Mateus Santos
Parte da série HAPPY - Felizes apesar de tudo
_Mateus Santos
Cara! Eu viajava na daquele menino. Aquele sorriso sincero e frágil eram perfeitos para aqueles olhos amendoados, tão negros quanto o cabelo cacheado. Ele era tão gracioso que parecia nem tocar o chão quando se ia de um lugar ao outro.
Mas aquela viagem estava para acabar, ou para ser literal, ela nem aconteceria.
Ele não reparava no jeito que eu o olhava, e em breve ele iria embora.
Ele e seus amigos cursariam o ensino médio em um colégio público, e eu tinha tanta vontade de seguí-lo, mas como explicar a mim mesmo deixar uma das melhores escolas particulares da cidade. Para ele era fácil, entraria em qualquer colégio sem piscar, o dinheiro dos pais poderia pagar, ele sendo filho de militar e de uma professora universitária, separados, não que ele não tivesse gabarito intelectual, era o segundo da turma, atrás do melhor amigo. Agora, para mim? Um bolsista? Não seria fácil largar essa escola, e eu nos meus poucos quatorze anos o que entendi de tomar decisões?
Aquela viagem seria a última chance, mas um resort no litoral sudeste, era uma chance que um bolsista como eu não podia se dar ao luxo de bancar.
- A bola - ouvi alguém gritar, me tirando dos meus pensamentos. Mas quando olhei já era tarde. A bola de volêi bateu em minha testa, fazendo minha cabeça bater na parede.
Eu esfregava onde doía, enquanto o trio vinha até mim.
- Você está bem? - Era ele. Naquele momento? Claro que eu estava.
- Lógico que não, Gustavo. O menino acabou de levar uma pancada e ainda bateu a cabeça na parede - disse Carlos Mendes.
- Eu disse que eu sou um perigo para sociedade com uma bola na mão - disse Gustavo Lemes, o menino que eu queria pegar no colo e cuidar para sempre.
- Eu vou na cantina pegar um pouco de gelo para você, Mateus - se ofereceu Carlos.
- Não precisa, Carlos. Eu vou ficar bem. Obrigado de qualquer forma.
- Tudo bem - disse ele, no instante que o sinal tocou.
Eles se despediram, os três sorridentes... Nunca estavam de mau-humor.
Carlos Mendes, Gustavo Lemes e Marcelo Soares, eram inseparáveis, até nos meus devaneios: Sempre que imaginava meu casamento com Gustavo, Marcelo e Carlos estavam no altar como padrinhos.
Era hora de voltar a realidade.
Da escola eu fui para o ponto de ônibus, dei uma corrida curta, do fim da rua até o ponto, pois o ônibus em que eu ia para casa estava parado lá. Eu embarquei e já procurei por um lugar no fundo.
Com os fones no ouvido fui tocando minha bateria imaginária até chegar em meu detino.
Do ponto de ônibus até a minha casa eram apenas dois quarteirões.
- Como se saiu nas provas de hoje? - Perguntou minha mãe, assim que eu cruzei o portal da cozinha.
- Acredito que fui bem. Pelo menos boa nota eu vou ter como consolo de formatura - lamentei.
- Oh, meu filho. Eu queria tanto te dar essa viagem de presente de formatura - disse minha mãe, vindo me abraçar e me beijando a testa.
- Que isso, dona Neusa. A senhora já faz o possível pra deixar nossa casinha de pé, e pra sustentar nós dois. Eu não me permito pedir mais que isso.
- Você é tão maduro para um muleque de quatorze.
Eu sorri, envaidecido.
- Um dia eu vou pagar uma viagem para a senhora. E eu não serei mais feliz que neste dia.
- Que seu coração permaneça bom desse jeito, meu filho... Agora a mãe precisa voltar para o trabalho. Cuida da casa.
- Pode deixar, mãe. Te amo - disse, abraçando-a.
- Também, meu filho - disse ela, antes de sair.
Depois de almoçar, descansei um pouco, fui tomar banho para estudar.
E enquanto estou estudando, dividindo minha atenção entre a equação e Gustavo - ele é apaixonado por matemática, alguém bateu à porta.
Eu fui ver quem era. Meu tio estava parado na batente.
- Oi, tio - cumprimentei ao atender.
- Sua mãe não tem um dinheiro pra me emprestar? - Perguntou ele, sentando no sofá e ligando a televisão, com a camisa jogada no ombro ele já se esparramou no sofá e colocou a mão dentro dos shorts, e ficava mexendo o pau.
- Ela não deixou nada hoje.
Ele me olhava, enquanto mexia dentro dos shorts.
- Não vai vir ninguém aqui hoje? - Perguntou ele.
- Eu estou estudando, tio. Por favor.
- Tudo bem - disse ele, desligando a televisão e se levantando, sem tirar a mão do pau. O que ele só fez quando parou na minha frente.
- Tchau - disse.
- Estou louco para você entrar de férias - disse ele, tirando a mão de dentro dos shorts, e acariciando meu rosto, passando o dedão nos meus lábios.
Ele saiu, visivelmente excitado. Mas ele nem se importava de sair assim. Exibiria seu volume como um troféu.
Eu tranquei a porta, fui até o banheiro, cuspi e lavei a boca, chorando, pensando no que Gustavo diria agora se visse essa cena.