Todo teu / 7 capítulo

Conto de Jeff-Lúcio como (Seguir)

Parte da série Todo teu / 1 Temporada

O pinhal era agradável, fresco, e isso era muito bom para quem passou a

noite a transpirar dentro de um forno. A casa do Pimentel era o reflexo da ganância de quem transforma qualquer barracão, cabana, casota, curral de porcos ou sei lá mais o quê, numa pseudomoradia que se aluga para fazer dinheiro à custa de quem anseia por um sítio para passar uns dias na praia.

É tramado! – pensei, lembrando­me que o Pimentel até tem um bom

ordenado, porque trabalha que nem um cão numa dessas clínicas de luxo privadas, onde as tias da Linha se vão encher de botox, e ainda faz horas extra num hospital. Simplesmente tem um fetiche por garotos e não descansa enquanto não gasta o que tem e o que não tem para lhes fazer as vontades todas, acabando por de se privar de algumas coisas fundamentais… como arrendar uma casa de praia decente para receber os

amigos, em vez destas quatro paredes virtualmente inabitáveis.

Devia ter trazido o jipe, teria sido bem melhor. Mas por outro lado, o

meu velhinho Land Rover já tinha sido avaliado e não queria correr o

risco de ter de fazer reparações antes de o entregar, quando chegasse o

Evoque. É verdade que o Pimentel me tinha avisado que o Meco era

diferente, mas nunca acreditei que fosse tão… primário. Estava à espera que fosse mais uma povoação costeira turística, com prédios de vários andares, avenidas marginais, onde fica bem desfilar num descapotável em frente das esplanadas. Em vez disso deparo com uma aldeiazinha de casas baixas, terrenos descampados, explorações agrícolas, pinhais e… foi uma surpresa, sim!

Estas reflexões rurais foram interrompidas subitamente pelo FitRunner, a

aplicação com GPS do meu iPhone que uso para controlar a corrida, anunciando que chegara a meio do percurso planeado, era altura de

regressar.

A minha mente regressou ao Tribunal e ao processo judicial que tanto me

preocupava. Tinha de inventar formas de dissipar o património do meu cliente, para que, quando o divórcio saísse, o Quintilhas tivesse pouco mais do que dívidas para pagar. O meu rival podia ser bom, mas iria

encontrar o cofre vazio, e a mulher do Quintilhas, que seguramente casara por dinheiro, ficaria com pouco mais do que tinha quando pronunciou o “sim”. Aliás, iria sair a perder, porque já se habituara à boa vida e agora teria de trabalhar como as pessoas normais. Estes pensamentos, e a adrenalina da corrida, o fresco do pinhal e a boa música nos phones, descontraíram­me e devolveram­me a boa disposição.

Este pinhal deve fazer parte do circuito de jogging da Aldeia do Meco… – pensei, divertido com a ideia, ao avistar um vulto a correr na minha direção.

Fiquei um pouco desapontado ao verificar que era apenas um garoto.

É gay! – constatei assim que nos aproximámos o suficiente para vê­lo corado e notar os olhos arregalados, percorrerem­me o corpo de alto a

baixo…

Devia ser um miúdo local porque a t­shirt de alças era pirosa, nenhum gay com o mínimo de bom gosto usa t­shirts de alças. Tinha um tronco fino, mas parecia forte; notei igualmente os bíceps adequadamente moldados, umas pernas decentemente fortes e grossas e cobertas por uma deliciosa camada de pelos de aspeto sedoso… fisicamente o rapaz era

perfeitamente aceitável. E era bonitinho, sim: cabelo curto, meio despenteado, parecendo ter acabado de se levantar para correr; umas sobrancelhas espessas, como eu gosto, e uns olhos ligeiramente rasgados, agradáveis, apesar de vermelhos… devia ter saído à noite e dormido pouco… e uma boca deliciosa, com uns lábios perfeitos para morder. A

barbicha por rapar, que já devia ter pelo menos dois dias, dava­lhe um ar de rufia que me agradou bastante. Eu gosto de rufias, são os que se

contorcem mais quando estão algemados, que resistem, furiosos, quando os amarro. A expressão do rapaz, quando nos cruzámos e lhe pisquei o

olho, num cumprimento, deu­me a certeza de que iria olhar para trás, e

parar se eu fizesse o mesmo.

Mas sendo certo que gostei de perceber que estaria disponível para mim, não olhei para trás, nem abrandei o passo, eu estava no Meco para descansar, para gozar a praia, o sol e o meu amigo, não estava para perder tempo em engates que não conduziriam a lado nenhum, e não tenho pachorra para desmamar crianças. Quando chegasse a Lisboa bastar­me­ia fazer uma chamada telefónica para ter um homem a sério na

minha cama, pronto para se deixar… usar.

Contínua...

Comentários

Há 1 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-01-18 15:44:46
Isso mesmo Amado a felicidade e que conta,a forma de prazer pouco em porta aos outros só à você,amo ver um homem com coragem o suficiente para deixar de se enganar e se assumir como ele realmente é ou quer ser.parabéns😘😘😘