capítulo 01 - Seis motivos

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série Seis níveis de tolerância

Olha pessoal, estou um pouco desanimado. Mostrei esse capítulo a alguém antes de postar. Pelo que entendi, essa pessoa odiou. A principal reclamação são as analepses (flashbacks) presentes na narração. Eu tava com medo de postar, então pedi a opinião desse cara, que escreve muito bem por cinal. A continuidade do conto dependerá da repercussão desse capítulo e, sinceramente, não acho que dê em nada. Escrevi as respostas aos comentários antes disso, então vai parecer que estou o maior alto-astral

Garoto Secreto: continuando ☺ obrigado por comentar. Continue comentando, por favor, imploro kk...

Historiador: não sabe o quanto fico feliz com esse tipo de comentário. Obra de arte? Ah para. Não é isso tudo não Kkkk muito obrigado, cara, obrigado MESMO. Me esforcei bastante para criar esta serie.

Edward: muito obrigado. Por favor continue comentando. Isso é muito importante para mim.

ATENÇÃO:

A série a seguir é muito, mais muito clichê e tem todos os critérios de um romance adolescente gay só que extremamente exagerados. Esteja ciente dos termos de bulhunfas nenhuma. Não me venha chamar de porcaria depois. "Será que já vi isso antes", provavelmente. Nessa série eu estarei mudado, então comecem a me chamar de senhor soberano, caso o contrário não haverá série kkkk... Como se vocês fossem sacrificar sua auto-estima por essa bagaça.

Muito bem, depois de nossa propaganda auto-negativa...

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— Ei! O que pensa que está fazendo? — eu perguntava a Alex enquanto ele me agarrava pela cintura.

— É enorme, Rafa. Tenho muito medo dessa coisa.

Esta manhã zoavamos uns vizinhos bem mais novos, escalando o muro nos fundos de casa. Eram alguns pirralhos que estavam sozinhos em casa. Não sei como convenci aquele bobão a pular o muro. Alex era um medroso, daqueles que se dizem bem machões, mas tem medo até da própria sombra. Os garotos se assustaram e correram, deixando seu animalzinho de estimação para trás, um pequeno ratinho branco. Meu Deus! Agora era a vez de Alex disparar em alta velocidade. Pode-se dizer que o ratinho colocou o invasor para correr, pois realmente tinha-se a impressão de que o animal o estava perseguindo, já que movia suas patinhas para qualquer lugar que ele fosse. No fim, os garotos não se amedrontavam mais.

— Vai, Mouse! Pega esse ladrão — gritava um dos garotos, torcendo por seu amiguinho.

— É, pega ele! — gritava o outro.

Fiquei algum tempo rindo e observando meu amigo sendo perseguido pela pequena criatura, até que o primeiro alerta nos obrigou a mexer as penas para fora o quanto antes. O último ato do medroso foi se agarrar a mim. A voz feminina vinda da janela nos fez correr para o muro. No segundo alerta já estávamos sentados nele e prontos para pular, quando a criança, que agora segurava o ratinho, disse que uma tal de Jane havia chegado.

— Até mais, senhor ladrão! — disse o menino.

•••

Meu quarto era pequeno demais para nós. Não importa se eu estava a sós com minha mana Andressa ou se tinhamos visitas, era sempre a mesma bagunça. Minha irmã até tentava. Ela só não fazia tanta questão de entrar, como antes fazia só para provocar.

Antes?

Antes de que?

Antes de me flagrar no meio de uma das minhas seções de masturbação noturna.

Esquecendo esta cena constrangedora, nesse exato momento encaro a realidade: eu preciso limpar meu quarto. Me deito na cama, já cansado só de olhar; Alex ao meu lado. Senti alguma coisa deslizando por debaixo do travesseiro. Quando penso em verificar discretamente, Alex já estava com ela à mão.

— Uma revista pornô? Cara, você precisa urgentemente de uma namorada.

— Deixa de ser trouxa.

— É sério, Rafa. Vai querer ficar encalhado pro resto da vida?

— Eu só tenho quinze anos, Alex. Você só sabe me pôr pressão. Por que isso é tão importante?

— Por que? Você quer morrer sozinho, moleque?

— OK, Alex, dispenso seus conselhos amorosos.

— Conselhos amorosos, é? — ele me olhou com cara de malícia.

— Por que está me olhando assim?

— É uma ótima ideia, Rafael — ele falou todo contente — Eu vou te transformar em um pegador, um legítimo garanhão.

— Lá vem — exepresso meu desânimo, deixando meus ombros despencarem — Não, obrigado. Não está na hora de você ir embora não?

— Está me expulsando?

— Escute aqui, Sr. Alex, eu já estou por aqui das suas brilhantes ideias. Zoar os garotos foi ideia sua, mas você quase desistiu quando soube que era preciso pular o muro, e foi bem feito só ter dado pro seu traseiro.

— Sim, foi minha a ideia de zoar os pirralhos, mas essa de pular o muro foi sua.

— E como você queria atravessá-lo? Nós deveríamos ter pego a vassoura da sua mãe e voado por cima dele?

— Tá querendo apanhar, é?

