Capítulo 4 - Primeiro Encontro
Parte da série Aquela História Escondida
- Boa tarde, posso me sentar com você?
No meio de um único ruído pertencente ao mar, essa voz surgiu como se fosse a mim direcionada. Olhei ao redor e aquele ponto só pertence a mim e à silhueta falante. Levantei meu rosto para ir de encontro ao seu e não estava enganado. De fato, o Marcelo era. Ali, na minha frente, me encarando com um olhar piedoso buscando respostas.
- Pode sim, disse com certa relutância.
Queria poder ser frio agora, mas não seria eu.
- Me desculpe.
Sorri e ele riu do meu riso.
- Posso interpretar esse sorriso como um perdão?
- Parabéns ao descobrir o primeiro fato sobre mim em um encontro!
- E quem disse que só descobri isso?
- O que mais você viu?
- Vi o suficiente para poder voltar.
- Voltar para o que?
- Para você.
O som do mar seguia intercalado dos ônibus e carros passando. Entre nós, apenas mais um pouco de silêncio. Voltei meu olhar para o seu tentando encontrar as respostas.
- Neto, eu não sei se estou sendo justo com você. Não sei se eu posso te fazer feliz. Eu vi a forma como você estava sentado e aguardando apenas pela minha presença e eu falhei, te decepcionei.
- Mas Marc...
- Shiu. Quer ter uma D.R. no primeiro encontro com o amor da sua vida?
- Palhaço! Agora nós temos um encontro? - sorri com leve desdém.
- Prosseguindo, eu posso te machucar bastante. E eu não queria fazer isso. Só quero te fazer feliz. Mas eu prometo que irei melhorar.
- Marcelo.
- Oi? - ainda existia uma dúvida em seu olhar.
- Você ainda está aqui.
- Sim.
- Você já está me fazendo feliz.
- Mas eu nem sei como. Nem...
- Eu sei.
Por fim ele me olhou, me encarando como quem entendeu a mensagem. Não importava como, mas estávamos ali com o mesmo objetivo. Buscar uma felicidade além da que encontramos.
O coração palpitava, minhas mãos gelaram. Percebi minuciosamente todos os seus detalhes. Aquele cabelo loiro curto repleto de brilho. Aqueles olhos castanhos assaltando todo o meu ser. Aquela boca desenhada, sorrindo de lado, falando sem proclamar uma palavra. Aquelas bochechas cavadas...
Notei-o por inteiro. Desejava que esse momento fosse eterno. Segurei em uma das suas mãos, elevei a outra para o seu rosto. Acariciei. Então, Marcelo fechou os seus olhos para sentir cada toque.
Aproximei meu rosto do seu, e ele enfim deu um beijo que jamais pude esquecer.
Um beijo calmo, longo e que não parecia ter fim. Não teria como esquecer do primeiro beijo recíproco e apaixonado de toda vida. Era algo para ser celebrado.
- Obrigado.
- Obrigado pelo que, Neto? Beijou só uma vez e nem experimentou o resto?
- Incrível sua capacidade de me deixar desarmado.
- Eu não diria que você tá desarmado não, olha isso aqui - disse o mesmo me apalpando por baixo. Eu diria que você tá pronto pra guerra!
Se eu pudesse, bem que enfiaria minha cabeça no Oceano Índico para me esconder de tanta vergonha...
- Idiota! Você que me deixa assim...
- Mas eu nem fiz nada! Não se esqueça que faço Direito. Tenho todas as provas arquivadas em minha mente contra ti, viu garotão.
- Tá bom então, senhor Juiz. Mas me deixe agradecer então.
- Disponha, caro gentleman. O Lord Son of the son.
- Obrigado por existir.
Ele comprou essa verdade e dessa vez não tinha resposta.
- Consegui deixar o Juiz quieto dessa vez?
- Olha, eu prefiro calar a tua também, mas de outro jeito.
- Seu safado.
Então ficamos ali, aos beijos. Eu não poderia me sentir melhor e mais seguro. Continuamos à beira do mar, observando o sol se por. Nada poderia ser melhor.
Pela primeira vez em 19 anos de vida, pude saber o que era se sentir bem. Completamente. Sem pestanejar. Eu não poderia estar mais feliz. Andamos mais uns minutos pela Orla, a fim de ver a vida passar por nós.
- Neto?
- Diga.
- Me desculpa?
- Pelo que, Marcelo?
Não sei se ainda seria hora de pedir mais desculpas, sendo que já pouco me importava o seu atraso.
- Você vai descobrir.
Um ar triste tomou a sua face e eu não consegui entender. Não perguntaria mais nada. pois sei... ele não irá responder. Aquilo me deixou intrigado e sem saber o que fazer. Ele deu a ordem, basta entender e obedecer.
- Você é um mistério, Marcelo...
- Eu sei.
Assim levei esse último sorriso tímido como lembrança.
Restou-me então confiar, deixar as coisas acontecerem. Sem pressa ou atraso. Pouco importava, se eu só estivesse ao seu lado. As coisas pareciam encaixar. Enfim, teria encontrado alguém do meu interesse para amar e ser amado, zoar sendo zoado, beijar sendo acariciado. Uma coisa enfim estava dando certo e assim deveria seguir.
De fato, estava enganado.
***
(Marcelo)
Foi bom te imaginar enquanto durou
Feliz foi sonhar, sem saber onde estou.
Assim seguimos, caçando ilusões.
Acordei de uma realidade infértil,
libertando minha mente de ressentimentos dispersos.
Ouvindo a sua voz e focar nos teus olhos,
observando as tuas manias e apenas analisar.
Por que não poderia te ver antes e aproveitar toda sua beleza?
Rompendo com o silêncio,
as palavras fluíam com seu poder encantado.
Não sentia mais frio com sua presença aquecedora.
Não havia nervoso, pois me acalmava.
Parecia não ter mais déficits, porque me faria superar tudo.
Contemplamos juntos o pôr-do-sol alarmante,
seguido dos pardais, cada vez mais cantantes.
Todavia, veio o seu fim,
afinal tudo por hora acaba.
Com aquilo eu não poderia continuar
Uma hora teria que abortar.
Entretanto, espero que entendas...
Toda história tem um final.
Entretanto, desta vez, o final não será definitivo.