Todo teu / 9 capítulo / parte 2
Parte da série Todo teu / 1 Temporada
alienígenas, invadindo o seu espaço; e o jardineiro, que apesar de não ser
desagradável fisicamente, ficou especado de boca aberta assim que encarou comigo, como se se tivesse deparado com Cristo regressado à
Terra. Eu estou habituado a que as pessoas fiquem impressionadas comigo, é verdade, tenho perfeita consciência de que sou uma figura agradável, até sou um bocado convencido, mas há momentos em que não
tenho paciência. Além do mais, o jardineiro parecia ser um perfeito imbecil.
Enquanto conversavam os dois muito animados e trocavam SMS com o
príncipe encantado que tinham escolhido para mim, descobri o Correio da Manhã – que outro jornal poderia estar num sítio daqueles? – mas ao
menos teria com que me entreter enquanto aguardava estoicamente pela
chegada do futuro amor da minha vida e ouvia o Chico dissertar sobre a
pérola que era o seu melhor amigo, com quem, afinal, também já tinha ido para a cama.
– Mas foi só uma vez, porque o Pedro proibiuo de voltar a estar comigo, e ele fazia sempre tudo o que ele lhe mandava…
– Ah sim? – foi mais forte que eu, finalmente a conversa começou a
interessarme, gosto de homens que estão dispostos a fazer tudo o que lhes mandam fazer.
– Era bruto, sabes? – o jardineiro vibrou, ao perceber que finalmente tinha conseguido cativarme a atenção.
Ignorei o sorriso de “eu tinha razão” do Pimentel e concentreime no
jardineiro, que explicava detalhadamente que o amigo era muito simpático e que era extremamente fiel e que eu não pensasse que ele era
uma “puta” que ia com todos, porque não era, pelo contrário, aceitava que o extivesse namoradas quando mal lhe permitia falar com outras pessoas, e que, apesar dos ciúmes que sentia, estava sempre disponível, por ser um tanto carente. A descrição deste Nuno, era assim que se
chamava, agradoume. Parecia ser um submisso e pensei que, pelo
menos, poderia divertirme um pouco durante o fim de semana.
– Olha, aí está ele…
Como não podíamos continuar a conversar sobre o rapaz, peguei na
revista do jornal, tentando ler a notícia sobre o novo romance de uma
atriz qualquer, que desta vez estava realmente apaixonada… era
maravilhoso as pessoas apaixonaremse, ou pelo menos terem essa ilusão… eu, por mim, sou demasiado calculista para esse tipo de disparates.
– Nunooo! – berrou o Chico subitamente, assustandome. – Bom dia, amigo!
Palavra de honra! Se as bichas começam aos gritos, perco a cabeça e
cometo duplo homicídio! Fará a abertura dos noticiários em todos os canais de televisão!
Levantei a cabeça da minha leitura matutina, confesso que estava à
espera de encontrar um carroceiro como o Chico, nunca imaginei reencontrar o rapaz do pinhal, que olhava para mim, de queixo caído e
olhos prestes a saltaremlhe da cara.
O rufia?!
Foi completamente inesperado! Tanto quanto percebi, ele também tinha tomado banho e também tinha mudado de roupa, e estava agora com uma tshirt bastante decente, que lhe ficava muito bem. Tornei a concentrar me na revista enquanto ele encostava a bicicleta, resistindo a observálo quando se aproximou de nós. Gostei particularmente do timbre nervoso da sua voz enquanto cumprimentava o Pimentel, os dois já se conheciam, o que queria dizer que era eu a causa de todo o seu nervosismo.
Nuno… gosto do nome…
Nuno, senta! Quieto, Nuno!...
Sim, gosto…
Contínua...