Capítulo 3

Conto de Tyler Langdon como (Seguir)

Parte da série (Don't) Like You

Acordo cedo antes de o despertador tocar. Acordei algumas vezes durante a noite pra verificar se o Enzo havia mandado algo, mas ele não me ligou e nem respondeu minhas mensagens. Achando tudo isso muito estranho, ele não é de se calar dessa forma. Levanto-me e me arrumo para ir pra escola. Eu espero de verdade que as aulas hoje passem rápido, estou terrivelmente sonolento. Após descer as escadas, encontro minha mãe na cozinha.

- Oi? Em que canal nós vamos aparecer? - falo jogando a bolsa no chão e olhando para todos os lados como se estivesse à procura de algo. – Onde estão as câmeras? Como assim dona Victória ainda em casa essa hora? A Rainha Soberana resolver deixar o trono do seu reino hoje? - falo entre risos e indo abraçar ela.

- Digamos que eu esteja com alguns problemas em outro tipo de trono. - fala ela dando um beijo na minha testa e rindo em seguida.

- MÃE! Desnecessário esse comentário. - faço cara de nojo e sorrio depois. Minha mãe além de ser bem séria e culta, era uma mulher simples e divertida. Um pouco de cada.

- Exagerado. E você não era pra está na escola não? - fala olhando para o relógio.

- Então... Talvez eu tenha dormido um pouco demais. Sabe como é, estudando muito, fico quase sem vida social. Isso tem tirado a pouca que já tenho. - ponho a mão no coração enquanto faço minha súplica de lamentação.

- Eu sei bem esse seu estudo. Todo mês vem uma fatura de trinta reais dele. - fala ela com cara de desconfiada. - Eu te levo, vamos. Já estava quase de saída.

No caminho a gente conversa mais um pouco. Ela me pergunta como estão às coisas na escola, e sobre os meus amigos. Fala sobre a loja e todo estresse que é ter que administrar quase tudo sozinha. Já nos oferecemos pra ajuda-la, mas ela prefere nos manter longe de seus negócios. Diz que nossa única preocupação deve ser com os estudos e nada mais. Ela me questiona sobre garotos. Se eu não conheci mais ninguém especial. E que devo tomar cuidado e não esconder nada dela. Admiro o fato de ela, mesmo tendo várias ocupações, tentar ao máximo se fazer presente em nossas vidas.

Chegando à escola me despeço dela e desço do carro. Paro um momento na frente do portão e começo a enrolar os fones pra guardar na bolsa. Sem perceber esbarro no Flávio, novamente, quando começo a andar.

- Desculpa, estava distraído. - falo um pouco envergonhado.

- Vê se presta mais atenção da próxima vez. – se resumiu em falar apenas isso e saiu logo em seguida.

- Esquentadinho hoje.

Esse humor dele me deixou com calafrios. Ele é muito reservado e seu grupo de amigos é bem restrito. Várias meninas, e alguns meninos, quererem se aproximar dele, seja com interesses amorosos ou por questão de ter apenas a sua amizade. Talvez seja pelo fato de que ele é muito bonito e ser bom em tudo o que faz.

Chego à sala um pouco atrasado, a professora já havia entrado. Peço pra entrar e sento entre Amy e Enzo. Beijo o ombro da Amy que estava na minha frente, o que a faz sorrir, e me viro pra falar com o Enzo. Ele pisca o olho e faz um movimento com os lábios pedindo para prestar atenção na aula. Serro os olhos fazendo uma careta pra ele.

As aulas que antecedem os intervalos se passaram sem ao menos perceber. Quase durmo na aula de Química devido à noite mal dormida que tive. Antes de se retirar da sala eu me viro para o Enzo e o encaro.

- Você não falou ontem, o que houve? Está tudo bem? – questiono.

- Desculpe, eu adormeci. Sabe como sou, deito e durmo onde tiver. E também estava muito cansado, o professor de reforço exagerou no conteúdo. - fala dando um sorrisinho. - E não houve nada, só minha mãe querendo que eu fosse pra casa.

- Não parecia isso. - falo.

- Mas foi só isso.

- Você não me engana, ainda vou cobrar outra explicação.

- Qual é a das princesas aí? Vamos ou não comer algo? Estou tendo um filho de tanta fome. – Amy consegue nos fazer piada em toda situação.

- Vamos, por favor. Estou faminto. – digo e olho pro Enzo em seguida. – Não pense que vai escapar.