— Ai, Alex — suspirei profundamente, um suspiro de cansaço, com o mesmo som que faz uma garrafa de refrigerante quando o gaz é liberado ao abrirmos.

— Dessa vez eu prometo que nada vai dar errado.

— Você não vai desistir, não é?

— Não mesmo.

— E também vai ficar me atazanando o dia todo se eu não aceitar, estou certo?

— certicimo.

— E o que eu tenho que fazer? — pergunto, fingindo rendição.

O bobão ficou pensativo por um bom tempo, ou melhor, fingiu. Até parece que Alex pensa.

— O que você sabe fazer?

— Como assim?

— Rafa, Rafael, você é BV?

— Mas é claro que não.

— Você sabe que pode confiar em mim, não sabe?

— Sei sim — abaixei a cabeça — Promete que não vai espalhar?

— Você sabe que não — ele falou tão sério que cheguei a duvidar.

— Obrigado.

— BV e virgem, né? É por isso que o pessoal do futsal diz que você tá dando pra mim.

Filho da mãe! Era impossível conversar com ele por cinco minutos não desejando espancá-lo. Não foi preciso dizer nada, acho que ficou mais que óbvio que sou BV.

Depois de muitas risadas, mais piadinhas bobas e de uma ridícula guerra de travesseiros, o mala teve mais uma de suas ideias que, com toda certeza, seria um desastre.

— Bom, já que você não sabe muita coisa, que tal treinarmos um pouco?

— Que?! Eu não vou te beijar. Tá maluco?

— Nem eu. Prefiro beijar o Orangotango — ele faz uma cara de nojo pra lá de exagerada, pondo a língua pra fora — É só mais como... Será que você saberá o que dizer quando chegar perto de uma garota?

— Eu... Eu...

— Não precisa responder — disse — Por que não me mostra?

— Eu?

— Rafael! — adverte — Eu não tenho o dia todo.

•••

— Não, não, não é assim. Você só vai conseguir pegar um baitola que lê John Green com esse discursinho — mais uma reclamação depois de vinte minutos de sua aula de como bancar o pateta com um indivíduo do sexo oposto — Ok, você é do tipo romântico, não é? Vamos aproveitar. Podemos trabalhar nisso. Você só tem que ser menos meloso, e, por favor, não use mais a expressão amor-da-minha-vida. Duas coisas podem acontecer se você contiuar usando: a coitada pode sair correndo ou você pode encontrar uma maluca que acredite nisso e os dois acabem em um quartinho minúsculo com dez filhos para criar. Acredite, as mulheres são muito persuasivas.

— Então o que eu faço?

— Já posso ver o seu tipo de garota, as que gostam de comédia romântica. O problema é que você não é o tipo delas, não é recíproco.

— Está me deixando confuso.

— Você tem que ser mais atrevido, Rafa.

— Como?

— Que tal começarmos do início do fim para você se soltar?

— Não sei do que você está falando.

— Vou entender como um sim.

Ele me olhava diferente agora. Aos poucos foi chegando mais perto, até que...

— Tá louco, Alex?

Desata no riso.

— Calma, não vou te estuprar. Só queria saber se você tem pegada — ri novamente.

— Pergunte à sua mãe.

— Eu já te disse para não falar da minha mãe, seu gigolô arrombado — o maluco pula com tudo em cima de mim, me fazendo tombar de bunda no chão — Agora vou te ensinar outra lição básica.

Nos embrenhamos em uma tradicional lutinha infantil. Riamos/relinchavamos alto, tão alto que minha irmã se preocupou e gritou para perguntar se estávamos bem, a ignoramos. Eu tento a todo custo escapar, mas Alex é mais forte. Em cima de mim, ele para de se mexer, prendendo minhas mãos fixas no chão com as suas; eu lhe dou uma cabeçada não muito forte, o suficiente para derrubá-lo, consequentemente, em cima de mim.

— Ai, meu Deus! — Andressa entra aos berros — Eu não acredito. Não, claro que acredito, eu já sabia. Eu sabia que essa amizade estava muito estranha.

— Andressa — falo depois de conseguir me desvencilhar do vencedor da luta. Ou foi um empate, que seja. — Não é o que você está pensando.

Minha irmã saiu correndo, gritando por toda a casa. Alex veio ao chão, chorando de tanto rir. Apenas sentei, esperei que tudo passasse.

•••

— Ai que alívio — Andressa suspira, entregando-se ao piso de madeira velho — Não me leve a mal, maninho. Eu te apoiarei em qualquer outra decisão da sua vida. Mas Alex, isso não. Ninguém merece o fardo de estar apaixonado por essa criatura das trevas. Prefiro vê-lo casado com um tamanduá perneta e castrado de vinte e uma cabeças.

— Hum... Já está com ciúmes — ele começa — e eu prefiro o gostoso do Rafael. Ele não morde, quer dizer, só quando eu peço.

— Alex, não enche o saco. Já não basta ter que olhar pra essa sua cara por três horas ao dia. Não quero que meu irmão se torne um retardado como você.

— Não briguem por mim. Tem Rafael o suficiente pro mundo todo.

Os dois se voltaram para mim. Não era o tipo de coisa que eu costumava falar.

