Capítulo 11

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Entrei no meu quarto chorando mais do que gostaria de admitir. Fechei a porta e logo fui pegar o meu celular embaixo do travesseiro, como meu pai estava com a mensagem do Túlio no celular dele? Descobri sem muito esforço.

Meu celular estava sem meu chip, provavelmente meu pai tinha pego meu chip enquanto em tomava banho e ligado no aparelho dele! Com isso, as mensagens SMS, que eram gravadas no chip, foram junto, e com isso ele escapou de ter que desbloquear meu celular pra poder mexer em qualquer coisa, desconfio que foi um chute dele, mas funcionou muito bem.

Tive vontade de arrebentar o meu celular na parede. Mas isso não ajudaria em nada.

Me deitei na cama com a cabeça a mil por hora... eu não ouvia qualquer conversa dos meus pais lá fora. Talvez estivessem quietos mesmo, ou tivessem saído pra conversar no quintal. Fiquei ali pensando na vida, o que aconteceria agora?

Logo meu pai escancarou a porta do meu quarto. Apontou o dedo pra minha cara e disse: "tá de castigo, sem celular, sem internet, da escola pra casa e da casa pra escola, nem no telefone fixo quero você conversando! Até você me provar que vai tomar jeito! E que essa porra dessa mensagem é só passado! Me entendeu?".

O que eu poderia fazer? Fiz que sim com a cabeça.

Edson: Entendeu, né? Me provar que vai tomar jeito na vida! Quando você arrumar uma namorada MULHER, o castigo acaba.

Ele saiu do quarto batendo a porta, nem me deu tempo de responder. Agora sim eu estava pirando de raiva. Me larguei na cama e fiquei deitado pensando no que eu ia fazer. Até que minha mãe abriu a porta, um bom tempo depois, e só falou friamente: "jantar".

Felipe: Não. - respondi no mesmo tom de frieza. Ela não insistiu, só fechou a porta e me deixou ali.

Apaguei a luz um tempo depois, tirei a camisa e me deitei, dessa vez pra dormir. A essa altura eu já tinha me entregue ao choro, chorei sem me segurar, chorei até os olhos doerem, até que eu pude sentí-los inchados.

Acordei com minha mãe me cutucando, por um momento achei que ela ia insistir pra que eu fosse jantar. Mas me dei conta de que já era segunda de manhã, e estava na hora de levantar e ir pra escola. Ela não me deu bom dia, não disse nem mesmo "hora de ir pra aula". Quando viu que eu acordei, ela simplesmente virou as costas e saiu do quarto. Foi como uma facada no meu coração.

Por um momento pensei em não ir a aula. Com certeza meus pais não dariam a mínima, na situação atual. Mas depois pensei que se não fosse pra aula, teria que ficar em casa... mas qual o problema nisso? Meus pais passavam o dia todo fora, mesmo... Sem pensar mais no assunto, eu fechei os olhos, virei de costas pra porta e acabei dormindo.

Acordei sozinho quando já era quase dez na manhã! Achei que dormiria mais, sinceramente. Levantei sem nem me preocupar em me vestir, estava sozinho mesmo! Fui ao banheiro e depois até a cozinha, tomei café e comi metade um pão, estava com muita fome, já que nem tinha jantado na noite anterior. Depois me deitei na cama de novo, e fiquei ali ouvindo música. Pelo menos meus pais deixaram o aparelho comigo, assim eu podia ouvir música nos fones de ouvido.

A cada minuto pensando em tudo o que havia acontecido, e em tudo o que meu pai me disse, eu ficava mais triste, com ainda mais raiva. Aquela reação foi como uma facada no meu peito, meu pai fez com que eu me sentisse uma aberração! Mas, o que me deixava mais irritado, foi a minha fraqueza! Não consegui nem mesmo abrir a boca para tentar argumentar.

Fiquei nessa situação até a hora do almoço, quando me obriguei a levantar e ir almoçar pra não morrer de fome. Eu não estava com vontade de cozinhar e nem mesmo de comer, mas provavelmente eu não ia jantar, afinal não ia aguentar me sentar na mesa junto com meus pais, então eu precisava almoçar!

Eu já estava considerando a possibilidade de arrumar uma namorada na escola. Não precisava ser definitiva, só pra acabar com essa graça dos meus pais. Seria só por um tempo. Pensei muito nisso durante o almoço. Mas quanto mais em pensava em ter uma namorada, menos eu queria ter uma! Lavei toda a louça que eu havia sujado, o resto deixei sujo na pia. E eu já estava esperando tocarem a campainha quando ela realmente tocou! Já era quase duas da tarde.

Abri o portão e dei de cara com a Angélica...

Angélica: Oooi né... Dar sinal de vida faz bem!

Felipe: Desculpa, eu achei que você estava brava comigo.

Angélica: Por que eu estaria?

Felipe: Porque eu fui grosso e gritei com você no telefone...

Angélica: É, não fiquei feliz com aquilo. Mas relaxa, todos tem momentos ruins, a gente acaba perdendo o controle uma hora ou outra! Só não acostuma... - Ela sorriu, mas não consegui sorrir junto - Posso entrar?

Felipe: Ah, desculpa... - falei saindo da frente dela e fechando o portão depois dela ter entrado.

Angélica: É lógico que aconteceu alguma coisa, então vou pra segunda pergunta, tá tudo bem?

