Capítulo 8 - Domingo de Carnaval
Parte da série Aquela História Escondida
Olá, vocês!
Segue mais um capítulo, de volta com o Neto* e espero que gostem.
ERRATA: onde tem Marcelo no capítulo anterior, leia-se Neto. Como esqueço o nome do próprio personagem? (Melhore!)
FAGNER: Na verdade quem me deixou sem palavras foi você. hahaha. Fiquei encarando seu comentário sem saber como reagir. Somente agradecer.
Boa leitura!
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Domingo de Carnaval.
Nunca vi um dia para proporcionar tantas surpresas, ainda mais na terra onde tudo pode acontecer: a Bahia.
Sinceramente, não tinha tantas expectativas para esse dia, dessa vez, comparando com os outros carnavais. Afinal, são vários anos indo para o mesmo ponto ter um encontro quase pessoal com os artistas preferidos. As pessoas mudam; as músicas e as sensações também. Depois de um sábado agitado, o melhor dia da folia reservava sempre muitas emoções.
Nesse ano, estava apresentando o Carnaval a um folião diferenciado... um francês, que mais parecia coreano, com jeito baiano. Bem daqueles que topa tudo. Feijão, arroz, farinha, enfim. Poucas vezes vi alguém tão esperto, conhecendo tão pouco. Se para mim ainda encontrava novidades, imagina para ele.
Descemos no Largo Dois de Julho com alguns familiares e amigos e fomos até um prédio bem próximo da Avenida principal do Circuito. Subimos e encontramos alguns amigos que foram até o outro circuito (da Barra) conosco, no dia anterior. Exceto por dois, os quais foram buscar um sobrinho de um casal paranaense.
Já passava do meio-dia e a ansiedade para ver os artistas e me divertir só aumentava. Nada do feijão ficar pronto.
40 minutos.
30 minutos.
Tamanha ansiedade foi sucumbida com o alarme da campainha. As pessoas que faltavam chegaram com o tal sobrinho. E assim, a primeira surpresa. Um rapaz jovem e loiro entrou por aquele apartamento e me roubou com um sorriso.
Logicamente, tive que disfarçar tamanho interesse, ainda mais sendo loiro, daquele jeito. Num ato de coragem, quase iria de sandália. Todavia, seguiu os conselhos e foi de tênis para não perder um dos dedos na Avenida.
Passada a agonia do almoço, fomos para a Avenida. Durante o caminho, fui conversando com ele e descobrindo mais o que ele gosta. Era o seu primeiro carnaval e sua maior espera era para ver a Ivete Sangalo.
A princípio, eram inevitáveis os olhares. Só que, para a minha surpresa, ele realmente olhava para mim. Não um olhar perdido, sem saber para onde ir ou com quem falar. Mas um olhar desejoso, ambicioso, que sabia o que queria e precisava agora. Nunca me senti tão preso em um olhar e não conseguia nem pensar no que fazer.
Corremos para ver Saulo, Ivete e Saulo, novamente. O tempo passava e eu só queria estar mais perto dele, e ele de mim. Ele me segurava; protegia-me. Descansou sua mão em mim e senti todo o conforto num só toque.
Em meio a isso, ainda tive que aturar as minhas tias insistindo para beijar uma menina que nem bonita era. Afastei-me meio que propositalmente das mesmas e quando me vi, já estava do lado do Guilherme. Sim, o nome do mesmo, com 22 anos e morador de uma cidade do interior do Paraná. Chegamos a ficar “a sós” (impossível num Carnaval) com o francês a nos acompanhar, mesmo sem nada entender. Conversamos ainda mais e assim consegui notar de mais perto aquele sorriso escancarado e aquela boca vermelha. Eu queria aquele sorriso para mim.