— Está vendo? Ele já está começando a falar como você. É só o que você tem a ensiná-lo.

— Esse é meu garoto. Vai pegar geral.

— Não Alex, você não vai transformar meu irmão em um galinha mirim como você.

— Poxa, mana! Já disse pra parar com isso. Nós já temos quinze anos.

— Exato, vocês só tem quinze anos.

— Acho que não foi o que ele quis dizer.

— Calado! Eu sei o que ele quis dizer.

— Andressa... — tento falar. Andressa me interrompe, como já é de praste.

— Você também, irmãozinho. Os dois têm que ir para a escola e já estão atrasados.

— Como assim? — perguntei evidentemente confuso — A diretora disse que não haverá aula hoje.

— Meu amor, não minta para mim. Eu liguei agora pouco para a diretora e ela disse que não sabia de planejamento escolar nenhum.

— Como assim? — voltei a perguntar, já encarando Alex. Andressa seguiu meu exemplo.

— Por que estão me olhando assim?

— Eu não acredito, Alex. O que você tem na cabeça? O semestre já está terminando.

— Eu só queria um dia de folga com meu melhor amigo e sua simpática irmã — Alex faz uma cara que nenhum ser humano vivo resistiria a comover-se, apesar do seu papo obviamente puxa-saco. Simpática irmã? E não pude negar o espanto quando vi a expressão de Andressa em resposta a dele: de comoção real — É que é tão difícil — ele tentou parecer sério desta vez.

•••

Convenci Andressa a esperar Alex. Ele foi até sua casa vestir o uniforme. Se formos rápido daria para chegar na segunda aula.

— Tem certeza de que não é gay? Você demorou tanto para se vestir que achei que estava se montando.

— Andressa, não implique tanto com ele, está bem?

— É, Andressa, eu posso acabar gamando.

— Ora, seu...

— Tudo bem, tudo bem, eu paro.

— É melhor mesmo. Não quero ter que acabar em uma delegacia prestando depoimento pela morte de um dos dois.

— Eu só quero que sejam mais responsáveis. Escuta Alex, eu não te odeio. Pelo contrário. Como não tenho um irmão chato — ela olha para mim com a palavra orgulho carimbada em sua testa — você faz muito bem este papel.

— Nossa! Tô emocionado.

— Você não leva nada a sério, garoto.

— Vamos logo. Não vai dar tempo.

— Não, espera!

— O que foi agora?

De repente, Alex vira o homem da sunga com pochete. Não, ele não desceu as calças ou se transformou de verdade. O "irmão chato" tira algo de sua mochila. Não foi só brega, também me pareceu narcisista de início.

— O que é isso, cara? Você não pode fazer isso no banheiro da escola?

— É para você, não para mim.

Sem nenhum aviso, o garoto pula em meu cabelo com um pente na mão.

— O que tá fazendo?

— O que dizer quando você entra na escola com isso que chama de cabelo na cabeça?

— Odeio ter que concordar com ele. Você parece um supersayajin anão e desnutrido.

— Mas é o meu cabelo, o MEU cabelo — enfatizo — e, além do mais, é você quem corta.

— Acho que já deu para perceber que tenho miopia. Vou comprar um óculos semana que vem.

— Não se preocupem, eu concerto isso, e nem vou precisar de tesoura ou máquina.

— Vamos ver.

— Argh! Por que eu deixo vocês fazerem tudo o que quizerem fazer comigo?

A primeira aula já deveria estar acabando. Segundo Alex, meu cabelo ainda tinha jeito. Andressa só observava com um olhar crítico, porém de boca fechada, somente algumas risadinhas para variar. Quando está quase no final ela tenta opinar:

— Alex, isso não é...

— Silêncio, mulher. Não vê que estou no meio de um processo de criação minucioso?

Não sei se era deboche ou se estava falando sério.

— Eu só...

— Calada!

— Vocês querem parar de brigar, por favor.

— É que...

— É que nada, Andressa. Já deu de mal-humor.

— Tudo bem. Depois não diga que não tentei avisar.

•••

Se tem uma coisa que as pessoas não podem dizer de mim é que sou narcisista. Isso não combina comigo. Acho que sou o mais desleixado do grupo de amigos (eu, Alex, Alex-doidão e Alex-parece-chapado). O DOIDÃO, sei que não deveria dizer isso de outro homem, mas ele é... Sei lá. Se tivesse alguma forma máscula de falar isso seria "ele é bonitão". Ele tem um topete bem mauricinho e moderno. Não é uma coisa cheguei ridícula. As garotas caíam por ele duas vezes. Uma por sua aparência, visual, e a outra assim que ele abrisse a boca. Para você ter ideia, desde casa até a escola foram dez minutos de besteiras que saíam de sua boca. Até pensei na possibilidade de ele ter uma quarta quinta boca.

— Ok, chegamos. Vamos logo que estamos atrasados.

— Ei, amor!

— Desculpa, Andressa. Não temos tempo para isso.

— Corre, Rafael. Já estão querendo fechar o portão.

O porteiro fez um sinal para darmos meia volta. Não tenho certeza se aquele asno ao meu lado entendeu o recado. Puxei seu braço, quando percebi que ele estava nervoso. A paciência não é uma de suas virtudes. O larguei na mesma hora. Já podia visualizar a imagem na minha mente: Alex batendo em um pobre senhor que tinha menos de um ano para se aposentar.