- Então me prende. – fala baixo no meu ouvido me deixando com o rosto corado. Ele percebe e ri. Odeio o fato de que ele consegue me provocar e me tirar do sério fácil.

- Agora as madames estão de segredinhos? Vejo que o estudo ontem foi produtivo. – Amy novamente fazendo graça. Não seria ela se não fizesse isso.

- Ridícula! - exclamo e sorrio.

Saímos da sala e fomos para a cantina. Sentamos os três na mesa para comer. Até onde eu me lembre, sempre foi apenas nós três, vez ou outra alguém se aproximava pra tentar amizade, mas logo se encaixava em outros grupos e acabava restando apenas nós, novamente. Isso não era ruim, já que éramos acostumados um com o outro.

O Enzo me parecia normal. Tentei captar alguma diferença no seu humor, mas não consegui.

- Você está muito quieto hoje... O que se passa nessa sua cabeça tola? – pergunta Amy me tirando novamente dos meus pensamentos.

- Nada. Estou cansado, não consegui dormir direito.

- Amor novo? – provoca.

- Desde quando eu teria um amor e ainda mais novo? Sendo que não existiu nem um velho.

- Não que a gente saiba, não é Amélia? – Enzo entra nas suas provocações.

- Isso mesmo. Tantos anos de amizade e o Dam não nos fala nada. Nunca. Jamais. Você não confia nos seus amigos? – dramática. Qual é mesmo o signo dela?

- Exagerada! Vocês não são exemplos de ser um livro aberto também, e nem por isso estou reclamando. – me defendo. Não posso deixar que eles se unissem pra me intimidar novamente. Preciso revidar.

- Não joga pra mim, minha vida não tem nada de interessante. – Enzo recua.

- Olha que tem. – diz Amy.

Continuamos nossa refeição matinal e a falar de outros assuntos mais banais. Antes que eu pudesse acabar o meu lanche, o Flávio vai até onde estamos sentados e pede pra conversar comigo. Fico meio desconcertado, pelo fato de que ele é lindo, ele nunca falou com a gente, no máximo com o Enzo devido ao futebol, e porque ele é minha paixão secreta e está pedindo pra falar a sós comigo na frente de meus amigos. São muitos fatos, mas quem falou que sou uma pessoa fácil de lidar?

- Em que posso ajudá-lo? - falo diretamente a ele.

- Porque tão sério? – ele sorri antes de continuar falando. - Primeiro gostaria de pedir desculpas pela forma que falei mais cedo, tive alguns problemas em casa e vim de cabeça quente, normalmente não sou esse tipo de pessoa esquentada.

- Tudo bem. Não foi nada. – realmente não foi.

- E depois... – ele recua um pouco antes de falar, o que me deixa ainda mais atento no que viria em seguida. - Poderíamos jogar vídeo game qualquer dia desses. – percebi que ele estava um pouco intimidado. Se ele está, imagine eu.

- E... Eu? - falo gaguejando um pouco. - Porque eu? Eu nem sou muito bom em jogos.

- Acho que é importante fazer novas amizades, assim poderemos nos acostumar com diferentes pensamentos.

- Professora Elisângela. – a professora de filosofia sempre fala essa frase nos primeiros dias de aula. E ele acabara de usar ela. Dou risada involuntariamente e percebo que ele também sorri.

- Olha só, já estamos nos dando bem. – quem disse?

- Pode ser. – falo sem muito entusiasmo. Mas por dentro eu estava pulando de alegria. Ele realmente me convidou pra jogar vídeo game com ele? Tudo bem que não era um encontro, e nem sei se ele é Gay ou não, muito provável que não. Mas já é um avanço.

Espera, porque eu? Um cara simples e sem muitos atrativos. Estou sendo frustrado agora. Quem escolhe amizades com base nessas coisas? Melhor nem pensar nisso.

- Então tudo certo, falo contigo depois. - ele sai após terminar de falar.

Esse momento definitivamente vai para o meu livro de conquistas, e com uma ênfase enorme que eu não precisei fazer nada a respeito para conseguir tal vitória. Bingo Adam.

Volto para o refeitório e encontro o e Enzo e a Amy, que ainda estão sentados me esperando. Aproximo-me e sou perseguido pelos olhos curiosos de ambos. Finjo que nem percebo nada e continuo tomando meu suco pelo canudo. Amy faz um barulho com a garganta como se estivesse com ela coçando.

- Vai pegar gripe ou o quê? – pergunto.

- Não se faz de desentendido. – ela me acusa.

- Então não banca o papel de louca. – disparo.

- Você é tão chato, sabia?

