Todo teu / 4 capítulo

Conto de Jeff-Lúcio como (Seguir)

Parte da série Todo teu / 1 Temporada

Impaciente, desisti de encontrar os boxers e fui nu para a casa de banho, o calor no quarto era insuportável e, de qualquer forma, estava sozinho em casa. Naquele momento sentia­me na merda, nem sei explicar, sentia­ me doente. O Pedro era tudo para mim, era o centro do meu mundo. E

agora desaparecera, pouco se importando por deixar o meu mundo fora do eixo. Tão ciumento, tão possessivo, e depois acabava assim, ia casar e

não me queria mais. Levou­me para casa a seguir à despedida de solteiro, usou­me uma vez mais, e foi então que me disse que seria a última, que estava tudo acabado entre nós. No sábado, no dia do casamento, quase me ignorou o tempo todo, mal me falou. Poderia ter­me convidado para ser padrinho… não que eu aprovasse o casamento dele com aquela mulher, mas seria pelo nosso passado, pela nossa relação. Era tudo tão

confuso, eu tinha a cabeça a patinar, continuava sem conseguir compreender…

Olhei­me no espelho, tinha os olhos inchados. Fechei­os e vi o Pedro a

abotoar­se para se ir embora. Era um pensamento recorrente, todos os

dias, durante toda a primeira semana. Ele não me queria mais e eu estava entregue a mim próprio. A sua imagem a deixar­me naquela última noite assombrava­me.

–Tens dezassete anos, puto, já sabes bem o que tens a fazer.

Vais ver que arranjas miúdas com facilidade, elas gostam de ti que eu sei. E

muitos rapazes também, se preferires…

Fez um sorriso de gozo e eu percebi que ele já entendera que… Detestei ouvir aquilo, nesse momento odiei­o, mas não lho consegui dizer, apenas deixei escapar um lamento, entre as lágrimas que teimavam em irromper:

– Porque é que não me queres mais? O que foi que eu fiz?

Foi a primeira vez que o pensei e a única vez que o disse.

– Esquece, puto, já te ensinei tudo. Se gostas de homens, já sabes como lhes dar prazer, agora é contigo.

Abri a torneira e lavei a cara com água fria, tinha de recuperar, não

queria que me vissem de olhos vermelhos. O Pedro tinha abusado de mim, mas eu gostava dele e, pronto, eu gosto de sexo. Ele devia estar certo, estava na altura de seguir em frente, eu sabia­o, mas custava tanto… A verdade é que eu não conseguia deixar de pensar nele. Sentia a sua falta, sentia falta de sexo, sentia­me a enlouquecer. Enojava­me imaginá­lo com ela, a ter prazer com ela… mas ela é que era bonita, inteligente, carinhosa e divertida, enquanto eu… e ele gostava era de

mulheres, por isso eu… eu era descartável! Ele nem hesitou. Odiava­o por isso, odiava­o por me ter usado quando não tinha mais ninguém, por ter abusado de mim para ter prazer… e odiava­o ainda mais por saber que se ele entrasse agora por aquela porta, eu abraçá­lo­ia, feliz, grato por ele ter voltado e por me querer novamente.

Os meus avós já tinham saído para tratar das terras. Pensei visitar a

minha tia, mas não voltara a fazê­lo desde o casamento, não queria vê­la, não queria ouvi­la a falar do seu filho querido: porque ele tinha ido em lua ­de­ mel para o Brasil, porque a mulher era um anjo, porque não sei

quê… Senti as lágrimas nos olhos outra vez, mas cerrei os dentes e

consegui reprimi­las. Já estava a ficar melhor, já me conseguia controlar, já não me desmanchava a chorar de cada vez que pensava nele, mas, mesmo assim, a noite tinha sido muito agitada… o casalinho estava quase a chegar, deviam estar a apanhar o avião agora…

Já chega, porra!

O que é que eu podia fazer para me manter ocupado?

Estudar? – Revirei os olhos, enjoado.

– Pois, o que mais me apetece agora é estudar.

Podia fazer o almoço para os meus avós, o meu avô delirava quando via o neto aplicar o que aprendera na escola, comia sempre com gosto e fazia imensos elogios. Estava satisfeito por me ver a estudar outra vez, apesar de ser só um centro de formação profissional e de eu estar apenas a tirar um curso de cozinha e pastelaria. Mas claro que não me apetecia nada disso…

Apeteceu­me dar um chuto na sanita.

Será que o Chico já está levantado? – Perguntei­me.

Ao regressar ao quarto, olhei para o despertador.

7h23.

Era muito pouco provável que ele já estivesse levantado ou que se levantasse entretanto, tinha um namorado novo e, pelo que me contara, costumavam deitar­se cedo, mas adormeciam tarde…

Vou correr!

A ideia ocorreu­me de repente. Era chique correr, agora era moda em todo o lado, até no Meco. Era bem melhor do que dar pontapés nas sanitas ou murros nas paredes. Poderia ir a correr até à praia, só esperava aguentar. Iria transpirar e estafar­me, o que só me faria bem. Já há algum tempo que não fazia exercício a sério, há quase um ano, era só bicicleta para me deslocar na aldeia e, ultimamente, nem sequer sexo… Andava irritadiço, impaciente, mal­humorado, já dera comigo a cerrar os dentes para não responder mal aos meus avós… e eles não mereciam, tinha de

conseguir controlar­me.

Contínua...

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