Capitulo 01 - A Morte
Parte da série Por Você
O quarto estava escuro, mas eu sabia onde estava o pequeno frasco de comprimidos de tarja preta. Meu corpo já desistira da luta, mas lá estavam os comprimidos. Já perdi a conta de quantas vezes perguntei o motivo por eu estava passando por todo esse sofrimento, mas meu corpo padece e me sinto tão fraco para continuar que vejo a morte como a solução definitiva.
As lembranças da minha vida me acompanham dia após dia, não consigo acreditar no sorriso do meu pai quando ele diz que esta tudo bem, quando sei que ele chora a noite e se pergunta por que Deus está fazendo isso com ele.
O despertador avisou que era seis da manhã, havia uma luz fraca que atravessava a janela de vidro do meu quarto. Eu podia ver o guarda roupa branco com preto, a escrivaninha com meu computador, o criado mudo do lado esquerdo da cama, com a luminária.
Quando o despertador marcou seis e dez e soou um pequeno alarme, estava na hora. Abri a gaveta do criado mudo e peguei o frasco de comprimidos, o abri, o virei na palma da mão e deixei um comprimido cair na minha mão. O joguei na boca, e o mastiguei. Fechei o frasco e coloquei em cima do criado mudo e o fitei.
– Damon– meu pai me chamava.
– Já estou indo – o respondi.
Levantei-me e fui ao banheiro. Meu rosto estava visivelmente cansado, dei uma olhada rápida e fui para o chuveiro. Liguei o chuveiro e deixei que a água quente relaxasse todos os meus músculos, só debaixo daquela água eu poderia esquecer os meus problemas.
Tudo havia mudado desde que... Bem, desde que descobri que tenho uma doença rara em meu “peito”. Exames periódicos são feitos na esperança – do meu pai – que minha expectativa de vida fosse alongada.
Para o meu pai foi à pior coisa que aconteceu desde que a minha mãe morreu. Ele demorou a se recuperar foi muito difícil para nós, mas me perder era algo que ele não podia suportar e muito menos aceitar. Os remédios eram idéias dele, eu francamente sabia que eles não faziam efeito e ele também, mas dizer isso a ele era lhe tirar as poucas esperanças que ele possuía.
Desliguei a ducha e voltei para o quarto, abri o guarda roupa, e peguei a farda, uma calça vinho e uma blusa branca com a insígnia do colégio Elite.
– Damon esta na mesa! – gritou meu pai.
– Já estou indo.
Sai do quarto devidamente fardado, vou para a cozinha e sento-me em cima da mesa de vidro que fica ao lado da parede, a minha frente a pia ao seu lado a geladeira do lado oposto o fogão e um balcão que divide as áreas cozinha e sala.
–Sente-se na cadeira.
John me olhou com ternura, mas seus olhos verdes estavam cansados, o cabelo preto naturalmente desalinhado.
–Como foi sua noite?
Ele me olhou levemente enquanto eu me sentava e pegava uma xícara.
–Bem tranqüila – ri, tentando dar a impressão que eu realmente dormira bem.
O segui com os olhos enquanto ele colocava na mesa uma jarra de suco de laranja, a leiteira e a garrafa térmica com café.
–Tome seu café – ele me olhou com um meio sorriso.
Eu me via como um fardo para meu pai e mentir para ele era e é errado – eu sei –,mas nestas circunstâncias eu tenho que fazer o máximo para que ele possa pelo menos uma vez dormir sem verificar se não preciso de nada a cada quatro horas. O café da manhã foi silencioso como sempre, meu pai evitava me olhar nos olhos para não desabar e como todos os dias úteis da semana ele me levou paro colégio.
Jhon tinha esperanças que eu fizesse vestibular e faculdade ele sempre me perguntava a cada seis meses se eu decidiria o que cursar, e eu sempre dizia: Biologia ou Inglês, na verdade eu não me preocupava com isso.
O colégio era um dos poucos lugares em que eu esquecia os batimentos do meu coração, ao contrario de mim Jhon não aceitava há idéia que um dia eu iria...
Bem...
Que eu vou morrer.
Ele parou em frente ao colégio, desci e olhei para o prédio bege. Subi os pequenos degraus e caminhei até o portão que dava acesso aos corredores do terreno e a escada do andar superior. Quando coloquei o meu pé direito no degrau, me desequilibrei e cai no chão.