- Também te amo. – solto um beijo pra ela.

Enzo continua me encarando como se esperasse algum pronunciamento meu. E eu já estou começando a ficar com vergonha disso.

- O quê? Para disso, sabe que fico vermelho se me encaram muito.

- É só você falar o que o sapão do Flávio queria com você? - pergunta Amy.

- Falando assim até parece que sou uma AMIGA que foi de encontro ao Crush. –exaustivo esse questionamento. Posso apenas não querer falar?

- Nós somos três amigas sim. – como sempre ela não deixa escapar uma piada. – E não estava?

- Só nos seus sonhos. – falo de pressa. – Apenas convidou pra jogar vide game.

- E desde quando são amigos? – dessa vez era o Enzo que falava.

- Nos esbarramos algumas vezes por aí. – literalmente foi isso mesmo que aconteceu. – Suficiente?

- Tudo bem! – louvado seja, não aguentava mais suas perguntas.

Ficamos sentados mais um pouco até as aulas começarem novamente. Amy falava pelos cotovelos, nossa, eu amava ela demais. Fazia-me sentir muito bem, ela sempre estava muito feliz quando estava com a gente e nos deixava feliz junto com ela. Quando o sinal toca ao término da aula, saí da sala conversando com uns colegas, vejo o Flávio no corredor, que sorri depois me ver, apenas retribuo com outro sorriso. Apresso um pouco os passos pra alcançar o Enzo, que já estava bem distante.

- Vai estudar hoje. – pergunto ao chegar do seu lado.

- Pode ser outro dia?

- Pode sim.

- Tudo bem. Tenho que ir agora. – ele fala e sai rapidamente. Deixando-me sozinho parado sem entender que tipo de diálogo rápido foi esse.

- O que houve que o Enzo não te esperou hoje? - pergunta Amy.

- Pego no braço dela e a arrasto saindo da escola atrás dele. – Vamos tentar alcança-lo, ele está meio esquisito mesmo.

- Nossa, que houve?

- Não. Espero que nada.

Chegando ao portão vejo-o entrando no carro de sua mãe. Fiquei muito confuso. A mãe dele estava em horário de trabalho, nunca ia busca-lo. E nossas casas não ficavam distantes. Tudo bem, mas depois daquela ligação que eles tiveram ontem, me faz desconfiar e ficar ainda mais preocupado.

- Meio estranho isso. Ou é só coisa da sua e da minha cabeça. - diz Amy. - Precisamos descobrir, vamos pegar nossos adereços e investigar. As três espiãs entrarão em ação. – para por um instante toda encenação. - Na verdade restamos apenas nós dois então seriamos Kim Possible e aquele menino leso amigo dela que parece você.

- Ai meu deus! Melhor pessoa você. – ela realmente me fez esquecer tudo e só me fez rir da situação.

- Eu sei disso, lindo.

Despedi-me da Amy e fui pra casa. Chego e vou direto para o meu quarto e deito na cama. Minha irmã deveria está dormindo e eu também não estava com tanta fome. Quando estava quase dormindo o meu celular vibra. Não ligo muito e continuo deitado. Depois vibra de novo e depois de novo.

- Que saco! - pego o celular.

Desbloqueio e vejo umas mensagens no WhatsApp. Uma da minha mãe dizendo que vai chegar um pouco tarde. Outra do Flávio,

“Ei Adam, estava pensando e você poderia passar aqui esse fim de semana.”

“Claro, só falar o dia. 😁”

“Tá, avisarei. 😉”

E o celular vibra novamente, dessa vez era mensagem do Enzo.

“Dam? 👽”

“Eu mesmo. Espero que sua casa tenha pegado fogo ou você tenha um motivo mais plausível pra explicar o porquê saiu depressa hoje. Kkkkk”

“kkkkkkk que exagero... Minha mãe está com uns problemas, e precisava de mim. Sabe como é? Hahaha”

“Algo grave? 👀”

“Não, relaxa hehe”

“Sei, espero que seja só isso mesmo.”

“Sim... Posso passar aí mais tarde?”

“Pode sim, a Amy vem aqui ver filme, vem também.”

“Tudo certo! 👽”

"👽"

Depois de conversar com ele e confirmar a hora que eles viriam, bloqueei o celular e adormeci.

Comentários

Há 2 comentários.

Por luka em 2017-10-03 02:51:46
Ancioso pelo próximo capítulo...😀
Por luka em 2017-10-03 02:50:31
Bom, tomará q o Dam fique c o Enzo ao invés do Flávio. 😏👽