Gustavo Lemes

Conto de Alequino como (Seguir)

Parte da série HAPPY - Felizes apesar de tudo

_Gustavo Lemes

Já estava um pouco difícil suportar aquela situação. Nunca estaria de fato sozinho, pois minha família não iria deixar aquilo acontecer. E quando digo família não me refiro a um pai brigadeiro da marinha, que saiu de casa quando eu ainda chorava ao me desequilibras nos meus passos desconjuntados e caia - não que eu hoje em dia eu chorasse por coisa menos bobas (eu me sorri com esse pensamento) como eu era chorão - família significava menos ainda uma professora universitária, que trabalhava de segunda a sexta no Rio de Janeiro, e ainda sim não passava todos os fins de semana em casa.

Família, para mim, era algo mais subjetivo, e bem mais intenso do que meus pais separados, que me davam dinheiro, mas não pelos quais de fato eu tinha sido educado. Família para mim tinha apenas um significado, o lar em que eu tinha escolhido me refugiar, esses eram Carlos Mendes e Marcelo Soares. E bem frequentemente o resto que me cercava nas melhores almoços de domingo na casa de Carlos, ou nas partidas de videogame na casa de Celo, em que Breno sempre implicava comigo como se eu fosse irmão mais novo dele, e realmente era assim que eu sentia como se fosse. Celo quase tinha ciúmes de nós, mas "você é meu melhor amigo, eu te empresto meu irmão", como ele não cansava de dizer.

- Quero ver chamar o Darlan de irmão - provocou Breno, o único da nossa grande família que sabia sobre a sexualidade de nós três, numa daquelas partidas de Mortal Combat.

- Ah! O Darlan é diferente. Você gosta de me atazanar - disse.

- Gosto não. Eu vivo para isso - disse ele, sorrindo, me fazendo gargalhar daquela situação.

Eu estava saindo de casa, aquela que continuava vazia e solitária, apesar da professora estar em seu quarto, onde passaria a manha inteira dormindo após uma noite com os amigos.

- Uma semana de folga em casa, e como ela prefere passar a noite? Pela cidade, com os amigos - disse a mim mesmo.

Ela podia gastar sua folga e seu dinheiro da maneira que quisesse, o ponto não era esse, o ponto era que ela não me via a duas semanas, pois não tinha vindo em casa no final de semana que passou, mas não parecia que ela sentia tanta saudade de mim quanto eu dela. Sim, eu gostava da minha mãe, queria ela por perto, apesar do modo como a apresentei. E tudo o que eu tinha? Nada. Nem um boa noite antes de dormir, pois ela também não fazia questão de usar o celular comigo, e nem um bom dia ao ir para a escola, porque quando não saia com os amigos, ficava até tarde no computador em encontros virtuais.

- Bom dia, patrãozinho - disse José, da maneira mais formal possível.

José era outra pessoa que eu considerava família. Apesar de nosso relacionamento ser menos pessoal que com os outros, ainda sim, era ele quem me acompanhava em minha rotina. José não morava no apartamento, mas era meu motorista pessoal, então estava todos os dias em ponto, na entrada do condomínio onde eu morava para poder me levar a escola, ou a qualquer outro lugar que eu precisasse ir. Como no curso de inglês que eu fazia as terças e quintas, ou no clube quando eu estava afim de encontrar meus amigos, e ver alguns meninos, coisa que não fazíamos em nossas piscinas particulares.

O caminho inteiro, José parecia puxar assunto, falando do dia e do clima, e de como ele poderia ficar dali em diante, perguntando como tinha sido minha noite passada, e se eu tive alguns sonhos - que eu o contava quando não eram maliciosos demais - me contando sobre os filhos e a mulher, e das notícias boas que tinha visto no telejornal, porque era só das que ele gostava, só das coisas boas.

Ele me deixou na entrada da escola e me desejou boa aula antes de partir.

- Bom dia, Mateus - disse, passando por um dos meninos que estudava comigo.

Ele estava parado ao lado do portão, e por algum motivo estava de boca aberta, mas eu não sabia o motivo, porque só tirei os olhos do chão, como eu costumava ficar a maioria do tempo, quando cheguei perto dele.

- Bom dia - respondeu ele, tão baixo que eu quase não ouvi.

Já na sala de aula eu encontrei Celo e Carlos, os quais cumprimentei abraçando, não que ver três amigos de infância se abraçando, fosse incomum para nossos colegas, nossos colegas não entravam nessa de julgamento, mas mesmo que eles pensassem alguma coisa, na escola nós não nos escondíamos como em casa.

Durante o intervalo não conseguíamos falar de outra coisa a não ser Darlan e Hugo, menos quando eles se aproximavam de nós, geralmente era Darlan, perguntando ao irmão sobre as meninas da nossa classe.

- Cria vergonha na cara, Darlan. Essas meninas tem no máximo quatorze anos - disse Carlos, como todo bom irmão mais novo ciumento.

- E daí? Eu tenho dezessete. São apenas três anos de diferença.

Ou quando não, falávamos, ou melhor, lamentávamos sobre o quão realmente bonita era Amanda, e depois de todo o esforço para encontrar algo, concluímos que ela não tinha defeito.

Voltamos para a sala de aula enfim, para a prova final de Literatura. A segunda do dia. Para Carlos eu sei que seria muito fácil, ele adorava literatura e poesia, e coisa e tal. Mas já eu, gostava mais dos números. O engraçado era quer éramos melhores amigos, e com tantas diferenças.

