CAPÍTULO FINAL: SEGUINDO EM FRENTE

Conto de Mahrio como (Seguir)

Parte da série Quando O Amor Acontece

Estou deitado no ombro de minha mãe, no sofá da sala de espera do hospital. Já fazem quase três dias que Rodrigo está na UTI. Sérgio e Diego estão no outro lado, em frente a mim. Ambos com olhares distantes, preocupados, mas aposto que nem tanto quanto eu estou. Eu insisti umas mil vezes, mas os médicos não me deixaram sequer ver Rodrigo, nem que fosse de longe, e isso estava me deixando mais apreensivo. Eu precisava vê-lo. Mesmo que fosse por apenas alguns milésimos de segundo.

Eu já tinha chorado muito, não aguentava mais. E pra piorar tudo, a mãe de Rodrigo largou tudo nos Estados Unidos e veio para cá. Eu estava me sentindo culpado pelo que aconteceu, muito culpado. Se Rodrigo não resistir, eu não vou me perdoar nunca.

Algumas horas se passaram, e Carla finalmente chegou, e a aflição no rosto dela era palpável. Ela vem direto até a sala de espera, em minha direção e me abraça. Eu fico assustado, achava que ela iria me culpar pelo acontecido, mas ela me abraça forte:

– Como o meu filho está? – Ela pergunta, enquanto olha pra mim.

– Estamos esperando novas notícias dele. Ele continua na UTI. – eu falo baixo, com certo medo na voz. – Me desculpa Carla.

– Desculpar? Pelo quê, Miguel? Você não teve culpa de nada. – ela tenta amenizar a situação, e eu estou cabisbaixo.

– Eu sinto que isso é culpa minha.

– Não diga isso. – e ela me abraça de novo. – Vamos rezar. Vai dar tudo certo. – ela sorri.

De repente, o médico aparece na sala, fazendo com que todos se levantem:

– E então doutor. Como o Rodrigo está? – eu pergunto.

Todos olham com esperança para o médico, que permanece em um silêncio agoniante. Até que finalmente ele decidir falar:

– Fiquem tranquilos. Ele já está melhor. – o médico diz, e esbanja um modesto sorriso. Eu sinto que cinquenta mil quilos são retirados dos meus ombros, e finalmente consigo abrir um sorriso.

Olho para Carla e a abraço forte, quase tirando ela do chão. Minha mãe e Sérgio também se abraçam, aliviados, enquanto Diego se limita a sorrir para mim, um sorriso tímido, mas que me transmite certo alívio.

– Doutor, nós podemos ir ver ele? – Carla praticamente implora.

– Apenas um de vocês. – ele responde, e todos se entreolham. Em seguida os olhares se voltam para mim. Obviamente eu iria ver Rodrigo de qualquer jeito.

– Eu vou. Preciso muito ver ele. – Eu digo ao médico, e ele faz sinal para que eu o acompanhe. Olho para Carla, e ela parece aprovar a minha ida. Então, eu sigo o médico pelos corredores do hospital. Logo, chegamos até um quarto médio, cheio daqueles aparatos médicos de sempre. Há uma enfermeira cobrindo a minha visão, mas Rodrigo está deitado na cama, isso eu consigo ver. O médico autoriza que eu me aproxime, e pede à enfermeira que nos deixe a sós. Eu sinto que meu coração está quase parando, enquanto me aproximo lentamente da cama. Ainda há alguns fios e tubos ligados a ele, e percebo que ele está de olhos fechados, provavelmente apenas dormindo agora. Quando chego perto dele, alcanço a sua mão e a envolvo lentamente na minha. A mão dele está gelada, mas sinto que aos poucos ela vai adquirindo a mesma temperatura da minha. Eu fico um longo tempo apenas olhando para ele, que está com um rosto sereno e doce. Aos poucos, ele abre os olhos, e eu aperto sua mão devagar, fazendo carinhos leves. Ele analisa o ambiente estranho, e seu olhar finalmente encontra o meu. E ele sorri:

– Oi. – eu digo, retribuindo o sorriso para ele.

– Oi. – ele responde bem baixinho, quase inaudível. – Precisamos parar de nos encontrar tantas vezes em hospitais.