Não respondi, ela ficou de frente pra mim e eu não segurei, os olhos encheram de lágrimas, ela pareceu assustada, se aproximou dizendo: "hey, calma". Ela me abraçou, era tudo o que eu precisava na hora, abracei-a bem forte, como se não fosse mais soltar.

Depois que ela me acalmou e eu consegui parar de chorar, nós entramos. Sentamos num sofá, ela sentou-se bem ao meu lado.

Angélica: Então o Nicolas não tava exagerando...

Felipe: O que ele disse?

Angélica: Que veio aqui sábado... E tudo mais... - Ela disse segurando meu pulso "machucado".

Felipe: Você contou pra ele sobre o Tulio?

Ela fez que não com a cabeça.

Angélica: Mas ele ficou muito preocupado com você. Ele insistiu muito pra que eu contasse! Se ele te visse chorar, então...

Acabei soltando um sorriso.

Angélica: Ele te faz bem! Né, Fe?

Fiz que sim com a cabeça.

Angélica: E o Túlio, foi ele quem te fez isso, né? E foi por causa dele que você tava daquele jeito?

Felipe: Foi... - Sussurrei como se alguém pudesse ouvir. Contei pra ela o que tinha acontecido, contei que eu tinha recusado e largado ele lá sozinho.

Angelica: O que? Ele quase te… ele… ia te forçar?

Felipe: Não sei. Acho que sim… ele não respeitou quando tentei recusar no começo, e depois ele continuou me segurando, talvez pra me impedir de fugir dele.

Angelica: Fe, isso é… ai meu Deus…

Ficamos em silêncio, eu não conseguia olhar em seus olhos.

Angélica: O que te fez recusar no começo? - Ela pareceu surpresa - Você queria tanto...

Olhei pro outro lado.

Angélica: O Nicolas, não é? Ele mudou as coisas… eu vi como você olha pra ele!

Fiz que sim com a cabeça.

Angélica: Por que não fala com ele? Por que não diz como se sente?

Felipe: Porque não posso...

Angélica: Por que não?

Contei sobre meus pais terem lido a mensagem, e falei tudo o que meu pai tinha me dito. Por último contei do "castigo".

Angélica: Quanto tempo de castigo?

Felipe: Até eu arrumar uma namorada.

Angélica: Puts. Tá de brincadeira?

Felipe: Tô com cara de quem tá brincando?

Ela respirou fundo.

Angélica: Isso complica as coisas pra você...

Felipe: É, eu sei!

Angélica: Nossa, Fe! Desculpa falar, mas que babaquice do seu pai! Não esperava isso dele! O que você disse pra ele?

Fiquei em silêncio por um momento, depois respondi: "nada... Não consegui falar nada pra me defender".

Angélica: Você ouviu tudo isso e ainda ficou quieto?

Fiz que sim com a cabeça.

Felipe: O que eu poderia falar? Contrariar meu pai seria pedir pra morrer ou pra ser expulso de casa.

Angélica: Não precisava contrariar grosseiramente, só expor o seu pensamento, tentar fazer ele enxergar diferente.

Felipe: Ele nunca enxergaria diferente. - Falei quase chorando de novo.

Angélica: Tem aqueles que dizem que não conseguem, e tem aqueles que dizem que conseguem. Geralmente os dois estão certos...

Felipe: Vai filosofar agora?

Angélica: Vai dizer que é mentira? Se você ficar pensando que é impossível, realmente nunca vai conseguir...

Felipe: Não conta pra Bianca sobre isso ainda, tá? - falei ignorando o pensamento dela.

Angélica: Tá...

Ficamos nos entreolhando, e alguns segundos depois ela disse: "Olha, a Beatriz da nossa sala é meio afim de você".

Torci o nariz.

Angélica: Por que não tenta se aproximar de alguém que te agrade, então?

Felipe: Uma menina que me agrade? - Falei num tom irônico.

Angélica: Qual é, você é gay mas deve pelo menos achar alguma bonita, simpática pelo menos...

Felipe: Não sei, Angélica... Não consigo achar nenhuma que eu namoraria! Principalmente porque eu não poderia contar pra ela a verdade, entende? O motivo real de eu estar namorando com ela!. Aí eu teria que ser um namorado de verdade, fazer tudo... e sei lá...

Angélica: O que? Sexo?

Felipe: Não só sexo! E quando isso tudo passar? E pra terminar com essa garota? Eu não quero magoar ninguém.

Angélica: Mesmo na situação que você tá, você ainda pensa nos outros…

Felipe: Não é certo eu usar os sentimentos de outra pessoa pra me salvar.

Angélica: E o que você vai fazer? Fingir que não entendeu as condições do seu pai?

Respirei fundo, por que era tão difícil tomar uma decisão?

Angélica: Nem mesmo você sabe, né?

Nos entreolhamos, ela estava com uma expressão diferente no rosto.

Angélica: Pra não magoar ninguém você teria que namorar uma menina que soubesse de tudo o que tá acontecendo com você. Alguém que não teria problemas pra terminar depois.

Felipe: Você não costuma ficar falando coisas óbvias assim... Onde quer chegar?

Angélica: Podemos fingir que estamos namorando, nós dois!

Comentários

Há 1 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-02-25 18:10:35
Maravilhoso,adoro amigas inteligentes e que fazem de tudo pra nos ajudar...adoro Angélica.