–Esta tudo bem com você? – A voz de Lucas chegou aos meus ouvidos.
–Tudo bem. Eu escorreguei.
Ele estendeu a mão e eu a segurei, ele me ajudou a me levantar e então depois de três longos anos estudando no renomado Colégio Elite olhei para o rosto dele, os olhos eram castanho claro, o cabelo negro desalinhado lembrava o cabelo do meu pai, um largo sorriso se estendia em seu resto, havia ternura em seus olhos.
–Tudo bem mesmo?
–Sim, não foi nada de mais. – ri vagamente.
Ele deu um leve sorriso.
–Então até qualquer hora Damon.
Ele saiu caminhando até o pátio, então voltei a subir as escadas com cuidado quando Bruna vinha a minha procura.
–Pensei que você não vinha ao colégio hoje.
– Eu também – ri.
–Porque demorou tanto?
–Bem eu escorreguei e cai.
–Quando?
–Agora pouco, mas Lucas me ajudou.
–Sério?
–Hanrã.
–Mas e você como esta?
–Bem. E você?
– Vou levando, ando tendo problemas com Pedro.
–Imagino. Quatro jogos de futebol? – ri.
– Há ha. – riu ela sarcasticamente – Você esta com humor daqueles hoje.
–Desculpa.
O sinal tocou e quando dei por mim eu já estava sentada, olhando Bruna ir falar com Sara.
– Oi Damon – Math tinha um sorriso sereno no rosto.
Seus cabelos eram negros, cacheados e estavam em perfeita harmonia com seu resto sereno e alvo com seus olhos azul-celestes.
– Oi Math.
Não houve um dialogo já que a Sra. Vaner – professora de biologia – entrou na sala. A aula não me interessava em nada, o máximo que eu fazia era olhar para a janela outros alunos indo e vindo pelo pátio do colégio.
Math se sentava duas carteiras atrás de mim. Crescemos juntos e ele me ajudou quando minha mãe se foi e quando ele soube que...
Da janela eu podia ver as pequenas flores brancas no jardim do pátio, elas estavam magníficas, mas logo morreriam.
– Damon...
– Oi– respondi automaticamente e percebendo que eu passara o dia inerte em meio a meus pensamentos.
–Você esta bem?
Virei-me e olhei para o rosto de Math preocupado.
–Estou – dei um breve sorriso.
–Você parece distante.
–Não é nada. Eu só estava pensando.
–Hummm... Posso saber em que?
– No outono.
–Amanhã começa o outono né? – ele olhou pela janela.
–Sim – ri levemente.
Ele riu.
–Agora Vamos, seu pai já deve esta te esperando.
– Já vou.
Math pegou a mochila e saiu da sala. Arrumei meus livros na mochila e contemplei o final do dia, o crepúsculo se iniciava, e em meio a este cenário tive conclusões de alguns aspectos da mina vida.
Tudo que um dia nasce morre. Como as flores desabrocham no inicio da primavera elas morem com a chegada do outono.
Isso deveria me parecer estranho, mas com a chegada do outono, minha mente atenuava o que aconteceria em breve. Porque devo amar se de uma forma ou de outra eu vou morrer?
– Damon?– Math me olhava.
–Oi, desculpa acho que eu não percebi o tempo passar eu estava presa há algum pensamento.
–Vamos? – ele riu – Seu pai esta dando um faniquito lá em baixo.
–Meu pai? – o olhei surpreso.
– Você, sabe, ele pensou que...
Foi então que Math me olhou nos olhos, seu sorriso se perdeu em seu rosto enquanto, ao que parecia, lia a minha mente procurando um pensamento. Meu olhar estava vazio foi então que ele se deu conta do que eu estava pensando há poucos instantes e pude ver pele seu rosto seus pensamentos que transcreviam os meus.
A morte.
Era nela que os meus pensamentos se encontravam.
Acompanhei Math em silencio até onde Jhon nos esperava.
–Podemos ir? – perguntou Jhon.
–Math quer uma carona.
–Claro – concordou meu pai.
–Obrigado Sr. Simons. – agradeceu Math.
Não houve nenhum diálogo, nos despedimos em silêncio enquanto Math saia do carro, me deixando curioso quanto aos seus pensamentos.