Adotado, porém órfão

Conto de Alequino como (Seguir)

Parte da série HAPPY - Felizes apesar de tudo

_Theodore Lui

O sonho estava se dissipando, o barulho externo começou a martelar em minha cabeça, eu entendi que estava acordando.

Eu tentei abrir meus olhos, mas uma claridade vinda da janela com cortinas claras da sala foi como quando olhar direto para o sol.

As imagens de um dos pesadelos voltaram ao meu pensamento: O último "eu te amo" que eu escutaria de Olívio, enquanto ele fechava os olhos e sangrava com a cabeça no meu colo.

Não fora um pesadelo, pensei comigo mesmo. Eu tinha perdido meu Olívio, o meu, o que eu conhecia, o com o que eu tinha me casado, desaparecera no momento em que sua vida se esvaiu por completo de seu corpo. O cadáver, o que seria enterrado, era o Olívio que existiu antes da família o rejeitar por ele ter escolhido um outro tanto homem quanto ele para amar. O Olívio enrustido que mesmo assumido para a família não podia tocar no assunto com quem era de fora, para não envergonhá-los.

Meu rosto agora estava molhado e quente por causa das lágrimas, eu podia sentir.

O cheiro que impregnava a sala, era estranho, eu peoucurei de onde vinha, e descobri uma garrafa de whisky aberta e vazia, deitada na mesa de centro.

Foi aí que veio o gosto de ressaca na minha boca. Olhei de novo para a garrafa, tentando me lembrar de como fora a noite passada. Dessa vez encarei o espelho na outra parede, e nele um homem visivelmente destruído me encarava.

- Esse não é você - escutei no fundo da minha mente, como se o fantasma de Olívio estivesse ali, me observando. Não, um fantasma não, era ele, aquele que prometeu estar para sempre do meu lado, estava, mesmo não estando.

- Você tem razão - respondi para mim mesmo.

Eu me levantei com esforço, estava um pouco tonto de ressaca, fui até a cozinha, tomei três copos seguidos de água, depois fui ao banheiro, e antes mesmo de entrar no chuveiro, escovei os dentes, depois fui para o banho, mudei a chave para o frio, e deixei a água cair, levando o mal estar aos poucos pelo ralo.

Quando saí do banho, sentei na cama e comecei a encará-lo nos porta retratos. Seus olhos e os vários sorrisos gritavam para mim "eu te amo", foi o primeiro sorriso desde a noite retrasada, mesmo carregado de lágrimas, ainda era um sorriso.

- Agora sou só eu... E um filho adolescente, que precisa de mim.

Eu me levantei para me vestir e depois de pegar a cateira e as chaves do carro e da casa, saí.

Cheguei ao orfanato da cidade vizinha em poucos minutos, a diretora me recebeu, e chamou Gedson em sua sala, para conversarmos.

Assim que entrou na sala, foi ao meu encontro já de braços abertos, com lágrimas no rosto, que enterrou nos meus ombros.

Gedson um garoto de 15 anos, era moreno, pouco mais alto que eu e esguio, com cabelos encaracolados bem baixos, olhos castanhos escuros e os lábios grossos eram extremamente rosas.

Eu já tinha Gedson como filho, e a audiência seria na semana seguinte. Mas eu não sabia se como pai solteiro, ou melhor, víuvo, mudaria alguma coisa no processo de adoção, de qualquer forma, eu precisava manter aquele laço, ele precisava de mim, e de alguma forma eu precisava dele, Olívio nos ligou de tal forma que mesmo depois de tudo o que estava acontecendo, ele continuava ligado.

- Eu vou deixá-los a sós - disse a diretora, uma senhora de mais ou menos 60 anos, saindo da sala.

- Você acha que podemos continuar fazendo isto? - perguntei.

- Eu ainda tenho aquela dificuldade para confiar nas pessoas - disse ele, e eu apenas concordei. - Mas eu estou disposto a abrir uma excessão por você. Então se me disser que vamos conseguir sozinhos, eu estou nessa contigo.

Eu só consegui sorrir diante daquela resposta.

- Ele vai estar para sempre conosco, e eu sei que não estaremos sozinhos.

Ele me abraçou mais uma vez e nós ficamos ali, por um tempo, sem famar nada, apenas chorando.

Era como se Gedson tivesse perdido o pai que conhecera desde nascido, pelo menos era o que eu sentia.

- Sua avó vai adorar te conhecer - disse.

- Mas eu pensei que os pais do Olívio não gostassem de você e tudo que veio na vida dele depois do casamento - disse Gedson, me olhando confuso.

- E não gostam. Eu quis dizer minha mãe. Acho que você vai adorar o ano novo novaiorquino.

- Você está tirando com a minha cara? Você disse novaiorquino? De Nova Iorque? Nos Estados Unidos.

- Eu disse que era americano.

- Você disse. Mas não sabia que você ainda ía lá.

- Vou. E vou te levar comigo desta vez. Mas antes nós vamos visitar o Olívio. Você acha que consegue?

- Eu nunca fui em um cemitério antes - disse ele.

- Tudo bem. Eu vou estar do seu lado o tempo todo.

Ele sorriu e pegou minha mão.

- Obrigado, pai - disse ele, me abraçando.

Agora eu chorei, não por saudades de Olívio, mas porque era a primeira vez que ele me chamava assim.

- E outra coisa. Como está na escola?

- Desde que nosso acordo envolvia passar de série, eu tenho me esforçado. Não são notas muito boas, mas eu acho que são o suficiente para sair do ensino fundamental.

- Tudo bem. Mas ano que vem não quero apenas o suficiente. Você vai ter que se esforçar mais. Eu te ajudo, pagamos um professor particular, o que for necessário.

- Sim, senhor.

Agora fui eu que o abracei.

Comentários

Há 1 comentários.

Por jpli em 2015-04-06 11:55:15
já estou chorando hoje é o dia estou mega chorão posta logoooo <3