Capítulo 1 - Segunda Temporada

Conto de Tyler Langdon como (Seguir)

Parte da série Os Dois Lados do Espelho

Desde aquele dia em que descobri que era diferente não voltei mais para casa, e nem tive notícias de minha família. Talvez fosse melhor assim. Eu não sei até que ponto isso pode me afetar e afetar a eles. Ainda consegui enviar um bilhete para minha mãe afirmando que estava bem e não precisava se preocupar.

Fui perseguido algumas vezes por pássaros negros que voavam pelo céu, e tenho certeza ser de minha tia Ágatha, que de alguma forma deve ter sentido minha magia despertar naquela noite. Assim como minha mãe deve ter sentido o mesmo.

Corri assustado por muitos dias, me escondi na floresta, sobrevivi da forma que podia.  Não sabia para onde ir, ou o que fazer. E hoje estou aqui, na casa desse senhor camponês, Pedro, que me abrigou desde que me encontrou desacordado próximo as suas terras. Ele tem sido muito gentil comigo. Tive de mentir sobre quem eu era, e para isso precisei dizer que não lembrava de nada além de meu nome.

Ele mora com sua esposa, Diana, que no início teve um pouco de receio com minha chegada, mas hoje me trata como um filho, e com seus filhos Felipe e Paula. Paula era mais nova, tinha onze anos. Já Felipe era um pouco mais velho que eu, tinha dezoito anos e não falava muito comigo. Ele não se agrada com a minha presença, desde que o Pedro me trouxe para sua casa. Já tentei convencê-los a ir embora, mas eles não deixavam, achavam perigo demais eu sair ainda sem memória. E na verdade eu não queria mesmo ir, me sentia seguro aqui e tentava não maximizar mais problemas com o Felipe.

Dividia um quarto com Felipe, mas por esses motivos eu não conversava muito com ele. Tentava ajudar ao máximo nos deveres da casa, já que estava morando de favor, mesmo que Diana negasse algumas vezes, eu insistia para que fizesse.

A casa que eles moravam ficava em um vilarejo, mas era um pouco mais afastada das demais. Era simples, com piso de madeira, mas era bem confortável e espaçosa. Quando cheguei, eles falaram para os vizinhos que eu era um parente distante que havia perdido os pais e passaria um tempo com eles.

Tenho dezesseis anos agora, e eu não sei o que acontecerá comigo no futuro. Se continuarei aqui, se conseguirei desenvolver essa margia que está acesa dentro de mim , e se conseguir, se será bom ou ruim. A única coisa que eu sei é que eu estou sozinho agora, e talvez continue assim por muito tempo.

Era domingo, o Pedro não ia para o trabalho no campo hoje. Ele estava construindo um canteiro na parte de trás da casa para plantar algumas hortaliças, e decidi ajudá-lo. Ficamos a manhã toda preparando a terra e plantando as raízes e tubérculos em seguida.

No almoço todos sentávamos a mesa para almoçar juntos. Era como uma tradição sagrada de domingo, já que na semana o Pedro trabalhava e não podia almoçar com a gente.

- Vi o canteiro pela janela da cozinha e está lindo, conseguiram terminar? - pergunta Diana colocando um pouco de comida em seu prato.

- Sim. Arthur e eu terminamos hoje. - disse o Pedro. - Acredito que daqui alguns dias já consiga colher nele. - completava feliz.

- Que bom. Obrigado Arthur por ajudar. - falou Diana.

- Não precisa agradecer, é o mínimo que eu posso fazer. - disse satisfeito. O que era verdade, não era nada comparado a o que eles faziam.

- O mínimo seria trabalhar também. - disparou Felipe do outro lado da mesa. Permaneci calado. Aprendi a não responder suas provocações, era melhor. Estava em sua casa e não queria conflitos.

- Felipe! Não começa. - repreendeu seu pai.

- O que? Estou mentindo? - falava ele em tom de puro sarcasmo. - Ele vem até aqui, come, dorme, e não trabalha...

- Eu já avisei para parar. - cortou Pedro. - Ele não tem idade pra isso, e pra gente é uma grande satisfação tê-lo aqui.

Me sinto agradecido por ter eles que me defendem dessa forma, e me tratam tão bem. Mesmo não me conhecendo a muito tempo e nem sabendo de onde eu sou, ou quem eu sou.

- Fico agradecido senhor Pedro... Mas posso trabalhar se for necessário.  Eu não me importo.

- Você já me ajuda em casa Arthur, já ajuda a Paula com as atividades escolares. - dizia Diana tentando amenizar a situação.

- Se ele não acha um problema, então deixa ele trabalhar. - falou Felipe sarcástico. Senti um tom de desafio em sua voz, como se não acreditasse que eu iria mesmo trabalhar.

- Se quer tanto que ele trabalhe, Felipe, então você vai levar ele pra lhe ajudar com a venda no vilarejo. - sugeriu Pedro. Me senti desconfortável com a sugestão e percebi que Felipe também ficou, porque logo reclamou.

- Ah não Pai, tem muitos outros lugares que ele pode fazer isso. Não precisa ser comigo. - concordo com ele dessa vez. Não seria agradável passar mais tempo com ele, julgando o fato de que ele não gosta de mim e que isso poderia causar uma grande confusão.

- Eu não vou deixar ele sair por ai sozinho sem conhecer muito aqui. Por mim já está decidido, se o Arthur quiser, ele irá com você a partir dessa semana. - concluiu Pedro.

Eu não sabia como dizer que não era uma boa ideia. Apenas concordei e continuei comendo. Felipe fechou a cara e não falou mais durante todo o almoço.

Não havia deixado o hábito de ler. Todas as noites deitava na cama e fazia leitura de alguns livros que pegava emprestado com os vizinhos. Por um lado é até bom trabalhar, só assim poderei dar dinheiro ao Pedro e ele poderá comprar livros novos na cidade.

Estava deitado lendo quando o Felipe entra no quarto, e deita em sua cama.

- Você é muito bizarro. - disse ele.

- Como? - perguntei. Não é que eu não tinha ouvido o que ele falou, apenas não entendi o motivo dele falar isso de uma hora pra outra.

- Você é muito bizarro. Como que fica lendo essas coisas que não ajudaram em nada. - disse bufando de tédio.

- Pelo contrário, conhecimento pode servir muito mais do que você imagina.

- Se servisse você saberia que não é uma boa ideia ir comigo para a venda e teria negado. - disse.

- É verdade que não é uma boa ideia, mas não poderia me negar isso. Principalmente a seu pai que tem me ajudado. - falei sendo sincero.

- Eu não entendo essa sua bondade toda. Isso não me convence. Tem alguma coisa que você está escondendo da gente, eu tenho certeza. - falava me olhando sério. - Cuidado Arthur, não banca o esperto aqui.

- Está me ameaçando? - pergunto despreocupado ainda olhando para o livro.

- Você é esperto, estenda como quiser.

E acabamos ai nosso diálogo esta noite. Se resumia quase sempre nisso. Nele reclamando de algo que eu fiz ou deixei de fazer. Lembrando de como eu era uma escória para ele, e até mesmo um fardo para os seus pais. Mesmo eles dizendo o contrário.

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Obrigado a todos que comentaram o prólogo, agora a história continua... ❤

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