— Algum problema, garotos? — Andressa se materializa na minha frente — O Seu João não está deixando vocês entrarem?

— Não, o Seu João vai nos deixar entrar com certeza — responde — não é, Seu João?

— Alex! — resmungo.

— Me escute, Seu João, não vai querer privar os garotos da educação.

— Oia, mocinha, eu já trabaio aqui far tempo. Esse minino aí nué fror que se chere.

— Fora da escola ele será um ser humano ainda pior.

— Ah moça, me lembro que a sinhorita estudô aqui, mar num consigo lembrar o nome. Nué Valesca, não?

— Andressa, Seu João — corrige — você não acha que essas crianças ficarão ainda piores nas ruas, sufocadas pela influência de outros ainda mais rebeldes?

Por mais que Andressa não gostasse do jeitão playboy malandro do meu melhor amigo, os dois são absolutamente parecidos neste quesito. Andressa é cheia de lábia.

— Oia, num pense que sô burro. Eu sei lê e escrever meu nome, mar num intendi uma grama. Mar se o que a sinhorita quer é que esses minino entre, a Dona Valesca já fica sabendo que são orde da diretora.

— Andressa — volta a corrigir inutilmente — escute, aqui tem vinte reais...

— Quem diria, hein senhorita Andressa. Subornando o porteiro para deixar o seu irmão entrar. Você era uma das minhas melhores alunas — a diretora entra de supetão, interrompendo a fala de minha irmã — E você, senhor Alex. Não é você que vive fugindo da escola? Agora quer entrar? — ri com seu rosto estando muito próximo ao portão e ao de Alex — Rafael, eu não acredito. A sua insistência em seguir cegamente este... seu colega já chegou a tal ponto? Lamentável.

— Hey Dona diretora, procuramos a senhora pelos quatro cantos da escola — disse um rapaz com uma barbicha chique bem feita no queixo — Alguns de nós gostariam de começar imediatamente.

— Não seja mal-educado, Otávio. Não vê que eu estou falando com os meninos.

— Ah! Mais material para o projeto — o tal Otávio se empolga e já vai pegando a chave e empurrando o pobre porteiro — Entra aí, mano. Pode entrar, véi.

Nos encaramos por um tempo e depois a Otávio, entrando em seguida. A diretora não teve tempo de protestar. Caminhamos rápido na direção do bloco da nossa sala, mas ficamos atrás de uma enorme coluna. Eu estava curioso.

— Percebe o que fez?

— O que eu fiz?

— Para começar, quase matou o coitado do Seu João no ano de véspera da aposentadoria.

— Foi mal aí, Seu Jão.

— E Aqueles a quem deixou entrar, eles chegaram atrasados. A.T.R.A.S.A.D.O.S. Eu os estava disciplinando. Eles chegaram atrasados quando eu pedi, por Deus, que não o fizessem hoje. Hoje não.

— Pô, desculpa aí, tia. Eu não sabia.

Alex não conseguiu segurar a risada. Quando pensei em fugir a diretora já se apresentava de novo.

— Ok, vocês ficam. Amanhã eu não quero atrasos e desculpas. Esperem lá no pátio com todos. Farei um comunicado importante.

Obedecemos calados. Nem parecia a dupla Alex e Rafael, quer dizer, Alex em parte. Ainda o escutei sussurrando um resmungo. Nos colocamos espremidos entre outros garotos de pele gordurosa. Muitos carregavam cadeiras, pois o auditório estava em reforma, nos forçando a improvisar no pátio. Eu também estava prestes a pegar uma cadeira, no momento em que a corôa começa a falar:

— Primeiro, eu não pedi para que ninguém fosse pegar cadeiras nas salas. O comunicado será breve. Não precisaríamos mesmo do auditório para isso. Acontece que não tive tempo de informá-los na entrada — explica — Certo, semana passada eu disse que vocês teriam uma surpresa, e lembro de ter pedido para que viessem antes da segunda aula, o horário em que os portões se fecharão de agora em diante, ninguém entra, ninguém sai — ela nos mirou com o olhar. Outros seguiram o exemplo. Eu estava enganado ao pensar que era pela atenção que ela atraiu para nós. Isso pode ter, no máximo, ajudado — Há alguns meses recebemos, ou melhor, a direção recebeu a notícia de que fomos escolhidos para participar de um projeto dos alunos do curso de cinema e audiovisual, e introdução ao documentário. Eles estarão aqui filmando e entrevistando cada um de vocês. Cada grupo decidirá a forma como irão produzir seu documentário, então poderão escolher quantas salas quiserem, a escola ou até mesmo um aluno felizardo com uma vida excitante.

— Ela disse excitante — sussurra, me lembrando do quanto crianção e mimado pelos pais ele é. Tive a impressão de estar falando com um menino de dez anos, um menino travesso que ri quando ouve uma palavra mais forte para sua idade. O que esse menininho poderia me ensinar?

— Você parece criança.

— Não pareço não. Você que parece.