Eu começo a rir, isso só podia ter sido dito por Rodrigo mesmo. Mesmo nessa situação tensa, ele consegue fazer piada.

– Eu tive tanto medo de te perder. Você nos deu um susto e tanto, seu bobo. – eu digo, sem soltar a sua mão. E ele começa a retribuir meus carinhos.

– Me desculpa amor. – ele diz, e analisa o curativo feito na barriga. – O Vitor... – ele fica em silêncio, sem completar o que diria, mas eu deduzo imediatamente.

– Ele também foi baleado, mas não resistiu. – eu digo, tentando acalmá-lo. Ele me fecha os olhos e suspira profundamente.

– Ele escolheu o próprio destino. – ele diz.

Eu faço um sinal com a cabeça. É uma pena que tudo isso tenha acabado assim. Mas agora não há mais nada a se fazer. Vitor se foi para sempre. Eu olho para Rodrigo, que não tira os olhos dos meus. Começo a me sentir envergonhado.

– Sua mãe está aqui.

– Acho que dessa vez ela veio pra ficar.

– Bom, acho que vi ser bom ter a sogra por perto pra me ajudar a cuidar de você. – eu digo.

– Miguel, eu quero falar com ela, pode chamá-la?

– Claro meu amor. Espera um momento só. – eu digo, enquanto solto sua mão para poder sair. Mas ele me segura de novo:

– Ei. Vai sair sem me dar um beijo? – ele reclama. Eu lhe dou um breve beijo, e sorrio. Ele sorri de volta e eu saio. Digo ao médico que Rodrigo quer ver Carla, e ele autoriza. Enquanto isso, eu sigo para a sala de espera, agora mil vezes mais tranquilo em saber que Rodrigo está bem.

Rodrigo ficou nos hospital mais uma semana, e eu tive tempo de ir em casa tomar banho e descansar um pouco. Carla ficou com ele durante esses dias, e hoje ele receberá alta. Eu já estava pronto para ir buscá-lo. Me arrumei e peguei um táxi. Cerca de quinze minutos depois, eu chego ao hospital. Carla estava na recepção, assinando alguns papeis da liberação de Rodrigo. Eu me aproximo dela e a cumprimento:

– Oi Carla. Rodrigo já foi liberado? – eu pergunto, enquanto ela se vira para mim. Sua expressão parece misteriosa.

– Já. Estão preparando ele para sair. – ela diz, mas eu sinto que algo estranho está acontecendo. Ela termina de assinar a papelada, e nós seguimos para o quarto de Rodrigo. O médico e duas enfermeiras davam algumas recomendações a ele, que quando me vê, sorri timidamente. Ele se recuperou rápido, nem vai precisar de muletas.

Eu me aproximo dele e lhe dou um abraço, com cuidado para não machucá-lo, pois ele diz que ainda está com um pequeno curativo na barriga. Dou-lhe um beijo rápido, com vergonha do médico e das enfermeiras, além de Carla que nos observa. O médico libera, e nós saímos em direção ao estacionamento, onde o carro de Rodrigo estava. Carla vai dirigindo, e eu me sento no banco de trás com Rodrigo.

– Você está se sentindo bem? – eu pergunto a ele, que parece estar preocupado com alguma coisa.

– Estou bem, Miguel. – ele responde e me olha sorrindo, tentando disfarçar. Tento esquecer isso e decido não perguntar mais nada.

Algum tempo depois, nós chegamos até a casa dele, e eu o ajudo a descer do carro, mas ele protesta e sai sozinho. Eu me surpreendo com sua atitude. Carla permanece no carro, e eu sigo Rodrigo até a porta de casa. Ele entra, e eu sigo atrás dele. Ele segue para o quarto, e eu o interrompo:

– Rodrigo, aconteceu alguma coisa?

Ele para, de costas para mim, e fala com uma voz meio trêmula.

– Tá tudo bem Miguel. Eu preciso descansar um pouco. Podemos conversar mais tarde? – ele diz, sem ao menos se virar para mim, e entra no quarto. Eu fico imobilizado, tentando entender o que está acontecendo. Carla entra e me olha com uma expressão misteriosa. Eu me despeço dela, e digo que volto depois para ver como Rodrigo está.

