CAPÍTULO 1- (LAR DOCE LAR)

Conto de Alex20 como (Seguir)

Parte da série Paraisópolis

Eu observo os prédios luxuosos ao meu redor com certa atenção. São bem bonitos e atraem olhares, mas é a mesma monotonia de sempre: pessoas ricas e mesquinhas enfornadas em seus apartamentos de milhares e milhares de reais. A mesma monotonia da qual eu fujo, mas estou preso à ela. Estou me mudando para um desses apartamentos contra a minha vontade. Sinto-me como um daqueles criminosos que andam acorrentados. Apesar de ser um deles este não é o meu lugar, eu não me sinto como sendo um deles, mesmo observando tudo dentro de um carro que custou mais alguns milhares de reais. Meu rosto segue escorado no vidro do banco traseiro.

-Já chegamos, querido. - minha mãe se vira para mim e passa a mão em minha perna.

Olho para o lado e vejo que paramos em frente a um enorme conjunto habitacional. Há três prédios, todos brancos e com uma arquitetura diferente, uma espécie de escada circular. É um bom lugar para se morar, mas como eu já disse antes, eu não me encaixo nisso.

-A gente vai ter que mesmo morar aqui? - pergunto saindo do carro e encarando o enorme prédio na minha frente - Eu gostava de onde morávamos.

-Enquanto eu estiver trabalhando nesse novo projeto do governo...sim. - meu pai coloca a mão sobre meu ombro. Ele também admira nosso novo lar.

Meu pai é um médico renomeado que foi chamado para atuar em um projeto do governo cujo objetivo é trazer atendimento de saúde de qualidade para as áreas carentes de São Paulo. Agora, teremos que morar no bom e velho Morumbi para que ele fique perto do novo trabalho: a favela de Paraisópolis.

Tolice, em minha opinião. Não querendo ser chato, mas acho que um médico como ele deveria estar em um grande hospital, e não em um postinho de saúde receitando xarope para pessoas com dor de garganta.

-Ora, Alexandre, deixe disso! –minha mãe surge ao meu lado e me repreende –Nós vamos ficar muito bem aqui!

-Que seja. - dou alguns passos e passo pelo portão principal.

-Boa tarde. –um segurança no portão me cumprimenta com um breve aceno de cabeça.

Forcei um sorriso e continuei andando. Dou uma olhada no pátio do condômino e vejo o quão luxuoso ele é. Só aqui embaixo já pude notar uma piscina, um playground e uma quadra de basquete.

-Olha isso, Filho. Não é maravilhoso? - meu pai novamente aparece atrás de mim - Podemos fazer algumas cestas depois.

-Pode ser. - volto a andar e passo pela portaria. Alguns moradores passam por mim. Subo as escadas em direção ao andar em que fica nosso novo apartamento.

-Filho, tem um elevador aqui. - minha mãe me chama. Paro, olho para trás, reviro os olhos e volto a subir as escadas.

-Alex, nós moramos no sétimo andar, é mais fácil subir de elevador! - ouço meu pai insistir para que eu desça e siga com eles para o elevador.

A escadaria parecia não ter fim, quando finalmente chego ao andar encontro meus pais me esperando na porta.

-Se tivesse me ouvido não demoraria tanto. - minha mãe estende a mão para que me junte a eles.

-Prontos? - meu pai pergunta enquanto balança as chaves do apartamento entre seus dedos

-Estou prontinha! E você, Alex? - minha mãe sorri para mim.

-Êêê! - levanto os braços fingindo animação.

-Na contagem. –meu pai coloca a chave na fechadura e começa uma contagem. –Em três, dois, um! –a porta é aberta.

-Aaaaaaaaah! - minha mãe grita de alegria e corre para dentro- Que lindo! Alex, veja isso!

-Mobiliado? – entro no apartamento e analiso os móveis que cuidam da decoração do apartamento.

A sala não é muito grande. Uma grande televisão está acoplada a um painel de madeira. Algumas plantas e jarros espalhados pelo rack que parece grupado à parede. Um tapete muito felpudo que mataria uma pessoa alérgica com o tanto de poeira que deve acumular. Uma mesa de vidro no centro e uma grande sofá branco com várias almofadas. Me lembra daqueles do Big Brother. A sala faz divisória com uma cozinha aberta. Um balcão americano as divide.

-Dê créditos ao seu paizão aqui! - meu pai diz abraçando a minha mãe.

-Sempre um passo à frente não é, ursão? - minha mãe dá um beijo estalado em meu pai.

-Se me dão licença eu vou ali vomitar. – saio da sala e vou em busca do meu quarto.

Encontro uma porta com um ''A'' de madeira pendurado, suponho que seja meu quarto. Entro e dou de cara com um quarto com paredes pretas, menos na parede em que está a cama, esta tem um papel de parede com listras azuis escuras e cinza. A cama de casal está bem arrumada e fica encima de um tapete. Duas mesinhas de canto amarelas em cada lado da cama. Uma escrivaninha onde está o meu notebook e meu iPad. Ao lado dela, uma grande janela.

-Nada mau. - digo sentando na cama e dando alguns sobressaltos para sentir a qualidade do colchão.

Vou até uma janela enorme ao lado da escrivaninha e me deparo com uma vista privilegiada do que seria a tal favela em que meu pai trabalhará. Paraisópolis. Tinha que ser tão perto?

-Legal, não é mesmo?!- meu pai e suas manias de aparecer atrás de mim.

-É enorme. - digo ainda olhando pela janela.

-Ah, você está falando de Paraisópolis. –ele diz ficando ao meu lado e olhando pela janela - Sim, é uma verdadeira cidade dentro da nossa metrópole. Amanhã estarei indo conhecer o posto onde ficarei.

-Espero que sobreviva, deve ter todo tipo de gente ai. - digo indo em direção a minha cama.

-Que bobeira, Alex! -meu pai se vira para mim- Paraisópolis não é tão ruim quanto pensa! Há várias coisas interessantes para se ver.

-Tipo o quê? O campinho de futebol?

-Sim! E os vários projetos que buscam manter os jovens fora do caminho ruim.

-Que tipo de projetos?

-Arte!

-Arte?

-Isso! Há apresentações de balé, a Casa de Pedra...até uma casa feita de garrafa PET!

-Quanta criatividade.

-Sim. Qualquer dia posso te levar para conhecer.

-Qualquer dia então...

-Bem, vou te deixar sozinho com seu novo quarto. –meu pai diz indo em direção a porta –Que tal pedirmos uma pizza para o jantar?

-Pode ser.- digo deitando na cama e analisando o teto.

-Pizza, então. - meu pai sai e fecha a porta.

Assim que ele deixa o quarto dou um grande suspiro. Me viro de lado e ajeito o travesseiro na cabeça. Decido dormir um pouco.

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Bom pessoal, esse foi o primeiro capítulo, espero q tenham gostado. Comentem pfv. Bjs.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Fla Morenna em 2016-04-02 10:14:21
Interessante esse menino é meio esnobe né?
Por Nando martinez em 2016-04-01 21:11:27
Alex e o tipo de garoto rebelde? Me lembra muito uma pessoa kkkkk mas o seu conto esta muito legal espero que em breve esteja por aqui de novo ^^ gostei e vou acompanhar