Isso só o fez parecer ainda mais. Pensar no que Alex poderia estar fazendo agora se não estivesse na escola: o mais provável era que estaria me obrigando a assistir seu DVD dos ursinhos carinhosos pela trigésima vez. Ele é fanático por desenhos animados. Imagine um maluco usando apenas uma cueca azul claro (a cueca da sorte. Eca!), uma camiseta e meias, assistindo programas infantis e xingando como se estivesse vendo uma partida de futebol. Adivinha onde ele faz tudo isso. Na casa dele é que não é. Às vezes, Andressa tem que expulsá-lo. Mas o que mais se tem a fazer quando há um cara seminu na sua sala?

— O intervalo será estendido. Recolham as cadeiras, as levem de volta — finaliza.

Alex me encara com os braços cruzados. Obriguei-me a cruzar o caminho entre seu ombro e a parede, o empurrando. Ele era muito mais forte que eu e, por isso, sem que ele precise mover um só músculo, caí sentado no cimento liso, duro e sem falhas. Ai! Um som parecido com o de Kayako no filme o grito saiu do fundo da minha garganta.

— Rafa! Você está bem?

— Ai minha bun... — penso antes de terminar a frase. Havia muita gente por perto — Não precisa exagerar. Eu estou bem, cara.

— Desculpa, mano. Eu deveria ter saído do caminho.

— E porque não saiu?

— Deixa de frescura. Foi só uma queda a toa. Você não é macho não, rapá?

— Ainda a pouco você estava aí todo desesperadinho.

— Porra, Rafael! Vem comigo logo.

•••

Duas mocinhas conversando no banheiro, era o que parecíamos. "Garotos não vão ao banheiro juntos", não importa, pois Alex, por mais que bancasse o gay, não seria aos olhos dos que o conhecem. Ele era o tipo de cara que podia apertar o saco do amigo sem ser chamado de bixa. Um dos motivos eram seus comentários homofóbicos diários. Sei que é difícil de acreditar pelo modo como tem se comportado, mas isso era porque ele gostava de ridicularizar quase tudo. O palhaço via os gays como sua piada, e ainda por cima era machista.

— Uau! — exclamei — isso é...

Meus olhos deram voltas ao redor da minha cabeça. Só podia ser uma miragem. Deve ter custado uma fortuna, embora, para os outros garotos da escola, não seja para tanto. Minha cabeça foi parar naquele dia em que eu desejei tanto aquele objeto.

•••

A chuva nos pegou na esquina que dobrava para uma rua afrente da minha. Meu uniforme ficou todo ensopado na hora. Deus havia jogado toda a água de seu enorme balde cinza em nossas cabeças. Sim, já sei, muito drama. Praguejei alguma coisa, apontando o soco para cima. Meu amigo, que dançava adoidado na rua como a Florence Welch no Rock in Rio, já estava para tirar a calça, quando tratei de falar que estávamos na parte comercial do bairro, uma pequena sobra do bairro comercial antecedente. As vendedoras nos olhavam das vitrines. Foi o sinal verde para ele tirar a camisa, exibindo o que, na época, não era tanta coisa quanto agora é. Eu não fui burro a esse ponto, jamais; procurei um lugar para me abrigar.

Na calçada de uma relojoaria, um pequeno espaço onde pingavam somente algumas gotas. Nenhuma loja se atreveu a abrir, visto que tinha um maluco lá fora dançando na chuva. Corri para a calçada, Alex me seguiu e aí...

— Uau! — exclamei deslumbrado.

— Mano, dahora mesmo.

— Pô cara, é demais. Eu quero, eu tenho que ter.

— Você tá até parecendo a Alice. Não exagera. Você não tem um celular para ver as horas?

— Essa não é a questão.

A vitrine expunha três champions touch troca-pulseiras. Nele há uma catraca colorida com um visor e pulseiras removíveis. Pros muitos riquinhos das redondezas podia ser uma mixaria, no entanto, eu, um jovem fracassado, um já falido precoce... R$ 220,00?! Isso serviria para comprar um aparelho de DVD novo, porque o meu já está muito surrado, ou um novo roteador, porque o meu é muito fraco, pois fui enrrolado pela conversa fiada do camelô.

No dia seguinte, um certo striper macumba-theme das chuvas me vem com uma caixa cheia do que eu acreditei serem relógios champions touch. Mais tarde descobri que só havia um relógio, o resto eram pulseiras. Não tive tempo uma vez que ele já foi me falando coisas como "sabe ontem quando você ficou todo animado com esse relógio?" e completou com o decepcionante "Então, você me inspirou. Eu comprei um. Não é demais? Agora podemos andar por aí com nossos champions já que você disse que vai comprar o seu". Mentalmente agarrei o seu pescoço, o apertei até ficar roxo. Repito: mentalmente.

•••

A decepção veio outra vez ao lembrar da ilusão. Meu sorriso foi se desfazendo aos poucos. Eu sei que não foi intencional, entretanto, poxa, como eu queria aquele relógio. A última coisa que desejei tanto quanto estava nos meus pés agora.

— O que foi? não gostou? — ele pergunta, segurando a caixa com o champion tirada da mochila.

— Espera um pouco. É para mim?

— Mas é claro.