Não consigo evitar os pensamentos ruins pelo caminho. Será que Carla disse alguma coisa para Rodrigo que o deixou assim? Por que ele me tratou daquele jeito? O caminho até minha casa se torna longo com tantas ideias na minha mente. Chego em casa e sou recebido por minha mãe, que está com Sérgio na sala de estar. Eu me junto a eles e me sento no sofá.

– Como Rodrigo está? – Sérgio pergunta.

– Ele está... bem. Já voltou pra casa. – eu repondo, ainda imerso em pensamentos.

– E você filho? Está bem? – minha mãe indaga.

– Eu estou bem sim mãe. Muito bem. – eu tento disfarçar minha preocupação. E eles decidem encerrar o assunto. Passo o resto do dia no meu quarto, tentando me distrair com um livro qualquer, mas não consigo. Conto os minutos até que a noite chega, e eu resolvo ir falar com Rodrigo. Chego apressadamente na casa dele, e bato na porta. Carla aparece e me atende, com a mesma cara de estranhamento.

– Oi Miguel. – ela se limita a dizer.

– Oi Carla. Boa noite. Posso falar com o Rodrigo? – eu digo meio afobado.

– Vou chamar ele. Entra. – ele diz, e se vira para ir ao quarto de Rodrigo. Pouco tempo depois eles saem de lá. Rodrigo vem em minha direção na sala, e eu o encaro:

– Podemos conversar agora? – eu falo com firmeza.

– Claro que podemos. – Ele diz, olhando para os lados.

– Por que você me tratou daquele jeito mais cedo? Eu não entendi nada.

Ele fica em silêncio por alguns segundo e começa a se aproximar de mim. Ele chega bem perto e diz:

– Miguel, eu preciso falar uma coisa muito séria com você, não sei que palavras escolher, mas me escuta com atenção, por favor. – Rodrigo fala, tentando me olhar nos olhos, vejo que ele está com as mãos trêmulas. Eu temo que ele me dê notícias ruins.

– Fala Rodrigo, eu estou ficando nervoso.

– Miguel, eu acho que tudo isso que aconteceu com a gente só me fez enxergar o quanto você é especial pra mim, e que eu sempre vou te amar. Quando eu estava naquele hospital, eu estive pensando em você, e em como a nossa vida seria daqui pra frente. Eu não consigo me ver sem você do meu lado, é você que eu quero pra vida toda. Quer casar comigo?

Quando ele para de falar, sinto meu sangue parar de circular pelas veias, e minha pele fica gelada. Não consigo acreditar no que estou ouvindo. O homem que eu amo está mesmo me pedindo em casamento? Aqui? Agora? Eu não estou delirando? Após longos segundos de silêncio, ele parece ficar mais nervoso do que eu:

– Miguel? Fala alguma coisa! – ele se aproxima de mim e segura minhas mãos, que se esquentam imediatamente ao tocar nele.

– Minha vida nunca seria a mesma sem você, Rodrigo. É claro que aceito me casar com você! – eu abro um largo sorriso, enquanto ele faz o mesmo e me abraça forte.

– Eu te amo! – ele fala, e me beija com intensidade. Sinto o amor sendo transmitido para mim em milhões de sensações. Parece surreal eu me casar agora, mas eu tenho certeza do que quero. Rodrigo e eu seremos casados em breve.

– Eu também te amo. – eu digo a ele.

– Pra sempre.

– Para sempre. – e nós nos perdemos em um longo abraço. Estou onde preciso estar agora. Sinto que finalmente seremos felizes juntos, e isso é o que importa agora.

Fim.

Comentários

Há 2 comentários.

Por em 2016-10-01 20:18:46
Aiiiiiii deus, você escreve muuuito bem, parabéns, me envolveu na historia de modo que MEO DEOS nenhum livro me envolveu tanto como essa série, amei <3
Por ®red® em 2016-09-27 02:20:18
Final feliz, tinha que ser final feliz? Mais ta bom, eu gosto do casal.