- Essa é parte gostosa de ser amigo - dizia Carlos, sempre que eu apontava as diferenças entre nós três.

Depois da prova que não estava tão difícil quanto eu achei que estaria, fomos para a quadra, esperar a aula da outra turma acabar. Quando isso aconteceu, o mesmo cenário de sempre se formou. Eu, Carlos e Celo pegamos uma bola de vôlei e fomos jogar em roda, com mais uns três meninos que não eram muito fãs do futebol, que era jogado pelos meninos da turma, com exceção de Mateus que fora se sentar no ultimo degrau da arquibancada - ele era isento das atividades físicas, por atestado médio - e as meninas jogando handebol na outra quadra.

Já no final da aula, quando só sobrou eu, Celo e Carlos na roda, mais papeando aleatoriamente, do que jogando bola, eu que nunca fui muito bom em esportes lancei a bola absurdamente fora dos nossos limites, e ela acabou indo em direção a Mateus.

- A bola - gritei, mas acho que ele não prestou muito atenção e a munição, digo, a bola, acertou em cheio sua testa, projetando sua cabeça contra a parede.

Quando nos aproximamos ele já esfregava a cabeça onde tinha batido na parede e seus olhos estavam marejado.

- Mateus? Você está bem? - perguntei.

- Claro que não, Guto. Ele bateu a cabeça na parede - disse Carlos.

- Eu disse que não era muito seguro com uma bola na mão.

- Eu vou até a cantina buscar um pouco de gelo para você.

- Não precisa, Carlos. Está tudo bem, mesmo.

- Tudo bem.

O sinal tocou e depois de verificarmos se ele estava em condições de ir embora, pegamos nossos materiais e fomos embora.

Eu liguei para minha mãe, ela tinha ido almoçar com algumas amigas da faculdade em que estudara, então eu fui para a casa de Carlos, eu e Celo. Iríamos de lá direto para o curso de inglês.

Depois do almoço fomos para o quarto de Carlos, trocamos nossas roupas - eu,Celo e Carlos tinhamos pertences um na casa do outro - nos arrumamos e fomos para o curso.

Ao sair de lá, fomos para o shopping, na praça de alimentação, onde Darlan e Hugo estavam numa mesa com mais alguns garotos estudando.

- Minha mãe mandou uma mensagem, disse que quer me levar para jantar hoje - disse, assim que nos sentamos a mesa do lado da dos meninos, depois de cumprimentarmo-los.

- Ela está querendo se reaproximar - disse Celo.

- Não teria toda essa esperança, mas gostei do convite. Pode ser uma boa coisa a se fazer. Mas isso significa que eu não vou a pizzaria com vocês, mais tarde.

- O Darlan vai ficar muito triste - disse Carlos.

- Você me ama - disse a ele.

Depois de uma porção de batas fomos cada uma para sua casa.

- Cheguei.

- O que acha desse vestido? - Perguntou minha mãe, esticando um vestido azul real longo em sua frente.

- É só um restaurante no interior do estado, mãe... Mas está bonito - disse, por fim.

Ela abriu um sorriso largo e voltou para o quarto.

Eu fui deixar a mochila no meu quarto e voltei para a sala, para me jogar na frente da televisão.

Pelo celular uma mensagem de Melissa, a presidente de turma, contendo uma foto que tiramos oficialmente para o quadro das turmas formandas.

Na primeira fila, eu, Celo e Carlos ocupavamos a primeira fila con os outros alunos mais baixos, incluindo Jéssica, minha primeira namorada... Sabe como são crianças...

Quando já anoitecia eu fui para meu quarto tomar banho e me arrumar para o jantar. E prontos, fomos, eu e minha mãe.

- Boa noite, senhora. Qual vai ser o pedido? - Perguntou o garçon ao se aproximar de nossa mesa.

- O que você vai querer, meu filho? - Perguntou-me minha mãe.

- Salmão - respondi.

- Também vou querer. E suco de laranja.

- Sim, senhora.

Depois que o garçom saiu, minha mãe deu um olha fuzilante a mesa ao lado, nela um casal de mãos dadas.

- Não acredito que eles sejam tão ousados. Se esse é o futuro, significa memso que o fim se aproxima.

- Mãe? Eu não aceedito que a senhora, uma professora, pense desta forma - disse, em tom de afronta.

- Igualzinho a seu pai. Defenspr dos fracos e oprimidos e adora me afrontar.

- Não é para te afrontar mãe, eu realmente aceito as diferenças. E se você não pensa assim, pelo menos aceite que elas existem.

- Eu ainda sou sua mãe, se não se lembra.

- Que bom que não se esqueceu - disse ela, se levantando para ir ao banheiro.

- Chega! - disse, me levantando, antes que ela voltasse.

Eu passei pela mesa dos rapazes, que ainda estavam de mãos dadas.

- Um dia quero ser igual vocês. Não ter medo de ser eu mesmo - disse, sorrindo, e saindo em seguida.

- Passa tudo pra cá, playboyzinho - disse um homem, me abordando na porta do restaurante, eu paralisei de medo e quando voltei em mim, um dos homens com quem falei da mesa ao lado, o mais alto deles, estava caído no chão, com a cabeça deitada no colo do marido.

Ele tinha salvado minha vida, me dei conta.

Comentários

Há 1 comentários.

Por jpli em 2015-04-04 01:20:44
Choreiiiiii