— De verdade?

— Você não achou que eu iria simplesmente esfregá-lo na sua cara, achou?

— Eu não acredito.

— É, agora você pode parar de planejar o furto, como fez com o tênis que está usando agora. Pensou que eu não tinha percebido, é?

— Alex, caramba, é que você já tem tudo — me expliquei envergonhado.

— Feliz aniversário, irmão — ele fortemente me envoveu em um abraço caloroso, sufocando-me com o constrangimento de não lembrar do meu próprio aniversário, mais que isso, de não ter comprado um presente para Alex, por também ser o seu.

— Droga! Eu não te comprei nada.

— Não precisa. Eu já tive muitos aniversários felizes. Hoje é o seu dia, Rafael. Não vou robar a cena desta vez. Aproveita aí, mano.

— Ah que lindo. Cadê o beijo? Beija, beija, beija — ao sair de um dos boxes cantarola um garoto que atende por Tai.

Tairone Lucas: 18 anos, 3° ano, mestiço, olhos verdes, meu tormento do fundamental, hoje um idiota fingindo que nada aconteceu, que somos eternos amiguinhos zoeiros.

Aqui pra ele!

— Deixe os dois em paz, Tai. Ninguém aqui te agüenta quando está bêbado. Você quer abraçar e beijar todo mundo.

Thiago Leandro (combinaçãozinha ridícula): 17 anos, 2° ano, branco, olhos azuis (o cúmulo do clichê), um daqueles bons-moços que chega a dar raiva de tão santinho que é. Particularmente, acho um pé no saco. O garoto vivia a tentar amizades forçadas com todos por perto, o que me inclui. Bom, para falar a verdade, eu tenho um pouco de inveja.

— Eu achei super fofo.

Ana Carolina: uma maldita de uma lésbica fuzilista de rua mequetrefe/feminazi de uma figa, esta é a única coisa que você precisa saber sobre ela.

— Você sabe que está no banheiro masculino, não é?

— Ah é? Nem percebi. Legalzinho isso aqui. Vou voltar mais vezes. E dizem que as garotas são mais limpas.

— Pode voltar, gata. Aqui não falta hospitalidade — Tai se pôs a responder antes de qualquer um, embora estivesse ciente do fracasso.

— Não falta iludido também, "gato". Já falei que não curto.

— Amor, você sabe que temos que ficar juntos. Nós combinamos como o horizonte e o sol se pondo na savana selvagem em um dia intenço de verão.

— Me poupe. Você nem é negro de verdade, Tai.

— Hum, racismo acompanhado de uma impudorosa visita ao banheiro masculino, hein Ana — disse a secretária da direção — O que está fazendo aqui, menina?

— Vim tirar a água do joelho, ué. Achou que estava fazendo o número dois? — sacaneia — Ah, e não sou racista. Eu sou negra... De verdade.

— Não seja atrevida, Ana. Que falta de vergonha é essa?

— Agora lhe faço a mesma pergunta: o que está fazendo aqui, "menina"? — ao "menina" ela dá mais enfase, simulando uma rouquidão na voz.

— Eu estava de passagem, quando ouço uma voz feminina vinda do sanitário masculino.

— Deve ser a do Alex — encerra.

Por eu me prender a detalhes, resalto duas coisas: 1° - somente a secretária chamava Carol pelo primeiro nome; 2° - essa cena se fechou quando, após a saída de Carol e a secretária, Dudu saiu do outro box. Tenso...

•••

— Ei, gatinho! — Bruna, uma garota do grupo de Alice fala assim que chegamos. Passo direto, pois duvido que esteja falando comigo — Ei, é com você mesmo, bonitinho de relógio azul.

Puts! E agora? O que eu faço?

— É... Oi.

— De visual novo? Tá um gato — revela aquela misteriosa e constrangedora risadinha feminina. Você não sabe se ela está de fato tirando onda com a sua cara ou se está simplesmente rindo. Retribuí com um sorriso abobado.

— Coitado, Bruna. Não faz isso com o garoto. Não vê que ele tá todo contente? — sussrrou a outra, Tamires, o tipo de sussurro que todo ser humano com ouvidos saudáveis poderia ouvir.

— Não liga não. Eu sim acho que você está um gato — Alex, esse sim sussurra de verdade.

— Olha o que você fez comigo? Todo mundo está rindo, maldito.

— É que essa visão alegra o dia de qualquer um.

— Para de palhaçada e faz alguma coisa.

— Tudo bem — ele se levanta da cadeira — Ei, seus cuzões!

Atenção aí! O próximo que rir do meu irmão aqui vai apanhar até a bunda ir parar no lugar da cabeça.

— Ah, é mesmo? São gêmeos?

— Alice?!

— A própria. Queridinho, porque você e seu clone não se sentam enquanto uma de minhas amigas com QI inferior a zero — acena para a amiga, que retribui com um sorriso eufórico — lê sua redação horrível sobre sua bolsa de couro falso, que, pelo amor de Donnatela, isso não é couro nem aqui nem na China. Porque, caso não tenha notado, a professora chegou cinco segundos após seu comunicado inspirador.

— Sim, senhora. A patroa é quem manda.

— Obrigado, senhorita — agradece o professor.