Já estava anoitecendo e não havia mais nada de bom para fazer por ali. Resolvemos voltar para o apartamento. Ao chegar lá no prédio, haviam dois elevadores. Um tinha o limite de seis pessoas, e o outro com quatro pessoas. Assim, como restavam cinco pessoas para subir, o funcionário determinou que 3 três pessoas fossem pelo outro. Eu segui em direção para o de dois e o Guilherme veio na sequência.
Era a primeira vez que ficávamos sozinhos desde então. Literalmente sós. Apenas as nossas vozes e uma apreensão que fez esquecer todo cansaço após a festa. Para minha frustração, o elevador chegou e tinha um funcionário do prédio dentro. Nos encaminhamos até o nono andar. Assim que saímos, pude notar o quão perto estávamos. Eu falava quase perto do seu ouvido. Nessa altura, nem importava mais o que falava.
Chegamos ao corredor e ele parou pela primeira vez. Ele olhou no fundo dos meus olhos e me examinou por completo. Eu não consegui fazer mais nada, apenas andar. “Isso não pode estar acontecendo”. Dei mais um passo e olhei para ele. Guilherme continuou me olhando. Dessa vez conseguiu ser bem mais claro, apenas me olhando. “Me beije!”. Me virei sem querer acreditar novamente. Não era possível que um cara daqueles estava afim de me beijar, ali, naquele momento. Olhei para trás pela terceira vez e ele continuou me olhando. Dessa vez, ele sorriu. Talvez porque não aguentasse mais esperar e por eu ser tão bobo a ponto de fugir dele. Tão perto estávamos, tão perto nos mantivemos. "Beija ele, beija ele!!!" Não podia mais me conter.
(TIN DON)
Mas o que foi isso? NÃO! Eu tinha apertado a campainha. Parabéns Neto, você arruinou tudo!
Me arrependi assim que fiz aquela merda. Como pude ser tão burro a esse ponto? Quando teria outra chance como aquela de beijar ele? Ainda assim, ele continuava olhando para mim e sorrindo, enquanto seu tio abria a porta.
Entramos no apartamento e reencontramos os amigos e parentes. Sentei ao seu lado ainda com vergonha de mim mesmo por não ter feito nada. Fui comer a feijoada e ele se manteve ao meu lado. Estava tão nervoso que consegui mais uma proeza. Derrubei feijão nele.
- Olha, eu sei que você quer que eu coma, mas não precisava derrubar em mim, tá?
Já consegui extrapolar toda a minha cota de lerdeza com uma única pessoa. Ele seguiu para a cozinha e voltou me oferecendo um pano, o qual utilizei para (tentar) limpar minha camisa.
- Eu acho que era pra tirar o feijão do sofá, hein?
Sim, Neto, você poderia ficar um pouco mais calmo e ser racional?
Aquele sorriso aberto ainda me perturbava e soava como uma pirraça por não tê-lo por mais tempo.
Assim que acabei, fui para a cozinha lavar os pratos e tentar dar um jeito na minha camisa. Quando eu menos esperava, chega o Guilherme por perto e para do meu lado. Enquanto ele colocava o seu prato, as outras pessoas saiam da cozinha.
- Você me permite pegar essa costela aí do seu lado?
- Claro... E-e-eu...
Além de tudo virei gago. Dando aulas de como conquistar o boy magia. Peguei a bandeja e o dei. Senti que ele continuava me minando com os olhos. Quando ele foi pegar um garfo para comer, ele acabou derrubando alguns pratos na pia.
- Ótimo!
- Ainda bem que eu não sou o único que faz esse tipo de coisa – falei limpando minha camisa.
- Ah, agora vai jogar na minha cara? Então era isso que queria dizer?
- Não exatamente.
- Então o que queria dizer?
- O que você espera que eu diga?
- Nada mais. Acredito que já tá bem na cara, não é?
Silêncio.
- O que a gente faz agora?
- Me desculpe, mas eu sou muito idio...
Nesse momento, em que estava de frente para ele, meu pai entrou na cozinha.
(continua)
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