ''patrão''. - exijo.
O grandalhão em minha frente dá uma risada em resposta.
-O patrão é muito ocupado para perder tempo com exigências de estranhos.
-Chame-o aqui. - cruzo os braços.
-Tem certeza?
Não respondo, apenas levanto uma das sobrancelhas.
-MAICON! - ele dá um assobio. Logo depois um rapaz magricelo e espichado aparece e o entrega um celular- Ei- ele começa a falar com alguém do outro lado da linha-, tem um carinha aqui querendo falar contigo. - ele parece esperar uma resposta- Não, eu não conheço o cara, mas ele insiste em te ver.
-Ele tá vindo? - pergunto impaciente.
-Sim, e tá uma fera. Mermão se eu fosse tu ia embora enquanto podia.
-Eu não vou sair daqui.
-Cê que sabe. - ele diz e sai rumo a um banco para se sentar.
Depois de alguns minutos esperando três motos chegam no bloqueio. Os caras que as pilotavam descem das motos e vêm em minha direção. Todos tiram os capacetes, menos o do meio.
-Posso saber o motivo do manezão aqui me chamar? - o rapaz do meio me pergunta com tom debochado, mas ele estava com raiva. Sua voz me causa arrepios.
-Eu quero entrar.
-O motivo?
-Eu quero conhecer a comunidade, seu idiota. - me irrito.
-Cuidado com a boca. –um rapaz ao lado do chefão diz.
-Cale-se, macaco treinado. - retruco.
-Iiiiiiih! - todos os rapazes zoam da resposta que dei.
-QUIETOS, PORRA! - o chefão grita.
-Com licença, mas quem é você pra dá ordens na comunidade? –pergunto –Pra início de conversa, ela nem deveria ter alguém mandando nela.
-Eu? Quem sou eu? - ele ri em resposta- EU SOU O REI DE PARAISÓPOLIS!
-Rei de Paraisópolis? - pergunto em resposta.
-Tu é surdo, parça?
-Me desculpe, eu não falo sua língua. Pode liberar minha passagem, parça?
-Quem é você?
-O meu nome é Alexandre Grochevits. –digo –Você deve conhecer o meu pai já que é o manda chuva por aqui. Ele vai começar a trabalhar no posto de saúde da comunidade. O tal projeto do governo.
-Pera ai...- o rapaz então tira o capacete.
Ele se revelar ser um cara bem atraente. Seus cabelos são de um tom de loiro que é meio puxado para o castanho e estão bagunçados por causa do capacete. Alguns fios caem sobre o seu olho. Seu rosto é fino e os olho são claros e penetrantes. Caramba! Ele é muito gato! Um arrepio novamente percorre minha espinha.
-Seu pai é um desses engravatados que vieram trabalhar no postinho? - um outro cara que aparenta ter mais ou menos a minha idade me pergunta.
-Sim, ele é.- respondo ainda olhando para o que está na minha frente. Acho que é bom eu parar de encarar ele, já tá ficando estranho.
-Aí, cara. - o rei volta a falar- Eu vou liberar a tua passagem aqui na comunidade por respeito ao trabalho que teu coroa vai fazer aqui, só cuidado com esse nariz empinado. - dizendo isso ele não me dá chance para revidar e se vira fazendo sinal para que seu pessoal o siga.
Eles sobem em suas motos e partem.
-Você ouviu o chefão: pode liberar a minha passagem! - digo para o rapaz forte com quem trombei da primeira vez.
-Tu toma cuidado, playboy. Vê se não inventa de ostentar pela região. - ele responde com raiva.
-Eu não sou desses.
-Bom saber. - assim dizendo o grandalhão dá espaço para que eu passe.
Já nas terras de Paraisópolis sinto uma sensação diferente...um misto de curiosidade, frio na barriga e uma voz na minha cabeça gritando: ''QUEM ERA AQUELE CARA?''.