— Seu filho da mãe! Que porra foi essa? Tudo só ficou ainda pior. E por que todos estão me comparando a você?

— Você foi ao banheiro e não se olhou no espelho? Não conferiu a maravilha que fiz em você?

Nem pedi permissão, saí logo em direção ao banheiro. Aproveitei para beber um copo d'água. Abaixo-me para pegar um copo. Isso fazia eu me sentir alto. "O bebedouro foi feito para anões", lembrei de alguém do terceiro ano ter dito isso, enchendo-me de raiva outra vez, o que me levou a lembrar do motivo por estar alí. Penso em prosseguir, algo chama a minha atenção. Escrito na parede atrás do bebedouro, expondo apenas uma ponta. Se eu olhasse bem direto na fenda entre o bebedouro e a parede, era possível ver "Carlos Eduardo & Rafael" envoltos em um desenho de coração com uma flecha atravessando-o. Nossa! Essa foi para me matar de raiva.

— O que está vendo aí?

— Thiago?!

— Eu.

— Não é nada. Eu só estava tomando um pouco de água.

— Foi você que escreveu isso?

— Não, é claro que não.

— Pode confiar em mim.

— EU NÃO FIZ ISSO, TÁ LEGAL?!

— Não precisa ficar nervoso. Somos amigos.

— Pela última vez, não tenho nada a ver com você. Você só sabe puxar o saco de todo mundo para todo mundo puxar o seu. Não somos amigos.

— Talvez você tenha razão, não somos amigos, e isso acontece porque você não me conhece, não quer conhecer.

— Então me responde uma coisa: Por quê você é tão desesperado por atenção? Por quê quer que todos sejam seus amigos? Há muitos com quem você não tem nada em comum.

— Eu não sou desesperado por atenção. Eu sempre gostei das pessoas. Nunca tive esse negócio de medo do palco, e gosto de ajudar a todos. Você não imagina o quanto é bom ser o motivo das risadas alheias, é tipo um super poder.

— Eu não acho isso não.

— Não. Estou falando de quando estão rindo com você, para você, e não de você.

Me calei esperando que ele se retire de impaciência. Quatro minutos parado e nada. Alguém viria nos buscar. Uma ideia (óbvia) surge: caminho de volta para a sala, só isso. Mas Thiago se torna minha sombra. "Não acredito que ele vai me seguir até a sala de aula", penso. "Ele vai dar meia volta", ele continuava seguindo em frente. Virei, estando de frente para ele.

Nunca havia notado. Ele não sorria, mantinha uma expressão serena, sem nenhum risco de euforia ou nervosismo, e eu abaixava a cabeça e o olhava de esguelha, porque nunca havia notado seus olhos azuis, um azul profundo que só passaria despercebido por um mané. Eu sou esse mané, pois só agora lhes dou a atenção merecida.

O que é isso?

Esse não sou eu? Eu não sou gay. Posso ser um antisocial fracassado, mas, como todo mundo, ainda sonho em casar e ter filhos. Não quero passar o resto da minha vida com um gorila sarrando e fazendo sabe-se lá mais o que comigo. Isso é nojento, asquerosamente assustador.

•••

A água me dava uma sensação de outro mundo, de cura, de estar sarando minhas feridas nos joelhos e cotovelos de moleque. Cada toque refrescante, cada deslize suave, o som do choque com meu corpo e com os azulejos do banheiro.

Subitamente, enquanto permanecia com os olhos fechados, curtindo a ducha relaxante, um barulho pertuba o silêncio, que já seria pouco se não tivesse ignorado a música irritante na voz desafinada daquele menino. Quando abri os olhos, pude ver que era só o sabonete caindo. Ele se abaixou para pegá-lo, me olhou envergonhado depois de encontrar meu rosto no seu caminho ao virar-se, pior ficou quando olhou mais abaixo. Eu estava... Cara! Eu estava excitado.

Minha tia — igualmente chamada assim pelo garotinho magricela de doze anos, meu parceiro de banho, não querendo soar muito gay — chega com duas toalhas.Ela estranha o comportamento do pirralho. Seu corpo se intrometia entre duas paredes, encostando-se no canto, provavelmente, protegendo suas partes itimas do meu olhar cheio de malícia involuntária. Já tomávamos banhos juntos há muito tempo e nada disso acontecia. Por que agora?

— Alex, o que está fazendo, meu anjo? — ela pergunta carinhosamente.

— Nada, tia.

— Por que não entra na ducha? Você está todo sujo de sabão.

— Tia, você...

— O que foi, meu anjo? Você nunca foi tímido. Pode falar.

— Você e o Rafael podem sair? É só enquanto tô tomando banho.

— O que houve? Resolveu criar vergonha na cara? — ela brinca, mas logo depois percebe suas bochechas coradas e fica séria — Você não precisa ter vergonha. Os dois são meninos.

— Mas você é menina e eu já sou bem grandinho, não acha?

— Ok, eu tenho muito o que fazer. Entre na ducha logo.

— E o Rafa?

— Entre logo — repetiu.

— Eu posso sair, tia — finalmente crio coragem para intervir.

— Não, fique aí onde está.

— Mas... — ele tenta.

