Capítulo 1 - Dia dos Namorados

Conto de thsereno como (Seguir)

Parte da série Aquela História Escondida

Como uma trovoada antes da chuva, assim fui acordado. Adeus ao sonho, ao amor ou aquilo tudo sonhado. O barulho incessante das obras dos vizinhos me fez despertar antes da hora. Olhei a tela do celular e imaginei que era um dia daqueles para pagar pelos pecados. 12 de Junho, Dia dos Namorados. Sim, aquele dia pelo qual (quase) todas as pessoas fazem tudo que não fazem o ano todo. Gente mudando status de relacionamento de última hora; mil declarações de amor publicadas para enaltecimento da/o companheira/o; onde as lojas fazem uma forcinha pra ganhar algo disso; enfim... Todas aquelas coisas que corroem a mente de alguém longe dessa realidade.

Por mais que o mimimi de tantos outros apaixonados seja tão irritante, e embora você tenha que ser obrigado a ver casais de todos os lados se beijando na sua frente, como se o destino dissesse: “Olha, só você está sozinho...”; eu sento falta. Sinto falta de tudo aquilo que não senti, mesmo por falta de oportunidades ou razões para persistir.

Meu nome é Neto, dono de 19 anos de uma carreira falida referente aos relacionamentos. Assim como qualquer outro, tenho meus apreços e defeitos. Para evitar constrangimentos e para não fazer com que você não goste de mim, te pouparei de todos os dramas e defeitos que tanto enumero. E o meu corpo? Ah, sim, pelo qual todo mundo se interessa hoje em dia. Sou alto, sarado e gost... Não, pera. Sou apenas um moleque mirrado, fazendo academia a cada 29 de fevereiro e magro (de ruim). Talvez isso seja tudo que precise saber.

Tanta falácia que me fez perder a hora. O caminho da faculdade não era longo. Para quem estava só qualquer caminho seria difícil. Dei uma última checada no meu perfil feito para uma rede social e nenhuma mensagem. Sabe aquela rede que você curte ou não a pessoa? Exato! O quanto me divirto com aquilo. Para ser a saideira, tinha um cara. Sempre tem um cara. Loiro, sorriso supersticioso e um olhar provocativo. Era o consolo necessário para curtir e sair de casa. E assim, fiz.

Não bastassem os apelos do dia, tudo estava nublado. O ônibus demorou a chegar e o estresse veio à tona. A playlist da chuva estava pronta. Fechei meus olhos. Lembrei de tudo ao redor, de todos os meus amigos e amigas enamoradas e apaixonadas. Pensei no meu sonho. Pensei em tanto amor compartilhado entre cada um deles e assenti. Seria inveja querer ser feliz? Seria algum mal querer ser amado? Carreguei o mundo todo pelas costas e desabei. Um rio de lágrimas percorreu o meu ser. Era necessário. Abri meus olhos e vi olhares piedosos. Só poderia rir. Poderia seguir aliviado, triste, é verdade, mas consolado. Quem sabe alguma hora ele chegaria. Quem sabe o sonho seria um sinal. Quem sabe...

***

Quizá eu vivia num mundo só meu. Aquela velha e aplicável tática de fingir que tudo está bem. E não teria porque não estar. Tanta gente sofrendo por coisa pior por aí...

Cheguei aos meus aposentos com uma única finalidade: dormir. Porém quanto mais você deseja algo, mas a vida te provoca para dizer: não é bem assim. Após o banho, deitei no primeiro lugar que achei. Peguei o celular para reproduzir uma música de uma série a qual assistia e vi uma notificação daquele aplicativo. Embora não esperasse, tive uma combinação com o Marcelo, seguido de uma mensagem de boa noite. E o mundo? Caiu.

- Boa noite (:

- Olá, Neto, tudo bem?

- Não poderia estar melhor, hahaha.

- Poderia saber o motivo?

- Você.

Sinceramente, não tenho o mínimo de vocação para cantar ou flertar com alguém. Ainda mais se eu estiver totalmente interessado na pessoa. Em que mundo que um cara daqueles poderia me curtir e ser tão simpático? Eu não poderia estragar tudo.

- Então nós dois ganhamos a noite.

- Você sabe como deixar alguém sem palavras.

- Então, Neto... você sabe exatamente o que senti quando vi a sua foto e o quis.

Xeque mate.

Um fato sobre o Marcelo: ele era único. Simplesmente irresistível.

21 anos, independente, sabe o que quer, anda de samba canção e curte vodka. Fala francês e dança músicas argentinas nas horas vagas. Sei que não deveria, por ser apenas uma noite, mas estava completamente encantado. Ele poderia até dizer que faz cocô em pé, ainda assim acharia encantador.

- Neto?

- Oi?

- Sabe que dia é hoje?

- Dia dos Namorados?

- Isso! Ganhou um pirulito.

- Mas por que lembrar disso? Dia tão chato...

- Por quê?

- Ora, 19 anos passando essa data sozinho, não tem porque comemorar tanto. Se bem que poderia fazer um aniversário depois de tanto tempo.

- Posso ser convidado?

- Deve!

- Tudo bem. Você poderia deixar seu pessimismo de lado para me responder uma coisa?

- O que você quiser.

- O que eu quiser mesmo?

- Pode apostar.

- Então, Neto Freitas... Deseja ser meu namorado por esta noite?

- HAHAHAHAHAHAHA – uma risada foi inevitável.

- Do que você está rindo?

- É sério isso?

- Claro que sim. Nunca falei tão sério nesses últimos minutos! Estou até de joelhos para ti!

E realmente ele estava. O que disse mesmo sobre ser irresistível?

- Tudo bem, Marcelo. Não tem como te dizer não.

- Acho bom. Já posso postar algo no seu Facebook tão grande que todos acharão bonito e pensarão que eu escrevi, mas na verdade peguei de algum livro qualquer?

- Não, Marcelo, só você já me basta. Até chegarmos a dividir uma lasanha.

- Totalmente de acordo.

De fato, estava encantado.

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Desculpa a demora, pra postar. Espero que curtam e continuem acompanhando.

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