Todo teu / 6 capítulo

Conto de Jeff-Lúcio como (Seguir)

Parte da série Todo teu / 1 Temporada

A certa altura comecei a ouvir o som cavo da rebentação das ondas na

praia e a sentir o cheiro salgado da maresia. O caminho, que até ali era de terra batida, por vezes coberta por um manto de caruma, era agora de

areia solta, o que me dificultava um pouco a corrida. Voltei a lembrar­me do Pedro, nós por ali a apanhar pinhas para a lareira, ou então a

conversar, a fazer amor… bom, eu a fazer amor, ele a usar­me, são coisas diferentes…

Wow! Quem é este?

Vinha um tipo a correr na minha direção. Um tipo mais velho, devia ter a

idade do Pedro, vinte e muitos, a caminho dos trinta. Podia ser já um

bocado cota, mas era giro, muito giro mesmo. E eu até gosto de cotas, o

Pedro tinha quase trinta anos. Não consegui evitar que os meus olhos percorressem o seu corpo de alto a baixo…

Dasss, que ele é mesmo giro!

E tinha pernas fortes… e musculadas…

Vinha de calções curtos, cinzentos, que lhe ficavam a matar; a t­shirt justa, cinza, de um daqueles centros de ginástica finos de Lisboa; ténis de

marca, se eu tivesse dinheiro comprava uns assim; fones nos ouvidos… devia ter um ipod ou ipad ou iphone, ou uma treta dessas; o sacana era podre de bom! Senti uma fraqueza nas pernas, mas cerrei os dentes com força, não queria dar parte de fraco…

Quis desviar os olhos, mas não consegui. Ele foi­se aproximando e

quanto mais se aproximava, mais deslumbrante me parecia… geralmente acontece o contrário, não é? Muito giros ao longe e depois, quando se

aproximam e os conseguimos ver bem, metem medo ao susto.

É tão lindo que até dá nojo.

O rosto fino, as sobrancelhas negras, espessas mas bem cuidadas, o nariz perfeito, a boca deliciosa, uma covinha no queixo. Qualquer gay ficaria enervado ao ver um homem assim a correr na sua direção, o meu coração disparou a toda a velocidade e o meu corpo estremeceu… o mais certo era ser de excitação…

O tipo olhou­me e percebi que me analisava. Adorei a sua expressão,seria interesse? E sorriu­me quando passou por mim, acenando­me com a

cabeça num cumprimento que mal se notou. Eu teria visto bem? Que sorriso… e não só me sorriu, como me piscou o olho. Seria só um

cumprimento? O meu coração acelerou ainda mais. Olhei para trás e tive esperança… mas ele não fez o mesmo, continuou a correr calmamente, com grande estilo, confiante, como se fosse o dono do mundo. Parecia flutuar de um pé para o outro, a um ritmo constante, leve, cheio de pinta. Tornei a olhar para a frente mas… foi tarde demais, tropecei numa trampa qualquer que estava no caminho e espalhei­me ao comprido…

Porra!

A minha primeira preocupação não foi levantar­me, foi olhar para saber se o gajo me tinha visto cair. Não viu, claro, ele nem se tinha voltado para trás. Levantei­me desconsolado e fiz um balanço dos estragos: joelhos vermelhos, sujos, mas sem estarem esfolados, mãos arranhadas, mas sem sangue, poderia ter sido pior. Sacudi o pó e recomecei a correr, ainda a coxear um pouco, mas logo depois retomei o ritmo constante. Estava vivo e de boa saúde. O cromo não me viu cair, nem me ouviu porque estava com a música nos ouvidos, fui poupado a essa humilhação. Se ele tivesse olhado, eu teria morrido de vergonha; como não olhou, senti… nem sei, despeito por nem sequer ter merecido um pouco de atenção.

Contínua...

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