— Já para o chuveiro!

Ficamos três semanas sem manter contato, ou seja, o resto das férias. Não fiz questão de procurá-lo para esclarecer nada, deixei que tudo se resolvesse sozinho. As aulas voltaram, Alex também.

•••

Estou parado no corredor, feito um idiota. Thiago não fazia menção de se mover. Eu recuaria se podesse mexer minhas pernas. Perco o controle delas, meu joelho se dobra sem meu consentimento, estou caindo. Não sei de onde busquei força mental para me deter. Mesmo assim, cambaleio para frente, acertando meu rosto no peito de TL. O tecido do uniforme não consegue esconder a textura do seu peitoral. Rapidamente me recomponho, ainda tendo um último arrepio quando tive que pôr a mão sobre seu peito para me apoiar e levantar.

"Rápido, diga alguma coisa", disse a voz na minha cabeça. "Corre logo de uma vez. Cai fora daí", disse a outra. "Não faz isso, não", uma terceira. "É só um...","não, não pense nisso", a quinta interrompe a quarta. "...Um beijo", completa.

— Não gosto muito de estar assim tão próximo das pessoas — simplesmente digo, voltando ao assunto de minutos atrás.

— Por que? — interroga, repetindo minha falsa indiferença ou não.

Eu nunca tinha parado para pensar nisso, porém...

— A maioria não curte as mesmas coisas que eu e têm uma futilidade que... Caramba! Eu não sei explicar.

De repente...

— Se liga aí maninho, as coisas não são assim. Diversidade é tudo.

E foi como cortar a trilha sonora de um filme romântico, graças a Deus.

— Nossa! Você parece ter saído de um daqueles comerciais do governo.

O que importa? Nem sei se sou gay realmente. Não há tanta pressão. Ainda sou muito jovem e não vou me deixar levar pelo que quer que seja isso. Eu sei que não vou.

•••

Que porcaria! Só me resta rir de mim mesmo. Estou olhando meu reflexo, ou melhor, o reflexo de uma versão desnutrida de Alex, no espelho do banheiro. O mesmo topete, o mesmo modelo de relógio e, pra completar, olhando para baixo enquanto me examinava dos pés à cabeça, percebi que estava usando os tênis-meio-que-roubados. Isso explica a zoação. Agora eu também posso me auto-zoar. Que legal, né? Emfim, deixando o sarcasmo de lado, "Mas que merda é essa!".

— Ei, loirinho!

— O que? Quem disse isso? — me virei, mas não vi ninguém.

Fui saindo de fininho. Há uma lenda local de que o banheiro é assombrado por um casal de alunos que foram brutalmente esfaqueados por um colega próximo. Um amigo do meu amigo contou que o primo dele já viu a garota. Dizem que minutos antes de morrer ela fez um "T" (a inicial de seu nome) com canetinha no braço do garoto. O primo do amigo do meu amigo disse que o mesmo "T" apareceu em seu braço. É assim que ela marca suas vítimas. Há dois anos, uma menina do oitavo ano chamada de W.C. na internet (Jennifer) sumiu misteriosamente. O estranho foi que a diretora fez questão de esclarecer seu paradeiro. Segundo ela, W.C. mudou-se para o litoral. O Tai disse ter ouvido gritos vindos do banheiro feminino. Chegando lá, quer dizer, próximo... Além de um rastro de sangue, somente a armação de seu óculos foi encontrada.

Certas coisas não são para serem vistas. Era o caso do bilhete preso à parede com fita adesiva, que encontrei quando estava de saída. As letras eram de recortes, era divido em duas folhas. O que me assustou foi o grande "T", ele cobria a página toda e era formado por uma montagem com fotos minhas quando era criança. Minha irmã as pôs no facebook no meu aniversário do ano passado. Isso explica onde conseguiu as fotos.

Seis motivos para T amar Rafael o em segredo

1. Você é lindo;

2. Você é inteligente;

3. Você gosta de pokémon;

4. Você é lindamente ingênuo;

5. Quero te ensinar algumas coisinhas;

6. Você parece um bom aluno.

Então, a garota fantasma gosta de mim?

•••

— Quem é T?

— É o que estou tentando descobrir.

— Deve ser a Tati ou a Tamires. Se deu bem, hein Rafinha.

— Não seja bobo. O que eu faço agora?

— Só resta esperar.

— Esperar?

— Esperar o próximo.

— Terá um próximo?

— Sempre tem, né. Mas tem outra coisa que podemos fazer, podemos investigar.

— Não parece ser uma boa ideia.

— Por que?

— Porque veio de você.

— Um dia vou desistir de você, sabia?

Os alunos se amotoam em seus devidos lugares na sala pequena de novo. O último foi Eduardo, como sempre me fuzilando com o olhar. Pensei no que Thiago me falou. Eu tinha que resolver as coisas com o Dudu. Vamos lá, Rafael, mostre para ele quanto está errado.

Comentários

Há 2 comentários.

Por edward em 2016-07-26 18:03:18
Nossa muito bom ,enredo leve e atrativo. Gostei muito principalmente por causa dos diálogos entre os personagens. Bjs
Por em 2016-07-26 17:40:59
gostei